VANTE: GIRASSÓIS DE DANTE

By Gabbieah

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[GIRASSÓIS DE DANTE DISPONÍVEL PELA EDITORA EUPHORIA] Depois de doze anos sozinho, seu pai finalmente encontr... More

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Epílogo
Bonus!

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By Gabbieah

⚠️ TW: ideação suicida.

HOSEOK

Algo me diz que fui completamente manipulado a vir aqui, no início pareceu uma boa ideia, agora olhando em volta, tenho certeza de que o meu lugar é em casa, debaixo das cobertas, prontinho para dormir.

Como Jimin consegue ter uma lábia tão boa a esse ponto? Todo final de semana eu digo que não quero ir para balada nenhuma, e todo final de semana ele me arrasta para uma, mas ainda é cedo pra eu começar a me arrepender.

A música alta não me permite pensar e isso é um ponto positivo, um dos poucos na verdade, vejo Jimin ir e voltar do bar, ele vai com o copo vazia e volta com ele cheio, sorrindo de orelha a orelha, a luz roxa nao me deixa ver o quão vermelho está o seu rosto, mas sei que deve estar mais rubro do que um tomate.

– Hoseok, eu vou te desenrolar pra alguém – Yoongi avisou, aos berros ao meu lado, enquanto olhava ao redor, disposto a começar a caçar.

– Não tô afim – reclamo, acho que estou começando a ficar de mal-humor.

Ele olha pra mim como se eu tivesse dito algo absurdo, como se tivesse o ofendido.

– Você morreu, Hoseok? Fez votos de castidade e eu não fiquei sabendo? – ele olha pra mim de cara amarrada, os olhos descendo do meu rosto para o meu copo de bebida intocado, então solta o ar, inclinando-se para gritar comigo – Você disse que ele ignorou a sua mensagem, não foi? Se essa não era a resposta que você precisava, então eu não sei o que era – se afastou para me encarar. Que dor infernal – Porra, cara, um moleque parte esse teu coração de merda e tu vira um frouxo? – e me empurrou pelo o ombro, pondo o dedo na minha cara – Na moral, cara, aceita essa porra e segue em frente.

Não sei se quero dar uma surra nele, ou se aceito calado toda essa merda.

– Deixa de ser otário e para de sofrer por quem não tá nem aí pra você, filho da puta – continuou, me deixando mais puto ainda.

– Vai tomar no cu, Yoongi.

– Vai tomar no cu você.

– Ei! – Jimin se colocou no meio, passando o braço esquerdo ao redor do meu pescoço e o direito ao redor do pescoço de Yoongi, para depois apertar ao ponto de quase nos sufocar – Qual o problema de vocês? São dois magrelos querendo brigar.

Acabo rindo, perdendo qualquer moral que ainda tinha e a pose que sustentava, Yoongi rolou os olhos, esboçando um sorriso, balançando a cabeça de um lado ao outro.

Ergo meu copo, decidido a tomar tudo de uma única vez, dando um gole atrás do outro até sentir a garganta queimar, até sentir o meu estômago embrulhar, talvez se eu beber até perder a consciência a dor passe. Quando acabo o meu primeiro copo, Jimin logo o repõe e esse eu mando para dentro tão rápido quanto o primeiro, fechando os olhos ao reclinar na cadeira.

Ainda está lá, a dor ainda está lá.

A música acaba, outra começa.

Mas é no terceiro copo que eu começo a sentir alguma coisa, é na terceira dose que eu começo a sentir meu corpo dormente e os meus pensamentos mais lentos, é quando começo a me sentir alegre.

Outra música.

E essa Jimin e eu cantamos aos berros, pulando e esbarrando nas outras pessoas. Me esqueço do mundo lá fora, vivo só aquele momento, quando a música é tão alta que nem mesmo escuto a minha voz, com minha visão deturpada, totalmente alheio a tudo.

Sei que estou bêbado quando entro no banheiro e nem mesmo consigo seguir em linha reta, quando não consigo andar sem esbarrar nas paredes ou nas pessoas, e até bebida eu derramo.

Entro e saio sem ter certeza de que fiz tudo direito, se vesti minhas calças da forma certa, me misturo no meio das pessoas outra vez e quando volto a ter consciência do que estou fazendo, tem um cara na minha frente, dançando comigo, com a mão dele na minha cintura e os olhos presos nos meus.

Ele sorri, ele se aproxima e diz coisas no meu ouvido que, por mais que não tenham efeito algum sobre mim, não deixa de ser uma oportunidade, por mais que eu não tenha nem mesmo prestado atenção nele, ainda é uma oportunidade, e se ele que eu posso querer também.

Nos beijamos, suas mãos sobem até a minha nuca ao tempo que sua língua invade minha boca e, é bom, é bom até demais. Eu só queria não estar tão preso a Taehyung ao ponto de não sentir nada por ninguém, absolutamente nada, a sensação é de que eu vou beijar mais dez pessoas, vou me envolver com mais dez caras e nenhum deles vai chegar perto do que Taehyung um dia foi pra mim. Beijar Taehyung não era bom, era sensacional, era a melhor coisa do mundo.

E como se não importasse, e realmente não importa, eu me desprendi dele, saindo da sua frente e voltando a seguir por entre todas aquelas pessoas até encontrar com Jimin e Yoongi outra vez.

– Jimin não vai beijar ninguém? – perguntei, com um sorriso largo ao me juntar a eles na mesa.

– Jimin não quer pegar ninguém hoje – declarou em terceira pessoa, terminando sua bebida amarela.

– Jimin vai beber mais um copo de vodka, e vai querer beijar o primeiro que aparecer – retrucou Yoongi, rindo em provocação.

– Vai se foder – resmungou, tirando o celular do bolso e conferindo a barra de notificação, ele suspirou, bloqueando o celular e o largando na mesa, de braços cruzados e cara emburrada – Eu odeio o Jungkook.

E lá vamos nós.

– Tudo bem? – perguntei, apoiando os cotovelos na mesa.

– Não – grunhiu, balançando a cabeça em negação – Por que ele faz isso comigo, droga? – desbloqueou o aparelho outra vez, mostrando as mensagens para mim.

"Queria te ver."

"Tô com saudade."

– Me deixa ver – Yoongi se inclinou, tomando o celular das mãos dele e o desligou, para em seguida, guardá-lo em seu bolso.

– Me devolve.

– Não, sou eu quem tem que te aguentar chorando depois.

– Yoongi, é sério – ajeitou a postura, mas não importa o quanto ele tente, nós três sabemos que será em vão – Eu não vou mandar nada – garantiu.

Ele continuou negando, levando a garrafa de cerveja até a boca, sob o olhar irritado de Jimin.

O ruivo olha pra mim, mais corado do que o costume, buscando algum tipo de apoio, mas tenho que ficar do lado de Yoongi nessa, nós três sabemos que não precisa de muito para Jimin começar a se humilhar para Jungkook como se não tivesse um pingo de amor próprio, como se fosse morrer se não recebesse atenção dele, para no dia seguinte se dar conta da merda que fez e surtar ao ponto de considerar se jogar da janela do quinto andar.

Seu olhar sustenta o meu, e de uma forma quase que instantânea sua expressão mudar, seu olhar encontra um ponto atrás de mim e seus olhos se arregalam, demonstrando surpresa.

Vejo sua mão tocar o braço de Yoongi, o sacudindo e apontando com o queixo na direção que tanto olhava.

– Ah, porra... – praguejou baixinho.

Eu devo ter me virado como a garota do exorcista, mas não importa, porque ele está mesmo aqui, bem aqui, está bem aqui e está olhando pra mim. O meu coração saltou dentro do peito, eu devo ter alcançado a sobriedade como ninguém nunca fez antes.

– Que mundo pequeno – Jimin riu, dando tapinhas no meu braço – Agora todo mundo vai sofrer.

Sem lhe dar a mínima importância, assisti Taehyung atravessar o local, muito provavelmente já bêbado, apoiado no ombro de uma das cinco pessoas que o rodeavam. Pararam no bar, onde o bartender colocou seis cervejas, eu quase posso ouvir a risada alta de uma das garotas.

– Hoje a noite vai ser longa.

– Por que eu não fiquei em casa, meu deus? – grunhi, cobrindo o rosto com a palma das mãos, com meu coração batendo tão forte que chegava a me assustar, os pensamentos a mil, me enlouquecendo.

Quando ergo o rosto meus olhos seguem na direção de Taehyung como imãs, ele está escorado no balcão, com os olhos ainda presos em mim, completamente alheio da conversa que seus amigos expandem. Céus, como ele é bonito, parece até tortura tê-lo a poucos metros de mim, vestido assim, arrumado assim, mais atraente do que nunca esteve, e eu não poder fazer nada. Eu vou entrar em pânico a qualquer segundo, eu sei disso.

Eu não vou aguentar ficar aqui, não vou suportar vê-lo ficar com outra pessoa, foda-se que ele é solteiro, foda-se que não é mais meu, foda-se. Foda-se!

Eu. Não. Consigo.

Se eu precisava de uma confirmação de que sou imaturo demais para lidar com o fato de que ele pode ficar com outras pessoas, aqui está, ou talvez seja a bebida falando, eu não ligo, mas sei que agora, nesse exato segundo, isso é coisa demais para a minha cabeça.

Vejo Yoongi se levantar, com a desculpa de que vai ao banheiro, mas não dou a mínima pra isso, estou considerando a ideia de me levantar e ir embora só para não precisar respirar o mesmo ar que Taehyung.

E durante todo o tempo que Jimin e eu ficamos sozinhos, não consegui tirar meus olhos do garoto no bar, posso estar parecendo um maluco obcecado agora, mas não me importo o suficiente para parar, sei que deveria fazer alguma coisa, mas não sei o quê, assim como sei que vou fazer algo estupido se me levantar e ir até ele.

E quando meus pensamentos começam a se distorcer, quando percebo que estou começando a achar atraente a ideia de ir falar com ele, uma garota bloqueia a visão que tenho dele e ele de mim, ela se senta na cadeira do outro lado da mesa e cobre totalmente qualquer imagem de Taehyung que eu possa ter.

Uma delas, com o cabelo negro e curto, as pontas dos fios tocam as orelhas, ela sorri ao olhar de Jimin para mim, segurando em uma das mãos uma garrafa de cerveja, enquanto o pulso da outra está enfaixado.

– Oi – ela sorri mais.

– Oi – é Jimin que responde, porque nem isso eu consigo fazer, acho que estou enlouquecendo.

E antes que um de nós possa entender o que a traz aqui, ela mesmo se explica, inclinando-se sobre a mesa para que possamos ouvi-la melhor.

– O amigo de vocês é gay? – arqueia as sobrancelhas – Aquele que estava aqui agorinha.

Jimin e eu nos entreolhamos, o ruivo solta um riso soprado, balançando a cabeça em negação.

– Não... Por que? – ele riu.

– Achei ele bonitinho – encolheu os ombros, fechando os olhos ao sorrir.

– Qual o seu nome? – me ouço perguntar, ganhando a atenção dos olhos escuros dela, destacados pelos cílios grandes e o delineado perfeito.

– Sori.

Yoongi por fim apareceu, sem que nós pudéssemos chegar a algum lugar com aquela menina, ele se sentou, por sorte, na cadeira ao lado dela, segurando uma garrafa de cerveja e o cabelo embaraçado. Relaxou no encosto, suspirando alto e só então enxergando a menina.

Eles se encararam por segundos inteiros, eu estava começando a achar que seria um jogo fácil para ambos, que ela conseguiria o que veio buscar muito antes do que o esperado, mas a expressão dele mudou de uma forma assustadora.

– Eu conheço você... – murmurou ela, tirando um riso sarcástico do outro.

– Claro que conhece, você passou por cima de mim com uma bicicleta, desgraçada– resmungou a última parte.

Ela riu, concordando com a cabeça.

A garota da bicicleta.

– Cara, você quase quebrou o meu pulso! – exclamou ela, num entusiasmo que fazia parecer que tinha orgulho daquilo, apontando com o dedo para o pulso enfaixado.

– Problema seu, eu fui a vítima.

– Vítima o cacete!

– Eu deveria ter jogado a sua bicicleta na porra do mar – disse com raiva na voz,ainda olhando para ela e nesse curto período de tempo, seus olhos desceram por ela e voltaram num movimento pouco discreto e isso a fez sorrir.

– Queria ver tentar, gatinho – riu, a franja pendendo sobre os olhos.

Ele sorriu de volta, se afundando na cadeira, sustentando o olhar dela por tempo demais até levar a garrafa de cerveja até a boca.

– Aí, o Taehyung não para de olhar pra você – Jimin murmurou, me cutucando com o cotovelo, antes de apontar com o queixo. Eu tinha me esquecido dele.

Virei o rosto na direção que o ruivo indicou, demorando um instante para cruzar o olhar com os de Tae.

Sentado de frente para mim, os cotovelos apoiados no balcão atrás de si. Tinha a barra da camisa preta para dentro da calça jeans clara, as pernas abertas e pela primeira vez, podia ver a tatuagem em seus braços. Uma acima do cotovelo esquerdo, e no antebraço direito, tinha um girassol.

Desviei o olhar, pigarreando antes de me levantar, avisando que iria ao banheiro.

Controlando minha vontade de não olhar para ele outra vez, atravessei toda aquela multidão, até as portas dos banheiros no fundo. Onde a luz ambiente era muito mais forte, não passei nem cinco segundos ali dentro, para quando sair esbarrar em Taehyung, nossos corpos se trombaram e tenho certeza de que cheguei a pedir desculpas, antes de ser arrastado por ele até um dos cantos escuros da boate.

Sinto o corpo dele, o peito no meu, subindo e descendo, uma das suas pernas se enfiando entre as minhas, a respiração agitada e o cheiro dele, meu deus, o cheiro dele quase me faz afundar o rosto no seu pescoço só para me embebedar com seu perfume.

– Taehyung... – chamo, mal me aguentando com ele tão perto, sinto um arrepio na espinha quando suas mãos deslizaram pelos meus braços, sobem pelos meus ombros e param na minha nuca.

– Eu também sinto sua falta – sussurrou contra a minha boca, me deixando maluco, com a pulsação tão agitada que por muito pouco não o puxo de vez para mim – Muito... Todos os dias – e suspira, encaixando seu lábio nos meus, ameaçando me beijar – Você ainda me quer?

– Não faz isso...

– Ainda me quer como antes, Hobi? – e sorriu, esse filho da puta do caralho. Sinto suas mãos descendo pela minha barriga, parando no cós da minha calça – Diz... – mordeu meu lábio, soltando devagar, me atiçando – Diz que ainda me quer...

– Para com isso – afasto suas mãos de mim, respirando fundo, apertando os olhos tentando por a cabeça no lugar.

Taehyung empurrou o corpo contra o meu, fazendo meu baixo ventre arder, meu corpo todo esquentar como se eu estivesse em chamas.

– Vamos ficar? – sugeriu – Como ficávamos antes – ele beija o meu pescoço, arrepia cada pelo da minha nuca – Lembra de como era bom?

– Lembro – fecho os olhos, segurando sua cintura, o apertando entre meus dedos. Eu vou perder a cabeça a qualquer segundo – Era muito bom.

– Era sim – outro beijo no meu pescoço e esse me deixou ainda mais atordoado.

Taehyung se afasta, olha nos meus olhos e espera, pressionando os lábios, por qualquer reação que eu possa ter. Eu sei que ele quer um beijo, eu sei que ele quer que faça isso e um pouco mais, mas eu não consigo. Não nesse estado, não nessa situação.

Segurei o seu rosto, pressionando os lábios ao olhar em seus olhos, não é possível que só olhar para ele me doa tanto.

– Eu sinto tanto a sua falta, Hobi – sussurrou, segurando meus pulsos, puxando uma das minhas palmas até a sua boca e deixando ali um beijinho – Eu queria ficar com você uma última vez.

– Assim não, Tae.

– Por favor? – pediu, os olhos brilhando, falando mais do que a boca – Por favor, por favor... – sua voz embargou e me dei conta de que ele começaria a chorar – A última vez, a última.

– Não, você não está bem, olha o seu estado – digo, sei que estou bêbado, mas não a esse ponto – Vai pra casa.

– Não – e me puxou de volta quando tentei tirá-lo da minha frente – Hobi... – os olhos molhados, a voz trêmula.

– Taehyung, para – segurei seu rosto, limpando suas bochechas e suspirando ao olhar em volta – Olha o seu estado, por favor, não faz isso com você.

– Fazer o quê? – e riu num sopro, derramando mais e mais lágrimas.

– Vai pra casa – sequei seu rosto uma última vez, deixando um beijo no topo da sua cabeça.

O solto, sem coragem nenhuma de olhar para trás quando me afasto. Sinto meu coração tão acelerado que por um momento acho que vou morrer, que vou explodir.

Só me dou conta do quão bêbado estou quando mal consigo voltar para a minha mesa sem esbarrar nos outros

Assim que me sentei, o olhar de Jimin caiu sobre mim, ele abriu um sorriso, bêbado e confuso.

– Tudo bem?

– Tudo ótimo – cruzei os braços.

Olho para Yoongi, quase grudado em Sori, com o braço em volta dela, a mão na cintura, rindo enquanto conversavam entre si, presos em sua própria bolha.

Jimin agora tinha o próprio celular em mãos, e parecia bem entretido em uma conversa com Jungkook. Só para poder se arrepender no dia seguinte.

– Jimin...

– Não me julga, Hobi... Eu gosto dele! – exclamou, claramente bêbado demais para se importar.

