23. O Menino de Ouro

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31 de Julho de 1969

Preso na cápsula dos próprios pensamentos, Taehyung apenas conseguiu se concentrar no ritmo da respiração. Inspirando o ar até encher os pulmões e soltando devagar pelas narinas, tentava manter a calma. A visão estava turva e embaçada, só conseguia enxergar calças e paletós se movendo de um lado para o outro. Os sons ficaram distantes e abafados, um amontoado de palavras confusas sendo ditas, sufocando-o como uma mão apertando firme em seu pescoço.

Se o inferno realmente existia, aquele certamente era o purgatório. Ninguém nunca o ensinou a lidar com tal situação, ninguém nunca disse que um dia passaria por algo parecido, estava apavorado. A ardência na garganta, o suor escorrendo pelos cantos de seu rosto, a dor de cabeça latejando, as mãos trêmulas, estava a ponto de ter um colapso nervoso.

Sentado na mesa das testemunhas, sendo encarado por incontáveis pares de olhos em um tribunal. Vante gostava de ser o centro das atenções, mas Taehyung detestava ser visto por tantas pessoas, principalmente naquela circunstância. Coçou os olhos para tentar voltar à visão normal e seu olhar imediatamente recaiu em uma pessoa muito específica. Preferia ter continuado sem conseguir ver. Madelyn Olson o encarava fixamente da platéia, como se estivesse olhando para o culpado pelo sumiço do filho dela. Taehyung não tinha culpa, sequer conhecia aquela criança, então por que todos estavam olhando para ele daquela maneira afiada?

— Taehyung. — A voz chamando seu nome fez com que retomasse o controle dos sentidos. De repente estava de volta à sala, enxergando perfeitamente bem os jurados e a plateia e ouvindo a voz de Jamie Fleming o evocar. Aquele advogado era a única pessoa no mundo que conseguia odiar. Depois de descobrir que ele foi o responsável por fazer mal a Yoongi, a única vontade que tinha era se jogar em cima dele e enforcá-lo até a morte. A forma prepotente de caminhar, a aliança de ouro no dedo, os olhos infinitamente azuis, os cabelos louros e grisalhos perfeitamente penteados, a pompa, o nariz empinado, tudo nele deixava Taehyung irritado de uma maneira irracional. — É impossível chegar a uma conclusão sem conhecer a peça chave desse quebra cabeça, Maxwell Ramli, que infelizmente não está mais entre nós. Por isso, senhoras e senhores, para entendê-lo melhor trouxe a pessoa mais próxima, seu colega de apartamento. Ninguém pode nos oferecer uma descrição mais completa.

Jamie era popular. Muito popular. Toda defesa que ele fazia sempre repercutia de maneira positiva, as pessoas sabiam quem ele era, o reconheciam como um excelente profissional. A estratégia para conquistar adoração da grande massa e adquirir um enorme poder de convencimento sobre o júri estava em sua performance sistemática e minuciosa. Ele transbordava jovialidade e boa saúde, pele bronzeada, carisma, e segurança naquilo que dizia. Conseguia transformar qualquer tribunal em um espetáculo de sua atuação, conquistava a atenção de todos, convertendo-se em um símbolo de boa índole e luta pela justiça. Fez de si uma espécie de super herói.

Caminhou até o lugar onde Taehyung estava sentado carregando um meio sorriso no lábio e o semblante de uma pessoa muito agradável, em que se pode depositar confiança. Sem nunca dar as costas para a plateia e para o júri, fez a primeira pergunta em alto e bom tom.

— Qual era a relação que existia entre você, sr. Kim, e Maxwell Ramli? E há quanto tempo se conheciam?

Engoliu seco. O silêncio esmagador das pessoas aguardando uma resposta era torturante. Os olhos azuis e o meio sorriso eram ainda mais ameaçadores.

— Nós éramos... melhores amigos. — A voz de Taehyung saiu rasgando a garganta. Se dissesse que os dois eram namorados tudo estaria arruinado, um único escorregão nas palavras significaria mais problemas do que poderia suportar. Completou: — Nos conhecíamos havia um ano e alguns meses.

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