My Anne with an E

By APMatias

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Uma versão da série Anne with an E pela visão de Gilbert Blythe. Essa versão é da série, apesar de eu conhece... More

Prefácio
1 - Uma vida "normal"
2 - A Calúnia
3 - Cenoura
4 - Contando minha história
5 - O Incêndio
6 - Uma Bela Concorrente
8 - Decisão
9 - Despedida
10 - No Primrose
11 - A Mansão
12 - A carta
13 - Ruth
14 - O Retorno do Filho Pródigo
15 - Reencontro
16 - Convite
17 - Natal em Green Gables
18 - Complicações
19 - O Trem
20 - O Gueto
21 - Senhorita Stacy
22 - Mudança de Planos
23 - Reconhecendo Erros
24 - Concertando as Coisas
25 - Família
26 - O Mural
27 - Mudando de Foco
28 - O Visitante
29 - Más Notícias
30 - Precisando ser Forte
31 - A Páscoa de Mary - parte I
32 - A Páscoa de Mary - parte II
33 - A dificuldade de Bash
34 - Flores e Abelhas
35 - Obituário
36 - O Ensaio
37 - Dúvidas
38 - A Feira
39 - O Que é Justo?
40 - A Censura
41 - Manifestação
42 - Consequências
43 - Permissão
44 - A Ruína
45 - O Anel
46 - A Concha
47 - Não Correspondido
48 - Minha Anne com E
49 - Seguindo em Frente
50 - Que Carta?
51 - Querida Anne
52 - Querido Gilbert
Bônus I
Bônus II
Bônus III
Bônus IV
Nova História

7 - A Morte Espreita

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By APMatias

Meu pai não melhorou e decidi que não o deixaria mais. Ficaria por perto.

- Não vai à escola hoje? - ele me perguntou quando me viu em casa na segunda-feira pela manhã.

- Hoje não, quero ficar com o senhor! Quer que eu leia algo?

Pelo seu olhar, percebi que ele entendeu meus motivos. Porém não comentou nada, como eu já disse, John Blythe não era de se lamentar.

- É bom ter você aqui filho! Pode ler o meu poema favorito, por favor?

- A pé e de coração leve. - comecei a ler o poema de Walt Whitman - Enveredo pela estrada aberta. Saudável, livre... o mundo a minha frente... O longo atalho pardo a minha frente para levar-me a onde eu queira... daqui em diante, não peço boa sorte... Boa sorte sou eu!

Ele sempre me pedia para ler esse poema. Talvez porque falava de como ele se sentia antes, quando era saudável, livre e podia viajar por onde quisesse. Naquele momento não sei se podíamos dizer que tínhamos sorte de algum tipo. Nossa única sorte é que ainda tínhamos um ao outro.

E assim passamos os próximos dias. Nós conversávamos, eu lia para ele, ou simplesmente ficávamos lá, em silêncio, o que importava é que estávamos juntos...

Dois dias depois de eu me afastar da escola, saí alguns minutos para cortar lenha. E ao voltar escutei a voz de meu pai. Mal teve forças para se sentar nos últimos dias. Mas o teimoso provavelmente tinha se levantado para atender à porta, e agora falava com alguém.

Ao me aproximar consegui distingui a conversa, eles ainda não podiam me ver, pois eu vinha dos fundos.

- Que lindo cabelo ruivo! Você é a afilhada dos Cuthberts, não é? - disse meu pai.

- Sou eu...

Era Anne, com certeza era ela, reconheci sua voz.

- Ouvi coisas boas sobre você! - essa conversa estava ficando comprometedora, apertei o passo - Como está Marilla? Continua irascível? - ele continuou.

- Pai, o que está fazendo? Não devia estar de pé! - eu o interrompi.

- Meu filho se preocupa demais comigo. - ele disse já sem fôlego - Essa dama tem um assunto urgente, com você. Eu... eu vou entrar agora.

- Eu pego sua cadeira! - me ofereci.

- Não... não eu vou sozinho. Obrigado filho! - então olhou para Anne - Prazer em lhe conhecer! Mande minhas lembranças à Marilla.

