Capítulo Cinco

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O grande casarão de Lady Lockwood estava lotado, como era de costume nas noites de baile. E os bailes de Lady Lockwood, especialmente, eram sempre conhecidos por ter presente as mais conhecidas peças da alta sociedade.

Edward passou o dia inteiro pensando se iria ou não. A conversa incessante com as irmãs sobre casamento, mais cedo naquele mesmo dia, o havia deixado traumatizado com qualquer possibilidade de ter que dançar a noite inteira com o que sua mãe chamaria de noivas em potencial.

Mas algo em seu pensamento o fez dar uma chance à noite. Aquela moça de vestido e bochechas rosa que ele avistara de sua janela... Ela poderia estar no baile. Edward grudou suas esperanças nesse pensamento e então seguiu até a grande casa de Lady Lockwood, onde estaria toda a sociedade, e com sorte, a adorável moça de rosa. Precisava descobrir seu nome. "Moça de rosa" não lhe caía bem.

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Andando por entre a multidão, Charlotte observava todos ao seu redor. Tudo o que acontecia. Infelizmente, quando seus ouvidos se abriam para ouvir tudo o que estava se passando no restante do local, ela instantaneamente se desligava do que estava acontecendo a um metro de distância de seu corpo. Seguindo reto direção a ninguém em especial, Charlotte tinha ao lado sua irmã, Lucy e a mãe, Eloise. E também uma mesa com vários copos e uma jarra de limonada, que ela não viu - pois seu olhar estava muito além - e esbarrou o quadril na quina da mesa.

- Aiiii! - gemeu - Como não vi esse trambolho? - sussurrou. Lucy lhe deu um tapa no braço.

- Não fale assim! - Reclamou, mas Charlotte pôde ver que ela prendia o riso. - Alguém pode lhe ouvir.

- Mas está doendo! - quis berrar, mas falou entre dentes.

- Preste mais atenção da próxima vez, então, ou se não...

Mas o que quer que Lucy fosse falar, foi interrompido por um braço passando à sua frente, indo em direção da irmã. Charlotte pareceu constrangida com a interrupção, mas o olhar severo de sua mãe deixou bem claro que ela deveria atender ao pedido do rapaz a sua frente e conceder-lhe a dança.

O rapaz intrometido era Thomas Beckett, um jovem solteiro que foi imediatamente atraído pela beleza de Charlotte. Segurou a mão da moça delicadamente, dando-lhe um beijo suave, e não tirou os olhos de sua boca por um só segundo, algo que Charlotte achou muito inconveniente. Não suportava quando mantinha uma conversa com alguém que não lhe olhava nos olhos. Achava falta de respeito e nunca acreditava que a pessoa estava mesmo prestando atenção no que falara, e bem, se tinha uma pessoa que falava e queria ser ouvida, essa pessoa era Charlotte.

A dança seguiu arrastada. Charlotte não sabia quantos anos o rapaz tinha, mas ele parecia ansioso e não parecia ter mais de vinte e cinco anos. Sua conversa também não era nada atrativa. Em um momento Charlotte se perguntou se ele realmente estava tagarelando sobre suas novas botas.

Agradeceu mentalmente quando conseguiu se desvencilhar de Thomas e seguiu rumo à mesinha com limonada que antes atingira seu quadril. Olhando ao redor, viu os casais dançando animados. As meninas sempre com olhares brilhando e os rapazes, por muitas vezes, parecendo entediados. Encheu seu copo de limonada e pegou um dos doces que estava em uma mesa não muito longe. Quando o estava quase levando até a boca, uma voz grave chegou até seus ouvidos:

- Era você! - disse a voz. Charlotte virou-se em direção ao dono da voz. Não sabia de quem se tratava, mas sua cabeça estava girando pois ela com certeza o achava familiar.

