Quando a Vida Acontece - Vol. 4

Capítulo 14

Tom, na companhia de Vince, seu padrinho em três casamentos diferentes, terminava de se vestir quando bateram na porta.

-Posso entrar? – Malu colocou a cabeça para dentro.

-Agora pode – Tom respondeu. – Há uns dez minutos, você ia me complicar.

Malu sorriu e se virou para Vince, perguntando se podia conversar com o noivo.

-Parece que a minha ex-mulher vai me contar o que acontece na noite de núpcias.

-Deixa de ser grosso, Tom!

-Haha, fiquem à vontade – Vince respondeu. – Por falar em mulher, vou ver quem a minha está constrangendo dessa vez.

Ele saiu e, assim que fechou a porta atrás de si, Malu olhou para Tom, absorvendo sua imagem em todos os detalhes. Os cabelos grisalhos, as sobrancelhas grossas, os olhos oblíquos e azuis, o nariz aquilino. Antigamente ele sempre deixava a barba por fazer, mas então decidiu que isso o envelhecia ao invés de lhe dar um ar de desleixo juvenil e passou a andar sempre bem barbeado. Suas tatuagens, apesar de estar de terno, a gravata ainda sem nó, e, claro, All Star pretos.

-Credo, como você é bonito – Ela disse.

Tom deu um meio-sorriso inteiramente sem modéstia. Podia ter sessenta anos, mas ainda era lindo e sabia disso.

-Nervoso? – Ela se aproximou.

-Já fiz isso três vezes, Maria.

-Vai continuar sendo grosso?

Ele riu, seu sorriso de rosto inteiro dessa vez, e ficou ainda mais bonito. Malu pensou que talvez Alex tivesse razão e ele fosse mesmo areia demais para o caminhão dela.

-Dessa vez é bem diferente – Ela disse, ao invés de divagar sobre a beleza dele.

-Ela é uma menina. Não caso com meninas desde que eu era um menino.

-Assusta?

-Isso? Não. Mas tipo, é a terceira vez.

-Você nunca pensou que haveria uma terceira vez.

-Nunca pensei que haveria alguém depois de você – Ele a surpreendeu. – Depois da Lana, eu me casaria com qualquer uma.

-Você casou comigo, filho da puta – Malu deu um tapa no seu braço, mas estava rindo.

-Você sabe o que eu quis dizer.

-Espero que sim. Você está pronto.

-É, eu tô.

Malu começou a dar o nó na gravata do Tom automaticamente, só porque estava ali e estava acostumada a cuidar das pessoas ao seu redor. Ele deixou, só porque era uma das milhares de pessoas acostumadas a ser cuidadas por ela. Para o bem ou para o mal, ele tivera alguns momentos que mudaram totalmente o curso da sua vida. Hoje era um deles, e ele não conseguia deixar de se maravilhar pelo destino ainda ter a capacidade de surpreendê-lo.

Não, ele nunca havia pensado em se casar de novo.

Principalmente, depois da Malu.

E lá estava ele, com seis décadas nas costas, muito aprendizado e a certeza de que, daquela vez, seria para sempre.

-Não faço ideia como vocês conseguiram um casamento tão lindo em tão pouco tempo, mas está incrível – Malu se afastou para ver o resultado. – Você tem casamentos magníficos, Tom. Pelo menos, os dois últimos.

Tom se olhou no espelho para ver a gravata.

-Eu posso ter feito isso três vezes. É a primeira vez da Ella e, provavelmente, a única. Você sabe que eu tenho uma saúde ninja e vou viver até os cento e vinte, não sabe?