DARAKS

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        Dois Daraks, visivelmente de status diferentes, caminhavam por um estranho saguão escuro, apenas sutilmente iluminado por archotes espaçados. Entre um e outro archote havia uma jaula, todas destinadas a seres enormes, eram elefantes gigantes e peludos chamados mamutes e elefantes despelados ainda maiores que os outros, chamados mastodons, também haviam rinocerontes gigantes e peludos chamados lanossos e outros seres colossais.

     Estavam todos aprisionados com pouquíssimo espaço para se movimentar, com as quatro patas presas a grossos grilhões. As criaturas passavam o dia e a noite de modo apático e vegetativo, com momentos de agitação, inquietação e gritos horripilantes e tristes. Isto quando tinham descanso, quando não eram molestadas por magos que tinham como atribuição adestrá-los. Um ficava sobre suas costas, outro num andaime a sua frente munido de uma ferramenta de tortura. Eles pararam seus afazeres repulsivos quando perceberam a aproximação dois Daraks, responsáveis pelo controle de mortalidade dos animais.

Ambos caminhavam entre as dezenas de jaulas do local, um deles vestia um manto negro comprido, que ia até as botas de couro negro lustroso, o manto era munido de um enorme e firme capuz que cobria sua cabeça escondendo sua face de olhares menos hábeis, como se fosse necessário, usava uma capa negra e grossa de linho e veludo com uma gola alta e firme que cobria sua nuca, as vestes suntuosas e belas fariam frente às melhores peças importadas dos reinos da seda e dos tecelões do oriente, mestres dos tecidos e da alta costura.

O outro mago, certamente um iniciante, vestia-se de longe mais simplesmente, porém igualmente de negro e roupas para um frio bem maior do que o atual, dentro do abafado e escuro saguão sem janelas ou aberturas de luz. Ambos pararam frente a uma das enormes jaulas, analisam o enorme animal, imponente e poderoso o suficiente para esmagá-los com um suave pisoteio em condições normais, no entanto encontra-se apático e cabisbaixo como quem espera apenas o momento da morte.

Seus pés encontram-se aprisionados a correntes de grossura e peso tão absurdos que tornam difícil até seu manuseio a humanos. Os grilhões ficam presos a firmes argolas da jaula com correntes de menos de meio metro, que permitem um movimento mínimo possível aos animais, o local da pata, larga como toras de pinheiro onde se prendem os grilhões, encontram-se enegrecidos e enrijecidos pelo acúmulo de sangue seco, obtido com as feridas na tentativa vã de se desvencilhar da prisão. 

Agora porém, não se debatia ou relutava, parecia rendido a exaustão e condição medíocre, miserável e deplorável do cativeiro, às torturas ministradas pelos adestradores e à alimentação invariável de feno seco e água salobra, facilmente perceptível e intragável aos sentidos extremamente sensíveis da enorme criatura, acostumada a beber de fontes gélidas e deliciosas de cachoeiras montanhosas e se alimentar de folhagens viçosas e palatáveis das florestas setentrionais.

As presas da criatura há dias foram cortadas, assim que fora capturada, os líderes afirmavam que as deixava mais dóceis e indefesos, mais propensos a obedecer e serem amestrados.

Sobre o enorme ser havia um outro mago negro, que de tempos em tempos puxava sem brutalidade cordas presas por argolas às orelhas do animal, caso a criatura obedecesse virando-se para o lado correto e erguesse sutilmente a pata recebia feno, caso contrário o mago de fora da jaula, que ficava assentado sobre um andaime, munido de uma ferramenta de madeira comprida com um metal de ponta aguçada na extremidade, lhe desferia um golpe na fronte, perfurando superficial e dolorosamente sua pele, fazendo escorrer pelos olhos tristonhos da criatura sangue abundante suficiente para alcançar sua tromba poderosa, antes capaz de arrancar uma árvore do solo, agora descaída e minimamente utilizada, apenas para levar água e comida à boca sem ânimo algum.

RELÍQUIAS SVÉKKRÖN I SVAKWhere stories live. Discover now