Feriado Nacional

11. Regresso

14 de maio de 1969

Muitas coisas estavam acontecendo em um curto período de tempo. Isso nunca é um bom sinal. Taehyung detestava mudanças repentinas porque tudo em sua vida sempre foi assim, inesperado. Aprendeu então a odiar surpresas.

Naquele dia, pela primeira vez em muito tempo, teve certeza de algo. Sabia que precisava falar com Sook na mesma intensidade em que seu corpo necessitava de oxigênio. Não deixaria a oportunidade passar, mesmo que significasse escutar coisas que não gostaria ou decepcionar suas expectativas. Acordou cedo, mas não foi para a revista. Se isso resultaria em sua demissão, não se importava. Pegou o transporte público e atravessou Nova Iorque quase inteira até chegar ao prédio acinzentado onde se encontrava o colégio Marie Curie. Ficou vagando pela rua a manhã inteira, sempre à espreita, esperando que os alunos começassem a sair pelo portão.

Estava nervoso demais. A angústia era tanta que não conseguia respirar direito, as mãos suavam, o peito palpitava e sentia aquela coisa estranha no estômago. Como será que ela estava depois de tanto tempo? Será que o reconheceria? Muita coisa tinha mudado nesses últimos cinco anos. Ele já não era o mesmo, inclusive fisicamente. Antes era só um garoto, esguio, estranho e mal vestido. Transformou-se em um homem mais confiante, até um pouco frio, com seu senso de moda que entregava logo de cara que se tratava de um artista. Uma completa metamorfose ainda no mesmo corpo, uma nova pessoa.

Ele se escondeu atrás de um carro do outro lado na rua e ficou observando o portão da escola se abrir e os primeiros alunos saírem aos poucos. Sentiu uma enorme dor de cabeça e todos os sentidos ficaram em alerta. Era a hora. Procurou entre os rostos dos adolescente alguma semelhança com seus próprios traços. Viu todo tipo de garota, mas nenhuma igual a ela. Correu o olhar desesperadamente por todos os lados, morrendo de medo de não encontrá-la e ao mesmo tempo apavorado com a possibilidade de encontrar. Nem sabia ao certo o que estava sentindo.

Foi então que a viu. Teve certeza que era ela no momento em que pôs os olhos. Estava andando com duas amigas e rindo, reconheceu de imediato o sorriso quadrado semelhante ao seu. As emoções que sentiu naquele momento foram tantas e tão conturbadas que pensou que poderia morrer ali mesmo. Atravessou a rua com os olhos vidrados nela, caminhou entre carros e estudantes sem nem piscar. E parou na outra extremidade da calçada com medo de se aproximar. Estava tão perto e se ficasse ali parado pensariam que ele era um pedófilo ou coisa do tipo, tinha que reagir de alguma forma, mas simplesmente não conseguia. Ficou paralisado, sem coragem de chegar mais perto.

Então uma das outras meninas se deu conta de que tinha um homem estranho encarando. Cutucou Sook e sussurrou no ouvido dela com um olhar desconfiado. E rapidamente ela virou o rosto na direção dele, apertou o os olhos para enxergar melhor e os arregalou logo em seguida levando a mão até a boca. Afastou-se das amigas sem dizer nada e foi se aproximando dele cheia de obstinação, com olhar fincado e passos firmes. Cada centímetro a menos entre os dois significava uma pontada no peito de Taehyung que não conseguiu fazer nada além aguardar a morte súbita que se concretizaria quando se encontrassem, tamanho o seu nervosismo.

Então ficaram diante um do outro. Sook estava bem mais crescida com seus quinze anos, mas ainda bem mais baixa que o irmão. Levantou o olhar para encará-lo como se buscasse nele a confirmação daquilo que já sabia. Ela estava linda. Sinais denotavam a aproximação do corpo de uma mulher que surgia nas curvas sutis do quadril e do busto, os cabelos pretos longos escorriam pelos ombros e os traços do rosto continham os últimos resquícios de uma feição infantil.

— Taehyung? — questionou com a voz tímida e insegura. No instante seguinte os olhos se encheram de lágrimas e antes que pudesse processar, abraçou Taehyung rodeando os braços pela cintura e afundando o rosto no peito dele.