DESPERTAR DE NOVOS DEUSES

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13/01/1600 da era
do Despertar







          Atravessando um corredor penumbroso entre homens de guarda encapuzados, um sinistro membro da seita obscura dirigia-se a seu grande mestre. Ao fim do corredor acessou um amplo salão iluminado por archotes de crânios humanos. Ele vestia-se de negro e vermelho, e ostentava diversos enfeites remetendo aos mortos. Ossos, presas e um colar de orelhas secas lhe serve de adorno.

        Ao parar frente a frente com o mestre, uma criatura na qual pouco resta de humanidade e que flutua sobre um trono de ossos, pele e cabeças horrendas, ele se curva baixando o olhar e relata satisfeito: — Grandioso Xantras, eles conseguiram, conforme sua grande sabedoria prenunciou. Mas vosso pai foi morto.

        — Eu sei! Que Drefian receba Ylishir em sua necrópole. Mas ele também decidiu que já era tempo do meu reinado começar. Esperei por quase trezentos anos. Será um início memorável. Que comecem os preparativos!

        A pele de ambos era esquálida e seca, como a de um humano comum de cento e cinquenta anos que passou metade desse tempo sem tomar sol. Todos os membros do culto necromântico possuíam tês pálida e necrótica. Contrastavam completamente com o ambiente sombrio e com as vestes, cães e corvos dispersos pelo salão. Não eram mais seres vivos, nem mortos.

        O assombroso líder possuía apenas resquícios das características de um ser humano. Sua boca era costurada, os olhos não estavam mais em sua face. As órbitas vazias haviam recebido pedras preciosas em substituição aos globos oculares; dizem que seus olhos foram deixados em dois importantes montes do mundo, e que eles são suas sentinelas insones. As pedras preciosas, rubi e esmeralda, segundo ele, permitem-no ver outras realidades e dimensões. O nariz foi mutilado, restando dois buracos negros, assim como suas orelhas que foram decepadas deixando furos horrendos. A criatura provavelmente não deveria ver, cheirar ou comer. Nem tocar ou caminhar, pois os braços e pernas foram amputados. Talvez não o faça, na verdade.

        A figura flutuava continuamente um pouco acima de seu recém herdado trono. Era o líder dos cultistas e seus poderes eram temíveis, graças a sua devoção, oferendas de membros e de vidas inocentes de escravos aos seus deuses, mas, também, graças a seus estudos e conhecimentos dos segredos ocultos.

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        Outra madrugada gélida e de trevas se iniciava nas terras das areias negras dos necromantes e seus escravos, sesmas depois do início dos preparativos e do funeral do grande Ylishir, com quem foram enterrados cem escravos, vivos. Era a hora sagrada dos cultistas dos mortos e invocadores de poderes sombrios, a hora do corvo, e como de costume, estavam reunidos para celebrar as trevas e os deuses Howaraks que nela habitam.

        — As oferendas estão preparadas para o ritual — disse Xantras sem proferir uma palavra.

        Apesar de ter a boca costurada e a língua dilacerada, seus poderes permitiam que falasse com qualquer ser racional através da mente. Assim como ler muitos pensamentos, quando verbalizados mentalmente ou usando suas magias elaboradas para sondar mentes mais fortes e controlar as mais fracas. — A hora de despertar os primeiros deuses que nos guiarão para um poder inimaginável, para a imortalidade e a vingança se aproxima.

RELÍQUIAS SVÉKKRÖN I SVAKWhere stories live. Discover now