– Sei que gosta, mas não pode mandar mensagem para ele nesse estado – tentei parecer o mais convincente possível.

– Eu estou bem, Hoseok. Vou para a casa dele hoje – explicou arrastado.

– Não, você não vai.

– Vou sim – disse, certo sobre suas palavras.

Soltei um suspiro, me preparando pelo que vinha a seguir. Ouvi tanto sobre o italiano nos últimos meses, que sinto que posso escrever uma biografia sobre.

Deixei Jimin continuar no celular. Se ele gosta de fazer papel de trouxa, quem sou eu pra criticar, afinal? Ele quem lide com o arrependimento do dia seguinte.

Também não estou afim de ouvi-lo choramingar, balbuciando sobre Jungkook e o quanto o odeia. Não tenho saco para isso.

Meu olhar voou até Taehyung outra vez, de volta ao bar, virando algumas doses de tequila, tão rápido que fazia o líquido escorrer pelo canto da boca, no quinto copo, abriu um sorriso, ouvindo os gritos em comemoração de seus amigos.

No instante seguinte, ele se virou, para o cara de pé ao seu lado, juntando suas bocas em um beijo desesperado.

Comprimi os lábios, sentindo o meu interior revirar, sem conseguir desviar os olhos daquela cena por nada.

As mãos alheias escorregaram pela sua cintura até a sua bunda, o pressionando contra o balcão. Ao mesmo tempo em que os dedos de Taehyung estavam presos no cabelo escuro do outro.

Meu interior queima, o sangue corre como água fervente pelas minhas veias, respirei fundo, tentando por a minha mente bêbada no lugar, antes que acabe perdendo o juízo.

Acho que vou surtar de verdade, eu poderia quebrar todas essas garrafas de vidro e mastigar os cacos, porque sei que machucaria menos do que ver isso.

Do que ver o meu Taehyung, beijando outro cara.

Meu.

Ele é meu.

Era.

Não é mais.

Deus, faça isso parar! Faça parar!

Voltei a atenção para Jimin, que parecia quieto demais ao meu lado. Um sorriso de canto lhe bordava os lábios, uma passada de dedos no cabelo, um gole na vodca, e então, se levantou.

– Preciso ir no banheiro – avisou.

Deixei que fosse, cambaleando até as portas nos fundos. Yoongi pareceu finalmente me enxergar, o rosto vermelho, olhos pesados, sorriso largo.

– Você não me parece muito feliz – comentou ele.

– Jura? Imagine se eu estivesse parecendo puto.

– Relaxa, cara.

– Não fode, Yoongi.

Ele levou o olhar até Taehyung, para onde eu tanto olhava, e sibilou um "ah", voltando a me encarar com um sorriso e um olhar que só pode significar apoio.

Mantive meus olhos em Taehyung por quase toda a noite. Desde o beijo, ele o outro cara não se desgrudavam mais. Tentei manter uma conversa com os outros dois, mas parecia impossível, porque meus olhos acabavam sempre sendo atraídos por ele.

Durou até o momento em que Taehyung, sequer se aguentava em pé. Com os braços e a cabeça deitados no balcão, os olhos pesados, os fechando vez ou outra, cochilando em pé de tão bêbado.

Vi meu sangue subir, quando o cara de antes se aproximou, o puxando para longe do restante do grupo.

Taehyung precisou se apoiar nele para não ir direto ao chão, sorrindo quando o cara sussurrou algo em seu ouvido, e com isso, ele praticamente foi carregado até a porta.

Não pensei, deixei a mesa onde estava, caminhando na direção dos dois, perdendo o foco de qualquer outra coisa que não fosse Taehyung.

Meu. Meu. Meu.

– Para onde vai me levar? – perguntou grogue, esbarrando em uma das mesas durante o caminho.

– Vamos para o meu carro.

Mas nem fodendo!

Me coloquei no meio dos dois, segurando o rosto de Taehyung até que seu olhar encontrasse os meus.

– Vem comigo – chamo.

– Cara, qual o seu problema? – disparou o outro, juntando as sobrancelhas confuso.

– Taehyung, vem comigo, eu vou te levar pra casa.

– Não quero ir pra casa – balançou a cabeça em negação, ainda grudado no outro cara.

– Pra minha casa – específico, tentando convencê-lo de alguma forma.

– Você não me queria até uns minutos atrás, Hoseok – estreitou os olhos, afastando minhas mãos.

– Qual o seu problema, porra? – o outro se colocou na minha frente, me empurrando pelo ombro e por um segundo, eu quis apertar seu pescoço até que seu rosto ficasse roxo.

– Taehyung – chamo outra vez – Meu bem, vem comigo – e estendo a mão, esperando.

Ele olha para a minha palma, depois para o cara em que se apoia, indeciso entre mim e ele, quando finalmente toma uma decisão, um alívio enorme invade o meu corpo e acalma o meu coração, Taehyung segura minha palma e vem na minha direção.

Seus braços rodearam minha cintura, a cabeça apoiada no meu ombro.

– Desculpa – sussurrei.

– Cara, deixa ele – seus dedos envolveram o pulso de Taehyung, e aí sim minha paciência foi para o inferno.

– Solta – mandei. O olhar fixo em seus dedos, firmes contra a pele dele – É surdo, porra?

Não sei qual dos dois foi quem arrancou a mão dele dali, mas a voz de Jimin foi a primeira que ouvi.

– Saí daqui, anda – mandou, gesticulando com a mão para que se afastasse – Vai, caralho!

– Olha só, Hoseok. Se você arruma briga aqui, é a gente que apanha – resmungou Yoongi, o olhar maneando entre Taehyung e eu – Eu não sou bom de briga? Você é? – perguntou num tom arrogante, arqueando as sobrancelhas – Porra, cara.

– Vamos pra casa, tá? – murmurei para Taehyung, o levando comigo até a saída.

Ele não desgrudou de mim nem quando já estávamos do lado de fora, podia sentir sua respiração no meu pescoço.

Jimin e Yoongi pegaram um táxi bem antes da gente, rumo ao apartamento de Jimin, com a desculpa de que não queriam atrapalhar o que quer que fosse que eu estivesse tendo com Taehyung agora.

– Hobi?

– Oi?

– Me desculpa por não ter respondido a sua mensagem – sussurrou, a voz quebradiça me partindo em pedacinhos – Eu não consegui, eu...

Acabo rindo soprado.

– Eu nem tinha percebido que você tinha me desbloqueado, só mandei porque achava que você não leria.

Ele se afasta, trazendo os olhos para mim, pressionando os lábios para conter o choro.

– Eu deveria ter lido outras então?

– Deveria – confesso – Tem um milhão de mensagens que você deveria ter lido.

Ele faz que sim com a cabeça, os olhos passando por cada canto o mais longe possível de mim.

– Eu te magoei demais – diz, minha visão começa a embaçar assim como minha garganta aperta – Eu fui muito idiota com você, fui burro quando escondi o que sentia pelo Jungkook, eu fui egoísta quando não dei o tempo que você precisava, eu fui babaca quando te comparei com o meu ex, eu sei que eu fui tudo isso e um pouco mais, eu sabia dos seus sentimentos por mim e eu passei por cima de tudo isso, a culpa é minha – disse num tom frágil, com lágrimas grossas escorrendo pelas bochechas – Eu sei que eu te perdi – mordeu o lábio com força – Eu perdi você, e eu não vou me perdoar nunca por isso.

Me desfaço num choro contido, mal conseguindo olhar pra ele de tanta dor. Suas palavras se repetem na minha mente, começo a me odiar um pouco mais por saber que ele pensou nisso durante todo esse tempo, que se culpou, quando poderíamos ter resolvido tudo muito antes.

– Se eu pudesse voltar atrás eu mudaria tudo, eu não teria deixado você se machucar assim, me desculpa...

– Tá tudo bem, Tae – seco o rosto, respirando fundo – Já faz muito tempo, agora não importa mais.

Ele balança a cabeça, saindo de perto de mim e se escorando na parede ao meu lado.

– Tem razão, agora não importa mais – fungou, limpando os olhos com a ponta dos dedos – Nada importa mais.

Taehyung enfiou as mãos no bolso, de onde tirou um maço de cigarros e um isqueiro rosa.

Acendeu e começou a fumar, em silêncio enquanto fitava seus próprios pés.

– Quando foi que começou a fumar? – decidi perguntar, esfregando os olhos pela vertigem.

– Não lembro, acho que no começo do ano.

Concordei com a cabeça, o assistindo soprar a fumaça devagar a cada tragada. O cheiro com toda certeza vai ficar em nós dois, mas isso é o de menos.

– Dizem que um amor a gente cura com outro – sua voz falhou.

– E conseguiu?

– Eu nem mesmo tentei – sorriu.

– Pois é, nem eu – ri soprado.

– Sinto muito – suspirou – Espero que fique bem quando tudo isso acabar.

– Quando o que acabar?

Ele bateu com o dedo na ponta do cigarro, deixando cair o que já havia queimado, virando o rosto para mim em sequência.

– Só quero que fique bem, Hoseok – estendeu a mão para tocar o meu cabelo – Você merece ser feliz.

Antes mesmo que eu pudesse ter tempo para dizer alguma coisa, vejo nosso carro se aproximando.

Ele joga fora o cigarro e entramos juntos no carro, em silêncio durante todo o caminho até o meu apartamento.

Foram longos minutos para fazer Taehyung aceitar entrar no elevador, reclamando por estar tonto enquanto subíamos, e reclamou ainda mais, quando passou pela porta aos tropeços.

– Quer saber? Eu preferia estar na rua agora – reclamou, sentado no chão tirando com certa dificuldade os sapatos dos pés.

– É mesmo? – fui raso, não dando muita atenção às suas reclamações.

– Sim, com sorte eu nem mesmo voltava pra casa essa noite – riu – Com sorte algo ruim o suficiente aconteceria comigo, mas o universo não é legal comigo nem quando eu peço para morrer.

– Para de dizer essas coisas, vem aqui – segurei suas mãos e o levantei, para em seguida o arrastar até o banheiro.

– Queria conseguir ir até o fim, pelo menos uma vez eu queria ter coragem de terminar o que eu começo.

– Terminar o quê? – o coloquei embaixo do chuveiro, o vendo se apoiar desajeitadamente nas paredes.

Ele olha pra mim, os olhos se enchendo de lágrimas e um sorriso triste dançando em seus lábios.

– Terminar – deu de ombros.

– Terminar o quê?

Ele solta o ar, secando as bochechas.

– Eu tô cansado, Hoseok. Eu não tenho mais pelo o que lutar, eu não tenho mais pelo o que continuar... eu... de verdade, eu cansei – arqueou as sobrancelhas, olhando em volta, abrindo e fechando os olhos – Lembra de quando falávamos sobre dias felizes? – questionou, as lágrimas pingando do seu queixo – Você disse pra mim que esse sentimento ruim iria embora, que tudo ficaria bem, mas não ficou – disse num fio de voz, me atingindo como facas – Isso nunca vai acabar, não existe final feliz pra mim.

– Taehyung...

– E que bom que eu te encontrei hoje – me interrompeu – É melhor que você escute o quanto foi importante pra mim, que saiba pela minha boca o quanto eu amei você, e eu te amei muito, Hoseok – sorriu – Mais do que qualquer pessoa no mundo, eu te amei com todas as minhas forças – suspirou, mal conseguindo falar – E eu magoei você, eu magoei você... – sua voz soou embolada – Por favor, me desculpa, não fica com raiva de mim.

– Eu não tenho raiva de você, tá? Vem aqui – o tiro de debaixo do chuveiro, segurando seu rosto e secando suas bochechas – Não fala assim.

– Escuta, me escuta – segurou meus pulsos, buscando pelo meu olhar e só quando seus dedos tocaram minha pele foi que me dei conta de que estava chorando – Eu amo você – sorriu – E eu sei que esse não é o melhor jeito, mas eu não aguento mais, eu não aguento mais acordar todo dia e continuar me sentindo assim.

– Não, Taehyung, não é assim...

– É assim que eu quero – disse, mais do que decidido – Eu não vou tentar mais, eu não tenho disposição, nem força pra isso, me desculpa.

– A gente resolve isso – digo e ele balançou a cabeça em negação, de um lado ao outro de forma frenética – A gente resolve sim, olha pra mim – segurei o seu rosto – Não faz isso.

– Você não pode me pedir isso.

– Taehyung, por favor...

– Você não pode me pedir isso, porque você não sabe como é – se desesperou – Você não entende, e eu sei que você já passou por coisas mais difíceis do que eu, mas você é forte, você aguentou tudo e continua aguentando, mas eu não consigo mais, eu não consigo engolir e seguir em frente, porque não passa, a dor nunca passa, e a cada dia eu me sinto mais impotente, eu não como, eu não durmo, eu não vivo – disparou, hiperventilando, as mãos se afundando dentro do cabelo – Eu já morri a muito tempo.

E para, me encarando com os olhos vermelhos, o rosto molhado e as mãos trêmulas.

– Eu queria ser melhor, eu juro que queria – garantiu – Mas esse é o meu limite, então por favor, não me peça isso.

Aperto os olhos, desatando num choro desesperado. Eu queria saber o que dizer, saber o que fazer, mas eu não sei.

– Vai ficar tudo bem – ele diz, passando os polegares por cima dos meus olhos – Tá bom? Vai acabar e vai ficar tudo bem, você vai ver.

– Não, não é assim, essa não é a solução, porra...

– Vai passar, tá? – garantiu – Vai doer, mas vai passar e vai chegar um dia em que você nem vai mais lembrar de mim.

– Para com isso.

– Hoseok, eu vou fazer isso, eu já decidi.

– Não, você não vai – o puxei para um abraço, o apertando contra meu corpo como se fosse possível ele evaporar, desaparecer no nada – Não vai, por favor, por favor, Taehyung...

Ele me abraça de volta, desabando num choro desesperado. Acho que nunca senti tanto medo na minha vida, tanto pavor como agora, eu começo a beijar sua cabeça, sentindo o cheiro dos fios, tocando os cachos, com um pânico terrível me consumindo.

Meu estômago revira, os meus dedos tremem, começo a respirar com tanta força que meu peito dói.

Não consigo nem mesmo imaginar um mundo sem ele, parece um pecado pensar em como seria a vida sem Taehyung.

Pensar nisso dá ânsia de vômito.

Passamos minutos inteiros assim, até não termos mais lágrimas para chorar, ele toma um banho, para logo em seguida eu poder tomar o meu.

Acabo vomitando, tão atordoado que nem mesmo sei se foi por causa da merda da bebida, ou se é o medo que ainda estou sentindo, nem mesmo consigo me manter de pé embaixo da corrente de água quente do chuveiro.

Assim que entro no quarto Taehyung está deitado, vestindo as roupas que separei para ele, vejo seus olhos se abrirem no instante em que entro no quarto. Ele vira de costas para que eu me vista, respirando de forma agitada e só quando me junto a ele na cama é que se vira de volta para mim.

Me endireitei no colchão, jogando a coberta por cima de nossos corpos, e Taehyung se aproximou. Passou os braços ao meu redor, me abraçando como fazia antes, se aconchegando perto de mim, até encontrar o encaixe de nossos corpos.

Meus braços o rodearam em um movimento automático, meus dedos adentraram os fios úmidos de seu cabelo, começando um carinho.

Silêncio, nada mais do que o som de nossas respirações, desreguladas, engolindo o choro.

– Você ainda é o meu lugar seguro – confessou.

Meu coração deu um salto em falso. O ar faltando. Estou desmoronando.

– É por isso que eu ia atrás de você quando não conseguia dormir – continuou, correndo os dedos pela minha pele por baixo da camisa – Porque eu sabia, que estava seguro do mundo com você... e dói muito, saber que nada mudou, que ainda me sinto protegido.

Ele me apertou contra o seu corpo, e tudo o que eu consegui fazer foi retribuir o aperto. Afundando o rosto nos fios de seu cabelo, prometendo a mim mesmo que não o deixaria escapar pelos meus dedos outra vez.

– Me desculpa – murmurou, sua voz abafada, quase inaudível – Me desculpa. Me desculpa, Hoseok.

– Não pede desculpas, Tae. Não faz isso. – sussurrei, o sentindo soluçar entre um choro baixo – Já passou, está tudo bem agora – continuei, até que finalmente se acalmasse.

Como se essa pudesse ser a última vez, o mantive perto de mim, sem deixar de acariciar os fios castanhos de seu cabelo. Acompanhando sua respiração até ela finalmente amansar, indicando que já havia dormido.

Eu devo ter apagado segundos depois. Acordei com a luz forte do sol iluminando todo o quarto, atravessando o vidro das janelas, por eu não ter fechado as cortinas.

Taehyung ainda dormia abraçado a mim. Minha cabeça dava voltas e por um minuto ou dois, precisei forçar minha mente a se lembrar da noite passada.

Parece um pesadelo, um pesadelo terrível. Esfreguei o rosto, me dando conta de que meus olhos estão mais inchados do que deveriam, assim como me sinto pior do que estava ontem, tem mais dor dentro de mim do que jamais achei que fosse possível.

Toco sua perna por cima do cobertor, deixando um carinho ali antes de me levantar, não quero que acorde, não quero que acorde pra se despedir, para ir embora, pra fazer a pior coisa que ele pode ser capaz de fazer.

Me levantei, tomei um remédio pra cabeça e bebi uma garrafa inteira de água, conferi as horas e já passavam das onze. Taehyung ainda vai dormir muito, julgando pelo tanto que ele bebeu na noite passada.

Até então, nem sinal de Yoongi, é provável que ele fique fora até ter certeza de que Taehyung e eu resolvemos, seja lá o que precisamos resolver depois de ontem.

