Arrumei-me em um tempo razoavelmente rápido.
Vesti roupas confortáveis assim como Seth havia pedido, acomodei algumas garrafas de água e frutas em uma mochila, prendi meu cabelo em um rabo de cavalo e coloquei meus velhos tênis de treino. Não os usava desde que deixei as líderes para dedicar algum tempo a doença de minha mãe.
Verifiquei meu e-mail, para ver se Justine havia mandado algo sobre os Cullen's. Não havia nada de novo em minha caixa de entrada.
Totalmente frustrante, estava sendo bem mais complicado do que eu pensava.
Justine costumava ser bem rápida com suas pesquisas, sempre se gabava quando descobria algo de errado com alguém de nosso ciclo social antes que a bomba estourasse.
Avisei Jacob que sairia com o Seth gritando para ele, que estava do outro lado da rua na garagem de um rapaz mais velho Sam Uley que morava com sua noiva Emily Young. Diziam que Emily veio visitar Seth e Leah e fora atacada por um Urso enquanto caminhava pela floresta. Sam a salvou e se apaixonaram no mesmo instante. Leah, que na época namorava Sam, se sentiu traída duplamente. Primeiro por Sam, por estarem noivos e terminar com ela, depois por Emily, por ela ser sua prima, madrinha e melhor amiga.
Seth chegou cerca de vinte minutos depois.
Minha ansiedade ultimamente vinha atacando, seus vinte minutos me pareceram horas, que passei balançando as pernas ou estralando os dedos.
O sol brilhava por entre as frestas das árvores, iluminando a beleza da Reserva. La Push era um lugar incrivelmente lindo. As casas todas padronizadas, pinheiros ao redor de tudo, os pássaros que cantavam, os caminhos feitos de pedras, as flores, os pequenos arbustos e os musgos em algumas árvores e calhas. Tudo ganhava vida com os raios daquele sol.
Seguimos pelo mesmo caminho que fazíamos todos os dias para a escola, passamos por alguns garotos que corriam de encontro.
— Vamos apostar uma corrida, Seth? - Lhe perguntou um dos garotos que corria, um rapaz alto de cabelos compridos e pele morena.
— Hoje não, Frank, vou ao Prado com a Kayra Black. - Respondeu Seth, sorridente ao garoto.
— Ah, Sim! - Continuou o garoto, dando uma piscadela para Seth, que sorriu envergonhado. - Os outros garotos ao ver Seth corar, gargalharam debochados e prosseguem com sua corrida com Frank.
— Não liga para eles, Kayra, adoram me zoar. - Seth tentou justificar o acontecimento.
— Bem, Seth, eu tenho uma amiga em Walla Walla, que adora me fazer passar vergonha. Justine Tayler. - Comentei sobre minha melhor amiga com ele.
— A maioria dos meus amigos gostam de me fazer passar vergonha, penso que é coisa de "Macho Alfa". - Disse usando os dedos como aspas para destacar.
Nós dois sorrimos enquanto soltamos uma breve risada, nos fazendo corar por termos feito ao mesmo tempo, como que em sincronia.
Após quase vinte minutos de caminhada, Seth pegou em minha mão, olhou para os dois lados como se não quisesse ser visto e começou a me puxar para dentro da floresta. De início sua atitude me deixou com calafrios, mas logo pude observar uma pequena trilha que se iniciava completamente escondida por entre a floresta.
— Me desculpa a forma que agi, pela sua cara foi apavorante. - Comentou Seth, com olhar de preocupação. — Eu gosto de dizer que esta é a minha trilha particular.
Apenas permaneci calada, sua atitude havia me dado um susto e ainda estava me recuperando.
Segui a trilha sempre atrás de Seth, que me ajudava a subir ou agachar para passar por troncos caídos em meio a sua trilha particular.
— O que está achando de La Push agora, Kayra?
— Estes dias de sol não deixam que este lugar seja tão ruim. - Observei um casal de esquilos subir em círculos por uma árvore até um pequeno buraco em seu tronco e entrar.
Subimos por uma trilha, próximos a uma queda de água, sua cachoeira vinha descendo a montanha desde seu topo, se dividindo em pequenas cascatas que caiam em um riacho que seguiam seu curso até à praia.
— A primeira vez que vim aqui, foi com meu pai. - Comentou Seth, se agachando e molhando suas mãos na água da cachoeira.
— O que aconteceu com ele? - Perguntei me arrependendo no mesmo instante de a ter feito.
Seth parou por um instante olhando seu reflexo na água, respirou fundo, se levantou e começou a caminhar novamente pela trilha.
— Certo dia, minha família estava jantando na sala enquanto assistíamos TV, e meu pai infartou. - Contou, cabisbaixo e estralando os dedos.
— Meus Pêsames, Seth. Me desculpe, eu não deveria ter feito está pergunta. - Falei assim que percebo ter estragado o clima.
— Tudo bem, estou bem. Agora somos apenas eu e Leah na casa, minha mãe e Charles se casaram no verão passado, então ela se mudou para a cidade. Um dia desses podemos ir almoçar por lá. - Disse Seth, mudando sua expressão facial.
— Podemos sim. - Concordo com seu convite, será bom sair um pouquinho de La Push.
