Knight's Selection

Por MyLightNovel

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KNIGHT'S SELECTION História por Haru Kiyatake Ilustrações por Rafael de Souza Revisão por Kyn Distribuição:... Más

A Assistente e o Cavaleiro
Voltando às Aulas
Fazendo novos amigos (ou pelo menos tentando)
O mundo aos olhos da Rosa
O Emissário
A Caçada
A Ideia
A Chegada
No passado
Continue Correndo
O Novo Integrante
Em Apuros
Cavaleiro vs Nevoeiro
A Fuga
Continuando o Contra-Ataque

A Rendição

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Por MyLightNovel

— Capítulo 15 —

          A equipe de soldados do IPC saiu do prédio com os rifles apontados nas crianças, nas mulheres, no Cavaleiro e seus parceiros. Rose parecia a mais acabada de todas, exausta e sem ânimo para continuar. Já havia fritado muitos soldados com suas chamas, por isso sua energia mágica ainda estava se recompondo de um esvaziamento completo, e, aos poucos, seu estado Alpha retornava, impressionando Équis ainda mais pela beleza.

          O sol raiava fortemente sobre o ICS. A grama brilhava, refletindo toda a luz, e os bancos da praça, mesmo alguns depredados pelos homens do IPC, continuavam no mesmo lugar, fazendo parte de uma bonita paisagem. A fachada do Instituto na frente da fonte de água continuava forte e imponente, apesar da destruição ocasionada pela bomba.

          "Não se tratam de bombas quaisquer" havia dito Bia. "Elas têm um alcance de até dois mil metros. Parece que não são bombas construída à base de explosivos, mas com um poder de fogo diferente. Não sei dizer o porquê, mas me parece muito parecido com o nosso. Talvez eles estejam usando nossa energia como combustível para as bombas."

          A hipótese não era absurda. Afinal, o IPC ativou um gene da síntese sem a presença de Natto. Podia muito bem ter armazenado energia cósmica de uma outra forma.

          "Seja como for, precisamos desarmar as duas bombas" continuou Bia. "Caso o contrário, todo o prédio ou talvez tudo num raio de dois quilômetros possa ser destruído..."

          — Vamos. Ande de uma vez — gritou um dos soldados, dando uma coronhada na nuca de Natto depois que ele parou para tranquilizar uma das crianças. Havia uma verdadeira legião atrás dele, caminhando com as pessoas para fora do prédio. Ártemis e Équis, também algemados, caminhavam um pouco mais atrás.

          Apenas Rose não se encontrava ali. A garota havia se misturado entre os soldados e, então, sumido de vista.

          A legião composta por reféns e soldados chegaram no chafariz e ali estacaram, esperando o Nevoeiro e seus homens. Os inimigos vieram de longe, caminhando pela trilha até chegar na fonte. Água rebentava pela lança, formando um agradável arco no ar.

          Na grama, mais perto da floresta do que do prédio, havia algumas dezenas de veículos vigiando o encontro: tanques de guerra, jipes com submetralhadoras, carros de exército blindados. Uma convenção militar, ou uma invasão guerrilheira pronta para o combate.

          O Nevoeiro fez um sinal para que caminhassem mais um pouco, e os dois grupos subiram juntos uma pequena elevação, onde estavam cerca de dez veículos blindados e tanques apontando suas armas e canhões para o bando. Claro, o Comandante não queria ter mais problemas com os metidos a heróis.

          Porém, enquanto eles caminhavam, a cada passo, insurgia uma revolução nos reféns e no próprio Cavaleiro. Resolução que remontava a cerca de vinte minutos atrás.

          Antes de dar início ao seu plano, Natto subira no palco do refeitório e começara a discursar. Sua voz ecoava pelo metal nas paredes enquanto a plateia o observava com os olhos cintilando.

          — Eu aprendi uma coisa muito importante hoje, com a ajuda de vocês. Na verdade, a Rose, a Bia, o Équis e até mesmo minha querida parceira Ártemis vieram me ensinando isso durante o tempo que os conheci. Só que eu não queria perceber. Eu fui teimoso e apanhei. Derrubaram meu próprio instituto em cima de mim: meu sonho desmoronando sobre a minha cabeça. Eu nunca pensei que seria fácil conseguir o que almejo. Tudo que fiz foi construir minha fortaleza para ficar mais forte e carregar aqueles que precisam de mim. Porém, só isso, não basta. Nossos inimigos, aqueles que lutam contra nossos ideais, são muitos. E chegou a hora de mostrar a eles o quanto nós crescemos. Chegou a hora de contra-atacar.

