Capitulo 9

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Gabi tinha feito inúmeras tentativas para almoçar, jantar, beber um copo, qualquer coisa desde que pudesse ver-me.

A última vez que a tinha visto pessoalmente foi quando cheguei da lua-de-mel e fui à galeria na qual ela trabalha e que iria ser a mesma que iria expor os meus quadros, e a minha ida lá só aconteceu porque a exposição teve de ser adiada devido a uma infiltração de água.

Já tinha um mês de casado e tudo era igual. Tinha desistido de falar com a Cesca sobre a sua necessidade de cuidar de mim, reconhecia que em certas alturas ela estava melhor, mas em outras a coisa roçava o ridículo. A última dela tinha sido triturar-me a sopa, a minha saúde tinha estado instável, fruto da minha irresponsabilidade em tomar os medicamentos a tempo e horas. Tinha saltado algumas doses de Interferão e isso reflectiu-se.

A ideia de triturar a sopa e tudo o resto, foi depois de um dia eu me ter engasgado, como qualquer pessoa normal e ela achar, apesar dos meus protestos que eu estava com dificuldade de deglutição. Entramos em guerra porque eu comecei a recusar-me a comer aquela merda e ela porque tinha lido num dos muitos blogs que ela acompanhava que era o melhor para mim.

A solução encontrada por mim foi começar a comer todo o género de porcarias fora de casa e de manter o meu antigo apartamento, temporariamente transformado em estúdio, uma vez que ainda não tinha conseguido arrendar, cheio de mantimentos.

Todos os dias saía de casa como se fosse trabalhar, seguia para o meu estúdio e ficava por lá. Tentava beber o menos que conseguia, mas o menos que conseguia era uns quantos whiskeys por dia. Sentia a minha saúde a ressentir-se, os músculos mais pesados, era mais difícil levantar-me, a dormência nas mãos e nos pés começava quase a ser uma constante, mas eu não parava de beber e não parava de esquecer a medicação.

Cesca tanto queria controlar, que acabava por controlar uma merda…há noite eu tentava fingir que a nossa vida era perfeita e durante o dia eu dava-me ao luxo de ser imperfeito.

Desde o meu casamento que não sabia do Miguel, deixei de atender as chamadas, deixei de responder a e-mails e passado uns quantos deixei de ler os e-mails. Seguia o conselho dele, afastar-me de tudo o que me lembrasse dela. Mas eu nunca fui uma pessoa coerente…todos os dias eu abria o perfil do Deus Italiano de olhos Verdes, aquele que era só nosso na esperança de algo.

Aqui está uma coisa que eu descobri sobre mim…não gosto de recordações. Não gosto de lembranças. As lembranças magoam, não são boas.

Oiço a campainha tocar, sei que é a Gabi. Escondo a garrafa de wiskey e o meu copo.

Caminho para a porta mais lentamente que o costume. Abro a porta. Volto para o meu sofá que eu com uma dificuldade e após um trabalho de dois dias consegui virar para a janela. Oiço o bater dos sapatos da Gabi enquanto caminha. A porta bate, oiço-a respirar. Quase que a vejo a olhar em redor à minha procura.

Passos pesados até ao sofá e ele afunda.

- És uma pessoa difícil Giovanni Polli.

Permaneço com o meu olhar afastado dela, ela lê-me. Eu não quero ser lido. Eu quero estar e ficar a recolher tudo o que plantei. A Cesca está infeliz, eu estou infeliz e a Lexie… como é que ela estará?

- Então tu não vais olhar para mim, não vais falar comigo? – Oiço-a bufar. – Muito maduro! A Cesca tem razão.

Mal ela fala do nome da Cesca a minha cabeça vira em sua direcção. Ela só abana a cabeça.

- E sabes mais, envolveres o meu marido que é incapaz de mentir e esconder uma merda de mim, ainda é pior.

Eu abro os olhos assustado.

Quando te deixei, amor (disponível até 03/05)Where stories live. Discover now