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Edward chegou ao baile quando já havia muita gente lá. Não sabia se ficava triste ou feliz por isso, já que não queria ser notado mesmo, mas por outro lado, queria ver quando as moças chegassem ao local. Ainda tinha esperanças de encontrar a "moça de rosa" em algum lugar; quem sabe ela ainda não tinha chegado até lá... Sua cabeça girava e seu olhar alternava entre a porta e o salão de dança.

Vários casais rodopiavam ao redor do salão. Era difícil identificar algumas pessoas à luz de velas, mas ele pensou que quando a visse, reconheceria. Estava com as esperanças altas.

- Edward! - alguém gritou seu nome - Edward! Aqui! - então ele olhou e viu sua irmã, Elena, acenando como se quisesse chamar a atenção de um chimpanzé. Edward bufou. Ainda não queria saber de conversas com Elena.

- Ouça... me desculpe por mais cedo. Não quis ofender. - lamentou-se.

- Mas Elizabeth quis! - Retrucou o mais velho.

Elena cobriu a boca com a mão mas ainda assim deixou escapar um risinho.

- Sim. Ninguém segura aquela garota. Que bom que ela não está na idade de casar ainda. Os rapazes sofrerão.

- Coitado deles. Nessas horas agradeço por ser seu irmão. Não terei que cortejá-la, nunca. - Edward olhou para um ponto fixo, como se estivesse imaginando a cena. - É. Não seria legal. Acho que eu lhe arrancaria a cabeça.

Elena riu, agora sem cobrir a boca.

- É muito bom estar de volta...

- Nunca entendi por que você passou tanto tempo no campo.

- Eu gosto. Lembra nossa infância, com nosso pai... - O semblante da garota mudou repentinamente. Sua boca curvou-se para baixo num sorriso triste.

Edward ficou sem palavras. Lembrou do pai, coisa que não fazia havia muito tempo.

Gerard Crane sempre fora um pai exemplar. A falta que ele fazia para os filhos mais velhos nunca seria compreendida por ninguém.

Edward suspirou, de repente, fazendo Elena - que também estava paralisada, sem fala - saltar.

- Bem. - ele disse depois de um tempo - O importante é que agora você está de volta.

Ela assentiu.

- Será que podemos mandar Elizabeth no seu lugar? - Indagou Edward.

- Seria ótimo. Para ela e - parou por um segundo, como se tivesse tomando fôlego - para nós, principalmente.

Edward riu, mas logo seu rosto ficou sério. Não, não sério. Ficou impassível. Todo o sangue do seu rosto sumiu. Elena não percebeu de imediato. Ainda estava sorrindo alegre quando olhou para o irmão e se alarmou.

- O quê? Edward? - então olhou para a direção em que Edward olhava. Ele encarava uma moça sem piscar. Vidrado. Então ela perguntou:

- Você a conhece? Charlotte?

- Quem? Você a conhece? - Questionou inconformado, mas logo depois saiu andando por entre as pessoas, sem ouvir a resposta da irmã. Estava com o coração acelerado. Não acreditava na sua própria sorte. Não conseguiu pensar enquanto andava, sua mente fixou-se na moça. Na... mulher. À luz de velas ela não parecia tão inocente. Estava com um vestido azul que realçava sua pele e seus olhos. Eles brilhavam. Ele percebeu mesmo que ela não estivesse olhando em sua direção, que os olhos da moça eram azuis como o céu da manhã, e brilhavam como se refletissem o sol.

Depois de cotovelar praticamente todos que se puseram em seu caminho, Edward alcançou a moça. Estava ao lado da mesa de bebidas, com um dos doces na mão, levando-o a boca.

- Era você! - se forçou a dizer. Seu coração estava acelerado e o pulmão parecia prestes a parar de funcionar. Era ela. Ela. Ele tinha certeza.

Era ela.

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Leia Um Clichê Para Chamar de Meu, da mesma autora. Uma comédia romântica sobre uma escritora independente em busca do seu clichê perfeito; seja na vida real ou na ficção.

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