Capítulo 13 - Louise Austen

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Quarto dos meninos na República: 22/03/2015 - Sábado, 22:17 p.m.


— Eu acho que a gente deveria brincar de "eu nunca". O que acham? — disse Iris, intervendo na discussão que se seguia no quarto dos meninos.

Conheci Iris ontem. A minha primeira impressão quanto a ela fora de desgosto, pois quando ela se mudou para o quarto em que Tiffany e eu ficávamos, trouxera diversas coisas desnecessárias e que acabou tomando parte do espaço que jazia no quarto, e ainda ultrapassou o limite do espaço de nós duas! Naquele momento, eu estava mostrando umas fotos para a Tiffany que havia tirado no mesmo dia. Estávamos rindo no instante em que entrara pela porta com alguns garotos da república que a ajudara. Decerto, ela havia seduzido eles para que a ajudassem. Isso fez com que a aversão que tinha sobre ela apenas acentuasse simultaneamente, pois, além do Andy que havia me ajudado quando chegara até aqui, ninguém mais se voluntariou. Isso porque eu esbarrei nele ou vice-versa e acabou que ele se viu na "obrigação" de me ajudar. Pelo menos era o que eu achava, nunca cheguei a perguntá-lo sobre isso.

Eles pararam de discutir na hora em que ela falou isso para analisar a alternativa apresentada. Notei que Eric, um moreno musculoso e alto, sorria, mas eu nem sabia o motivo. Andy também entrou na onda e ficou sorrindo olhando para cada um de nós. Os únicos que não estavam sorrindo eram Johann e eu. O motivo dele não ter sorrido, eu sinceramente não fazia a mínima ideia, mas o meu foi porque eu não conhecia aquele jogo. Não gostava muito de participar de coisas que eu não conhecia, mesmo não conhecendo muitas coisas, em geral.

Quando me separei de Jason, pensei que seria o fim da minha vida, pois eu não sabia fazer nada. Pelo menos nada que pudesse ser produtivo, além de ficar desenhando. Eu fiquei perdida no começo porque realmente não esperava tal acontecimento que pudesse mudar a forma como via o mundo. No entanto, aquilo que ocorrera me salvou, mesmo que no fim acabara traumatizando-me definitivamente. Fora difícil, mas nada que uma esperança a mais me desse forças para continuar mesmo querendo desistir. Sempre tínhamos recaídas quando o assunto era tentar, ao menos, sobreviver após alguma tragédia. Tinha dias em que eu apenas queria que algum ônibus me atropelasse e tudo finalmente pudesse acabar, porque era mais fácil do que tentar viver em um mundo no qual não fazia questão alguma de viver. Era mais fácil desistir de tudo. Porém, havia outros dias que faziam me reerguer e recomeçar novamente sem nenhum pensamento negativo rondando a minha cabeça fraca. Dias em que eu podia aguentar qualquer desaforo de alguém julgando-me por ter engravidado cedo ou simplesmente por ter me separado do cara mais bonito da cidade. Em dias assim, eu não me importava nem um centímetro com aquele estorvo. Me importava apenas em tentar seguir a minha vida, sem a intromissão de qualquer pessoa que pudesse, novamente, debilitá-la.

Desde então, aprendera várias coisas sobre a realidade em que enfrentávamos. Trabalhei em diversos lugares e tive oportunidades de descobrir o que estava escondido por trás das cortinas da minha fantasia. Hoje, podia dizer que nada me afetava, exceto quando se tratava do sexo oposto. Para mim, eles eram sombrios demais para ficar interessada, por mais que eu tivesse que saciar os meus desejos sexuais algumas vezes. Por falar nisso, fazia tempo que não transava. Para falar a verdade, desde que aquilo aconteceu não tenho mais coragem de me expor sexualmente para alguém.

Realmente não sabia que ter um amigo que não queria nada comigo fosse tão bom. Eu podia ser eu mesma com ele e era apenas isso que importava. Nada mais. O Andy era o único homem que não era tenebroso, pelo menos era o que eu achava, mas com certeza isso era somente porque ele não queria nada demais comigo.

Retornando ao que está acontecendo neste exato momento, nunca havia brincado de "Eu nunca...", por mais que tivesse vivenciado bastante coisa desde então. Na realidade, eu achava que vivenciara muitas coisas, mas parecia que não chegara a nem um terço do que eles já viveram. E eu queria saber do que aquilo se tratava logo, pois só o que sabia era que aquele jogo exigia bebida alcoólica. Fiquei, internamente, ansiosa, pois eu precisava ingerir algum álcool antes das aulas começarem.

Primavera Sem Rumo (Livro 1) - CompletoWhere stories live. Discover now