A youtuber escutou a história sem o interromper, visto que ficou curiosa em certos detalhes, e além disso, sentiu uma vontade enorme de beijá-lo, uma quentura no meio das pernas, não sabia por que aquele desejo surgiu de repente. Ela estava hipnotizada, seguindo cada movimento dos lábios do rapaz, mesmo demonstrando não gostar do caipira nas palavras.
Kaio contou toda sua história, sem medo de dizer que era um ET de verdade, pois sentia que a ex-atriz duvidava de tudo. O rapaz notava que Marin não prestava atenção em nada, parecia perdida no tempo, ela ouvia num ouvido e saia pelo outro, por isso ele não mostrou nenhum poder para ela acreditar.
Mesmo não acreditando, Marin Olivatto ficou com a pulga atrás da orelha, no meio do muro, acreditar ou duvidar, eis a questão? Poderia ser o fim nunca mais ver aquele homem desconhecido que atropelou em plena BR, todavia uma vontade cresceu assustadoramente de ficar perto dele, então ela quis levá-lo para São Paulo porque sentiu atração avassaladora pelo nordestino. Assim a Youtuber convidou, e ele aceitou de imediato sem por dificuldade.
Kaio foi com Marin sem pensar duas vezes, pois seus pais estavam viajando, ganharam um grande prêmio e estava dando uma volta ao mundo por mais de um ano, seus irmãos tinham suas famílias, e o rapaz não tinha nenhuma companheira.
Então Kaio arriscou conhecer a cidade de sua atriz favorita. Resolveu sair do estado do Ceará, mesmo não tendo mais ninguém fora para ir morar. Além do mais seus irmãos adotivos não eram tão chegados para impedi-lo de se aventurar fora de casa, não o consideravam como irmão. Então nem pensou direito e partiu para São Paulo com a bonitona que deu oportunidade de vencer na vida e quem saber ficar com ela.
Kaio aparentava ter 30 anos. Ele era moreno, muito alto, cabelos assanhados até o pescoço. Ele parecia um mendigo por suas roupas estarem rasgadas e sujas, barba para fazer, mas de porte avantajado, seus braços eram fortes, pernas grossas, bunda arrebitada e peito largo. Era de um nariz afilado e tinha o rosto comprido. Tinha olhos negros e cabelos lisos castanhos escuros. Sua pele morena clara brilhava sem nenhuma mancha e sua voz grossa era também sua marca de masculinidade forte. Não parecia ser um nordestino comum do interior do mato fechado. Tudo isto Marin prestou atenção e veio à lembrança do rapazinho da loja de artesanato. No caminho para apartamento dela, após saírem do avião, ela deu um estalo mental e disse.
—Ei! Você é aquele rapaz da lojinha de artesanato. O bonitinho, hein?!
—Que? Ah! Sim! —Kaio confirmou.
—Eu sabia que te conhecia de algum lugar. —Marin disse o reconhecendo depois que tirou a barba.
—Pensei que fosse do abismo que tinha me reconhecido.
—Ainda quer bancar o Brazimuz?
—E não é por isso que está me levando para cidade grande? Par me revelar ao mundo! —Kaio disse rindo zoando, pois não acreditava que ela faria isto.
—Claro! Sim!— Marin disse acanhada.
Devido Kaio Jaques não ter onde ficar, Marin o deixou ficar no apartamento dela por uns dias até ele achasse um lugar bom para morar.
O nordestino tinha umas economias, ele pensou que daria para se virar por algum tempo sozinho na cidade de São Paulo e foi procurar emprego, mas o que conseguia de emprego, o salário era baixo demais, não dava para alugar nem uma quitinete.
Marin contou a história para os colegas do blog, mas ninguém deu atenção, eles acharam que ela caiu numa pegadinha absurda, pois se o sujeito fosse um ET não iria contar para ninguém sua história, e com certeza, iriam manter segredo absoluto para não ser pego.
Então Marin não pode divulgar a história, sem uma prova concreta. Seu chefe Senhor Pimenta riu da ingenuidade dela, rasgou o rascunho de sua história e pediu que ela fosse gravar algo útil, pois aquela história era repetida e fantasiosa demais para ser furo de notícia.
A youtuber tinha sido enganada, pois havia vídeos publicados de mentiras daquele tipo aos montes todo dia no Youtube. Daí Marin pensou que aquele rapaz queria apenas enrolá-la para viajar de graça para São Paulo e fugir da casa dos pais com a atriz de seus sonhos. Ela se envenenou de raiva, pois se tocava como tinha sido burra. Não tinha pensado direito, aquele desejo dela, tinha que ser destruído, precisava agir profissionalmente.
Marin perdeu tempo e dinheiro com o bonito charlatão, não tinha gravado nada nem a conversa reveladora, nem tinha fotos de nenhum salvamento, nem vídeos, nem testemunhas deste suposto herói. Ela se deu conta que caiu numa brincadeira, numa farsa pela lógica que seu chefe e seus colegas apontavam. Todos tinham razão em pensar assim.
—Kaio, já arranjou onde ficar?— Marin chegou ao apartamento, perguntando a ele como um furacão descontrolado, pois a mulher estava decidida em expulsá-lo naquela noite.
—Ainda não!— Kaio disse calmamente.
—Pois ache logo, não poderei ficar aqui com você, nós sozinho. É errado! É perigoso! Entende?
—Que tem? ― Kaio perguntou despreocupado.―Não posso fazer nada contigo!
—Ora! Como não? Tu és homem!— Marin o lembrou.
—Não posso, eu iria te machucar, eu sou muito duro, minha pele é como se fosse uma pedra gelada.
—Pare! Kaio! Chega de mentiras!— Marin pediu afobada. —Eu já ouvi muita bobagem! Você não pode ser um ET.
—Por que não?
—Mostre seu poder?— Marin ordenou.
—Não! Quero que acredite na minha palavra!
—Não dar! Fui mostrar minha matéria para blog, fui tirada a chacota, ninguém acreditou em mim. Eu virei motivo de brincadeira, preciso de provas.
—Provas, para que? É apenas um blog, não é grande coisa, não é jornal de verdade!
—Eu sei, mas queremos ser respeitado, ter matérias reais e serias!― Marin disse zangada.― Não posso contar uma história desta magnitude sem provasTu tem que me mostrar algo incontestável e deixar eu te gravar como Brazimuz voando. Ok?
—Não! Não vou me mostrar. —Kaio disse decidido.
—Então o que veio fazer aqui?— Marin perguntou brava.
—Vim por você!
—Ah! Não brinque!
—Sério! Eu ainda gosto de você! Sou seu fã idiota!― Kaio confessou.
—Não vou te sustentar, Kaio Jaques!— Marin disse brava.
— Eu trabalho aqui! E estou procurando emprego.— Kaio disse chateado.
—Vai embora agora!— Marin mandou.
—Queria está perto de você. —Kaio disse se aproximando.
—Kaio, eu não vou namorar você. Esqueça! — Marin disse categoricamente.
—Não gosta de mim?—Kaio perguntou de mansinho.
—Eu só te conheço há dois dias; Não temos nenhum relacionamento. Somos desconhecidos. —Marin deixou bem claro.
—Vamos então nos conhecer. —Kaio sugeriu dando um risinho.
—Mas se fala a verdade, como poderia querer me namorar se é um ET, oh! Querido! ―Marin questionou. ―Você não diz que tem pele duríssima como uma pedra gelada? Conte-me?
—Não sei, mas descubro um jeito!— Kaio disse entusiasmado.
—Não, Kaio! Vamos nos separar logo, antes que você faça besteira.
—Está bem! Vou embora hoje. — Kaio resolveu decidido, e saiu para pegar sua mala.
—Já tem onde ficar?— Marin perguntou preocupada, pensando um pouquinho.
—Não! Eu durmo na rua.― Kaio disse voltando em um segundo já com a mala pronta.
—Espere! Fique até encontrar um abrigo.
―Você acabou de me enxotar, agora? Decide o que quer.― Kaio estranhou zangado.
―Não sou tão ruim assim. Eu gosto de você, mas é como amigo. —Marin enfatizou o amigo.
—Tudo bem! Eu sonho alto demais. —Kaio disse triste.― Eu tenho que ir mesmo para aprender a deixar de ser trouxa.
—Tá meu ET favorito. Fique não chore.
—Não estou chorando!―Kaio corrigiu, seus olhos estavam vermelhos de raiva por ainda sonhar em ficar com Marin, e ela sempre dar patada nele. ― Eu estou sendo realista, só faço besteira. Deliro demais!
—Oh! Quer que eu fique com peninha, não é?— Marin disse rindo.
—Deveria ter ficado em casa sozinho. Lá pelo menos ninguém me humilha.
—Eu sou franca. Você inventa coisa fantasiosa demais, mas procure amanhã um lugar de manhã, já são 20h da noite, fica difícil achar um abrigo numa hora dessas.
—Não, eu vou hoje! Não se preocupe, Senhora Marin Olivatto, não ficarei mais aqui.
—Kaio! Fique!— Marin pediu! —Eu arranjo algo para ti.
—Emprego?
—Sim! Depois que se estabilizar você vai embora, ok!?
―Você muda de ideia rápido.― Kaio disse enfesado.
―Acho que exagerei, fique. Me desculpe. ― Marin pediu.―Não vou te expulsar hoje.
Kaio olhou para Marin, olhou para sua mala, olhou para porta, voltou a olhar Marin desconfiado, e resolveu ir embora.
―Adeus, Marin Olivatto.―Kaio disse e saiu do apartamento dela e porta se fechou.
―NÃO! ―Marin gritou desesperada. ―VOLTA AQUI, KAIO.
Ele não tinha ido embora, ficou atrás da porta rindo da situação e esperou ela abrir a porta e implorar para ele ficar. E exatamente isso aconteceu.
―Ah safado! Blefou! Ficou parado!― Marin sussurrou.
―Brincadeira!― Kaio disse na maior cara de pau, mangando dela.
―Pois bem! Vai ficar?― Marin dizia quase chorando.
― Vou pensar.
—Outra coisa, para não dizer que sustento homem adulto; ― Marin disse ficando séria, refletindo num jeito dele não ficar se gabando, porquanto ela não queria que ele fosse embora mesmo, mas não queria demonstrar interesse romântico, ela deu uma condição.― Kaio, você vai fazer as tarefas doméstica, tipo limpar a casa e cozinhar. De acordo?
—Está bem! Valeu!― Kaio disse sorrindo, voltando para o apartamento.
—Poder ser! Sempre ajudei minha mãe. —Kaio concordou de imediato.
—Verdade!?—Marin disse surpresa. — Não vai por obstáculos de homem machista. E fazer birra!?
—Eu não! Eu limpo tudo muito rápido e sei cozinhar muito bem! Sempre cozinhava para casa, e meu pai Silas achava minha comida melhor que da minha mãe Risa.
—Verdade? Ah! Isso eu quero ver!— Marin disse desconfiada.
—E você sabe fazer alguma coisa em casa, pois até agora só vi comida enlatada, pizza, e quentinha aqui. —Kaio disse observando.
—Eu? —Marin disse rindo. —Não sei ligar nem o fogão.
—Vixe! Mais que preguiçosa!―Kaio soltou.
—Olhe bem! Rapaz! Estou te dando um lugar para morar. Uma oportunidade de estar pertinho de mim! Cuidado com as palavras!―Marin disse brava.
—Ok! Senhora Olivatto! Vou ser seu humilde servo. Está melhor, assim?
—Sim! Agora pode começar a faxina. — Marin mandou.
—Ah! Faxina? São 8:30 da noite! — Kaio avisou.
—E daí!?
—Sério! Quer que limpe o que?— Kaio perguntou.
—As louças!
—Está bem!—Kaio resmungou. —Tô achando que vou virar é escravo!
—Psiu! Sem reclamar. —Marin disse contente, rindo e se dirigiu para o quarto.
Marin sentia algo por Kaio, uma paixão escondida, mas não quis torcer o nariz contando seus sentimentos por ele logo nos primeiros dias. Assim para não o afastar totalmente, ela arranjou um emprego bem próximo dela, mesmo não acreditando na conversa dele ser um ET.
Kaio Jaques passou a trabalhar como continuo do canal "Visão Geral". Com o tempo foi melhorando seu posto, veio novas tarefas, e conseguiu se desenvolver profissionalmente acumulando várias funções e subindo no degrau de responsabilidade. Meses depois, passou a ser revisor dos textos e tradutor. Passou depressa de motoboy para chefe de editor de vídeos, sendo chefe de Marin.
Todo o pessoal da época de que Marin contou a história do Brazimuz saiu da empresa e outros vieram trabalhar e não conhecia mais da história dele. Passou quase um ano. E tudo parecia caminhar muito bem para Kaio financeiramente, mas ele não saiu do apartamento de Marin. Contudo Kaio continuava solteiro e vidrado pela dona do apartamento e do seu coração. Enquanto Marin namorava todos os homens que aparecia no escritório e não lhe dava atenção, o tratava como um estranho no escritório do blog.