Capitulo 06

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CAPITULO 06


Acordei com a cabeça latejando, como se eu tivesse dormido um mês inteiro. Estava tudo escuro, a cama era grande demais, o quarto cheirava a vinho e madeira. Sentei com dificuldade, segurei a cabeça como se ela fosse sair pulando do tanto que latejava. Ouvi musica clássica e vozes. Levantei da cama procurando a luz, mas assim que me ergui ela ascendeu sozinha, assustei e meus olhos arderam. Olhei meu reflexo através do grande espelho na parede e observei que vestia apenas calcinha e camisa branca, meu cabelo estava lavado e meu rosto sem nenhuma maquiagem.

"Será que estou na casa de Valentina e ela fez isso tudo por mim?"

Franzi o cenho com o pensamento estranho e abri a porta, a música ficou mais alta e as risadas das pessoas me incomodaram. Reconheci na hora o quadro aquarela que tinha de frente ao quarto em que eu estava. Meu coração falhou, minhas pernas fraquejaram e fiquei paralisada por alguns bons minutos. Depois caminhei ate o batente da escada e me escondi atrás da parede, havia algumas pessoas bebendo e rindo alto demais, a música era linda e triste, dava para ver uma mulher meio japonesa tocando no piano ao lado de outra com um violoncelo. A pesar da falação, minha mente ficou focada no som da música, senti que ela invadiu minha alma, ao mesmo tempo em que me trouxe paz e calma, despertava alguma tristeza por dentro. As duas mulheres tocavam com maestria, com sentimento. Fiquei tão imergida na música que não notei que estava sendo observada. Fui atraída pelo olhar de Henri. Ele estava em pé com as mãos no bolso do lindo terno chumbo e gravata cinza, tinha o cenho levemente franzido, a barba grande deixava seu rosto mais serio. Fiquei paralisada, perdida na visão daquele homem e ao som daquela musica bonita. Henri subiu os degraus e não parou quando chegou do meu lado, deu a volta por trás e pegou-me pela cintura, me prensando na parede, totalmente escondidos do resto do povo lá em baixo.

-Você não dormiu direito. - disse com aquela voz grave e rouca que tirava meus sentidos. Seu hálito era de bebida, estava quente e tive vontade provar sua boca.

-O que estou fazendo aqui?

-Essa é minha casa.

-Mesmo? Pensei que estava no Palácio do Planalto - ironizei.

-Bruce te trouxe. Por que está chorando? - perguntou limpando meu rosto.

-Ahh... Acho que essa música provocou algo em mim, sei lá.

-Chama-se Arioso de Bach. Ela é muito bonita mesmo.

Henri tocou meu rosto, sua mão grande tomava minha face toda, fechei os olhos quando acariciou meu queixo e minha boca com o dedão - ah como senti saudade desse toque - ele causava-me paralisia.

-Eu acho que já ouvi... - falei tentando sufocar o desejo que crescia a cada respiração, sentindo o perfume dele tão próximo.

-Caetano Veloso canta Céu de Santo Amaro nesse ritmo, já deve ter escutado em algum lugar. - disse sussurrando.

Aproximou a boca do meu rosto e beijou minha testa, e depois minha têmpora, depois minha orelha. Parou a boca ali e mordeu meu lóbulo - de novo? Minha orelha não... -, deixei um gemido escapulir arqueando o corpo, estava sem sutiã e pude sentir o bico do meu seio roçar a camisa branca. Henri me prensou com mais força contra a parede, erguendo meus braços para cima e os segurou com uma só mão.

-Onde estava com a cabeça de sair bêbada pela cidade de madrugada e sozinha? - perguntou com a boca colada na minha orelha. Senti meu corpo arrepiar e me contorci, ele apertou mais seu corpo contra o meu. - Perdeu o juízo Jade? Ou quer me deixar louco?

-Não...

-Não o que?

-Não... Não devo satisfação da minha vida á você - resmunguei num fio de voz. Ainda estava sentindo enjôo e minha cabeça doía.

Cor a Primeira Vista - Volume II da Série Dê-me AmorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora