-Você mentiu, Cassie – Oyekunle falou. Era dia da folga dela, o dia em que deveriam levar Sabine para jantar. Ele abordou o assunto assim que ela acordou, já sabendo que não iriam a parte alguma naquela noite. Pelo menos, não juntos.
Ele estava revoltado. Pela mentira. Por uma doença ter sido usada por algo tão mesquinho quanto ciúmes.
-Não menti... tanto assim – Ela falou, olhando em todas as direções menos nos olhos dele.
-Não tem uma parte do que você falou que seja verdade! Porra, te contei na confiança, não pra você ficar deturpando para sair por cima nas suas brigas com a Sabine.
-Nós não estávamos brigando! – Cassie se apressou em explicar. – Espero que isso ela também tenha te contado! Nós estávamos conversando, tomando café da manhã.
-Eu sei, antes de você sair correndo pra me levar os remédios. Que remédios eu tomo, Cassie?
Ela ficou muda, o olhar vazio.
-Como você ia levar alguma coisa para mim, se você nem mesmo sabe o que eu tomo?
-Tá, mas não foi briga!
-Foi, sim. Você e a Sabine estão competindo sei lá por que desde que você veio para cá. Aliás, seu encanamento quebrou mesmo, né?
-Claro que quebrou! – Cassie respondeu, revoltada.
-E não deram previsão para o conserto?
-Não, não deram.
Oyekunle soltou o ar, frustrado. Por fim, olhou nos olhos dela e disse:
-Melhor você ver se não dá para ficar com uma amiga.
-Você... Você está me expulsando? – Ela perguntou, parecendo murchar.
-Não, estou terminando com você – Ele disse, e foi tão direto que Cassie levou algum tempo para reagir:
-Você está terminando comigo porque eu tentei afastar aquela interesseira de você?
-Se é isso o que você pensa, Cassie, você não escutou uma palavra do que eu falei.
-Escutei muito bem o que você falou, Oyekunle. Muito bem – Ela disse, com lágrimas nos olhos. – Ela estava disposta a te conquistar e, eu, a lutar por você. Guerra é guerra.
-Não viaja, Cassie! – Ele deu um meio sorriso sarcástico. – Estava tudo superlegal com a gente até você pirar porque a Sabine não se tocou que tinha gente em casa e saiu pelada do banheiro. Você lutou essa guerra sozinha. Você contra você mesma.
-Oyekunle, não faz isso – Ela começou a chorar.
Ah, merda. Mas que merda. Oyekunle já havia namorado muito. Alguns fins foram bons, outros foram ruins, e alguns outros foram melodramáticos. E ele continuava sem saber como agir em situações que iam além do: "então tá, estamos combinados assim, vai cada um ser feliz do seu jeito". Ele deu uns tapinhas completamente babacas nas costas da Cassie, dizendo:
-Não fica assim, vai. Vai ser melhor desse jeito.
-Não é minha... culpa. – Cassie soluçou. – Foi... tudo... ideia da sua mãe.
-O quê?!
-Não falar que você tinha AIDS, mas o resto foi ideia dela, até o encanamento quebrado.
-Então o encanamento não quebrou e tudo saiu da cabeça da minha mãe?!
Não que sua mãe não fosse capaz de algo assim, mas no reino das ideias, não na vida real. Ela era maluca e dela se esperava qualquer tipo de maluquice. Mas enfiar a Cassie no apartamento dele já era demais, até porque ela sempre conspirava contra os seus relacionamentos, nunca a favor.
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Quando a Vida Acontece - Vol. 4
RomanceCrescer nunca foi fácil, mesmo que já se seja adulto. Baby e Zach voltaram, tentando aparar as arestas que a última crise dos dois deixou. George, neto de Malu, tenta se adaptar e se conformar com a vida em um novo país. Já Malu se vê diante de um t...