Capítulo 16 - Os efeitos de uma bola de espelhos

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Votem e comentem. Façam-me sorrir!


Baile: s.m. Reunião local onde se dança ao som da música.

Pelo menos é que o dicionário diz. Não me perguntem como sei isso. Agora, um baile da escola era uma coisa totalmente diferente. Não era só um sítio para dançar. Eu explico:

Para uns era um evento que frequentavam unicamente para ficarem enconstados à parede, esperando que alguém fosse convidá-los para dançar. Ou então não, provavelmente estariam só à procura de um sorriso amigável e uma conversa simples, uma vez que a maior parte possuia dois pés esquerdos – os wallflowers. Para outros, era o sítio perfeito para beber uns copos com os amigos às escondidas, claro, de todo o corpo docente. Havia ainda aqueles que queriam apenas iludir alguma romântica incurável e, depois da primeira dança, levá-la para a cama do amigo que “estava em viagem”. E estes eram a maioria.E sim, estou a referir-me à escumalha que era grande parte do universo masculino. E sim, essa espécie ainda existe! Depois havia eu. A rapariga que viera ao baile unicamente porque não conseguia mais ouvir o seu grupo de amigos a importunar-lhe com a ideia. Já todos sabiam a minha opinião sobre o evento idiota e eu nem sequer conseguia encontrar uma razão plausível para organizarem um baile no ínicio do ano.

Abanando a cabeça como sinal de reprovação, arranquei o olhar do espelho que mostrava toda a minha figura e suspirei. Cá estava eu num vestido. Só uma noite, Abby. Só esta noite. Pegando no batom vermelho que ainda me faltava, apliquei rapidamente aos lábios a cor arrojada e saí do quarto. Só algumas horas. Corrigi-me à medida que descia as escadas. Reparei que a minha mãe estava na cozinha, ainda a arrumar todos os utensílios que haviam sido usados para o jantar. A Mia não estava à vista tal como não estava o John. Ele tinha saído ainda antes do jantar.

“Mãe, vou sair agora. Até logo.” Despedi-me, abrindo a porta.

“Até logo, querida. Não venhas tarde!” anunciou ela, reparei que estava a sorrir. Respondendo adequadamente, saí e precisamente quando fechei a porta ocorreu-me uma coisa.

“Mãe?” chamei, voltando ao interior da casa. Ela olhou para mim, cessando por momentos a tarefa que tinha em mãos. “Conta uma história à Mia se eu não chegar a tempo.” Ela acenou. Aparentemente, a Mia considerava que eu era melhor a fazê-lo. Já mo tinha dito. De qualquer forma, era melhor que alguém o fizesse, mesmo não sendo eu.

Estava um bocadinho frio cá fora, mesmo que não estivesse vento. A rua não estava propriamente silenciosa mas tudo parecia estar demasiado calmo. Normalmente podia-se ouvir o jogo de futebol na televisão da sala dos Winter’s ou então uma discussão que embora por vezes me parecesse controlada, outras vezes fazia-me querer aconchegar nos cobertores da cama. Quando aconteciam antes de eu decidir ir dormir – o que era raro - limitava-me a aumentar o som da música no computador. Por isso, esta quietude era estranha. Fechei o meu casaco de couro, sentido o tecido abraçar o meu corpo e imediatamente sentido-me mais confortável - mesmo estando com um vestido cuja saia de tecido ondulante era mais curta de um lado do que do outro.

Assim que cheguei ao pavilhão principal da escola, um professor de óculos redondos e olhar doce direcionou-me para o pavilhão desportivo onde estava a decorrer o evento. Agradecendo-lhe, forcei as minhas pernas a levarem-me até lá. Afinal, tinha feito uma promessa e uma vez que já cá estava não ia agora voltar para trás.

Assim que empurrei as portas de entrada, mudei de imediato a minha atitude. Dentro destas portas eu seria forte, intocável e acima de tudo estaria feliz. Com um leve sorriso no rosto, tirei o meu casaco de couro e puxando convenientemente o cabelo todo para um lado, olhei em volta. E lá estavam eles: os olhares alheios de grande parte do pessoal que estava presente. Fiquei por alguns segundos demasiado consciente de que trazia de facto um vestido.Para além disso, a pequena mala de trazia na mão refletia a luz, uma vez que estava coberta de brilhantes cinzentos. Uh… Porque raio é que tinha dado ouvidos à Chrystal? Procurando abafar esses pensamentos, levantei um pouco mais a cabeça e dirigi-me ao pequeno bar improvisado que havia. Ainda não tinha visto ninguém do grupo.

Peripécias da Vida de AbbyWhere stories live. Discover now