Um Casamento Adorável

Capítulo Três

Edward estava vivendo o inferno na Terra.

Não bastasse sua irmã mais nova, Elizabeth - 16 anos - chegar sem avisos, numa tarde qualquer, cerca de quarenta minutos depois sua outra irmã, Elena, se juntou à eles num divertido chá da tarde. Bem, divertido apenas para elas, que adoravam ver o irmão mais velho sofrendo.

Os assuntos mais constantes nos meses de abril/maio, todos os anos, eram os casamentos. Sabendo que o irmão detestava o tópico e evita ao máximo, as meninas faziam a função da mãe apenas para aporrinhá-lo.

- Você já tem vinte e sete anos, Ed. Está ficando velho. - disse Elizabeth, que com apenas dezesseis anos, enxergava o irmão como um ancião.

- O que você sabe sobre a idade certa para casar? - perguntou Edward num tom pouco interessado.

- Sei muito mais do que você - a menor arrebitou o nariz, tentando provar seu ponto.

- Baseado em quê?

- Eu leio muito sobre isso. - respondeu, mantendo o mesmo nariz empinado.

Elena e Edward levantaram as sobrancelhas e perguntaram ao mesmo tempo:

- Lê?

Elizabeth fez que sim com a cabeça.

A menina passava muito tempo em seu quarto, as vezes sozinha ou até mesmo na companhia de uma ou duas amigas, mas nunca se sabia o que ela andava fazendo. Muito menos o irmão mais velho, ou a irmã Elena, que passou a maior parte do seu tempo no campo. Elizabeth por vezes lia, por vezes escrevia cartas. Mas nunca as enviava. Sempre escrevia para ninguém em particular. Olhava uma pessoa em potencial na rua e começava seu manuscrito: "Querida moça de chapéu azul", e assim por diante. Até ela questionava sua sanidade algumas vezes, mas nada a fez parar. Era um prazer culposo, mas ela não se importava.

Então, quando o assunto ela levantado - sobre o que ela fazia tanto no quarto - ela preferia dizer que lia ao ter que dizer que escrevia para estranhos. Mas é claro, as vezes ela realmente lia.

- Bem, eu sinto muito em lhe dizer que os livros de romance estão iludindo sua cabeça. - disse Edward, depois do que pareceu um minuto de silêncio.

- Seja como for, eu sei sobre o assunto, e nenhuma moça irá querer casar com alguém tão velho. E ainda mais alguém que não possui um título.

Edward estava boquiaberto. Sim, a irmã era conhecida por ser uma tagarela sem concerto, mas autoritária daquele jeito? Disso ele não sabia. Ela parecia saber sobre todas as coisas do mundo. Ou melhor, ela achava que sabia. É claro que ele não estava velho demais para casar-se. Quer dizer, vinte e sete anos é até considerado novo quando o assunto é casamento. Seria demais se ele fosse uma mulher. Com essa idade as mulheres já são consideradas solteironas, mas não os homens. Esses podem relaxar e viver a vida em paz, até decidir realmente construir uma família. Leva um tempo até que essa ideia entre nas suas cabeças.

- Aliás... - ela continuava a falar e falar. Edward as vezes olhava para a irmã, Elena, e percebia que ela também estava querendo fugir da caçula - por que você há de esperar, mesmo? Existem várias moças bonitas a quem você pode cortejar.

Edward revirou os olhos, suspirando.

- Elizabeth, por favor...

Mas a menina não parava.

- Mamãe me falou das moças que ela poderia aprovar como sua possível esposa.

- Elizabeth, será possível? Você não pode calar a boca por um segundo, não? - perguntou Edward com as sobrancelhas franzidas, quase ficando irritado. Seu tom de voz mostrava cansaço, não irritação, mas ele estava quase lá.

- Não. - respondeu Elizabeth secamente, ao perceber que seu objetivo estava sendo alcançado. - Bem, a moça mais encantadora da temporada sem dúvidas é a srta. Charlotte Macclesfield. Ela está em seu primeiro ano, é simplesmente adorável.

- Eu a conheci hoje! - Elena deu um salto do sofá onde estava. - Realmente é uma moça encantadora. Mas não sei se está à seus pés, Ed. - Ela deu um gole no chá, como se tivesse dito a coisa mais gentil.

- Bem, o que eu estou falando sobre isso mesmo? - olhou de Elizabeth para Elena, que se mantiveram caladas - Exatamente: nada! Eu não disse uma só palavra sobre casamento desde que vocês chegaram. Aliás - ele aumentou o tom de voz - nem hoje nem um dia sequer de minha vida!