Capitulo 14 2ª Parte

3K 240 25
                                    

Já passa da meia noite…como é esperado não existe um hotel que eu possa pagar em toda a Florença. Recuso-me a pagar por uma suite presidencial e novamente anos depois, eu estou na rua.

Entro num bar relativamente cheio e sento-me ao balcão. Arrumo as muletas para que não se vejam, hoje só quero ser o Gio, aquele que entrava em bares e se divertia, conversava com as pessoas que ficavam ao seu lado. Quero ser aquele Gio por quem as pessoas se apaixonavam, que gostavam de falar, de ouvir, não quero ser esta amostra de mim, que anda de muletas, que não tem coragem para fazer algo por ele, que a única coragem está no fundo de uma garrafa.

Retiro uma nota de cinquenta euros da carteira, coloco em cima do balcão, pego numa caneca, rabisco o número de telefone. Levanto os olhos do que estou a fazer e vejo uma morena com um decote até ao umbigo, piercing no nariz, abre o seu sorriso.

- Boa noite. – Demasiado melosa. – O que posso fazer por si?

Dou-lhe um sorriso, coloco a mão em cima da nota e empurro-a para ela.

- Famous sem gelo…vá servindo até o dinheiro dar! Se eu ainda estiver em pé quando ele acabar peça-me mais, ou tire-o da minha carteira. – Bato na mochila. – Se eu já tiver caído, ligue para este número. – Dou-lhe o papel.

Ela dá uma gargalhada.

- Vai dar-me trabalho esta noite? Arranjar confusão? – Sorri ela.

- Não! Beber para esquecer!

- Se eu tivesse um euro por cada vez que oiço isso, a esta hora estaria ao seu lado para lhe fazer companhia!

Empurra o copo em minha direcção, abre a garrafa e despeja uma dose generosa, serve uma pequena dose para ela. Levanta o copo na minha direcção, eu levanto o meu…batemos um no outro.

- Ao esquecimento! – Ela murmura, pisca-me o olho e desaparece para a outra ponta do balcão em socorro de outro cliente.

Olho em volta e observo. A mulher que está sentada na mesa com mais dois homens, o ar de frete dela, enquanto eles estão numa acesa discussão. A loira que se encontra encostada ao canto do balcão, que bebe directamente da garrafa de cerveja e que chama a sua atenção, porque põe os homens a imaginar do que aquela boca é capaz, ela sabe disso e encoraja a que todos olhem para ela e fantasiem. Aquele grupo de amigos que fala todo ao mesmo tempo, mas que se entendem perfeitamente e que são contagiados pela gargalhada espalhafatosa de um deles.

Dou aquele golo e a garganta arde do álcool. O líquido desaparece e dou-me ao prazer de pensar nos acontecimentos do dia.

A nossa consciência é a nossa maior inimiga. A minha grita para que eu ligue à Cesca, que lhe peça desculpa pela forma como a tratei, mas também grita para que eu lhe diga que ela não vale nada. Não existe ninguém que mereça ser humilhado e eu humilhei a Cesca. Desci baixo…

Encosto a minha testa ao balcão.

- Já? O esquecimento vai sair-lhe barato.

Nem olho para ela…oiço o tilintar do vidro, a garrafa a bater no copo.

Bebo durante algum tempo, vou despejando copos atrás de copos. Não penso, pensar requer mais do que eu consigo. O objectivo da noite começa a ser realizado, o esquecimento da Cesca, da minha mãe a quem eu nomeio na minha mente como a puta que me pariu, o esquecimento de onde eu vou dormir, do que vou fazer amanhã…Abano a cabeça ao som da música que toca, que eu já ouvi, mas que já nem sei o nome.

A empregada vai olhando para mim pelo canto do olho, sorrindo…eu vou correspondendo. Vejo-a mexer no cabelo, a sua língua passa pelos seus lábios mais vezes do que o normal…baixo o olhar e deixo-a para lá…este é o jogo, hoje.

Quando te deixei, amor (disponível até 03/05)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora