Destinos Cruzados || Henry Ca...

By ingridautora

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Allison Williams sofreu uma perda devastadora. Sem o apoio do homem que amava, ela tinha apenas a sua irmã Ka... More

Book Trailer
Prólogo
Capítulo 1 - Allison
Capítulo 2 - Kate
Capítulo 3 - Allison
Capítulo 4 - Nick
Capítulo 5 - Allison
Capítulo 6 - Ian
Capítulo 7 - Allison
Capítulo 8 - Ian
Capítulo 9 - Allison
Capítulo 10 - Nick
Capítulo 11 - Ian
Capítulo 12 - Allison
Capítulo 13 - Ian
Capítulo 14 - Helena
Capítulo 15 - Allison
Capítulo 16 - Ian
Capítulo 17 - Allison
Capítulo 18 - Allison
Capítulo 19 - Ian
Capítulo 20 - Helena
Capítulo 21 - Helena
Capítulo 22 - Ian
Capítulo 23 - Allison
Capítulo 24 - Allison
Capítulo 25 - Ian
Capítulo 26 - Allison
Capítulo 27 - Helena
Capítulo 28 - Ian
Capítulo 29 - Ian
Capítulo 30 - Olívia
Capítulo 31 - Ian
Capítulo 32 - Ian
Capítulo 33 - Allison
Capítulo 34 - Ian
Capítulo 35 - Ian
Capítulo 36 - Allison
Capítulo 37 - Helena
Capítulo 38 - Allison
Capítulo 39 - Ian
Capítulo 40 - Allison
Capítulo 41 - Ian
Capítulo 42 - Allison
Capítulo 43 - Ian
Capítulo 44 - Allison
Capítulo 45 - Allison
Capítulo 47 - Allison

Capítulo 46 - Ian

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By ingridautora

Eu simplesmente não conseguia acreditar em tudo o que eu estava vivendo. Allison e eu estávamos nos relacionando bem, mesmo que fosse apenas como amigos, e ainda descobrimos que teríamos um bebê. Eu não pensei que poderia ser tão feliz, depois de tudo o que aconteceu, mas aqui estava eu.

Colecionando todos os tipos de alegria.

Só faltava uma coisa, mas, por enquanto, eu me contentaria com o que eu estava ganhando.

— Eu já falei pra você que você não vai sentir nada... – falou entediada, me olhando cética.

— Você não sabe disso. – retruquei e ela riu um pouco.

— Ian, o bebê ainda é pequeno demais pra você sentir mexer. – explicou, rindo – Nem eu sinto!

Ela estava no sofá, parcialmente deitada, com a camisa levantada até a metade, revelando a barriga que já começava a aparecer. Na verdade, não era exatamente uma barriga de grávida. Por ser bem magra, o pé de sua barriga já estava bem marcado e seu abdômen estava bem inchado, até a altura do umbigo. Ela costumava dizer que parecia estar cheia de gases.

— Sua mãe tá com medo de você gostar mais de mim. – sussurrei próximo ao seu umbigo, ela riu.

— Eu e você sabemos que isso não vai acontecer. – declarou despreocupadamente – Passamos o tempo todo juntos, lembre-se disso.

Eu a olhei feio de brincadeira, fazendo com que ela risse. Ela se levantou do sofá ainda rindo, abaixou a camiseta e foi até a cozinha. Eu a acompanhei, observando enquanto ela preparava algo pra comer.

Ela estava cada dia mais bonita. As curvas de seu corpo já estavam um pouco mais acentuadas, seus quadris tinham aumentado um pouco e os seus seios pareciam um pouco mais fartos. A barriga ainda não tinha crescido o suficiente pra que alguém de fora perceba que ela está grávida – especialmente porque ela sempre usava blusas mais confortáveis – mas já era perceptível pra nós, que estávamos sempre por perto. Sua pele parecia ter ganho um brilho diferente e as bochechas dela estavam coradas o tempo inteiro, o que ela não gostava, mas eu achava que lhe deixava mais bonita.

Ela sempre foi linda, na verdade, mas a gravidez lhe caía bem.

