Capítulo Quatro

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- Deixe-me ver o que você tem aí?

Charlotte havia acabado de chegar em casa com sua irmã. Tinha em mãos uma sacola com dois vestidos dentro. Um simples e um super-requintado, destinado ao baile de Lady Lockwood. Charlotte entregou a sacola nas mãos da mãe e aguardou as críticas.

Lucy também estava na sala, mas Eloise nem olhou para a segunda filha. Estava ocupada demais ficando orgulhosa de Charlotte, sua nova boneca. Queria fazer com que ela se casasse o mais rápido possível.

- Este! Deve ter sido a peça mais bonita da loja. E claro, só serviria em você. Ninguém mais ficaria tão graciosa nestas roupas! - Os olhos da sra. Macclesfield brilhavam ao olhar a mais nova roupa da filha. Lucy observava com o canto dos olhos enquanto a mãe a ignorava.

- Esse azul ficará perfeito. Não vejo a hora de irmos ao baile! Todos os melhores pretendentes estarão lá. - Tagarelava a mãe.

- Veja, mamãe. - Charlotte foi até a irmã sentada num sofá de couro velho e puxou dela as sacolas da loja - Olhe que lindo esse vestido que escolhemos para Lucy.

Eloise olhou para a peça com desdém.

- O que adianta um vestido bonito se o rosto não agrada?

Lucy afundou mais ainda na poltrona marrom e se sentiu a menor criatura do mundo.

Charlotte engoliu em seco, sentindo-se envergonhada pela atitude da mãe. Jamais tratara Lucy mal e não via razão para a própria mãe fazer isso. Sua ambição, por vezes, era maior do que o amor pela filha, o que deixava Charlotte aflita. Não queria, de forma alguma, que Lucy fosse desprezada por sua causa.

- Ora, mamãe. Não fale essas coisas. - Repreendeu Charlotte, com a voz doce. Um fato que só ela era capaz.

O olhar severo da mãe a fez entender que não podia falar mais uma palavra sequer. Então Charlotte olhou para Lucy na grande poltrona de couro e viu seus olhos marejados. Nunca havia se sentido tão mal e tão impotente antes.

Depois do que pareceram três horas - mas foram só alguns minutos - em que Eloise passava a ficha de todos os pretendentes que poderiam chamar atenção de sua filha, Charlotte finalmente levantou-se e partiu em direção à porta, lançando um olhar à irmã que sugeria que ela a acompanhasse. Mesmo se não a tivesse convidado a se retirar também, duvidava que Lucy ficaria com a mãe mais um segundo naquela sala escura e triste.

××××××

Já no quarto, Charlotte se preparava para o baile de Lady Lockwood enquanto a irmã chorava sentada na beirada da cama.

- Você sabe que não deve se abalar com as coisas que mamãe diz, não é? - Charlotte tentava acalmá-la. - Ela não faz por mal.

- É por mal, sim, Charlie. - Ela fungou - As coisas ficaram muito feias para o meu lado desde aquela minha primeira temporada, poucos anos atrás. - Suspirou forte, como se as lembranças a estivessem sufocando - E piorou bem mais quando ela viu que você seria uma candidata forte e logo se casaria - Concluiu baixinho, quase para si mesmo.

- Fico muito triste todas as vezes que presencio a frieza dela com você. É de partir o coração. - Charlotte parou em frente a irmã, com o vestido azul já todo posto no corpo. - Sinto como se eu fosse responsável, mesmo indiretamente.

- Mas você não é! - Lucy apressou-se em dizer. Quase gritar, na verdade. Se tinha uma coisa que ela não suportaria, afora os destrates da mãe, seria a fazer Charlotte sentir-se culpada. Pelo que quer que fosse. - Não temos culpa. Mamãe é fria assim, é de sua própria natureza. Não podemos achar que o problema é pessoal.

- Mas nada me agrada suas atitudes.

Lucy arriscou um sorriso. Sabia que a única pessoa naquela casa com o poder de fazê-la sentir bem era sua irmã, que mesmo tendo todo o amor e atenção da mãe - que ela não teve - não altera o comportamento por causa disso.

Charlotte penteou os cabelos num coque mediano com mechas pendendo dos dois lados do rosto. Um penteado simples, para ela que não gostava de se arrumar tanto. Ordenou que Lucy andasse logo, já que estava quase na hora de pegarem uma carruagem e seguirem rumo ao baile. Não ficava distante, mas Eloise com certeza as apressaria. As irmãs sabiam bem que a mãe tinha o dom de tirá-las do sério, como havia feito mais cedo naquele dia, e não queriam passar pelo mesmo estresse.

Depois de quase meia hora minutos, Lucy estava pronta. Tão simples quanto a irmã, com um vestido bege sem muitos babados - como costumava usar. Charlotte a orientou que o antigo visual da irmã não atraía os homens, e se ela queria ter algumas visitas no dia seguinte não deveria exagerar nos panos. Lucy obedeceu, de repente muito animada com a ideia de ter alguma visita masculina - ela nunca tivera nenhuma.

Com uma batida sutil na porta, Eloise chamou as meninas, anunciando que a carruagem já estava a postos. E assim seguiram elas, cheias de esperanças, ruma a uma noite que poderia mudar suas vidas.

Ou poderia ser só mais um baile da alta sociedade, com mães desesperadas e homens desinteressados.

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Um Casamento AdorávelWhere stories live. Discover now