Capítulo Vinte e Nove

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Linus Turner sempre fora o tipo de menino que não dá trabalho para a mãe. Calado, quieto e distante, cresceu recluso. Não se enturmava nas festas e preferia observar. Estava sempre observando. Na adolescência, um fato mudou todo seu jeito. Virou de cabeça para baixo o mundo do garoto calado. E esse fato tinha nome e sobrenome. Valeria Strass, a garota mais espontânea e alegre que ele já vira. Valeria morava a duas casas de Linus, de forma que os dois sempre estavam juntos.

Valeria foi o primeiro amor de Linus, e Linus foi o seu. O primeiro e único para a moça, infelizmente.

Casaram-se aos vinte anos, quando a paixão não podia estar mais forte. As famílias eram amigas e apoiaram a união precoce. Linus e Valeria viveram numa pequena casa no campo, bem perto de suas famílias.

Linus aprendeu diversas coisas com Valeria. Coisas valiosas. Aprendeu a ser mais espontâneo, aprendeu a gostar de surpresas e de eventos repentinos. Aprendeu a gostar de festas, a valorizar os pequenos momentos e ficou ciente do valor que tinha as pessoas ao seu redor.

Essa pareceu ser a missão de Valeria na Terra: ensinar Linus Turner a viver, enquanto ela morria.

Passaram quatro anos casados, apaixonados. Não tiveram filhos. Não por falta de tentativa; não. Alguns problemas de saúde de Valeria a impediam de ser mãe, mas mesmo assim, ela não abaixou a cabeça para essa infelicidade. Não se deixava abalar quando via uma criança no colo de outrem. Mantinha o foco em outras coisas que julgava tão importantes quanto.

Quando ficou doente, Valeria agiu como se fosse a pessoa mais saudável do mundo, enquanto Linus desabava ao seu lado, na cama, dia após dia. Uma tuberculose repentina, causada por um banho no lago frio junto com Linus, a pegara de surpresa. Ele não sofreu com nada, nem uma tosse, enquanto todos os pesares foram para sua esposa.

Quando Valeria veio a falecer, Linus sentiu que também partiria, tamanha era sua dor.

Passou dois anos se culpando pelo acontecido. Voltou a ser aquele Linus excluído que era antes de Valeria entrar em sua vida. Voltou a se trancar no quarto, sozinho com seus pensamentos tristes, esperando sua vez de ir. Era isso que ele desejava: partir para onde pudesse encontrar seu amor novamente.

Dois anos se passaram.

Dois longos anos.

Aos vinte e seis anos, Linus Turner abriu os olhos e viu um breve filme do que seria sua vida se continuasse daquela forma. No mesmo momento, enquanto repassava o último ano e imaginava como seriam os próximos, as imagens de Valeria sorrindo e correndo com os cabelos esvoaçantes contra o vento invadiram sua mente com força. Ele se viu sorrindo, pela primeira vez em dois anos. Se viu com uma ponta de felicidade nos lábios, aqueles que se alargavam ao lembrar de sua amada esposa. Amada e falecida.

Pensou no que aconteceria se Valeria ainda estivesse ali, com ele. Como seria doloroso para ela vê-lo daquela forma. E seria doloroso para ele, saber que causara dor na pessoa que mais amava.

Levantou-se lentamente, repassando os pensamentos dos últimos minutos. Ou horas. Ele não sabia realmente quanto tempo passara divagando sobre o possível futuro. Deu dois tapas em cada lado do rosto e acordou, finalmente.

Arrumou-se como se fosse para uma viagem pelo mundo, com as malas cheias, esborrando com todas suas roupas. Chegou ao quarto de sua mãe e anunciou sua partida. Dividida entre a felicidade – por ver o filho em pé novamente – e a aflição – por ver o filho partindo para longe, sem data de volta – Lídia Turner o abençoou e desejou boa sorte.

Assim Linus seguiu para Londres, deixando o campo de lado, junto com todas as memórias – boas e ruins – dos últimos anos. Sentiu o vento batendo em seu rosto e algo diferente o rondava. Estava receoso. Não sabia o que o destino lhe reservava, mas sabia que tinha que tentar. Arriscar. Viver. Depois de dois anos sofrendo e vivendo no passado, era a hora de construir um futuro feliz, como Valeria gostaria. Como ele gostaria, no final das contas.

Lucy Macclesfield nunca se sentiu desejada.

Sempre foi o tipo de garota que, quando frequentava os bailes, os rapazes não a chamavam para dançar por interesse, e sim por obrigação. Sua vida inteira foi composta de uma frustração atrás da outra.

Sentir-se bem consigo mesmo era uma coisa difícil, principalmente depois de ver a irmã mais nova chamando a atenção de todos os solteiros da cidade. Mas ela não se queixava. Não se sentia inferior por isso, e já havia se acostumado com a ideia de uma vida sozinha, aproveitando de outros prazeres que não o casamento. Tudo fora planejado em sua cabeça, em todas as noites em que passou em claro, matutando sobre o futuro.

Tudo arquitetado.

E todo seu planejamento de uma vida fora embora no minuto em que ela viu Linus Turner.

Aquele rapaz bem-educado, bonito e charmoso, que chegara à cidade sem anúncio, sem dizer o porquê e se encantara logo com ela.

Ela, que nunca era notada por ninguém. Foi preciso alguém de outro lugar chegar, e nota-la. Apreciá-la da forma que ela merecia. E nada até aquele momento havia feito Lucy Macclesfield estremecer como Linus Turner fez.

O momento, ali na sala de sua casa, com sua mãe de testemunha – uma péssima espectadora – e um coração acelerado gritando, querendo viver, ela soube o que era estar apaixonada. Foi amor à primeira vista, ao primeiro toque, à primeira palavra trocada.

E Linus Turner, com seu passado sofrido, um romance interrompido no auge e um coração ferido, procurando por abrigo, viu em Lucy a possibilidade de recuperação. Viu nela seu porto seguro. Assim que pousou os olhos na moça, soube, instantaneamente, como alguém sabe que o céu é azul quando acorda pela manhã, que ela era a pessoa que ele procurava. Que ele precisava.

E nos dias que se seguiram, mesmo com os obstáculos, os dois respiraram um ao outro. Viveram intensamente o amor que tinham para viver, sem se arrepender de nem um segundo junto. Porque, pensava Lucy: quando um amor nessas proporções aparece em nossa vida, a última coisa que temos que fazer é teme-lo. E Linus, sabendo como essa afirmação era verdadeira, não podia agir de outra maneira.

Começou assim um dos romances mais bonitos que já foi visto. Intenso, proibido e verdadeiro.

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Cap. do Linus e Lucy <3 <3 <3 <3 espero que gostem!

Leia Um Clichê Para Chamar de Meu, da mesma autora. Uma comédia romântica sobre uma escritora independente em busca do seu clichê perfeito; seja na vida real ou na ficção.

Beijos!

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