O celular de Tae vibrava sem parar sobre a estante da sala. Tinham pelo menos dez chamadas perdidas da mãe, e na última tentativa dela, me dei o trabalho de atender.

Já foi difícil ter que explicar a situação sem me comprometer demais, ou comprometer Taehyung. Sem citar o fato de ela ter me mandado avisar a ele, que estava o esperando em casa para terem uma conversa.

Mas que bela manhã de sábado.

Ignorei toda a zona que a casa se tornou, a visão de Holly deitado sobre um moletom meu e os vários copos esquecidos na mesinha de centro, de antes mesmo de Yoon e eu sairmos de casa noite passada.

Não sei nem o que sentir em relação a tudo, ainda que o medo se sobreponha, tem mais medo em mim do que qualquer outra coisa, eu estou em pânico, apavorado, com a voz dele se repetindo de novo e de novo, se despedindo.

Taehyung saiu da cama perto da uma da tarde, me encarou fixamente como se ainda estivesse processando todas as informações e sem dizer uma palavra que fosse, se arrastou até o banheiro, vomitou e apareceu outra vez, perdido na sala.

O cabelo mais bagunçado do que nunca agora, mas ele nem mesmo se deu o trabalho de prendê-lo.

Nos encaramos em silêncio pelo que pareceu uma hora inteira. Seu olhar opaco e seu semblante não transmitiam emoção alguma. Parecia ter se desligado do mundo, e da mesma forma que estava, se sentou na ponta vazia do sofá.

Suas mãos descansando em seu colo, a cabeça jogada para trás, apoiada nas costas do sofá e os olhos fechados. O senti extremamente distante de mim, estávamos na mesma sala, mas ele parecia inalcançável.

– Estou tão cansado – sua voz soou baixa, quase inaudível – Puta merda, eu estou tão cansado – soltou um riso forçado, por fim abrindo os olhos, os mantendo fixos em um ponto na parede.

– Nós podemos conversar sobre ontem?

Ele olha pra mim, estreitando os olhos, então fez que não com a cabeça.

– Não quero mais falar disso.

– Temos que falar disso, Tae, isso é muito sério.

Ele riu, então cobriu o rosto com as mãos.

– Eu não deveria ter te contado, merda... – resmungou – Merda! Merda! Merda! – começou a surtar, os dedos se afundando dentro do cabelo.

Saio de onde estou pra me juntar a ele na outra extremidade do sofá, segurando suas mãos e as tirando de sua cabeça devagar, ganhando a atenção dos seus olhos. Taehyung parece tão pequeno, tão frágil que é como se qualquer movimento brusco fosse capaz de quebrá-lo.

– Você fez bem em contar, foi melhor assim.

Ele fez que não com a cabeça.

– Eu não deveria – engoliu o choro, atordoado – Porque você vai se sentir culpado, você vai achar que poderia ter feito mais, não era pra ser assim, não era pra você se envolver... – ele entrou em pânico, esfregando o rosto, arranhando os braços o pescoço – Meu deus...

– Taehyung, nós vamos resolver isso.

– Não tem o que resolver, eu já decidi! – gritou, parando para me encarar.

– Por favor...

– Não faz isso, Hobi – me cortou – Não tente me convencer do contrário, porque não vai funcionar, não adianta falar que vai ficar tudo bem, que eu vou passar por isso, não adianta dizer que eu vou melhorar porque eu sei que não é verdade, eu não quero ficar bem, eu não quero mais tentar – atropelou as palavras – Eu só quero acabar logo com isso – soltou o ar – É o que eu quero, me deixa fazer o que eu quero.

Eu vou entrar em colapso, vou começar gritar de desespero, o meu estômago embrulha só por pensar, minha mente cria milhares de cenários, ainda que eu não faça a menor ideia de como ele pretende fazer isso, eu já imaginei todas as formas possíveis.

– Você sabe que eu não vou deixar – digo, e ele olha pra mim – Eu não vou ficar quieto depois de você ter me dito que vai se matar, Taehyung, pelo amor de deus!

Ele arqueia as sobrancelhas, dando de ombros e se afundando no sofá.

– Eu sinto muito, Hoseok.

– Você contou isso pra mais alguém?

Ele bate os pés no chão, respirando devagar enquanto olha para a parede.

– Falei sobre isso com o orientador da faculdade, antes de eu trancar o curso – riu soprado ao se lembrar – Ele disse que eu estava fazendo corpo mole, que se eu quisesse ser alguém na vida precisava me esforçar. Depois disse que eu estava roubando a vaga de quem realmente quer estudar.

– E a sua mãe? Ela sabe que você trancou o curso?

– Ela vai descobrir em algum momento, aí eu vou poder dar à ela mais um desgosto para a coleção, mas acho que não vai importar tanto assim quando eu morrer.

– Devia conversar com ela.

– Minha mãe tem mais com o que se preocupar.

Respiro fundo, procurando as palavras certas para dizer.

– Você acha que ela não se importa com você?

– Eu sei que ela se importa... – sua voz falha – E eu sei que isso vai acabar com ela, mas eu preciso ser egoísta pelo menos uma vez. Eu já decidi, Hoseok.

– Conversa com ela.

– Não.

– Eu vou com você, nós falamos com ela.

– Pra ela me trancar numa clínica? Pra ela me entupir de remédio do mesmo jeito que fez quando eu era pequeno? – arqueou as sobrancelhas – Eu não quero passar por isso.

– Você pode tentar...

– Eu não quero!

– Taehyung, eu me importo com você, a sua mãe se importa com você, eu não tenho noção de como você se sente, mas eu sei que esse não é o fim, eu sei que não precisa acabar assim, eu sei que parece que não existe mais esperança, mas existe – tento pronunciar as palavras sem gaguejar, sem começar a chorar – Você ainda tem pelo o que lutar.

– Lutar pelo o quê? – enxugou o rosto – Eu não pinto nada faz sete meses, eu não tenho amigos, eu não tenho você... Eu não tenho mais nada.