          Natto era o primeiro da fila dos rendidos. Ele olhou para o Nevoeiro, que, com a perna enfaixada, estava mancando na vanguarda dos veículos. e esperou o sinal.

          — Então, é assim que termina a história do Cavaleiro que queria acabar com a solidão — lamentou o Nevoeiro, com um sorriso. Tirou o cigarro da boca e liberou uma nuvem de fumaça. — Uma tragédia e tanto! Mas não se preocupe com isso, você ainda vai acabar com o sofrimento de muita gente no mundo graças ao seu poder. Coloquem-no dentro do carro. Agora.

          Os soldados que saíram de dentro do prédio se misturaram à multidão de soldados que cercava o pátio. Agora, estavam todos juntos: não havia como distinguir com as roupas pesadas e as máscaras de gás quem era quem.

          A família de irmãos se juntou a Natto rapidamente. Os reféns e o time do Cavaleiro continuaram do mesmo lado enquanto via os soldados se unirem logo atrás do Nevoeiro. Ficaram os rendidos e seus captores, frente a frente uns com os outros.

          O Nevoeiro começou a analisar as fileiras de reféns e, apenas quando o fez, notou que havia algo errado. Só havia mulheres e crianças no meio da multidão.

          Mas... onde é que estão os homens?

          No mesmo momento em que arregalou os olhos, o rugido da Águia gigante retumbou no céu, estupendo e solene como o badalar de um sino. Um grito agudo, longo e que incitava força.

          Natto, antes cabisbaixo, erguera o rosto.

          Esse é o nosso contra-ataque. Preparem-se.

          Seu olhar determinado surpreendeu o Nevoeiro, que não teve tempo para reagir, quando o Cavaleiro berrou, dando início a bagunça:

          — Agoraaaaaaa!

          Bia segurou a respiração, fechou os olhos e cerrou os punhos. Liberou, com todas as suas energias, um campo de força magnético que se esvaíra dela, espalhando-se ao redor como uma cúpula a aumentar de raio. Uma vibração veloz percorreu o ar, causando um arrepio na espinha de cada um dos presentes. O nariz de Bia sangrou, e ela se ajoelhou. Ainda sentia o corpo responder, o que significava que nem toda sua energia cósmica se fora.

          Ártemis saltou do meio da multidão de reféns e Natto a empunhou. O intenso brilho azul cegou o Nevoeiro segundos antes de ele pensar em se transformar em gás. O Cavaleiro deu passos velozes sobre a grama, ergueu a Espada Costureira e desceu com a lâmina, marcando o peito do vilão. Ataque surpresa concluído com sucesso. Os elétrons de Ártemis percorreram o corpo dele, descarregando na terra. Ele tremeu, gritou e caiu. Estava derrotado, frito como um bandido comum. Certamente não iria acordar por um bom tempo.

          Essa sequência durou alguns segundos. Logo depois, os soldados que saíram de dentro do ICS revelaram sua verdadeira natureza. Pegaram as suas armas e avançaram contra os soldados que estavam ao seu lado. Para que ninguém se confundisse, tiraram a máscara de gás, arremessando-as e acertando os inimigos com elas. Os rostos furiosos que surgiram pertenciam aos homens espancados pelo IPC.

          — As armas — gritou um soldado original, desesperado com a reviravolta daqueles que, há poucos instantes, pareciam tanto com seus companheiros. — As armas não estão funcionando. Eles fizeram alguma coisa!

          Os tanques tentavam bombardear, as metralhadoras em cima dos jipes tentavam atirar, mas os soldados não conseguiam: era como se algo, alguma chavinha dentro dos mecanismos das armas, estivesse emperrando os gatilhos. Rose, transformada em sua titânica forma de águia, cuspiu as chamas nos veículos, causando pequenas explosões. Com suas garras, foi derrubando e revirando os tanques enquanto suas asas emplumadas se abriam e debatiam. O bico dourado soltava um grasnado árduo a cada golpe que perfurava a blindagem e afastava mais inimigos.

          A pancadaria aconteceu feito uma verdadeira guerra, mas não parecia que ia durar muito. A superioridade dos reféns, controlados pela raiva, era enorme. Homens segurando soldados, cada um agarrando um braço, enquanto seus colegas vinham e os derrubavam. Rasteiras, chutes, murros: os soldados do IPC recuavam do planalto à medida que a multidão avançava implacavelmente.

          — Tragam a artilharia, rápido — gritava um soldado. — Alguém peça para descongelarem a redoma.

          — Qual é? Onde estão os reforços? Precisamos de armas — dizia outro.

          — Vocês ficaram malucos? As bombas! Vamos explodir as bombas.

          Natto transformou Ártemis de volta.

          — Me dê cobertura, baixinha, vou chamar a Irina e o Équis.

          Ele tirou o celular do bolso do sobretudo e telefonou para Irina. A repórter havia combinado com Équis de correr para dentro dos prédios do ICS e desarmar as duas ameaças logo após o início do contra-ataque.

          — Vocês conseguiram? — perguntou o Cavaleiro, segurando o celular na orelha com a mão direita e distribuindo um soco num soldado com a esquerda.

          — Sim. Está feito, Cavaleiro. Uma bomba a menos — respondeu a jornalista, do outro lado da linha. — Ela estava escondida dentro da dispensa na cozinha.

          — O mesmo vale para mim — falou Équis. — Achei a maldita debaixo de uma cadeira, na sala do clube de Literatura.

          Caramba, vocês são mesmo demais. Era o que Natto diria, se não estivesse ocupado dando uma rasteira em mais dois soldados.

          Ele ainda não sabia, mas havia um sério problema a se desenrolar. Àquela altura da batalha, Rose era a única que sabia da existência do domo de gelo ao redor do instituto. Quase fraturou o bico ao alçar voo pela primeira vez. Era necessário um alcance de cerca de dois quilômetros entre a posição de Natto e a dela para que o Cavaleiro pudesse manter o empunhamento, ou seja, a transformação da Águia. Por essa razão, Rose não tentou avançar mais longe para checar até onde o domo os mantinha presos ali.

          O maior problema, contudo, era sua energia. Aquele poder, como todos os grandes poderes, tinha um preço. E Rose já chegara no limite bem depois de queimar aqueles soldados com os próprios punhos quando estava no salão de boas-vindas do ICS. A pouca energia que recuperou lhe era insuficiente, mas não se importava caso precisasse se sacrificar para ver o time e as pessoas sãs e salvas. Só não podia simplesmente acabar no chão, levando todos eles juntos.

          E foi isso que ela pensou quando recebeu a notícia através da escuta amarrada em seu ouvido de águia:

          — Eles estão trazendo mais carros — disse Équis, observando o fundo do planalto pela janela do clube de Literatura.

          Não apenas carros: novos tanques surgiram da floresta, apontando seus canhões em direção ao instituto e aos heróis. Os reféns — mulheres e crianças — haviam voltado para perto da fachada do ICS durante a confusão e também estavam na mira.

          Rose, que circulava em voo rasgando o azul do céu, abriu suas asas e estacou no ar. Ela pegou impulso, apontando o bico pro alto, girou sobre si mesma com uma manobra e desceu em direção à superfície. Planou como um avião aterrissando numa pista de voo, resvalando suas garras no grande mar verde-esmeralda que completava a paisagem do Instituto. O "mar" (na verdade, um grande lago que cortava a floresta de Portoleste) era, sem dúvida, o motivo de Natto e ela terem escolhido aquele lugar para a construção do Instituto contra a Solidão. "Imagine só, Rose. Nossos amigos, todo mundo junto e feliz, saindo de mãos dadas do interior do prédio apenas para vir até o fundo e observar essa bela paisagem: o mar e o pôr do sol no horizonte. Essa paisagem será importante para nós. Eu sei que vai."

          E, talvez agora, fosse mais importante do que nunca.

          — Pessoal. Temos mais um problema — disse a voz digital de Bia pelo microfone. O chiado na linha era intenso, causando ruídos esganiçados. A Águia avançando contra os tanques de guerra, Natto ajudando os homens no alto do planalto, Équis, no alto da janela do clube de literatura, observando os novos veículos inimigos se aproximando, Ártemis distribuindo sua corrente elétrica pela terra, todos pararam o que estavam fazendo e se atentaram ao chamado. — Há uma nova bomba. Uma que não havíamos previsto, instalada na frente do chafariz. Porém... não vamos ter tempo de desarmá-la. Ela vai explodir em trinta segundos.

* * *

          O trailer militar do IPC escondido na Floresta de Portoleste continuava parado e recebendo ordens de um líder maior. Um dos capitães da infantaria do Nevoeiro atendera ao celular pouco tempo depois da derrota do Comandante para a Espada do Cavaleiro.

          — Eu vou derrubar a barreira — disse a voz feminina do chefe do IPC, rígida e imperativa. — Vocês, malditos, não façam nada, nem se aproximem por enquanto. Já atrapalharam até demais. Eu quero ver o limite deles. Caso não consigam evitar a catástrofe, ainda podemos usar os cadáveres dos portadores para a pesquisa, e o IPC sairá disso ileso, embora eu quisesse muito todos eles vivos.

          Do outro lado da linha, havia uma mulher resolvida, de postura ereta e um sorriso cheio de malícia, observando a pequena guerra acontecer através do vidro de uma janela do ICS, com um olhar frenético.

          Incrível, incrível, incrível! Você é mesmo incrível, Cavaleiro. Todos vocês são. O que eu testemunhei hoje não foi só um acaso. Foi o destino. Um novo futuro nos aguarda. Um mundo de união, onde apenas nosso grande país, responsável pela evolução natural, dominará. Eu ficarei lisonjeada de ajudá-los a cumprir com seus objetivos.

* * *

          — Vamos! A barreira de gelo caiu, vamos logo — gritava a detetive Ray, impelindo seus subordinados a entrarem nos carros. Naquele momento, a redoma havia descongelado, tornando-se puro líquido a precipitar no meio da estrada.

          Era hora dos helicópteros avançaram, junto com as viaturas, ambulâncias e bombeiros, todos espalhados naquele ponto da estrada. O Cavaleiro, de fato, chamava a atenção do mundo.

* * *

          Uma pequena caixa quadrada com dois aros metálicos e um cronômetro, por onde se enrolava um emaranhado de fios. Assim era o objeto que Bia carregava debaixo do braço.

          Quando o temporizador marcou trinta segundos cravados, a garota começou a maratona em direção ao lago atrás do prédio. Noventa metros a separavam da única chance de impedir a explosão. Bia sabia que, apenas debaixo d'água, a reação da energia cósmica no interior da bomba poderia ser contida. Ela precisava correr a uma média de 11 km/h se quisesse arremessar a bomba para o fundo do lago e esperá-la afundar.

          — Não, Bia. Não faça isso — gritou Ártemis pelo microfone. Ela eletrificou um soldado pelo braço e se voltou para trás, ao fundo da paisagem. Viu Bia percorrendo a lateral da mansão principal, uma trilha larga envolta por bancos e flores, suas pernas velozes como as de um atleta. — É perigoso demais para você. Jogue a bomba pra Rose, Bia!

          A ideia da Garota Elétrica era boa, porém a Águia já havia voltado a sua forma humana. Exausta e ofegante, o corpo já não mais respondia e os curativos se abriram. Rose correu até os tanques de guerra para proteger os civis. Havia destruído dois dos veículos, mas faltava o terceiro, mais distante na colina. Se desviasse do caminho, agora, para pegar o objeto das mãos de Bia, a bomba provavelmente explodiria em seu bico e os reféns ficariam em apuros.

          — Esqueça, Ártemis — disse o Cavaleiro, terminando de esmurrar um soldado do seu lado. Ele também se virou e aproximou-se da parceira, ambos observando o início da corrida de Bia até o lago. — Deixe que ela vá. É o único jeito. Ela consegue, eu sei que consegue. Vai, Bia. Corra. Você tem que correr o mais rápido que conseguir. A gente confia em você! Agora, vai, Bia!

          O Cavaleiro levou as duas mãos à boca e berrou, torcendo por ela. Logo, aquele berro tornou-se um vírus a espalhar-se pelo campo.

          Bia ouviu o grito do Cavaleiro, mas nunca se sentiu tão sozinha quando as memórias dentro dela foram novamente ativadas. Algo que a lembrava da dor do que aconteceu há cinco anos quando a mandaram correr, e ela o fez, mas, em troca, tudo que ganhou foi um banho de sangue: a mamãe, o tio, os primos, os empregados gentis, todos estáticos no chão da grande sala de estar da família Frederick. E ela, ajoelhada e rodeada pela pilha de corpos.

          Só que a voz de Natto despertara algo a mais do que isso.

          Vá, Bia. Corra. Você tem que correr o mais rápido que conseguir. Nos momentos difíceis... lembre-se... lembre-se de que você é capaz de superar tudo, até a si mesma. Agora vai, Bia. Você consegue, eu sei que você consegue. Eu sei disso, porque eu quero que você viva para sempre. Pra sempre!

          Aquilo seria uma tarefa fácil se Samuel estivesse ali, carregando-a nas costas. O irmão conseguia atingir velocidades extraordinárias numa boa. Ela se imaginou em cima dele, os braços envoltos em seu pescoço, ambos juntos, sorrindo, para mais uma corrida. Por isso, naquele momento, Bia correu, sem olhar para trás e sem odiá-lo. Até o momento em que não precisou mais imaginar.

          Bia se virou de lado, em direção aos bosques da Floresta, e viu no alto do planalto Samuel, também torcendo por ela. Ele estava ali, bem ali, balançando a cabeça pra cima e pra baixo, com uma expressão satisfeita.

