Capítulo 28

12 6 0
                                    

-Foi bom você não ter falado com ele no dia do aniversário do Luca – Jo dizia, tentando conter os disparos da Viv pela casa. – Agora ele está calminho.

Malu terminou o seu café:

-Não é nada bom mesmo falar quando eles estão sob o efeito de drogas. Conversar, brigar, nada disso funciona. Espero que o Victor tenha aprendido a lição. Vem cá, Viv. Deixa a vovó te dar um beijo.

Viv era tão boazinha que já foi fazendo bico. Jo continuava fascinada. Ela sempre parecia estar sentindo algum nível de encanto quando lidava com aquela família, por mais tempo que passasse. Perguntou, enquanto Malu agarrava a Viv:

-Você já fez isso antes? De conversar?

-Ah, um monte de vezes.

-E dá certo?

-Tirando nas reuniões, quando as pessoas estão com a maior boa vontade pra ouvir? Não. Bom, relativamente. Deu certo com os meus filhos como medida preventiva. Mas eu tenho que tentar, né?

-Acho que todo mundo tem de tentar de tudo.

Malu deu um sorriso.

-Ah, você é um amor, Jo. Fico feliz que o meu filho tenha te conhecido.

Jo devolveu o sorriso, o coração quentinho. Para quem viera de uma família horrível como a dela, era muito bom se sentir bem-vinda entre os parentes de Victor. Como se houvessem fechado uma cena, Malu colocou Viv no chão e pediu:

-Você pede para ele subir?

-Claro! – Jo se levantou, pegou a filha no colo e desceu as escadas para o porão. Ela estava um pouco apreensiva. Não havia mentido, mas George não estava exatamente calminho. Ele estava de castigo e sem dinheiro. Havia esbravejado e xingado Deus e o mundo, a começar por seu pai, e agora estava sem energia.

Jo bateu na porta e não obteve resposta.

Insistiu:

-George, sua avó está aí. Ela queria falar com você.

Quando Jo, sem graça, concluiu que fosse ter de explicar para Malu que ele não queria falar com ela, ou então que teria de abrir a porta e descobriria que George havia dado um jeito de sair, o menino apareceu. Um ar de mau humor do cão, mas apareceu. Sua cara era tão feia, aliás, que Jo não falou mais nada, só chegou para o lado para ele passar.

Era muito triste ver alguém que você amava tanto perdido em algum lugar que você não conseguia alcançar. George não era o George. Era um fantoche de George. Apesar disso, ele sorriu e abraçou a Malu.

-Oi, vó. Tudo bem?

-Tudo. Tudo super bem – Malu sorriu. – Você comeu o bolo? Gostou?

-Aham. Estava bom.

Malu tornou a se sentar, mas George ficou parado em frente a ela, as mãos nos bolsos da calça.

-Senta, George – Ela falou.

-É que eu tô no meio de... – E deixou a frase morrer, pois na verdade ele não estava no meio de coisa alguma.

-É rápido – Malu insistiu.

Ela era uma mulher jovem e a única razão para ter um neto da idade de George era o fato de ter quarenta anos quando ele nasceu. Mas, quando queria, conseguia fazer a velhinha frágil se achasse que serviria um bem maior. Esse era um daqueles momentos. Treinado pela cara de doce avozinha, George sentou-se na outra ponta do sofá, parecendo entre intimidado e entediado. Malu, apesar do assunto, sorriu:

-Eu não queria morrer.

-Oi? – George deu um meio sorriso incrédulo que era cópia dos sorrisos do seu pai.

Quando a Vida Acontece - Vol. 4Where stories live. Discover now