Continuação capitulo 09

300 23 3
                                    

Quando cheguei à fazenda a primeira que coisa que fiz foi ir ver Coronel, já que papai não estava no casarão.

-Oi menino! Demorei? Hum? - conversei com o animal acariciando sua crina - Senti tantas saudades, precisava vim logo te ver.

Cavalguei um bom tempo até que avistei meu pai se aproximando, fui em direção á ele recebendo um largo sorriso.

-Tarde moça! - cumprimentou tirando o chapéu - Achei que tinha esquecido o rumo de casa.

-Nem se me obrigassem - sorri parando ao seu lado, estendendo-lhe a mão. Papai sorriu, visivelmente feliz em me ver - Vamos fazer algo para comer? Estou faminta.

Fomos lado a lado cavalgando rumo ao casarão. Papai e eu começamos a fazer um bolo, ele contou sobre algumas tentativas de assalto por esses dias nas terras, depois sobre um sonho que teve noite passada com mamãe. Disse também que Joseph não o vinha visitar fazia dois meses, e que estava preocupado.

-Também não sei de Joseph. Desde quando voltei para São Paulo que não o vejo.

-O pior é que o telefone daquele infeliz não atende - balançou a cabeça. Ouvimos o som de viola e colocamos a cabeça para fora da janela, havia uma roda de peão disputando versos, papai explicou que eles laçaram o suposto bandido de gado - Estão achando que são o próprio Zorro.

-Deixe eles se divertirem pai - ri da implicância dele. Eu gostava dos modão e não me importava em ouvir a tarde toda o som das cordas das violas.

-Cambada a toa! - sorriu e me encarou por alguns segundos - Como está Elisa?

Sua pergunta foi simples, mas provocou em mim um turbilhão de sentimentos ao lembrar-se da minha amiga de tantos anos.

-Não sei papai - ele me olhou, esperando uma explicação - Elisa e eu brigamos. Não estou morando mais com ela.

-Está no hotel?

-Sim, já faz algumas semanas.

-O que houve preciosa? Vocês nunca passaram por isso.

-Ela está diferente, dei um tempo pra ver se as coisas melhoravam, mas não adiantou - falei sentindo um amargo na boca.

-Ei! É por isso que está assim?

-Como?

-Pensa que não te conheço? Você é minha única filha, sei tudo sobre você menina. Algo aconteceu, você está sem graça, sorriso amarelo, voz embargada, olhar baixo... Quer me contar o que foi?

Fitei meu pai e não consegui segurar um sorriso, como poderia? Acho que é normal uma pessoa meio triste ficar assim, sempre temos os mesmos sintomas. Olhando para trás não vejo motivos grandes para ficar triste, mas sou uma pessoa muito emocional, perdi uma amiga de vários anos, reencontrei o homem que mais amei nessa vida após cinco anos, reencontrei meu primeiro namorado lindo e gostoso, vi os dois saírem aos murros por causa de mim - isso era pra ser exaltante, mas não foi - moro sozinha em um hotel, e apesar de todo o luxo que me cerca, sinto-me vazia. Do nada meu sorriso sumiu, dando lugar aos olhos lacrimejados. Papai torceu o pescoço vindo ao meu encontro, afundou-me em seus braços fortes, apoiando minha cabeça em seu peito. Aquele cantinho me fazia bem, senti-me protegida dentro do seu abraço e chorei feito criança.

-Papai... Sinto tantas saudades dela - disse entre soluços, referindo-se a minha mãe - Não dou conta de passar por tudo sem ser atingida, não aguento muita coisa sozinha. Por que não posso ser como ela foi?

Cor a Primeira Vista - Volume II da Série Dê-me AmorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora