Capítulo 7

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Malu acordou se sentindo bem melhor. Se olhou no espelho de corpo inteiro do closet e pensou que estava tudo sob controle, sua pele era lisa, com pouquíssimas rugas de expressão (Graças a vovó Gonzaga), ninguém diria que pintava o cabelo e continuava magrela, mas com isso já havia se conformado. Mais importante, tinha filhos maravilhosos e bem-criados, netos lindos, o melhor marido do mundo, morava em uma Linda Casa e conseguira fazer todo mundo abrir mão da própria vida para almoçar com ela aos domingos. Não era fácil ter amigos que te amassem tanto que comprassem todas as suas loucuras.

Ela devia ser uma pessoa especial, então era melhor que se sentisse como tal.

Talvez devesse fazer o que sabia de melhor: Começar a adiantar a vida. Procurou o contato da agência onde havia encontrado sua diarista e marcou entrevista com cozinheiras que viriam uma vez por semana e deixariam refeições congeladas para a semana inteira, faxineiras que pudessem cobrir os dias que a atual deixava vagos, governantas que coordenassem o show. Se livrou de todos os compromissos da tarde e se preparou para as entrevistas.

-Odiei todas – Disse, à noite, para suas amigas.

-Mas é por isso que eu disse que veria isso pra você – Renata respondeu. – Não é possível que você odeie todas sempre.

-Odiei. Cozinheira número um era preguiçosa e cortou rodelas de cenoura, quando todo mundo sabe que você tem que cortar a cenoura em cubinhos. Cozinheira dois deixou a cozinha em petição de miséria.

-A faxineira um ou dois não pode arrumar? – Kate disse, parecendo um pouco entediada, mastigando a azeitona do seu martini.

-Não, porque a faxineira um tem escoliose e vai pedir demissão depois de uma semana, aposto.

-Como ela se apresenta em uma entrevista de emprego dizendo que tem escoliose? – Renata se espantou.

Malu revirou os olhos, como quem diz: "Tolinha".

-Claro que não falou. Mas a postura era típica de quem tem escoliose. Eu sei. Eu vivo fazendo fisioterapia.

-E virou ortopedista?

-É possível – Alex contribuiu. – Eu tenho uma tia que vivia fazendo torta de carne e virou veterinária. E a faxineira dois?

-Não tem faxineira dois. A faxineira um ia alternar com a faxineira atual.

-Você sempre precisa da faxineira dois, três e quatro. Me passe o telefone dessa agência. Vou marcar com nós duas – Renata disse, objetiva.

Enquanto Malu obedecia, Kate resmungou:

-Essas noites de meninas já foram mais divertidas. Antigamente a gente falava sobre sexo, agora fala sobre faxina. Culpa do Stress. Resolveram casar e virarem mulheres de família e sumir pelo mundo e nós nunca nos recuperamos.

-Você quer dizer que eu não sou divertida? – Alex perguntou, afrontada. Kate apenas deu de ombros.

-Mas você tem razão – Malu disse. – Não tem nada de ruim em dar uma reciclada. De repente se a gente chamasse a Mia e a Ella.

Renata quase se engasgou com seu bloody mary.

-Elas são amigas dos seus filhos, criatura! Não suas.

-Qual o problema? A Ella vai se casar com o Tom. Isso a coloca com um pezinho no nosso grupo.

Kate revirou os olhos.

-Maluzona, para com essa carência e mania de ter de ser amiga de todo mundo. Ela vai aos seus almoços. Ela não te odeia por ser o primeiro e, durante anos a fio, único amor do homem dela. Ela é decente. Vocês se tratam bem. Isso basta.

Quando a Vida Acontece - Vol. 4Onde as histórias ganham vida. Descobre agora