Capítulo 5 - Connor Campbell

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Casa dos Campbells: 28/03/2004 - Quarta-feira, 3:23 p.m.


Lembranças, lembranças...

Por que as lembranças que tínhamos guardadas na memória eram as únicas que não mudavam, visto que com o passar do tempo nós, humanos, mudávamos?

Essa pergunta não saía da minha cabeça desde que o papai morrera.

A gente podia passar por diversas outras coisas com a intenção de esquecer uma lembrança que não deveria ter virado apenas algo para recordar depois, mas por mais que tentássemos esquecer nunca conseguiríamos. Era muito difícil simplesmente apagá-las de um segundo para o outro, pois era ele que estava nela. A pessoa mais importante da minha vida.

E agora...— uma lágrima escorreu — todos os momentos com os quais tive com ele foram enterrados e viraram apenas lembranças que eu faria qualquer coisa para esquecer. Era o meu maior desejo estando nesta situação. Queria esquecer tudo, definitivamente tudo, pois a dor que sentia ao lembrar todos esses momentos era pesada demais para guardar só para mim. E, na realidade, nada ajudava. Nenhum dia nem nenhum lugar, porque quase tudo me remetia a ele. Sem exceção.

Além disso, foi exatamente na Páscoa do ano passado que ele morrera — o que complicava muito mais. Depois desse acontecimento, eu estava mudando: minhas ações, meus gostos, tudo.

Com certeza, não estava nem um pouco animado para tal comemoração. No entanto, a minha irmã irritante insistiu tanto para que a nossa mãe a levasse, que não tinha muita opção a não ser ir e enfrentar mais uma salva de dores e mais mudanças.

Estava cansado. De saco cheio das pessoas. Da minha própria família. Mesmo assim, não podia contrariar a mamãe, pois sabia que não era somente eu que estava sofrendo.

Comemorar a páscoa não era algo raro de se ver por aqui, mas saíamos para procurar os famosos ovos de chocolate nesse parque da minha cidade. Na verdade, essa brincadeira chamada "Easter egg hunts" era considerada, pela maioria das pessoas, uma tradição cujas famílias se reuniam no parque para participar dela juntos.

Outra pequena lágrima.

Mais um motivo para estar com raiva dessa vida. Começava a odiar tanto as pessoas ao meu redor. Era um sentimento muito angustiante. Às vezes, eu só queria morrer para encontrá-lo no céu. Meu coração era enterrado com a dor complacente que cismava em reaparecer para me deixar mal e, consequentemente, irritado com o mundo.

E esse ano, infelizmente, não seria diferente. Por ser um dos feriados que a família deveria ficar junta, a mamãe conseguia tirar uma folga do hospital para passar conosco. Mas já não era a mesma coisa de sempre. Papai não estava aqui e, ainda que eu fosse o mais próximo dele, era óbvio que todos sentiam a sua falta. A presença dele em nossas vidas era tão importante quanto ir bem na escola; tinha certeza que meus irmãos sabiam disso. Ele fazia a diferença.

Agora que meu pai se foi, o que eu mais queria na vida era ficar mais próximo da mamãe, porque não podia e não conseguiria enfrentar isso sozinho. Sabia que eu era complicado de se lidar, mais ainda que antes, porém ela podia fazer um esforço a mais para tentar me entender, certo?

"Tente me entender, mãe", era o que se passava pela minha cabeça frequentemente.

Mais uma lágrima.

Mas... era impossível. Provavelmente, ainda que eu dissesse, ela não mudaria; continuaria a agir como se eu não existisse. O papel de alguém invisível era exatamente o que eu era para ela e nunca passaria disso.

Primavera Sem Rumo (Livro 1) - CompletoWhere stories live. Discover now