Capítulo 15 - Elizabeth Campbell

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Casa dos Campbells: 23/03/2015 – Domingo, 3:28 p.m.


Sabia que algo não estava certo nesse final de inverno. Meus pressentimentos ruins a respeito da expressiva mudança climática mostrava os sinais mais simplórios de que algo ia dar errado, no entanto só não sabia o que estava por vir.

Esta semana foi uma das mais complicadas e inesperadas de toda a estação. Felizmente, nada de ruim aconteceu comigo, todavia minha melhor amiga teve seus piores dias e, grande parte aconteceu do outro lado da rua, onde nunca poderia sequer imaginar que certas pessoas não eram como achava que seriam.

Na segunda-feira, Iris passou em minha casa e, o que ela me contou não encaixava em nada com a realidade que vivenciei. Se algum dia alguém me dissesse isso, não acreditaria. Nem em mil anos poderia sequer imaginar que naquela manhã, que há pouco havia renovado minhas energias por passar rapidamente pelo museu e relembrar momentos tranquilos, ela viraria de pernas pro ar.

Quando cheguei em casa, arrumei as compras que havia feito e aproveitava a minha solidão para deixar a porta do meu quarto aberta, enquanto guardava os itens nos armários. Aproveitei também para dar uma arrumada na casa, já que o pó acumulava-se nos armários e o carpete precisava ser varrido. Mas, no meio da faxina, ouvi uma batida de leve na porta e corri para atendê-la, deixando de lado as almofadas que batia uma contra a outra. Ainda chovia lá fora, dificultando assim a compreensão, uma vez que tínhamos campainha e ela não fora usada.

Ao abrir a porta, encontrei minha amiga com um semblante bem diferente do que estava acostumada a ver. Seus olhos estavam vermelhos, assim como seu nariz e os cabelos castanhos embolados em uma confusão só. Não era normal encontrá-la desta forma, porque sempre importou-se com sua aparência. Era óbvio que algo muito mais importante a fez desligar-se momentaneamente de sua vaidade, por este motivo fiquei preocupada. Até mesmo a roupa que vestia era cafona, como ela mesma diria, mas jamais mencionaria isso.

- Você não sabe o que aconteceu! – disse ela, em meio aos soluços.

Era impossível ver sua aflição e não compadecer do seu sofrimento, por isso pedi que entrasse. Assim que ela aconchegou-se no sofá, desabafou, chorando abundantemente. Não sabia o que fazer ao vê-la daquele jeito, uma vez que apenas gritava, xingava e dava socos nas almofadas. Mozart reverberava pelas paredes da casa, no instante em que Lacrimosa atingia seu auge, incrementando a cena, que mais parecia a de uma novela.

Mesmo assim, acerquei-me da minha amiga, afagando seus ombros. Em seguida, a abracei, fazendo-a chorar ainda mais. Me senti impotente por não saber como fazê-la atenuar seu pranto, assim sendo, apenas deixei que molhasse meu casaco cinza. De vez em quando, o silêncio era o melhor remédio e eu sabia disso muito bem.

– Não fique assim, Iris – murmurei para tranquilizá-la, após longos minutos. – Shhh...

Afaguei suas costas e senti sua mão deslizar por sua emaranhada cabeleira.

– Lizzie – lamuriou-se, entre soluços. – Você não imagina o que eu vi – falou, com a voz rouca e abafada.

Nesse instante, livrou-se do meu abraço para secar as lágrimas remanescentes com a manga do casaco e fungou.

– Vai se sentir bem se falar?

– Eu preciso botar isso pra fora! – protestou, gesticulando com as mãos abertas.

– Tudo bem, pode falar!

Esfreguei minhas mãos e recostei-me no sofá.

– A minha mãe - respirou fundo. - Está traindo meu pai e eu peguei os dois no flagra! – disparou.

Primavera Sem Rumo (Livro 1) - CompletoWhere stories live. Discover now