Uma coisa que ela parecia estar amando, eram os cabelos... Também pareciam mais cheios e brilhosos. Era a única coisa que ela realmente gostava e não reclamava de jeito nenhum.

— Você tem algum pressentimento? – perguntei e ela me olhou sem entender – Ouvi dizer que algumas mulheres têm uma certa intuição a respeito do sexo do bebê.

— Ah, sim... – ela riu, meneando a cabeça – É meio estranho, na verdade. A gente nunca sabe se é um pressentimento ou simplesmente um desejo oculto que aflora quando descobrimos estar grávidas.

— Mas o que você sente? – insisti e ela suspirou, olhando para o teto como se buscasse uma resposta. – Não é possível que não tenha uma opinião.

— Ainda é muito cedo... – ela falou tentando manter o tom de voz neutro, mas eu a conhecia muito melhor que isso – Tem tanta coisa pra acontecer, eu não quero ficar pensando muito a respeito de nada e correr o risco de me frustrar.

Ela continuou concentrada no que ela estava fazendo e eu simplesmente me aproximei dela e toquei sua mão, interrompendo sua atividade. Ela parou o que estava fazendo e respirou fundo, como se para se acalmar.

— Sei que você tá preocupada... – falei devagar – E entendo os seus motivos, mas você não deveria se prender ao medo.

— Até um dia desses, eu achei que não podia engravidar nunca mais. – fechou os olhos e riu fraco – Agora, eu descubro que estava enganada o tempo todo...

— Allison...

— Eu não tinha a menor pretensão disso, sabe? – falou – E agora, eu estou aqui, grávida, com todas essas possibilidades...

— Você não imagina como é... – suspirou parecendo chateada – Perder uma filha.

— Acho que eu tenho alguma ideia... – falei com um sorriso triste.

— Sabe, fiquei todo aquele tempo imaginando, esperando, querendo conhecer a minha filha. – ela voltou a falar, seu olhar estava distante – E tava tudo bem. Tudo normal. Todos os exames estavam limpos e eu não tinha com o que me preocupar. – contou – E mesmo assim, a minha filha morreu. – ela me deu um sorriso triste – Sem mais nem menos, do nada. Um belo dia eu me senti mal, entrei em uma sala de parto, mas saí de lá sem a minha bebê. – ela encolheu os ombros piscando com frequência, tentando se impedir de chorar – E eu não consigo não me sentir responsável. É como se a culpa fosse minha, de alguma forma. Se eu tivesse feito algo diferente, se eu tivesse ligado pra Lílian... Sei lá, se eu tivesse feito alguma coisa, talvez ela estivesse aqui.

— Ei, para com isso... – falei me aproximando dela mais uma vez e segurando suas duas mãos – Allison, você não tem culpa de nada. Você mesma me falou que a sua médica disse que fizeram todo o possível.

— Eu sei, mas não consigo me livrar do sentimento! – ela falou apertando minhas mãos – É como se fosse um fantasma que me assombra.

— Eu sei como se sente – falei acariciando suas mãos com meus polegares, tentando acalmá-la. – Sei que a gente fica se torturando com ideias de como poderia ter sido, se agíssemos de outra forma, mas isso está muito além do nosso controle, Allison.

Ela também sabia que eu me sentia responsável pelo desaparecimento da minha filha. Já tinha conversado com ela inúmeras vezes a respeito de como eu me responsabilizava por não estar lá quando tudo aconteceu.

— Mas mesmo assim, saber disso não impede que esse sentimento apareça.

— Não. – concordei – Nós não sabemos o que vai acontecer e isso é assustador, eu sei.

— Tanta coisa pode acontecer, Ian. – falou com a voz trêmula e eu sorri.

— O que eu sei, é que eu amo tanto esse bebê, mesmo que, de acordo com o site, ele ainda seja do tamanho de...

Estalei os dedos, tentando lembrar o que o site usou como comparativo.

— Uma ameixa grande! – completou Allison, com uma risada fraca.

Eu ri e apontei pra ela, confirmando sua resposta.

— Isso! – falei com empolgação – Desculpa, depois da couve de Bruxelas ficou difícil guardar os outros.

Ela riu outra vez, me olhando com carinho. Seus olhos estavam um pouco avermelhados e úmidos, então me permiti passar o polegar em seu rosto, secando as poucas lágrimas que caíram e lhe ofereci um sorriso

— Couve de Bruxelas foi realmente insuperável. – Allison riu

— Embora o nosso bebê pareça estar um pouco maior que uma ameixa. – observei.

Achei que ela fosse dizer que eu estava chamando-a de gorda, mas, ao contrário do que eu previ, ela parecia surpresa e empolgada por eu ter notado algo.

— Não é? – perguntou um pouco chocada – Na próxima consulta vou perguntar sobre isso. Estou me achando maior do que eu me lembrava de ter ficado, com treze semanas.

— Talvez seja só a nossa ansiedade. – dei de ombros – De qualquer forma, quero que prometa que vai parar de se torturar assim. Estamos bem, o nosso bebê está bem e daqui a algumas semanas, vamos conhecê-lo.

— Certo... – concordou sorrindo e eu sorri também.

— Agora eu quero saber se você acha que teremos uma menina ou um menino, anda. – falei em um tom brincalhão e ela riu alto.

Depois daquela conversa, Allison parecia estar um pouco mais leve. Pelo menos a respeito da gravidez. Muitas coisas estavam acontecendo em nossas vidas. A gravidez, por si só, já era um desafio, mas também tinha a questão do exame de DNA. Antes do exame ser enviado, Allison e eu decidimos ter uma conversa com Raphael, responsável pelo primeiro exame. Queríamos encontrá-lo pra saber o que ele teria a dizer, caso levantássemos a hipótese do exame ter sido manipulado.

Convidei-o para conhecer a confeitaria de Allison e ele não hesitou em aceitar.

— Obrigada por ter vindo, isso é muito importante. – agradeci.

— Posso imaginar, Ian. Deve estar vivendo uma montanha russa!

— É uma forma de dizer, com certeza. – Allison concordou com um sorriso.

— Raphael, preciso te perguntar... – falei seriamente – Quais as chances do exame que você fez, ter dado errado?

Raphael franziu o cenho e me encarou como se não estivesse entendendo.

— Ian, isso é impossível. – garantiu sem hesitar – Eu me responsabilizei pessoalmente pelo exame, justamente porque eu não queria que ninguém soubesse e isso colocasse o resultado em dúvida.

— E o resultado foi positivo? – Allison perguntou e ele fez que sim com a cabeça, com tanta veemência que achei que ele ficaria tonto depois.

— Testei cada fio daquela escova porque simplesmente não podia acreditar que Ian tinha encontrado a garota certa, depois de tantos anos. – explicou – E as chances de um DNA dar um resultado falso são ínfimas.

Olhei pra Allison e ela encarava a mesa, pensativa.

— Obrigado, Raphael. Você ajudou muito! – falei estendendo a mão e Allison pareceu retornar à realidade.

— Sabe que pode contar comigo, Ian. – apertou minha mão e a de Allison em seguida.

— Sim, foi de grande ajuda mesmo! – Allison sorriu – Por favor, fique. Experimenta algo do seu interesse. É o mínimo que posso oferecer depois de ter aceitado vir aqui. – falou com gentileza, fazendo Raphael sorrir e concordar.

Não perguntei a ela no que estava pensando naquele dia, quando Raphael reafirmou o resultado do exame feito por ele, mas aquilo não tinha saído da minha cabeça.

No dia previsto para recebermos os exames, relembrei esse momento.

— Lembra da conversa com o Raphael? – perguntei e ela me olhou, fazendo que sim com a cabeça em seguida – Acha que ele mentiu?

— Não.

— Teve uma hora que você meio que saiu do ar... – falei e ela respirou fundo, escolhendo suas palavras. – Achei que você estava desconfiada.

— Ian, eu não acho que seja fácil sabotar um exame dentro dos padrões que a juíza estabeleceu. – falou, pensativa. – E, ainda assim, se o seu amigo estiver certo e o exame dele não ter dado o resultado errado, alguém conseguiu. Alguém com dinheiro e com os meios necessários pra fazer isso sem ninguém desconfiar.

— Desconfia de alguém? – perguntei e ela deu de ombros

— Não consegue pensar em ninguém? – perguntou, fazendo com que eu franzisse o cenho. – Olha, Ian... Não importa. Hoje teremos nossas respostas e depois disso...

— Eu sei.

Eu não gostava da sensação que me invadia sempre que eu pensava em ter que retornar ao Arizona, mas eu sabia que ela tinha razão. Se havia um lugar onde encontraríamos as respostas que procurávamos, era lá.

Quase parecendo ter sido ensaiado, a campainha tocou.

Quando Allison abriu, era o exame sendo entregue. Ela assinou a entrega e o trouxe até mim.

— Eu não sei se consigo fazer isso de novo. – declarei, olhando para ela com o envelope nas mãos – Da última vez foi... um evento.

Eu não saberia como reagir, independente do resultado.

— Ian, você já teve as duas experiências e as duas foram ruins e muito difíceis. – falou, dirigindo-se ao lugar disponível ao meu lado, no sofá – Sinceramente, o que vier agora é lucro.

Apesar de dizer isso, ela já estava abrindo o envelope.

Tudo parecia estar acontecendo em câmera lenta. Ela parecia tranquila enquanto seus olhos deslizavam pelas palavras na superfície do papel.

— E então? – perguntei ansioso, fazendo seu olhar encontrar o meu – E então? O que diz?

— Que precisamos organizar a nossa excursão pelo túnel do tempo. – ela falou com um suspiro, me entregando o papel. – Você é o pai da Olívia.

#

Por um tempo, Allison e eu não soubemos exatamente o que dizer. Nenhum dos dois estava surpreso, mas ainda era uma notícia grande demais pra se absorver rapidamente. Aquilo oficialmente mudava tudo e eu sabia que não seria fácil, mas dessa vez fui tomado pela sensação de paz e não de angústia.

Dessa vez, eu sabia que não estava só e que poderia contar com quem eu tinha ao meu lado.

— Como você está se sentindo? – ela perguntou com delicadeza, tocando o meu ombro.

Respirei fundo, ainda meio zonzo, meio chocado.

— Me sinto melhor do que da outra vez, com certeza. – afirmei e ela sorriu. – Parte disso, é graças a você.

Allison me olhou surpresa, eu apenas sorri.

— Como quer lidar com isso? – ela perguntou e eu a olhei sem entender – Quer contar pra ela?

— Faria isso? – perguntei surpreso

— Bom, eu adoraria ter tempo de pensar em como faríamos isso... – admitiu – Mas ela precisa saber, claro.

— Eu também não faço ideia de como dar essa notícia... – falei um pouco preocupado, mas ela apertou meu ombro de leve e sorriu.

— Bom, vamos fazer o seguinte. – ela falou virando-se para mim – Vamos para o Arizona investigar. – falou calmamente – E quando voltarmos, contamos. Independentemente do que a gente descubra, vamos contar a verdade pra ela.

— Acho que é tempo o suficiente pra pensar... – concordei e ela sorriu.

— De qualquer forma, não vai dar pra esperar até lá pra falar do bebê. – ela deu um sorriso torto, apontando pro próprio ventre, me fazendo sorrir.

— São revelações demais. – falei com um suspiro e ela riu, me fazendo rir também – Quando vamos fazer isso?

— Podemos fazer isso hoje... – ela sugeriu e eu a olhei surpreso.

Não havia nada que nos impedisse daquilo, mas eu ficava nervoso ao pensar na reação dela. Eu estava prestes a responder, quando os passos de Olívia foram ouvidos na escada.

— Eu já falei pra você não correr na escada, Olívia! – Allison brigou, mas Liv lhe respondeu com um beijo estalado na bochecha.

Allison e eu trocamos um olhar, como se decidíssemos se faríamos aquilo mesmo, naquela hora.

—Me desculpa, mãe! – ela sorriu encantadora como sempre, me fazendo rir.

— Ok... – Allison olhou desconfiada para a menina, que riu – Hm... Olívia, senta aqui um minuto. – Allison pediu com cautela e Liv riu sem entender, mas obedecendo a mãe.

Ela se sentou entre nós dois e me olhou como se esperasse uma explicação.

— Querida, temos algo pra te contar. – falei com um suspiro.

— Sério? – ela perguntou animada – Vamos sair no fim de semana? Tio Ian vai nos levar naquela casa maneira? – ela sugeriu, atropelando a própria sugestão em seguida – Ah, já sei! Vocês voltaram a namorar!

— Olívia! – Allison fitou-a – Não é nada disso!

— Liv... – chamei, fazendo-a com que ela me olhasse sem entender nada. – Bom, primeiro eu queria te fazer uma pergunta.

— Tá bom. – ela falou com empolgação.

Allison e eu nos olhamos de novo.

— Já pensou em como seria se você tivesse um irmãozinho? – perguntei e ela ficou pensativa por um momento – Ou irmãzinha, claro.

— Eu já, mas a minha mãe disse que isso não ia acontecer nunca. – ela falou rolando os olhos.

— É verdade. – Allison confirmou e eu ri.

— Sempre falou que estava tudo bem como estava e que não imaginava um bebê na nossa casa depois de tanto tempo. – precisei me segurar pra não dar uma risada – Mas eu ia amar! Ai, seria tão legal! Eu ajudaria a minha mãe e aí ela cresceria e a gente poderia brincar junto! – Liv agora estava totalmente empolgada.

— Ela? – perguntei com um sorriso e ela fez que sim com a cabeça – Não ele?

— Assim, também seria legal ter um irmão. Eu adoro o Odin! – explicou – Mas eu sempre me imaginei com uma irmãzinha.

— Pelo menos alguém tem um palpite. – falei de um jeito divertido e Allison riu, dando tapinha na minha mão.

— Mas por que essa pergunta,agora? – Liv perguntou olhando pra mãe que respirou fundo e lhe deu um sorriso fraco.

— Bom, querida, estamos perguntando isso porque parece que finalmente vai acontecer. – Allison falou e o rosto de Olívia se inundou de uma surpresa tão genuína que chegou a ser engraçado – Vamos ter um bebê.

— Juntos? – ela perguntou, me olhando atônita e eu ri fraco, fazendo que sim com a cabeça.

— Sim, querida. Juntos. – afirmei e ela olhou pra frente, em silêncio por um longo tempo, como se processasse todas as informações em seu cérebro.

De repente, ela abriu um sorriso.

— Ai, eu sabia! – ela comemorou e Allison olhou pra ela sem entender nada – Eu sabia que se fosse com alguém legal, você teria um bebê! – ela falou exultante – E você gosta demais do tio Ian, eu sabia! – ela falou e eu tentei não rir, mas não pude evitar olhar pra Allison, que parecia mortificada com as últimas palavras de Olívia.

— Não é exatamente assim que funciona... – Allison tentou cortar Olívia, mas a menina já não queria nem saber.

— Tio Ian, quando as pessoas perguntarem se você é só pai da minha irmã...

— Ou irmão. – Allison acrescentou, mas Olívia parecia não estar ouvindo mais.

— Eu posso dizer que você é meu também? – ela perguntou com simplicidade e uma expectativa que me pegaram totalmente de surpresa.

Olhei pra Allison que parecia tão chocada quanto eu, mas não se meteu.

— Gostaria disso? – perguntei tentando manter minha voz calma.

Liv fez que sim com a cabeça.

— Seria mais fácil do que ficar explicando o tempo todo que eu não tenho pai e ela sim. – ela deu de ombros e eu ri fraco.

— Por mim, tudo bem. – falei tentando não contar tudo pra ela ali mesmo.

Ela se virou pra Allison, que sorriu.

— Não tem problema, né? – ela perguntou e Allison suspirou e sorriu um pouco.

— Não, querida. – ela falou – Problema nenhum.

— Ai, vai ser tão legal! – ela bateu palmas animadas – Posso escolher o nome? – ela perguntou sem esperar uma resposta, se abaixando na altura da barriga de Allison – Oi, bebê. Você já consegue me ouvir?

— Ok, não vamos nos apressar. – Allison riu se levantando – Que tal ajudar com o jantar hoje?

— Aceito as vitórias que eu tiver. – Liv falou nos fazendo rir.

Foi uma tarde tranquila entre nós três.

Liv nos ajudou a preparar o jantar e colocou a mesa quando a comida estava quase pronta. Allison e eu conversamos um pouco sobre a viagem e perguntamos a Olívia se ela gostaria de ir também. Apesar da nossa ideia ser não chamar atenção, não sabíamos quanto tempo ficaríamos lá e, bem, ela estava de férias.

— Eu vou amar ver a vovó! – ela falou animada – E conhecer onde a minha mãe cresceu.

— Nunca foi ao Arizona? – perguntei chocado e ela fez que não com a cabeça

— Mamãe sempre estava ocupada e a minha avó sempre aparecia do nada – ela respondeu – Aí a gente nunca foi. Como é lá?

— Quente. – Allison e eu respondemos juntos, rindo ao ouvir o outro dar a mesma resposta – Mas é legal. – acrescentei.

— E tem o Grand Canyon. – Allison falou

— Verdade! – concordei – Podemos ir lá, se você quiser.

— Eu nunca saí de Nova Iorque, vai ser legal – Liv falou empolgada

— Quer dizer, depois que você saiu do Arizona? – Allison perguntou rindo

— Se eu não lembro, não conta.

— Ela tem um ponto. – concordei e Liv riu, batendo a palma da mão na minha – E também tem o Castle n' Coasters.

— O que tem lá? – Liv perguntou e não demorou até que eu e Allison compartilhássemos as memórias das nossas infâncias.

Até mesmo Kate, quando chegou, deu uma pausa no tratamento especial que ela estava me dando há semanas e se juntou a nós. Foi uma noite agradável, até mesmo quando eu achei que não seria. Allison fez questão de ajudar Liv com o banho, depois do jantar, enquanto Kate lavava a louça.

— Vai falar com ela. – ela sussurrou de forma autoritária – Nada de fugir.

— Boa noite, tia Kate. – Liv beijou a tia.

— Boa noite, macaquinha. – ela falou com um sorriso, passando a organizar a louça na pia em seguida.

Observei enquanto as duas subiam as escadas e Allison falava, sem emitir nenhum som: Vá falar com ela!

Por alguns segundos, o silêncio entre nós foi quase insuportável. Minha vontade era mesmo levantar e ir embora, mas não fiz isso. Me aproximei devagar, mas ela parecia decidida a não me olhar.

— Quer que eu seque? – perguntei e ela me olhou sem responder imediatamente

— Não precisa, você ajudou a preparar a comida. – ela falou em tom de voz neutro

Eu continuei a me aproximar, parando ao seu lado e tocando a sua mão, impedindo que ela continuasse o que estava fazendo. Ela me olhou, um pouco aborrecida, mas não falou nada.

— Kate, sei que está chateada comigo e com razão. – falei enquanto ela me encarava

— Você mentiu pra mim. – ela falou sem alterar o tom de voz

— Eu não agi da melhor forma – continuei e ela continuou falando por cima de mim

— Você me usou pra machucar minha irmã! – ela acusou, irritada. Fechei meus olhos e respirei fundo antes de voltar a encará-la – Se Olívia não tivesse insistido tanto em voltar, você não teria nem se importado conosco.

— Kate, eu errei. Errei feio, eu sei disso e talvez nada do que eu diga seja justificativa, mas eu realmente sinto muito! – falei com toda a sinceridade e isso parece tê-la pego de surpresa – Fui injusto e egoísta, eu sei. – falei e ela continuava calada – E eu aprendi a lição, perdi mais do que eu gosto de admitir, mas eu estou tentando fazer as coisas do jeito certo.

