Capítulo 40 - Iris Thompson

267 47 61
                                    

República: 15/05/2015 – Sexta-feira, 1:03 a.m.


Nunca entendi direito a forma como Liz mudou da água pro vinho, porém sempre respeitei sua mudança de "apenas tímida" para "tímida e cheia de restrições". E isso quase sempre se refletia na forma como se vestia, falava e agia. Nunca entendi também o fato dela não ter amigos e enfiar-se dentro dos livros de mocinhos do século passado, dos romances melodramáticos e nunca ter um namorado ou qualquer tipo de relacionamento amoroso.

Porém, agora, tudo se encaixava de uma forma ruim. Estava tão claro quanto água e eu não percebi isso antes, por isso me sentia uma completa idiota.

Às vezes, a vida prega peças em nós e as pessoas mostram outra versão de si mesmos que nunca antes havíamos reparado.

Deveria ter tatuado isso na minha testa e prestado atenção nos sinais que ela deu ao longo de todos esses anos, mas talvez tenha sido egoísta demais para não ver. Só achava que esse comportamento dela era o que devia ser e pronto. Não quis enxergar o porquê e me arrependia disso, mas agora isso doía.

Sabe quando você resolve ignorar tudo e seguir com sua vida? Eu a considerava como uma irmã mais nova, alguém que devesse cuidar e proteger, porém naquele dia eu fiquei apenas irritada porque ela não tinha aparecido na minha casa e dei importância zero, quando a revi. Tadinha, por incrível que podia parecer, ainda me pediu desculpas por não ter aparecido. Mas, eu era egoísta demais para me importar, pois coloquei minhas vontades na frente e ainda briguei, fiquei emburrada e fiz bico. Como pude ser tão estúpida? Nesse momento, me odiava!

Se eu pudesse, teria quebrado a cara daquele filho da puta. Que raiva que deu ao passar por ele e ver aquele sorrisinho no rosto, quando saímos da casa dela! Se não fosse por ela, teria feito. A minha vontade era pegar a cadeira da sala de jantar e jogar bem no meio da cabeça dele.

Depois que saímos de lá, liguei pro Dylan para confirmar se Connor dera mesmo o recado que pedi, porque após o que aconteceu em seu aniversário, o evitei de todas as maneiras. Já fazia mais de um mês que não nos falávamos, porém precisava deixar qualquer orgulho de lado em prol da Lizzie, que agora dormia confortavelmente na minha cama.

As garotas entenderam quando pedi que nessa noite, encontrassem um outro lugar para ficar. Não queria que elas soubessem nada sobre o que aconteceu, muito menos a Lou que tinha se aproximado dela ainda mais.

No dia em que demos a "festa do pijama, apenas para Liz", eu reparei que elas estavam bem próximas e, de vez em quando, Lou levava comida pra ela e demorava um bom tempo para retornar. Depois que arrumamos tudo, elas foram dormir e eu precisava atualizar meu blog. Por isso, pedi emprestada a câmera dela porque tirara algumas fotos minhas, com as roupas que vesti durante a semana. Em meio às várias onde via-se Andy fazendo caretas, fotos do aniversário dos gêmeos e algumas paisagens, o maldito do John aparecia, com seus cabelos tão ruivos quanto os de sua irmã. Como que iria ligar os fatos e deduzir tudo? As aparências enganavam demais, porque apesar de ser bonito por fora, aquele monstro era podre por dentro.

O celular da Liz vibrava direto em cima da minha mesa de cabeceira, iluminando o teto. Assim que chegamos, não quis que ela se sentisse exposta, por isso não liguei as luzes do quarto. A escuridão talvez fornecesse o conforto que ela precisasse, então não me incomodava em não enxergar direito por aqui, também não sairia de perto dela por nada, nem se me ligassem do trabalho nesse momento. Agora, minha amiga seria a minha prioridade e essa seria a minha vez de cuidar dela, para compensar o que não fiz há anos.

Deitei na cama da Lou, me cobri até a cintura e fiquei olhando para ela. Não era possível ver seu rosto, mas só de saber que estava confortável e segura já era o suficiente para mim.

Primavera Sem Rumo (Livro 1) - CompletoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora