Capitulo 4

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Umas mãos apertaram-me o nariz impedindo-me de respirar durante segundos. A sensação de falta de ar desapareceu. Uns segundos mais tarde o meu nariz é apertado novamente, vou despertando aos poucos do meu sono. Um riso baixo ecoa pelo quarto…os dedos apertam novamente e soltam, mais uma gargalhada.

Não ouvia aquela gargalhada há uns meses. Sinto os dedos a aproximarem-se novamente e solto um grito e um grito de susto soa aos meus ouvidos, seguido de mais uma sonora gargalhada.

Abro os olhos, viro ligeiramente a cabeça… Dois olhos castanhos com salpicos de pequenas manchas amarelas olham para mim, torce o nariz como a mãe dela.

- Não fales alto Gio. A Gabi não pode saber que eu estou aqui. – Sussurra. – O Stefano diz que ela tem ressaca, espero que não se pegue. – Diz ela mexendo as mãos. – A última vez que ela teve doente pegou-me.

Respiro fundo, olho em volta…dormi no quarto de Vicky. Ainda não consegui dizer nada, tenho a boca seca, a saber mal, um hálito horrível, dores pelo corpo todo…

- Vicky, podes ir pedir ao teu pai um copo de água. – Peço.

Vicky senta-se na cama, faz um ar dramático como só ela consegue com os seus seis anos.

- A Gaby pegou-te a ressaca também…eu vou ficar doente. Eu não posso ficar doente, eu tenho a festa de anos da Júlia. – Diz quase em desespero.

- Vicky faz esse favor ao tio… - Peço novamente.

Ela sai da cama a bater os pés pequenos pelo chão. Quando chega à porta vira-se para mim e aponta-me um dedo.

- Eu só sirvo para ir buscar coisas…até tu Gio…

Oiço vozes na casa, lembro-me do dia anterior. Do almoço que eu e Gabi tivemos, da nossa sábia decisão de ter parado de beber, porque eu tinha de ir jantar com a família. Tentei recordar-me quando tudo se tinha alterado….lembrei-me. Saímos do restaurante e fomos para uma cantina que era propriedade de uma tia dela, eu iria lá só fazer uma visita. Mas começámos a fazer uma prova de vinhos, e uma prova de vinhos com Gabi implica provar garrafas inteiras.

Tudo o resto é uma névoa para mim. Sei que tenho quase a certeza que a Cesca veio a casa deles ontem à noite. Sei que a Gabi estava em melhor estado do que eu, mas ela é uma sóbria falsa, pode beber litros que parece que nunca bebeu nada.

Batem à porta e não esperam a minha resposta. A porta abre-se ligeiramente e a cabeça de Stef aparece com um sorriso de puro escárnio.

- Bom dia campeão! A alegria de ontem desapareceu? – Diz num tom demasiado alto.

Sinto a minha cabeça pesada…

- Mais baixo, por favor! – Peço. – O que é que eu bebi ontem?

Stef entra no quarto, senta-se na cama.

- Sei lá o que bebeste…mas bebeste o suficiente para chorares no meu ombro. – Ri. – Dá graças a Deus que a Gabi não ouviu a conversa, ajoelha-te e agradece o facto de a Cesca só ter aparecido cá quando tu já ressonavas.

- Como é que ela estava?

Ele ri.

- Quem? A Cesca? A Gabi? Ou a Lexie?

Abro os olhos de repente ao ouvir o nome dela. Tento sentar-me na cama, mas os músculos não respondem.

- Calma Gio! Ninguém ouviu, ninguém sabe. Devo dizer-te que carregar duas pessoas até casa fez-me pensar que o ginásio não está a ter o efeito que eu pretendia.

Respiro fundo, tento organizar pensamentos e perguntas, mas está tudo vazio. Ainda sinto o torpor do álcool. Faço um esforço para me concentrar. Não consigo.

Quando te deixei, amor (disponível até 03/05)Where stories live. Discover now