Capítulo Dezenove

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- Boa tarde, senhorita Macclesfield.

O visconde estava bem-humorado, sorrindo como se dias antes não tivesse sido rejeitado e deixado de lado por uma das moças mais desejadas da temporada. Ou ele era incrivelmente confiante ou estava disfarçando muito bem.

- Boa tarde, sir.

- Pode me chamar de John. Ou de Grant. - falou entre sorrisos.

- Prefiro Sir. - rosnou Charlotte, então olhou para o irmão.

Ao contrário do visconde, Charlotte não estava nada contente. Sentia muitas coisas, e nenhuma delas era boa. Raiva do irmão. Mágoa, também do irmão. Repulsa do homem parado a sua frente;

Mal conhecia John Grant, o adorado visconde, mas não evitava ligar sua imagem à imagem de uma vida triste e vazia.

Sentia-se também traída por seu irmão, Charles. Ele, tecnicamente, tinha o direito de exigir que ela se casasse com quem fosse, mas nunca, nunquinha, Charlotte pensou que ele iria usá-lo. Sempre foram muito grudados. Como irmão mais velho, Charles sempre bancou o pai de Charlotte, mesmo quando o verdadeiro ainda era vivo. Ele a defendia e ficava ao seu lado. Agora era totalmente diferente. Ele não estava do lado de Charlotte. Estava agindo como um ogro. Ele achava Charlotte egoísta, e ela achava que ele quem estava agindo com egoísmo. Estavam batendo de frente um com o outro.

Quando esse pensamento brotou na cabeça de Charlotte, lágrimas surgiram em seus olhos. Charles estava sentado na poltrona marrom solta no meio da sala. Estava sério, mas Charlotte sabia que ele estava satisfeito.

- Bem, Senhor Grant. É um prazer tê-lo conosco. Ainda mais com tão boas intenções.

Charlotte grunhiu.

- Eu não poderia ter intenções melhores, Sir. E não estaria mais feliz! A srta. Macclesfield é de uma graciosidade tamanha.

A menina, que estava sentindo-se de lado na sala, onde deveria ser o centro das atenções, sorriu sem vontade.

- Charlotte, não seja mal-educada. Conte ao sr. Grant suas habilidades. Posso apostar que são muitas.

Charlotte mexeu-se inquieta no sofá.

- Na verdade, não são. - Olhou para sr. Grant de soslaio e o percebeu decepcionado. Ela endireitou a postura. - Se me permite dizer, não há alguma. Sou uma moça um tanto inútil.

- Charlotte! - repreendeu-a Charles, severo.

Irritada, Charlotte levantou-se de súbito.

- Preciso ir ao toalete. - olhou para Grant e sorriu com o canto da boca. Se retirou rapidamente, para não ser repreendida pelo irmão novamente.

Lembrou-se de Edward que achara graça da habilidade um pouco incomum de Charlotte. Conseguiu sorrir por um segundo, mas doía. Doía pensar que, se fosse Edward ali no lugar de John Grant, ela estaria mais do que satisfeita. Radiante, com o coração tomado pelo júbilo. Não estaria se aguentando de alegria. Marcaria o casamento para a próxima semana e viveria uma vida feliz, com o homem que realmente amava. Mas, com os lugares trocados... John Grant era só mais pretendente que ela desejara deixar de lado. Jamais imaginaria ser forçada a fazer sala para uma pessoa de quem não gostava.

Subindo as escadas, Charlotte deu de frente com Lucy, que vinha descendo os degraus, cantarolando.

- Ora, Charlie! Não deverias estar com o sr. Grant à essa altura?

Charlotte fungou e levantou o queixo.

- Bem, sim. Mas não suporto estar ao lado dele, Lucy. Não consigo olhá-lo com graça. Quero, desesperadamente, estar com outra pessoa.

Lucy olhou-a com piedade. Sentia muito pela irmã. Não saberia como agir de Charles fizesse o mesmo com ela, mas achava que ele não seria capaz.

- Onde você está indo assim tão feliz, aliás?

Lucy baixou o olhar e tentou não sorrir. Sem sucesso. Abriu um sorriso largo que quase ia de orelha à orelha.

- Estou indo encontrar-me com Linus.

- O quê?! - Charlotte arregalou os olhos e soltou um grito agudo.

Lucy tentou silenciá-la para não chamar atenção. Eloise estava ali por perto, em algum dos quartos.

- Estou indo encontrar-me com Linus - sussurrou novamente. - Marcamos o local do piquenique para encontros diurnos.

- Não sabia que vocês também se encontravam à luz do dia.

- Pois sim. Não há como aguentar a falta que ele me faz.

- Ah! como eu queria ter essa sorte. Daria tudo para encontrar-me com sr. Crane agora.

- Por que não o faz? - Sugeriu Lucy.

- Como assim, por que não o faço? - Charlotte pareceu impressionada. - não sei onde ele se encontra agora. Pode estar até fora da cidade.

Lucy soltou ar pela boca, cansada.

- Claro que não, Lucy. Ele não sairá da cidade tão cedo, tendo você tão perto...

Charlotte não conteve o sorrido.

- Achas mesmo?

- Com absoluta certeza, Charlie. Devias vir comigo.

- Estás louca? Sr. Grant está na sala a minha espera. E Charles está impaciente. Não o posso desobedecer mais uma vez.

- Por que não? - Lucy revirou os olhos, inquieta.

Charlotte ficou tão embasbacada que não soube responder. No fim das contas achou melhor não desobedecê-lo mesmo. Lucy continuou a descer as escadas feliz e Charlotte viu quando ela saiu pela porta lateral para não ter que passar pela sala.

- Onde realizaremos o casamento? - ouviu Charles perguntando e quase jogou-de no chão, sem forças. Já estavam a falar do casamento! Que absurdo. Faria de tudo para não ter que voltar à sala. Faria de tudo para entrar em contato com Edward. Como seria maravilhoso tê-lo ali.

Estava tão presa àquele início de romance que não conseguia tirá-lo da mente. Charlotte entrou no banheiro e encostou a testa na porta. Fechou os olhos e suspirou pesadamente. Virou-se, ficando com as costas agora encostadas na porta e deixou seu corpo escorregar até estar completamente no chão. Enterrou o rosto no meio das mãos e se permitiu chorar. Tinha a esperança, bem no fundo do peito, que as coisas de ajeitariam. Que tudo se alinharia e ela conseguiria o amor de Edward sem passar por tantos maus bocados.

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Leia Um Clichê Para Chamar de Meu, da mesma autora. Uma comédia romântica sobre uma escritora independente em busca do seu clichê perfeito; seja na vida real ou na ficção.

Beijos!

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