Capítulo 22

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-Ela não vai com a gente.

-Não vai, Baby.

-Olha lá, a Grace não vai com a gente.

-Baby, ela já está no trem, já deve estar na metade do caminho para Bradford, a essa altura.

Baby mediu Zach dos pés à cabeça, desconfiada, e terminou por enfiar o braço de Millie no casaquinho. Enquanto a menina pulava pela casa, animada, Zach sorriu:

-Juro.

-Você não me pediu para darmos carona à Grace.

-Você quer dar carona à Grace?

-Cruz credo.

-Então.

-Ok.

Ela continuou encarando Zach, como se esperasse que ele fosse tirar uma Grace de dentro do boné a qualquer momento. Ou como se estivesse treinando alguma técnica de interrogatório.

-Se a Grace está no trem, onde está o cachorro?

-Não faço a menor ideia – Ele colocou os braços ao redor da cintura dela. – E quer saber? Não ligo a mínima.

-Como assim, não liga? – Ela perguntou, uma ruga entre os olhos.

-Assim – Ele ergueu os ombros.

Baby estava quase convencida que teria um final de semana tranquilo em meio à família alheia, ainda que a família em questão envolvesse a Grace, mas, para ter certeza, era preciso que ela impusesse algumas regras.

-A Grace só vai falar comigo para me cumprimentar, e mesmo assim só se ela fizer muita questão.

-Já disse isso a ela. Falar. Cumprimentar. Questão.

-Para um escritor, você usa bem poucas palavras.

Ele riu e a beijou no canto da boca. Zach estava em um humor fabuloso, o que se explicava pelo fato de ele estar viajando para ver a sua família e comemorar as bodas de diamante dos seus avós. Não havia ninguém que ele odiasse lá, nem mesmo a Grace. Millie era uma bolha saltitando pela sala, cachinhos pulando, feliz porque ia ver a vovó Julie, sem ter ideia de que o encontro seria a quase quatro horas de distância em um carro onde tentariam distrai-la com um tablet por algum tempo, teriam de procurar um banheiro para ela por mais algum, e responderiam umas mil vezes que "sim, Millie, já estamos chegando". E, finalmente, havia Baby. Baby não sabia como se sentia, o que não era novidade. Nos últimos tempos, tudo o que não estivesse relacionado à Millie ou ao desfile era uma incógnita para ela.

-Nós vamos voltar cedo? O desfile... – Ela começou, para garantir.

-Claro, não se preocupe. Então é melhor nós irmos logo, certo? Vamos, Millie?

-Vamos! Iuhu!

Ninguém sabia muito bem onde Millie havia pegado a mania do "iuhu". Talvez da própria Baby, na época em que sua vida era menos complicada. Como no show da Taylor Swift, por exemplo.

Ela não queria ser reclamona. Vinha tendo ótimos momentos. Mas, ainda assim, sentia que estava vivendo a vida que desenharam para outra pessoa a não ser que estivesse criando seus vestidos ou cuidando da filha. Era o anel. Aquele maldito anel. Quando ele estivesse no seu dedo, o teatro acabaria e poderia parar de andar em ovos. Só não queria que Zach um dia acordasse ao lado de uma megera, se perguntando onde estava a mulher com quem havia se casado.

Aquela viagem era uma péssima ideia. Aquela viagem, naquele momento, era uma ideia pavorosa.

E o pior é que era uma família muito simpática. Grace fez questão de falar com ela, cumprimento que Baby mal respondeu, Julie pegou Millie no colo e a levou para conhecer seu jardim, e os avós de Zach foram uns amores, como da outra vez em que eles se conheceram. Aquela noite, haveria uma festa em um salão para comemorar as bodas dos dois, e Baby foi para o hotel "se desamassar".

Quando a Vida Acontece - Vol. 4Where stories live. Discover now