Capítulo 27 - Noite promissora

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No final da tarde quinta-feira, cheguei finalmente a casa após uma longa tarde de estudo com o Isaac. Fechei a porta silenciosamente e entrei, pousando a mala no sofá. Suspirei. Mesmo depois de eu lhe ter dado inúmeras dicas de que não pretendia nada com ele senão estudar, ele continuava a namoriscar discretamente comigo. Das últimas vezes, limitei-me a insinuar que ele andava a seduzir a Sra. Ana da cafetaria da escola para obter bolos de graça - já tinha reparado que ele passava demasiado tempo no local. Penso que ele não voltou a flertar comigo desde então.

"Mãe?" Chamei. Nesse preciso momento, ouvi a sua voz e calculei que estivesse a falar ao telefone que se encontrava algures entre a cozinha e a sala de jantar.

"Não. Não, não será necessário." Houve uma pausa. "Não, nós vamos pagar. Si-" ela calou-se novamente, atenta ao que lhe estaria a ser dito do outro lado. "Não, isso não será um problema. Calculo que saiba que eu não tinha conhecimento destas..." Aproximei-me. Ela estava de costas e passara a mão pelo cabelo. Perplexa, pousei a mão direita na cadeira de madeira que ali estava e observei-a. Ela segurava o auscultador junto da orelha e esperava pacientemente junto do telefone fixo que se encontrava na parede. De repente, o seu tom de voz mudou completamente e falou claramente indignada. "Não se atreva a questionar a maneira como crio os meus filhos!" Arregalei os olhos. "Ouça, isto não nos está a levar a lado nenhum! Eu passarei aí em breve para fazer os pagamentos." Pausou. "Este mês. Sim! Este mês. Um bom dia para si." Desejou, claramente irritada. Depois, atirou violentamente o auscultador para o gancho do telefone de maneira a desligar a chamada mas este caiu, balouçando no ar como o pêndulo de um relógio. Parecia estar deliberadamente a fazer troça dela.

Sem saber muito bem o que fazer, observei-a atrapalhar-se com o dispositivo como se ele tivesse vida própria. Aproximei-me. Agarrando e deixando-o cair pela segunda vez, via atirar o objeto para o seu devido lugar e, finalmente constatando que ele não iria cair novamente, suspirou. De seguida, encostou a testa à parede fechando os olhos por alguns segundos.

"Mãe..."chamei cuidadosamente. Ela olhou-me, abriu-me um sorriso débil e, afastando o rosto da parede fria, abriu ligeiramente os braços para que me aproximasse. Fi-lo de imediato, sem qualquer hesitação.

"Oh, Abby..." suspirou ela. "É a segunda vez que este maldito homem liga cá para casa." Suspirei com ela. Passaram-se alguns segundos de silêncio.

"É por causa do John?" perguntei inocentemente.

"Sim, querida. É." Respondeu. Os meus lábios formaram uma linha reta. Já calculara. Fechei os olhos, sentindo as suas mãos delicadas nas minhas costas. "Não te preocupes, nós vamos ficar bem." Assegurou passado alguns minutos. Acenei com a cabeça sob o seu ombro.

"Eu sei, mãe. Eu sei."

Não tinha conseguido dormir muito bem nessa noite. Acabei por dormir junto da minha irmã Mia, depois de lhe contar pela segunda vez a história d'"A Branca de Neve". Ela pareceu gostar do conto tanto quanto gostara da primeira vez e insistiu até que recontasse a história no dia seguinte.

Vinte e quatro horas depois, estava eu a deitá-la na cama, um pouco mais tarde do que o habitual. Não lhe contara nenhuma história. Embora tivesse perguntado à minha mãe se ela preferia que eu ficasse em casa na noite de hoje devido aos últimos acontecimentos, ela afirmou que não e insistiu que fosse sair com os meus amigos como planeado. Assim, apesar de não sentir vontade alguma de sair de casa, acabei por aceitar a ideia de que talvez essa fosse precisamente a razão pela qual o devia fazer.

Verifiquei que o relógio batia as doze badaladas. Olhando-me ao espelho pela última vez, senti-me honestamente satisfeita com a minha escolha de roupa. Tal como habitualmente, a minha aparência transmitia uma imagem arrojada mas nem por isso menos ousada, e essa era exatamente a imagem que pretendia transmitir. Suspirei. De repente, uma música alternativa preencheu a divisão e dirigi-me rapidamente ao telemóvel, apercebendo-me de que estava na altura de sair. A chamada significava que o pessoal já estava no exterior da casa à minha espera. Agarrei a minha clutch, saí do quarto e despedi-me da minha mãe. Depois, descendo os degraus rapidamente, saí pela porta principal da casa, caminhando a passos largos até à carrinha do Alex.

Peripécias da Vida de AbbyWhere stories live. Discover now