Capítulo 19 - Faísca, Chama, Incêndio

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“Eu vou fumar um cigarro.” Ouvi vagamente. Era com toda a certeza a voz repentinamente incolor do Jason.

O meu coração batia agressivamente contra as minhas costelas e esse era exatamente o tipo de reação que esperaria se tivesse acabado de fazer alguma coisa de errado. Mas eu não tinha feito nada de errado! E ainda não conseguia compreender a reação do grupo.

Fechando a porta atrás de mim, olhei-me ao espelho, e apoiando ambos os braços no móvel do lavatório, deixei a cabeça repousar brevemente sobre os meus braços. Se pelo menos o meu coração parasse de bater tão forte… parecia uma espécie de punição, dando-me um sentimento de culpa com o qual era difícil de lidar.

Talvez tivesse magoado o Jason… porém, eu não tinha essa intenção. Nem sequer conseguia compreender muito bem como o tinha feito. Apenas sabia que o tinha feito de algum modo.  Talvez eu devesse falar com ele agora…

Sim, devia definitivamente ir falar com ele. É isso, Abby. Congratulou a minha mente. Parecia que tinha encontrado a resposta para acabar com este sentimento.

Passando a mão pelo cabelo, preparei-me para sair. No entanto, com um último olhar ao espelho, decidi passar água fria no rosto. Depois, passei a mão no cabelo uma vez mais e certificando-me de que estava exatamente como eu queria, saí. Assim que abri a porta, o burburinho de conversas e risos do café invadiu a minha audição.

Ao dirigir-me para o exterior, onde certamente encontraria o Jason, passei inconscientemente pela mesa onde estava sentada a Cara e, de forma completamente inesperada, o braço dela estendeu-se para pegar no meu. De sobrancelhas franzidas, libertei-me e preparava-me para a ignorar quando a voz dela soou.

“Hey, Abby!” chamou ela um pouco alto demais. Algumas pessoas viraram o rosto na nossa direção. Talvez tenha sido isso que me impediu de continuar a andar. Sem responder, virei-me e olhei-a. Não era segredo nenhum que ela não gostava de mim… O que poderia ela querer falar comigo? Havia um tom exageradamente doce na sua voz. “Posso falar contigo um momento?”

Apesar dos vincos na minha testa, acenei e ela, lançando um último olhar à mesa onde se encontrava a Gaby e o resto do grupo com quem eu estava, levantou-se, despediu-se temporariamente do seu próprio grupo e gesticulou para a saída. Suspirei discretamente. Ter uma conversa com ela era a última coisa que esperava no momento. Por outro lado, havia no meu peito esta urgência notória em ir falar com o Jason e tentar perceber o que havia de tão errado com o que eu tinha dito. A dança do baile da escola tinha sido apenas uma dança, não tinha? O que mais poderia ser!? Direcionando-me o olhar sorridente, foi a Cara quem me acordou do meu dilema interior.

“Tem de ser rápido.” Afirmei. “A minha bebida está a arrefecer.” Expliquei. Porém, não havia qualquer sorriso no meu rosto e a superfície lisa em frente ao meu lugar estava ainda vazia.

“Claro!” afirmou ela.

Com relutância, segui-a. Ela virou a esquina do edifício do qual tínhamos saído e encontravamo-nos agora entre a extensa parede do café e a de algum outro edifício próximo cuja utilidade desconhecia. Perguntei-me o que é que ela queria uma vez mais e depois, decidi dar voz aos meus pensamentos.

“Bem…” começou ela. “eu não sei muito sobre ti. Excepto o facto de que parte do pessoal da escola tem medo da tua atitude.”

“Hey! Cuidado com a língua…” adverti firmemente, perplexa com a forma como a conversa tinha começado.

“Certo.” Respondeu ela, exalando ao mesmo tempo de riu ironicamente. A conversa mal tinha começado e a atitude dela já denunciava que nada de bom podia sair daqui.

Peripécias da Vida de AbbyWhere stories live. Discover now