Capítulo Vinte e Sete

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No dia seguinte Charlotte não viu Edward. Os homens em sua companhia foram apenas Charles, seu irmão, e John Grant, seu futuro marido.

A visita do visconde à casa dos Macclesfield foi rápida e direta: ele foi apenas oficializar o pedido de casamento em frente à Eloise, que ficou mais do que feliz com a notícia. Ela já sabia, é claro, que a filha era forte candidata à noiva do visconde, mas nada havia sido esclarecido ainda.

Charlotte atuou. Pareceu feliz o dia inteiro – bem, o quanto ela pôde – e não deu suspeitas sobre seu plano com Edward Crane. Para todos os efeitos, ela tinha apenas colocado a mão na consciência e percebido o quanto aquele casamento seria bom para todos.

- Estou feliz que você, finalmente, decidiu agir de forma sensata, Charlotte. – Disse Charles, chegando próximo à irmã com uma bebida nas mãos.

Charlotte sorriu por trás do copo de limonada.

- Estou realmente impressionado. O que a fez mudar de ideia?

Ela o olhou fixamente nos olhos, quase o desafiando. Se ele soubesse como ela se sentia mesmo, teria percebido as chamas em seu olhar.

- Sabe... – Charlotte pousou o copo na mesa – enquanto eu pensava em tudo o que poderia ser da minha vida, uma vozinha invadiu minha cabeça. – Ela sorriu abertamente. Estava impressionada com sua capacidade em fingir. – E adivinha de quem era a voz, Charles?

Charles terminou sua bebida com um só gole e pousou a mão no ombro da irmã caçula.

- Você me agradecerá no futuro, Charlie. Pode parecer ruim agora, mas no futuro será a melhor opção.

- Que opção? Eu não tive opção. – Charlotte deixou o verdadeiro sentimento transparecer no momento e logo se arrependeu. Respirou fundo e emendou – Mas estou feliz, sim, com minha decisão.

- Muito bem. – Charles apertou o ombro dela e a soltou, dando-lhe as costas e deixando que John Grant se aproximasse.

Charlotte grunhiu, insatisfeita com o rodízio de homens querendo sua atenção.

- Charlotte. – O visconde fez uma reverência breve e segurou a mão de Charlotte, dando-lhe um beijo suave. – É maravilhoso oficializar nossa união.

- Ainda não tem união alguma, Sr. Grant. Ainda não casamos.

- Mas casaremos em breve. Quero que aconteça o mais rápido possível. Duas semanas, no máximo.

Charlotte engoliu em seco.

- O quê? Duas semanas?

- Menos? Pode ser semana que vem, sem problemas. – John encheu um copo com limonada e ofereceu a Charlotte, que recusou. Ele então virou a bebida e terminou num só gole.

- Não. – Charlotte sussurrou, mais para si mesma. Recuperou a compostura e disse mais firmemente – Não! Em duas semanas está... ótimo.

- Então está tudo acertado. Uma cerimônia simples, apenas para a família e amigos. Soube que a senhorita está muito amiga dos Crane. Chame-os. Será um prazer.

Charlotte quase sentiu uma faísca. Pensou se John sabia de alguma coisa.

A forma que ele falou foi muito afiada, como se soubesse de segredos que ela procurava esconder. Mas não seria possível. Ninguém sabia do que acontecia entre ela e Edward.

Ninguém podia saber.

Charlotte optou por ignorar aquela paranoia.

Não podia ficar agindo desconfiada quando o assunto era os Crane. Eles eram uma família conhecida por todos os moradores da cidade, e a amizade entre Charlotte, Lucy e Elena estava aberta para quem quer ver, e não havia nada de mal nisso. Embora ele tenha falado não só das meninas, mas de todos os Cranes, não havia nada que suspeitar. Uma amizade era a coisa mais normal do mundo, e Charlotte não entregaria todo seu segredo por um único detalhe. Continuaria sendo amiga de Elena Crane, e ninguém poderia tirar nada dali.

Estava decidido.

Charlotte percebeu que não respondeu ao comentário do visconde, então sorriu sem graça e concordou com um movimento de cabeça.

- Desculpe, sr. Grant. Acho que Lucy está à minha procura.

Lucy não estava, mas aquela desculpa pareceu perfeita.

Ao achar a irmã no meio das poucas pessoas na sala, Charlotte disparou até lá. Quase correu, ignorando os bons modos e a curta distância entre as duas. Ficou feliz ao perceber que não teria que lidar com nenhum dos dois homens presentes, ao menos por um tempo.

- Como está sendo tudo isso para você, Charlie? – Perguntou Lucy, gentilmente. Ela sabia do plano de Edward e Charlotte, e sabia o quanto a irmã detestava o futuro marido.

- Estou bem. Acho que estou conseguindo lidar. – Suspirou profundamente, então olhou com atenção para Lucy. Ela parecia aflita. – E como está o.... você sabe... – Charlotte levou a mão à boca e tentou abafar o que iria falar – Sr. Turner?

Lucy mordia as unhas. Estava claramente nervosa.

- Ele voltou. – Disse.

- É mesmo? – Charlotte quase pulou.

- Sim. Não demorou muito... mas sinto alguma coisa errada. Ele disse que precisamos conversar e esclarecer algumas coisas.

- Ah, não será nada demais. Você verá.

- Tenho medo. Queria tanto anunciar um casamento em breve, Charlie.

Charlotte segurou a mão da irmã e apertou com força.

- Você fará isso, Lucy. Pode acreditar que sim. Farei de tudo para acertar as coisas para você antes de partir.

- Sentirei tanto sua falta, Charlie. – Lucy a abraçou inesperadamente. Estava com o rosto vermelho, tentando não chorar.

- Não fale essas coisas aqui. Ah, meu Deus. Viu só? Já estamos chorando.

As duas estavam, mesmo, mas nesse momento riram com gosto.

- Também sentirei sua falta. – Charlotte fungou e continuou. – Mas será o melhor. Para mim e para você.

Sorriu cordialmente e abraçou a irmã novamente, mas sem o choro de antes.

- Escute, Lucy. – Charlotte encarou o olhar de Lucy. – À noite, vá até meu quarto. Tem uma coisa que eu preciso lhe contar.

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Um Casamento AdorávelOnde as histórias ganham vida. Descobre agora