Capítulo 12

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 -Você não está ansiosa? – Tom perguntou, desconfiado.

-Não – Ella respondeu, dando uma mordida no seu sanduíche de melancia.

-Sério? Nem um pouco?

-Sério. Eu sei que é menino.

-Por que a gente está indo ao médico se você sabe que é menino? - Joel quis saber.

-Porque a gente precisa saber como o bebê está - Ella falou, sem acreditar que estava contando isso para um pai de três filhos.

Joel estava em um dos seus dias de humor duvidoso e Ella se perguntava o que havia dado nela para levá-lo. Gostava de tirá-lo de casa e, mais especificamente, da frente da televisão, e achava que um momento família faria bem a todo mundo. Só não tinha esperado um interrogatório.

Aliás, ela sabia muito bem. De filha de minerador casca grossa, ela havia virado uma florzinha insuportável que chorava à toa e, em algum momento da semana anterior, achou que seria uma ideia incrível trazer seu pai à consulta.

-Esse é o presunto mais esquisito que eu já vi – Joel analisou um dos sanduíches.

-Não é presunto, é melancia.

-O quê? Você nunca vai engordar desse jeito, Ella!

-Eu não estou exatamente tentando engordar – Ella respondeu, sentindo um daqueles inexplicáveis bolos na garganta.

Ela estava descobrindo que estar grávida era como explorar um planeta estranho, no caso, o seu próprio corpo. Ela havia decidido que só teria um filho, pois nem tivera o primeiro ainda e a possibilidade de ter o segundo era demais para os seus neurônios; porque não achava que convenceria o Tom a formar uma nova família extensa depois dos sessenta; e porque achava completamente impossível que ela e Tom terminassem um dia e ela viesse a se apaixonar e querer ter filhos com um senhor Zé Ruela qualquer.

E tinha mais essa: A gravidez a havia deixado romântica.

Mas, como seria sua primeira e única experiência, ela queria aproveitá-la ao máximo, por mais assustadora que fosse às vezes. Ficava fascinada pelos próprios acessos de choro, abria várias abas no computador do trabalho para pesquisar roupas e acessórios na internet, media-se com obsessão, tinha alguns ataques de burrice e não deixava passar desejo algum.

Tudo isso enquanto supervisionava a reforma do apartamento dos seus sonhos a duas semanas do seu casamento. Não era uma missão fácil.

-De qualquer maneira, melhor a gente ir andando – Tom interrompeu. - Pra vocês pode ser um dia como qualquer outro, mas eu tô a fim de ver se é menino.

-Que é menino – Ella corrigiu.

-Isso. Que é menino – Tom concordou para deixá-la feliz.

Os três entraram na SUV do Tom, Joel estranhamente quieto no banco do carona. Algum tempo já havia se passado até que ele disse:

-Molha o pão.

-O quê, pai?

-A melancia molha o pão e ele fica nojento. Você era toda fresca com pão molhado.

-Era? - Ela perguntou, espantada por ser fresca com algo na vida e por seu pai lembrar.

-Era. Você não molhava o pão na sopa nem no café.

-Argh! - Ela foi atingida por aquela memória revoltante. - Era horrível você, Freddie e Will molhando o pão no café com leite e fazendo aquele barulho horroroso quando botavam na boca!

-Não disse, marinheiro? - Seu pai se virou para o Tom. - Fresca.

Tom olhou para ela pelo retrovisor e sorriu:

Quando a Vida Acontece - Vol. 4Onde as histórias ganham vida. Descobre agora