Capítulo 19 - Connor Campbell

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Casa do Rodrigo: 25/03/2015, Terça-feira, 13:12 p.m.


A música era a minha vida. Desde muito pequeno sempre tive o desejo latente de fazer algo que envolvesse a música, seja cantar ou tocar. Bem, tocar foi algo que iluminou minha vida, após ganhar uma guitarra de presente. E nem foi no dia do meu aniversário.

Hoje em dia, lido com a música de uma forma mais profissional, por isso escolhi fazer o curso onde pudesse me aprofundar ainda mais nos filetes que ela proporcionava para mim e queria levar isso para os outros também. Queria que todos se sentissem da mesma maneira que eu e foi por isso que optei pela guitarra. Esse instrumento trazia certas vibrações em meu âmago e tinha certeza que se eu tocasse bem, essa sensação de alívio iria agraciá-los da mesma maneira.

Não consiguia fazer as minhas tarefas corriqueiras sem estar acompanhado de uma melodia que preenchia o ambiente ao meu redor ou apenas meus ouvidos. Como vivia pela música, separei algumas delas para que fizessem parte do meu dia-a-dia. Existia a específica para acordar, almoçar, tomar banho, fazer a barba, jantar, criar inspiração para compor e dormir. Sentia que, se não ouvisse nada o dia todo, isso iria influenciar no meu humor.

Os dias tinham sido corridos, por isso não consigui ouvi-las completas. Um novo membro entrou para a Crossed e os ensaios tinham acontecido intensamente, portanto não estava muito preocupado. Andrew se encaixou muito bem a nós e agora vamos continuar a nos apresentar como o esperado.

Após sua entrada, foi como se um fôlego tivesse sido renovado por ser o mais novo de todos nós. Ele era mais ativo, sempre brincava com meus amigos e suas atitudes estavam de acordo com todos nós. Percebi sua dedicação e a emoção que depositava em cada uma das canções que estávamos habituados a cantar. Se ele continuasse desse jeito, faria sucesso com as mulheres e isso nos traria mais público. Bem, contanto que ele não se deixasse levar por um rabo de saia e isso vá interferir em nossos ensaios e apresentações, por mim ele podia andar com duas penduradas no pescoço que tanto faz.

Estava a caminho de outro ensaio, porém esse não era apenas mais um. Tínhamos uma apresentação importante para daqui a algumas semanas e isso me mantinha motivado, focado e completamente absorto dos problemas e mulheres. Aquela última com quem fiquei fez seu papel direitinho, porém não queria largar do meu pé. Insistentemente, ela ligava o dia inteiro e já estava se tornando inconveniente. Não lhe parecia óbvio que não tinha interesse? Foi uma coisa de uma noite apenas e já troquei os lençóis da minha cama, que ficou toda manchada de azul.

Arrrgh...só de pensar em mancha, me lembrava de ter a minha favorita apagada por conta da "eficiência" de Elizabeth. Aquela era uma marca, na qual havia um sentido extremo para mim. Eu estava presente no dia em que ela foi criada. Meu querido pai estava em seu escritório e eu estava com ele, acompanhando-o enquanto ele escrevia uma carta. Porém, a caneta estourou no bolso de sua blusa e acabou criando uma mancha no tecido de couro. Talvez as pessoas deem importância para outras coisas, mas para mim aquilo era uma lembrança especial que ele tinha deixado. Era como se todas às vezes em que pudesse tocar nela, estaria tocando meu pai e vivenciando mais uma vez aquela cena. Agora não havia mais mancha, nem jaqueta.

Chegando na casa do Rodrigo, lugar onde ensaiamos, aliás, vi Andrew fumando do lado de fora. Cheiro de cigarro não era a coisa mais agradável de sentir e lá estava ele, recostado na parede enquanto olhava na minha direção. Acho que deveria esperar um pouco aqui até que o cheiro entorpecente passasse. Ironia era que ele era o vocalista e isso podia acabar com a sua voz. Sabia que ele fumava, mas precisava fumar logo dois cigarros?

Primavera Sem Rumo (Livro 1) - CompletoWhere stories live. Discover now