– Tem sim, você ainda me tem – segurei seu rosto, secando suas bochechas – Você tem tudo, mas não é por mim, ou por outra pessoa que você tem que lutar, é por você, só você.

Ele fez que não, os olhos se enchendo de lágrimas mais uma vez.

– Eu não consigo.

– Você não precisa passar por isso sozinho, tá? Nós vamos dar um jeito – digo, e ele continua negando com a cabeça – Você vai voltar a pintar, vai voltar a fazer o que gosta – limpei seu rosto mais uma vez – Vai ter tudo o que te deixa feliz de volta.

Ele abaixou a cabeça, desatando num choro baixo.

– Vem aqui – o puxei para um abraço, sendo agarrado por ele, o garoto quase subiu em cima de mim, enfiando o rosto na curva do meu pescoço – Eu vou ficar com você até o final, tá bom? Nós vamos pra casa e vamos conversar com a sua mãe, vamos resolver isso juntos.

Ele não disse mais nada depois disso.

E durante todo o tempo que o tive nos meus braços, não consigo parar de pensar que parte disso é culpa minha, se eu não tivesse ido embora, se eu tivesse insistido em ficar com ele, em cuidar dele, talvez ele não chegaria a esse ponto, ainda que a parte racional de mim tente me convencer de que eu não posso me culpar por isso.

Porque o amor não cura problemas psicológicos.

Eu queria muito fazer algo a mais por ele, mas não depende só de mim, eu sei que se ele não quiser ajuda, nenhum de nós vai poder fazer nada.

Torço com cada parte de mim para que ele aceite ajuda, sou capaz de rezar para todos os deuses possíveis para que ele entenda que não acabou ainda, eu sou capaz de ir até o inferno por ele agora.

– Você precisa deixar a gente te ajudar.

– Não vai adiantar...

– Vai sim, mas você precisa deixar, você precisa aceitar o tratamento.

– Não consigo – soluçou – Eu não consigo...

– Consegue, Tae – beijei sua cabeça – Você é mais forte do que pensa, e você mais do que ninguém merece viver.

E ficarmos só nós dois, presos nos braços um do outro, se permitindo chorar até não sobrar forças para isso também.

Fomos para casa cerca de duas horas depois, tendo a noção de que estaríamos todos juntos. Dessa vez sem levantar as máscaras de família feliz, sem jantares ou conversas rasas.

Na verdade, algo dentro de mim diz que as coisas a partir de hoje serão completamente diferentes.

Até porque não é apenas sobre Taehyung, é sobre meu envolvimento com ele também e a forma como eu fodi com sua cabeça. Porque querendo ou não, eu tenho a minha parcela de culpa nisso, e nunca me perdoaria se algo ruim acontecesse.

Quando chegamos, ele ouviu quieto toda a bronca da mãe sobre a noite passada, sobre não ter atendido ao telefone, sentado no sofá de cabeça baixa, muito provavelmente não escutando absolutamente nada.

Meu pai não desviava os olhos de mim em momento algum, é como se soubesse o que estava por vir. Estranhando a minha presença ali, como se eu não tentasse evitar essa casa o máximo que eu pudesse. Acontece que meu cerco se fechou, não tem mais para onde correr.

Foi eu quem iniciou a conversa, quando percebeu onde eu queria chegar, meu pai deixou claro a sua mudança de humor. Sabia como isso iria pesar em Yerim, e no seu casamento.

"Taehyung e eu namoramos." Eu disse, e foi quando o garoto começou a chorar. Ela riu descrente, se sentou quando percebeu que não era brincadeira.

Olhou para o meu pai, ele ainda com os olhos em mim. Me deixando ir em frente.

"Namoramos escondido por meses, e eu fui embora quando terminamos."

Continuei. Ela perguntou se estamos juntos de novo. Neguei. Taehyung não parava de chorar, foi quando sua atenção se direcionou a ele, e então seus olhos voltaram para mim.

Me condenando. Ela me odeia agora, e odeia o meu pai por ter me colocado dentro de casa. Ela me odeia porque sabe que a culpa é minha.

Taehyung pediu desculpas, então disse à ela que é gay. Contou sobre o Jungkook. Contou sobre mim. Sobre a faculdade, os cigarros e principalmente, contou sobre seus pensamentos suicidas.

Ela chorou, pediu desculpas, disse que deveria ter percebido, mas não era culpa dela.

"Taehyung, meu coração bate junto ao seu." Ela murmurou, quando nenhum de nós sabia mais o que dizer.

Ela estava com medo, claro que estava. Prometeu que daria um jeito nisso no dia seguinte.

Meu pai deixou a sala instantes depois, não aguentando o clima pesado que se instalou entre nós. Eu não podia, prometi que ficaria com ele até isso acabar.

Yerim repetiu milhares de vezes o quanto o amava, prometendo que ficaria tudo bem. Até conseguir fazê-lo parar de chorar.

Eu tinha um nó na garganta, que parecia pior a cada segundo que se passava.

Nenhum de nós sabia como prosseguir depois de tudo aquilo. Completamente alheio, Taehyung fitava o chão, com o rosto inchado e vermelho, perdido em seus pensamentos. Distante outra vez.

Já Yerim estava visivelmente em choque, com as mãos trêmulas pelo susto. Provavelmente se culpando por ter deixado que o filho acabasse assim, com medo do que poderia ter acontecido, do que ainda pode acontecer.

Eu sei, porque me sinto exatamente da mesma forma. Culpado e com medo.

Taehyung segurou minha mão em um determinado momento, quando caiu em si outra vez.

Me encarou, seu rosto foi ficando embaçado aos meus olhos.

Ele murmurou que estava tudo bem. Era eu quem deveria dizer isso à ele, mas sinto que dizer isso seria em vão.

Me sinto ainda mais inútil agora. Pior, me sinto culpado.

🌻

lembrando que vante vira a ser publicado como livro físico pela editora euphoria em outubro!

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até semana que vem!

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