— Você e a Allison já se entenderam, Olívia não está traumatizada e, bom, vocês vão ter um bebê. – ela falou encolhendo os ombros – Que diferença faz se justificar pra mim?

— Eu me importo com você, Kate. – falei – Sinceramente, me importo com vocês três e nunca me senti bem com o que fiz. Importa que eu me justifique com você porque eu errei e preciso admitir isso – falei – E me redimir.

Ela ainda parecia resistir a ideia de me tratar ou agir como antes, mas se ela aceitasse simplesmente me tratar com mínimo de normalidade, eu já me daria por satisfeito.

—Nunca mais vai fazer isso – ela falou. Não era uma pergunta, nem uma dúvida, era uma afirmação.

— Eu prometo. – falei sem hesitar e ela suspirou, balançando a cabeça

— Certo. – ela falou ainda contrariada, mas abrindo espaço pra eu me aproximar – Então pode me ajudar. – ela falou voltando a abrir a torneira e lavar os pratos – Mas eu logo aviso, como médica, eu sei fazer uma morte parecer ter sido de causas naturais. – ela falou e eu ri, vendo-a rir ao meu lado.

— Vou lembrar disso – falei e ela concordou com a cabeça – E não vou mencionar isso em uma conversa com o Kevin, porque meu amigo gosta demais de você e eu não quero que ele fuja. – comentei e ela me olhou surpresa, mas sem conseguir conter um sorrisinho

Eu sabia que Kevin estava andando por aqui, antes de Allison e eu nos entendermos. Ele dizia que era por Allison e Olívia, por preocupação, e eu acreditava... mas Kate também ocupava grande parte dos seus pensamentos e ele mal conseguia disfarçar isso.

Cuidamos da louça ainda em silêncio, mas o silêncio não era opressor como antes, era confortável.


...


Ao longo da semana, Allison e eu organizamos o que era necessário pra nossa viagem, evitando dar todos os detalhes dos motivos de termos decidido isso. Kate pareceu um pouco desconfiada, mas não insistiu no assunto, Nora e Kevin não foram tão fáceis de desistir da conversa.

— E vocês decidiram ir pro Arizona agora? Do nada? – Nora perguntou sem entender.

— Liv nunca esteve lá, não depois de crescida... – Allison respondeu com um sorriso – Eu sempre quis levá-la, mas nunca dava tempo.

— E o Ian resolveu ir junto? – Kevin me olhou como se não acreditasse naquilo – Vocês mal voltaram a se falar e vão viajar juntos? Ainda mais pra um lugar que ele detesta. – ele ironizou e nós rimos.

— Eu não detesto. – neguei com uma risada – Só não sou o maior fã.

— Vocês não estão tentando nos contar nada? – Nora disse de forma sugestiva e Kevin sorriu.

— Por favor, digam que querem! – pediu – Eu sou totalmente a favor de vocês ficarem juntos.

— Kevin... – falei em tom de desaprovação.

Eu odiava quando começavam com essa história porque eu nunca sabia o que fazer comigo mesmo e eu sempre me lembrava da realidade: eu e Allison não tínhamos mais uma história juntos.

Nora deu uma risadinha, mas não falou nada.

— Não, eu tô falando sério! – Kevin riu da minha reação – Tá na hora de você sossegar com alguém decente.

— Kevin, chega... – Nora riu, tocando Kevin.

—Tá, vamos ignorar o elefante na sala! – falou com uma risada – Decidiu se juntar a Allison nessa viagem simplesmente porque sente falta do Arizona?

— Talvez ele sinta falta da Helena. – Allison brincou e eu a olhei feio, mas ela riu – Quantos casais não reatam depois de um divórcio? – ela acrescentou e Kevin riu.

— É verdade. – Kevin confirmou e Allison riu.

— Muito engraçada! – falei com uma careta – Bom, Kevin, sinto muito não tê-lo contado antes – falei me aproximando de Allison e trocando um olhar divertido com ela.