          M-Maninho...?

          Bia fechou os olhos, apertando-os com força e voltou a olhar pra frente.

          O caminho que se seguia era plano, verde e longo. Havia muitos outros competidores querendo a recompensa da vitória: o mar e o sol raiando no horizonte. Mas Bia já não estava mais sozinha lutando contra esses competidores. Nunca estivera.

          — Ártemis, Équis. Os soldados — disse Natto pelo celular. — Não vamos deixar que eles encostam nela.

          — Claro que não — responderam os dois.

          — Eu vou cuidar daquele tanque — exclamou Rose do outro lado do planalto, desabrochando suas asas e transfigurando-se na Águia por uma última vez, num último esforço. Sabia que só teria mais uma chance.

          Uma frota de soldados desceu de uma fileira de veículos blindados. Eles carregavam submetralhadoras novas, não mais emperradas pelo magnetismo de Bia, por isso, os civis envolvidos na confusão tiveram de recuar para evitar o fogo.

          — Vamos, atire na garota, seus idiotas — gritou um dos soldados.

          Um míssil foi disparado do tanque em direção aos reféns na fachada do prédio. Contudo, como serpentina, percorreu o vento, sendo teleguiado pela bomba nas mãos de Bia.

          Rose jogou-se em frente ao míssil, que explodiu e fez a Águia uivar de dor. O estrondo repercutiu em todo o pátio. Fogo dominou sua penugem e uma fumaça tóxica subiu pela atmosfera. Ela caiu, em chamas, sobre o próprio tanque, fazendo-o capotar pela colina e aterrissar de cabeça pra baixo na depressão. O corpo da águia arrastou-se, rasgando o solo, despedaçando os tapetes de grama, e transformou-se de volta em humana no interior da cratera recém-formada. Rose se aproximava da inconsciência, mas seus olhos não queriam se fechar. Ainda tinha forças o suficiente para ver o final da história.

          Équis, Ártemis e Natto correram em direção à legião que apontava as metralhadoras à Bia. Os três surpreenderam os inimigos por trás. A Garota Elétrica os eletrizou em sequência enquanto Équis e Natto agarravam aqueles que sobravam pelo pescoço e os esmurravam.

          Bia estava na metade do caminho, seus passos surdos na grama, o vento fluindo e lhe refrescando o rosto. Faltava pouco, apenas trinta metros. Contudo, assim como aconteceu com Rose, sua energia estava no fim, e o corpo já não aceitava mais continuar.

          Seu nariz se estreitou, ficando longo e pontudo. Os olhos tornaram-se grogues, inclinados para baixo. Os movimentos da cintura para baixo foram ficando mais lerdos e duros. Logo, não haveria mais movimento algum e a antiga Bia retornaria.

          Faltavam seis segundos para a explosão.

          Ela teve o ímpeto de largar a bomba e desistir. Era demais para alguém na condição dela correr naquela velocidade pra início de conversa. Arrependeu-se de ter pego a bomba, apenas por puro instinto. Mas aí escutou a voz do irmão novamente, vinda do alto da colina.

          Só mais um pouco, Bia. Você é a única que pode fazer isso.

          E cada vez mais que aquelas palavras iam abafando, o canto da multidão ecoava. Todos cantavam, torcendo por ela: o Cavaleiro, seus parceiros e o resto das pessoas que fizeram parte daquela história.

          E a própria Bia já não entendia mais nada. Não sabia por que estava correndo, nem por que as pessoas engraçadinhas gritavam seu nome. Apenas continuou a correr. Bia achava que não podia correr sozinha, porque o irmão, que ela odiou por tanto tempo, sempre a carregou nas costas quando precisou. Mas, por incrível que pudesse soar, agora ele estava bem ali, dizendo para ela correr sem a ajuda dele.

          Bia estava com muita saudade do loirinho.

          E o melhor de tudo é que, além dele, também tinha um grupo inteiro de heróis só para ela, porque a Bia também queria ser uma heroína, por isso, ficava feliz quando via a baixinha e o outro loirinho na televisão.

          Era uma pena que Bia não conseguia correr por mais tempo para escutá-los chamar o nome dela. O corpo de Bia ficou todo encharcado, e ela já não conseguia escutar mais nada, nem ver mais nada depois do barulhão que a deixou com um zunido no ouvido, sua visão ficou toda turva. Bia estava cansada e queria dormir: com o corpo levinho daquele jeito, então... era impossível resistir! Geralmente, ela ficava daquele jeito, parecendo flutuar na lua depois que a tia de branco vinha e lhe dava comida.

          Só não costumava ficar sem ar também.

~

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