A paisagem era completamente encantadora, os raios de sol atravessavam por entre as copas das árvores, refletindo no musgo do chão molhado pelo orvalho e muitas das vezes se refletiam como cristal.
Caminhamos por quase uma hora por entre a floresta, passamos por diversas outras trilhas que, segundo Seth, nos levariam a outros pontos belíssimos da montanha.
Atravessamos um aglomerado de árvores antes de chegarmos a clareira, um vasto espaço plano, com diversas espécies de flores silvestres, os raios de sol iluminavam completamente aquele lugar, o verde da grama silvestre com as variadas cores de flores tornava aquele campo magnífico.
— Chamam aqui de Prado, que seria a espécie destas flores coloridas que tapeteiam por todo o chão. - Seth se jogou e bateu as mãos ao chão, me chamando para sentar ao seu lado.
Permaneço por mais algum tempo admirando a vastidão daquele lugar antes de me render e me jogar no chão ao lado de Seth, que parecia estar tirando um breve cochilo.
Sentei a seu lado, tirei meu tênis, cruzei minhas pernas como se fosse fazer yoga e comecei a desabafar:
— A última vez que usei estes tênis foi em meu último treino, antes de minha mãe receber os resultados.
Seth, que antes estava completamente estirado pelo chão, se virou de lado, em minha direção, apoiou sua cabeça em sua palma e me olhou fixamente.
— Às vezes Billy solta algumas coisas de sua mãe, como ex-namorados, lugares onde trabalhou, pessoas com quem já brigou. - Contou ele, me olhando para saber se era seguro prosseguir. — Quando sua mãe foi embora e a levou, Billy se sentiu muito sozinho novamente, as gêmeas e Jacob eram novos na época, e depois veio as complicações com a diabete e ele acabou indo parar naquela cadeira de rodas.
— Eu não faço ideia do porquê nos mudamos, sempre ouço as pessoas falarem que foi por causa de meu pai; mas eu mesma nunca o vi, nem ao menos sei o seu nome. - Desabafei frustrada.
— Ela era uma ótima mãe, se formou em corretoria, e se tornou a melhor corretora de Walla Walla e região por quase dez anos. Seu serviço sempre nos vestiu e alimentou com o melhor que poderíamos encontrar na cidade. - Começo a relembrar momentos da minha infância.
Seth permanecia calado, me olhando e ouvindo tudo que falava, seus olhos sabiam qual era aquela dor que eu sentia lá, no fundo da minha alma.
— Como vocês receberam a notícia de que ela estava doente? - Finalmente perguntou ele, percebendo que eu precisava falar sobre minhas dores com alguém, e quem melhor do que alguém que entende desta dor?
— Minha mãe foi diagnosticada com Fibrose Pulmonar. Lutou por sete anos. Nos últimos dois anos a doença se agravou tanto que, ela perdeu todo movimento do corpo, ficou totalmente dependente de mim. - Deixei escorrer uma lágrima.
— Ela era alegre e sorridente até o último dia de sua vida. - Enxugava as lágrimas que insistiam em descer.
— Eu sinto muito pela sua mãe. Meu pai parecia bem em um dia, fomos pescar e fazer trilha, no outro estávamos planejando seu funeral. - Desabafou Seth, se levantando e enxugando uma lágrima que caía de meus olhos.
— Estou aqui, Kayra, para o que você precisar.
Ele ergueu meu rosto com suas mãos e se aproximou lentamente, foi chegando seus lábios dos meus e então me beijou.
Senti um formigamento que se iniciava nos meus pés e se estendiam por todo o corpo.
Respondi ao beijo de Seth, senti meu estômago embrulhar e uma falta de ar. O beijo foi longo e intenso.
Seth, após o beijo, se afastou e abaixou sua cabeça.
— Desculpa, Kayra, sinto muito por beija-lá assim.
Novamente fiquei sem palavras.
Me aproximei de sua boca e o beijei com mais intensidade, Seth não era meu primeiro beijo, mas era um beijo que me deixava com borboletas no estômago.
Permanecemos por horas, deitados na grama. Não sei no que Seth pensava, mas em minha cabeça só passava aqueles minutos do nosso beijo. Meu segundo beijo. E nem havia planejado nada, só havia acontecido, assim como nos filmes em que Justine me obrigava a assistir com ela todas as Sextas das Garotas.
Conversamos naturalmente todo o caminho de volta.
Quando estávamos chegando a trilha que passava pela escola, começou a chover. Não era uma chuva forte, mas com toda certeza nos molharíamos.
Seth propôs uma corrida para ver quem chegaria primeiro, claro que ganhei. Seth roubou para minha vitória.
Chegando em casa pude sentir o cheiro da comida de Billy.
— Quer jantar em casa hoje? - Convidei Seth, um pouco envergonhada.
— Fala para o Billy por mais um prato a mesa. - Respondeu, sorridente e se aproximou de mim; colocou uma mão em minha cintura e a outra em minha nuca, puxou meu corpo lentamente para perto e novamente me beijou.
A chuva caia fina, o sol tentava brilhar por entre as nuvens de chuva e Seth me beijava, com seus lábios carnudos, seu corpo envolvia o meu em um abraço e me mantinha quente, independente do frio da chuva que caía.
Obs: Capítulo Revisado.