Kevin nos olhou como se fosse rir, mas não falou nada. Coloquei a mão sobre a barriga discreta de Allison, que estava escondida pela largura da blusa. Seu olhar divertido deu lugar a uma expressão de choque que quase me fez rir.

— Ian? – Kevin estava perplexo.

— Acho mais do que apropriado eu ir junto, já que estamos tendo um bebê e não quero correr o risco de estar longe se Allison precisar de mim. – expliquei com um sorrisinho ao ver a cara de Kevin quando Allison colocou a mão sobre a minha.

Ele permaneceu mudo por algum tempo.

— Acho que vocês quebraram o homem. – Nora comentou, estalando os dedos na frente de Kevin.

— Não vai dizer nada? – ri da cara dele.

— Vão ter um bebê e não me contou? – perguntou sério – Sabia disso? – virou-se para Nora.

— Ela levou o teste pra mim. – Allison contou rindo – E a Kate sabe porque ela estava desconfiada da reaproximação de Ian, então precisei contar.

— E ela não me contou? – Kevin ele ergueu as sobrancelhas – Quem mais sabe? O carteiro? O eletricista?

— Olívia – falei rindo – Contamos semana passada.

— Ah, Olívia tudo bem. – ele falou sério, mas depois deu um sorriso se aproximando de nós – Só vou perdoar porque vou ser o padrinho! – riu me abraçando forte e eu retribuí na mesma intensidade.

— Vai querer ser padrinho de todos os meus filhos? – perguntei e ele riu, fazendo sim com a cabeça.

— Estão planejando ter outros? – ele brincou, se virando para Allison que riu.

— Por que você faz essas coisas? – ela perguntou com uma careta, fazendo Kevin rir antes de abraçá-la.

— Sinto muito, perturbar o Ian faz parte da minha natureza. – ele respondeu rindo – Parabéns, estou feliz por vocês. Você é uma mãe incrível e esse bebê já é extremamente sortudo!

— Obrigada, Kevin. – ela agradeceu sorrindo enquanto eles se soltavam – Sobre a vaga de padrinho, vamos precisar negociar... – ela falou e ele a olhou sem entender – Nick com certeza vai pedir a mesma coisa.

— Nick? – perguntei sem conseguir conter o meu incômodo – Bom, ainda bem que ainda estamos na fase de negociações. – falei me afastando alguns passos – Enfim, é por isso que vou viajar, só por segurança. – falei mudando de assunto, mas Allison ainda me olhava estranho.

Ignorei.

— Precisam de algo? – Kevin perguntou contendo uma risada

— Precisamos alugar uma casa. A casa de Allison está alugada. – expliquei – E tenho medo de que se assinarmos algum contrato no nosso nome, Helena descubra que estamos lá.

— E qual é o problema disso? – Kevin perguntou sem entender.

— O problema é que eu envelheço oitenta anos sempre que sou obrigado a lidar com ela – falei impaciente – Não quero ter que fazer isso nessa viagem pelo máximo de tempo que eu puder.

— Tem a minha casa. – Kevin ofereceu – Acomoda vocês três e não acho que vá chamar atenção de Helena. Vão precisar de alguém pra ajudar vocês?

— Não – Allison respondeu – podemos nos virar nesse aspecto.

— Então tudo bem, vou deixar as chaves com Ian amanhã. – ele falou e eu concordei com a cabeça – Vão viajar quando?

— Em dois dias. – Allison falou com um suspiro – Nunca pensei que me sentiria tão ansiosa em voltar lá.

— Pois eu nunca sinto isso. – Kevin deu de ombros – Tenho pavor só de lembrar do calor. – ele comentou e nós todos rimos – Bom, são várias notícias boas nessa noite, vamos brindar! – ele sugeriu – Temos suco de uva pra senhorita. – ele falou olhando pra Allison.

Assim ele decidiu, assim nós fizemos. Terminamos de aproveitar a noite juntos, comemorando as novidades entre amigos. Estávamos em paz, uma paz que há muito tempo eu não experienciava. Apesar da felicidade do momento, tinha medo do que poderia estar nos aguardando lá na frente.

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