Capítulo 42 - Connor Campbell

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Casa dos Campbells: 29/05/2015 – Sexta-feira, 10:34 p.m.


Essas duas últimas semanas me mostraram coisas importantes. Soube que Iris confundiu minha voz com a do Dylan e foi bem engraçado ver sua cara de surpresa quando saí da cozinha. Seria interessante fazer isso mais vezes, já que eram raras as situações onde ela ficava sem jeito, portanto foi impagável.

Entretanto, embora tenha me divertido naquele dia, quando ela foi embora o clima voltou a ficar pesado entre Dylan e eu. Não nos falamos praticamente nada, embora ele seja meu melhor amigo e, mesmo que brigássemos – o que era raro acontecer -, sempre retomávamos como se nada tivesse acontecido. Ele não conseguia manter-se calado por muito tempo e eventualmente me procurava, já que o contrário não acontecia. Geralmente, o orgulhoso era eu e nada me fazia mudar de ideia quando achava que estava certo. Contudo, dessa vez não foi como estava habituado, pois seu silêncio me deixava inquieto e com medo de que nossa amizade tenha se rompido por culpa minha. Nunca fiz questão de ter muitos amigos, porque não sentia a necessidade, porém a dele era bastante importante para mim.

Quando John foi embora, tivemos uma enorme discussão, mas nada com socos e pontapés porque nos respeitávamos. Todavia, ele me xingou e nada pude fazer senão ouvir calado seu sermão aos berros, notando que seu rosto ficava cada vez mais vermelho conforme me encarava. Me sentia como um adolescente, que fez algo absurdamente errado e levasse bronca do irmão mais velho, que mais parecia um pai naquele dia. Era dolorido ouvir aquilo de alguém que me conhecia profundamente, porque tinha razão. Cada palavra que proferia era certa, já que merecia e alguma hora a bomba explodiria bem na minha cara. Dylan dizia que nossa mãe deveria saber – o que não concordava -, e que Elizabeth também.

Não estava disposto a aceitar nenhuma das suas exigências, porém nada falaria naquele momento e esperaria que se acalmasse. Alguma hora ele exprimiria todo o seu descontentamento, esvaziaria todas as suas merdas em cima de mim e poderíamos voltar ao que éramos antes: os melhores amigos um do outro. No entanto, não foi exatamente assim que aconteceu.

Todas as vezes que tentava falar com ele, para sairmos para algum lugar como sempre fazíamos, não obtive resposta. Ora não atendia, ora relembrava-me que existia uma condição para que voltássemos a falar, mas eu não queria aceitar. Simplesmente, achava que as coisas deveriam se manter daquela forma, todavia sua insistência só me forçava a fazer algo que não achava certo. Se tudo estava "bem" até aquele momento, por que deveria mudar agora? Se o John não tivesse aparecido, nada teria mudado. Contudo, as coisas nunca saíam conforme eu queria e, por isso, apenas por causa disso, estava sentado na sala de estar da casa onde eles moravam, disposto a "acertar alguma vez na vida" ou "fazer o certo com nossa irmã", que foi o que ele falou constantemente nos últimos doze dias.

Elizabeth ainda não chegara do trabalho. Por isso, Dylan encarava-me em pé, do outro lado da sala, em seu silêncio introspectivo, enquanto eu esfregava constantemente a tatuagem em meu dedo. Precisava extravasar de alguma forma e isso sempre me mantinha calmo, mesmo nas situações onde não sabia o que fazer, como agora.

Sempre achei difícil demais ter que me abrir para alguém, todavia para ele sempre foi mais fácil. Meu irmão mais velho sempre foi aquele quem ouviu meus segredos, aconselhou-me – mesmo que nunca pedisse por isso -, e tirou-me dos problemas.

Nunca fui um adolescente que brigava na escola, porque não era algo que achava necessário. Porém, quando beirava a insanidade, lá estava ele para impedir que acontecesse. Nesse momento, só queria que ele fizesse o mesmo, já que sentia que a loucura não estaria muito longe e não saberia se seria possível entregar meus sentimentos de bandeja para uma mulher. Embora não fosse qualquer uma, mas sim nossa irmã mais nova, que inclusive acabara de chegar.

Primavera Sem Rumo (Livro 1) - CompletoWhere stories live. Discover now