Capítulo 10 - Sono e outras drogas

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"Chrystal? Onde está o Michael?" perguntei à medida que a observava. Eram cerca de quatro da madrugada por esta altura. A música explodia ainda pelas colunas e o pessoal dançava como se não houvesse amanhã. Ela apenas se riu. "Chrystal?" chamei novamente, observando-a com ainda mais atenção. Parecia um pouco perdida.

"Hum... não... não sei. Acho que o perdi." Respondeu ela, séria por uns momentos. Oh oh... ela tinha tomado alguma coisa não tinha? Abanei a cabeça. "Wow..." murmurou ela fascinada pelo que eu supus que fossem as luzes na sala. Um leve sorriso surgiu devagarinho nos seus lábios. Caminhando de costas para o exterior da sala, acabou por se apoiar no corrimão das escadas. Porque é que elas tinham sempre que tomar estas coisas?!

Mas era óbvio: as pupilas estavam dilatadas, os olhos tinham uma vermelhidão particular e a atitude era inconfundível. De repente, reparei que ela estava tremer. Oh, porra!

"Chrystal? Oh deus, anda cá" pedi, enquanto a envolvia num abraço. Assustava-me vê-la assim tão vulnerável e... perdida. "Estás a tremer..." murmurei baixinho. No entanto, foi o suficiente para ela ouvir e arrependi-me imediatamente de o ter dito em voz alta.

"Estou?!" questionou ela, afastando-se abruptamente. Tinha repentinamente passado de um estado de calma absoluta, a um estado inesperado de medo, quase pânico. Vi como olhava para as suas mãos, arregalando os olhos assim que confirmou o que eu tinha dito. "Eu estou...! eu estou... eu..."

"Não, não! Chrystal? Chrystal!" chamei, procurando desesperadamente captar a sua atenção. Ela olhou para mim, tão depressa como o tiro de uma espingarda, o olhar de pânico ainda imprimido no seu olhar.

"Não estás a tremer! Não estás." Tentei acalmar, oferecendo-lhe um sorriso inconstante e um olhar provavelmente demasiado receoso para ser assegurador.

"Mas eu..."

"Não..." murmurei eu, abanando a cabeça. "não..." repeti. Ela ia ficar bem. Sempre ficava... Finalmente, ela sorriu de volta e a paranoia tinha desvanecido quase tão rápido como tinha surgido. Os seus olhos estranhamente fixados em mim. Primeiro, levantou uma sobrancelha depois franziu profundamente a testa.

"O que foi?" perguntei. "O que foi, Chrystal?" perguntei novamente aproximando-me dela.

"O teu sorriso..." murmurou ela. Franzi as sobrancelhas e esperei em silêncio. "Devias sorrir mais." Afirmou ela. E, no momento em que o fez, pareceu ver algo atrás de mim e sorriu ainda mais. Engolindo a seco, olhei sobre o meu ombro. Não vi mais nada do que a paisagem lá de fora. "Uau!" murmurou ela, rindo tolamente. E com isto, marchou para o exterior onde não se encontrava ninguém.

Estava perplexa. Maravilhada. Mordendo o lábio, segui-a. "Hey, Chrys?" chamei pela vigésima vez, pousando a mão no seu ombro. Infelizmente não sabia o que dizer. Raramente a chamava assim... mas isso não interessava agora. Só queria que não se afastasse... seria terrível se ela se perdesse por entre as árvores que rodeavam toda esta área numa malha interminável.

De repente, ela inspirou um grande golpe de ar, como se algo a tivesse surpreendido. "Chrys?" chamei novamente. Ugh... era ridícula a forma como eu lidava com drogas. Parecia até que esta era primeira vez que lidava com alguém na mesma situação que ela.

"Ouviste isto?" Perguntou-me. Os seus olhos iluminando-se como se houvesse ouvido algo fascinante e incomparável.

"O quê?" perguntei, sorrindo perante a expressão de felicidade que se lhe estampara no rosto.

"É tão lindo! É branco..." suspirou ela, fechando os olhos por breves segundos. Suspirei também. Esta ia ser uma longa noite... Com sorte, ela havia tomado isto há algum tempo e o efeito iria durar apenas mais algumas horas.

Peripécias da Vida de AbbyWhere stories live. Discover now