No dia seguinte Charlotte não viu Edward. Os homens em sua companhia foram apenas Charles, seu irmão, e John Grant, seu futuro marido.
A visita do visconde à casa dos Macclesfield foi rápida e direta: ele foi apenas oficializar o pedido de casamento em frente à Eloise, que ficou mais do que feliz com a notícia. Ela já sabia, é claro, que a filha era forte candidata à noiva do visconde, mas nada havia sido esclarecido ainda.
Charlotte atuou. Pareceu feliz o dia inteiro – bem, o quanto ela pôde – e não deu suspeitas sobre seu plano com Edward Crane. Para todos os efeitos, ela tinha apenas colocado a mão na consciência e percebido o quanto aquele casamento seria bom para todos.
- Estou feliz que você, finalmente, decidiu agir de forma sensata, Charlotte. – Disse Charles, chegando próximo à irmã com uma bebida nas mãos.
Charlotte sorriu por trás do copo de limonada.
- Estou realmente impressionado. O que a fez mudar de ideia?
Ela o olhou fixamente nos olhos, quase o desafiando. Se ele soubesse como ela se sentia mesmo, teria percebido as chamas em seu olhar.
- Sabe... – Charlotte pousou o copo na mesa – enquanto eu pensava em tudo o que poderia ser da minha vida, uma vozinha invadiu minha cabeça. – Ela sorriu abertamente. Estava impressionada com sua capacidade em fingir. – E adivinha de quem era a voz, Charles?
Charles terminou sua bebida com um só gole e pousou a mão no ombro da irmã caçula.
- Você me agradecerá no futuro, Charlie. Pode parecer ruim agora, mas no futuro será a melhor opção.
- Que opção? Eu não tive opção. – Charlotte deixou o verdadeiro sentimento transparecer no momento e logo se arrependeu. Respirou fundo e emendou – Mas estou feliz, sim, com minha decisão.
- Muito bem. – Charles apertou o ombro dela e a soltou, dando-lhe as costas e deixando que John Grant se aproximasse.
Charlotte grunhiu, insatisfeita com o rodízio de homens querendo sua atenção.
- Charlotte. – O visconde fez uma reverência breve e segurou a mão de Charlotte, dando-lhe um beijo suave. – É maravilhoso oficializar nossa união.
- Ainda não tem união alguma, Sr. Grant. Ainda não casamos.
- Mas casaremos em breve. Quero que aconteça o mais rápido possível. Duas semanas, no máximo.
Charlotte engoliu em seco.
- O quê? Duas semanas?
- Menos? Pode ser semana que vem, sem problemas. – John encheu um copo com limonada e ofereceu a Charlotte, que recusou. Ele então virou a bebida e terminou num só gole.
- Não. – Charlotte sussurrou, mais para si mesma. Recuperou a compostura e disse mais firmemente – Não! Em duas semanas está... ótimo.
- Então está tudo acertado. Uma cerimônia simples, apenas para a família e amigos. Soube que a senhorita está muito amiga dos Crane. Chame-os. Será um prazer.
Charlotte quase sentiu uma faísca. Pensou se John sabia de alguma coisa.
A forma que ele falou foi muito afiada, como se soubesse de segredos que ela procurava esconder. Mas não seria possível. Ninguém sabia do que acontecia entre ela e Edward.
Ninguém podia saber.
Charlotte optou por ignorar aquela paranoia.
Não podia ficar agindo desconfiada quando o assunto era os Crane. Eles eram uma família conhecida por todos os moradores da cidade, e a amizade entre Charlotte, Lucy e Elena estava aberta para quem quer ver, e não havia nada de mal nisso. Embora ele tenha falado não só das meninas, mas de todos os Cranes, não havia nada que suspeitar. Uma amizade era a coisa mais normal do mundo, e Charlotte não entregaria todo seu segredo por um único detalhe. Continuaria sendo amiga de Elena Crane, e ninguém poderia tirar nada dali.
Estava decidido.
Charlotte percebeu que não respondeu ao comentário do visconde, então sorriu sem graça e concordou com um movimento de cabeça.
- Desculpe, sr. Grant. Acho que Lucy está à minha procura.
Lucy não estava, mas aquela desculpa pareceu perfeita.
Ao achar a irmã no meio das poucas pessoas na sala, Charlotte disparou até lá. Quase correu, ignorando os bons modos e a curta distância entre as duas. Ficou feliz ao perceber que não teria que lidar com nenhum dos dois homens presentes, ao menos por um tempo.
- Como está sendo tudo isso para você, Charlie? – Perguntou Lucy, gentilmente. Ela sabia do plano de Edward e Charlotte, e sabia o quanto a irmã detestava o futuro marido.
- Estou bem. Acho que estou conseguindo lidar. – Suspirou profundamente, então olhou com atenção para Lucy. Ela parecia aflita. – E como está o.... você sabe... – Charlotte levou a mão à boca e tentou abafar o que iria falar – Sr. Turner?
Lucy mordia as unhas. Estava claramente nervosa.
- Ele voltou. – Disse.
- É mesmo? – Charlotte quase pulou.
- Sim. Não demorou muito... mas sinto alguma coisa errada. Ele disse que precisamos conversar e esclarecer algumas coisas.
- Ah, não será nada demais. Você verá.
- Tenho medo. Queria tanto anunciar um casamento em breve, Charlie.
Charlotte segurou a mão da irmã e apertou com força.
- Você fará isso, Lucy. Pode acreditar que sim. Farei de tudo para acertar as coisas para você antes de partir.
- Sentirei tanto sua falta, Charlie. – Lucy a abraçou inesperadamente. Estava com o rosto vermelho, tentando não chorar.
- Não fale essas coisas aqui. Ah, meu Deus. Viu só? Já estamos chorando.
As duas estavam, mesmo, mas nesse momento riram com gosto.
- Também sentirei sua falta. – Charlotte fungou e continuou. – Mas será o melhor. Para mim e para você.
Sorriu cordialmente e abraçou a irmã novamente, mas sem o choro de antes.
- Escute, Lucy. – Charlotte encarou o olhar de Lucy. – À noite, vá até meu quarto. Tem uma coisa que eu preciso lhe contar.
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Um Casamento Adorável
Historical FictionEdward Crane está confortável em sua vida de solteiro. Charlotte Macclesfield está em sua primeira temporada, não necessariamente buscando um marido, mas aberta às possibilidades. Quando ela conhece o herdeiro da família Crane, não imagina o que p...