09. Epifania

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03 de Maio de 1969

Maya conferiu mais uma vez o endereço que estava escrito atrás da carta e olhou para o paredão acinzentado escondido em um beco asqueroso, frio e úmido. Franziu o nariz com nojo, vendo lixo e sujeira por toda parte, insetos caminhando pelas paredes e muito mofo impregnado. O lugar era assustador mesmo à luz do dia, não fazia sentido, só podia ter se confundido.

Foi quando o olhar recaiu em um letreiro feio e apagado em cima de uma porta de ferro. Versalhes. Caminhou receosa até a porta, deu sutis batidas com asco de encostar os dedos. Não obteve resposta. Por que foi até lá mesmo? Não tinha razões para desconfiar de Jungkook, ele com certeza contaria a verdade em algum momento, só precisava esperar. Cogitou ir embora e deixar toda aquela história para trás, mas foi acometida por um rompante de consciência: Jungkook nunca escondeu nada dela antes. Nunca.

Os dois tinham uma relação extremamente sincera, justamente porque ambos odiavam segredos. Gostavam de ser sempre claros e bem resolvidos, então por que estava sendo diferente? Ela detestava se sentir invasiva, mas não conseguia suportar a sensação de que estava sendo enganada. Tocou a maçaneta tentando evitar fazer muito contato e empurrou a porta com certa dificuldade.

Estava aberta. Desejou que não estivesse para que assim pudesse se dar por vencida e voltar para casa, mas estava aberta. Não acreditava em destino, mas não podia simplesmente ignorar um convite tão tentador, tinha que seguir em frente em seu projeto de investigação. Abriu uma fresta grande o suficiente para que pudesse entrar e fechou atrás de si. De repente se viu dentro de um corredor semi iluminado. Respirou fundo e ficou estática, tentando manter a calma mesmo sabendo que estava cometendo uma invasão a uma propriedade privada.

Logo percebeu que a luz vinha do outro lado, então tomou coragem e seguiu naquela direção a passos cautelosos.

— Com licença. — Tentou chamar a atenção de alguém mas obteve apenas o silêncio como resposta.

Silêncio que só foi interrompido pelo barulho de seus saltos acompanhando os passos e ecoando por todo o lugar. A medida que se aproximava da claridade o nervosismo aumentava. Desde quando tinha se tornado uma invasora? A troco de que? Jurou a si mesma que não faria loucuras por homem nenhum e no entanto lá estava. Agindo impulsivamente por insegurança.

Caminhou até chegar a uma escada curta que dava entrada a um grande salão. Parou no primeiro degrau, boquiaberta. Perdeu a respiração e o rumo de seus últimos pensamentos. Como uma fachada tão imunda poderia esconder um lugar como aquele? Era incrível, maravilhoso, fantástico, extraordinário! Desceu os últimos degraus com a visão completamente cheia pela beleza e sofisticação do ambiente.

Perdeu-se nos detalhes. Seus olhos percorreram todos os cantos, desde os lustres até o divã de veludo, era como se estivesse de volta a Paris. Deslumbrada, caminhou até o centro e ficou admirando tudo, o bom gosto, a riqueza de detalhes...

— Posso ajudar em alguma coisa? — Surgiu uma voz desconhecida, fazendo com que se recordasse de que não tinha sido convidada a entrar.

Virou-se com o coração palpitando pelo nervosismo de ter sido flagrada e deu de cara com uma figura estranha. Pouco mais alta que ela, de traços orientais, estava uma moça de vestido colorido e botas brancas encarando com desconfiança.

— E-eu... — Embolou a língua. Balançou a cabeça para tentar retornar à realidade. — Estou procurando por Jungkook.

— Ele não está. — A outra respondeu friamente e olhou Maya da cabeça aos pés. — Você seria?

— A noiva dele. — disse logo de uma vez e viu a expressão de outrem mudar de estranheza para surpresa em um milésimo de segundo. Estendeu a mão para cumprimentá-la. — Maya... Maya Scott.

Feriado NacionalWhere stories live. Discover now