Capítulo 22 - As Necessidades de um Ego Viril

94 14 2
                                    

Acabei por ficar sentada ao lado do John no auditório. A sala estava quente e cheia de gente embora o volume das conversas fosse suportável. Tinham passado alguns minutos quando a Gaby chegou com o grupo, tocando-me com o dedo na ponta do nariz e sussurrando um "hey" como cumprimento. Sorri-lhe.

Os rapazes ficaram sentados atrás de nós enquanto as raparigas ficaram à minha direita. Passaram mais alguns segundos e vi que uma lata de refrigerante vazia, vinda de trás, tinha atingido a cabeça do John. Ele limitou-se a abanar a cabeça. Nem sequer se virou. Depois, outra atingiu a minha.

"Aquele  filho da mãe..." rosnei. Virando-me para trás, procurei o idiota que tinha mandado as latas. O Jason foi mais rápido do que eu, surpreendendo-me, e no mesmo segundo estava já a mandar vir com os rapazes que estavam umas cadeiras acima de nós. Já todos sabíamos quem eram eles.

"Hey Luke, tens algum problema?!" barafustou ele. "Se tens algum problema podes vir falar comigo!" ameaçou. O Luke fazia parte da equipa de râguebi. Que surpresa! Apesar de o Jason me ter defendido, senti o sangue subir-me à cabeça e não consegui impedir o meu ressentimento de falar por mim.

"Não preciso de uma porra de um guarda-costas!" barafustei. Ele ficou surpreso. Um movimento específico no outro lado da sala reivindicou o meu olhar. "Posso muito bem lidar com os meus problemas sozinha, obrigada! Na verdade, até acho que devias ajudar outra pessoa. A tua amiga Cara parece estar com problemas em afastar a mãozinha do Nolan das suas pernas." Anunciei. Encontrei no meu rosto uma expressão de simpatia fingida relativamente à situação e sem querer saber da sua reação, direcionei o olhar para as cadeiras onde estava o grupo da equipa de râguebi, levantei o dedo do meio e virei-me para a frente.

Outro rosto conhecido entrou no auditório no momento. Era o Mike. A maioria dos lugares estava já preenchido e como havia aqui um lugar vazio, levantei a mão no ar e cheguei-me para a frente. Ele viu-me, sorriu e deu apenas um passo. Depois, os seus olhos repousaram no John, que se deixou afundar no assento, e vi o Mike subir as escadas e procurar outro lugar. Fiz de conta que não tinha compreendido a situação.

"Acho que o Mike não nos viu." Comentei para o John. "Devias chamá-lo." Sugeri. O John olhou-me, assentiu uma vez com a cabeça pressionando os lábios um contra o outro e depois respondeu.

"Pois, tens razão." E chamou-o. Cinco segundos depois, o Mike estava sentado ao seu lado e quando me olhou abanou ligeiramente a cabeça. Limitei-me a piscar olho discretamente e as luzes diminuíram de intensidade, anunciando o início do debate.

*****

Duas horas e meia mais tarde, depois de termos apenas um curto intervalo pelo meio, o debate chegou ao fim e fomos liberados. Tinha saído um pouco rápido demais, ligeiramente receosa do confronto com os rapazes que com toda a certeza acabaria por acontecer. No entanto, não estava com paciência hoje e, por isso, logo depois de me ter despedido das meninas, do Mike e do John, saí, agarrando a minha mala.

Tinha passado por casa e até tinha planeado ver um filme mas, por muito estranho que parecesse, não me senti muito bem naquele espaço. Por isso, não querendo passar a tarde naquela casa vazia, saí minutos depois, com uma pequena mochila de couro castanha que dentro continha apenas o porta-moedas, o tabaco, o isqueiro e o telemóvel e, sem planear nada, acabara por vir parar aqui.

Encontrava-me no parque de skaters. Passei a mão pelo cabelo, suspirando. Não se via ninguém. Porque razão é que os meus pés me tinham trazido para cá? Abrindo a minha mala, tirei o isqueiro e um cigarro e fechei-a novamente, sentando-me no chão. Tive de pressionar o isqueiro várias vezes até que dele surgisse uma chama e finalmente acendesse o cigarro que se encontrava posicionado entre os meus lábios. Estava silêncio outra vez.

Peripécias da Vida de AbbyWhere stories live. Discover now