- Eu mando! É claro, Sr Blythe!

Meu pai entrou. Anne não falou por um instante, acho que estava assimilando a situação toda. Agora ela sabia o porquê de eu não estar indo à escola.

Vi que trazia alguns livros. O Sr Phillips havia dito que me mandaria lições quando eu me ausentasse, talvez fosse esse o motivo da visita.

- São para mim? - perguntei a tirando de seus devaneios.

Ela me entregou os livros.

- Bondade sua trazê-los aqui!

- O Sr Phillips não quer que perca matéria!

- Nem eu quero... Se você me vencer na aula, eu quero que seja justo!

- Exato.

Por um instante ela me lançou um de seus olhares enigmáticos. Mas hoje seus olhos não tinham desafio, havia outra coisa. Compreensão, não sei... talvez pena. E então, ela foi embora!

Entrei no quarto de meu pai para ver como ele estava.

- Tem razão filho, ela é bonita! Sei que você vai negar, mas ela mexe com você e eu entendo. Tem alguma coisa nela que intriga a gente não é?

- Pode ser papai! Mas não devia ter levantado, poderia ter caído.

- A sua Anne parecia impaciente. E... foi bom, eu tinha que colocar meus olhos nela pelo menos uma vez. Eu a aprovo, filho... - disse numa voz solene e riu.

Eu apenas ri, sabia que por mais que eu pedisse para não fazer, ele continuaria dizendo que eu estava apaixonado. Isso o divertia bastante e... acabava nos tirando da letargia da doença.

(T1E6)

Nos dias que se seguiram Anne vinha quase todos os dias me trazer as lições. Nós quase não conversávamos, ela apenas me entregava os livros, às vezes perguntava sobre meu pai e eu dizia que estava bem, não sei se ela acreditava. Então me lançava um olhar, aquele de cumplicidade ou pena, se virava e ia embora. Eu gostava mesmo assim. Ela trazia um pouco de leveza para meus dias sombrios naquela casa, ao lado do meu pai vendo-o piorar a cada dia.

Nos últimos dias meu pai pouco falava. Mas eu estava ali para escutar cada palavra que dizia. Ele falou sobre viajar, as montanhas rochosas, o trem...

"É um mundo grande, filho. Não se esqueça"

Falou sobre minha mãe, e como a vida lhe deu uma nova chance depois de um amor de juventude que não pôde se concretizar. Falou sobre mim, sobre seguir meus sonhos...

Os dias foram passando e ele piorando, falando cada dia menos.

E então aconteceu, meu pai morreu... ele se foi... por mais que eu soubesse que aconteceria, nada poderia ter me preparado para aquele momento nem pra a minha nova realidade... eu estava sozinho...

----------

O funeral foi uma tortura!

Nossos vizinhos estavam todos ali, não que eu pudesse distinguir os rostos que me rodeavam. Eu só conseguia pensar que meu pai estava morto e eu não tinha mais ninguém nesse mundo...

Após o enterro eu fiquei um pouco mais no pequeno cemitério da nossa fazenda. Queria ficar mais um pouco com meu pai, não conseguia cortar nosso laço, não ainda...

Estava tudo branco, a neve já havia coberto todo o campo, a natureza parecia estar em suspenso. O que refletia meu estado de espírito, frio e silencioso...

As pessoas foram para minha casa, mas eu não consegui entrar. Não queria encarar aquelas pessoas. Todas falando comigo, me fazendo perguntas, me dando condolências, me dizendo como meu pai era bom, que o tempo cura e que Deus sabe o que faz... não aguentaria nem mais um minuto daquilo. Dei meia volta, precisava sair dali, ficar sozinho.

- Gilbert! - ouvi a voz de Anne me chamando.

Continuei andando, não queria falar com ninguém. Mas ela me alcançou.

- Foi uma cerimônia bonita, pareceu adequado estar tudo tão branco e silencioso. Eu sempre achei que o pastor reza de forma pesarosa, então veio a calhar. Já os batismos devem ser terríveis... - eu não respondi nada, acho que ela não esperava que eu respondesse, porque continuou tagarelando - Ser órfão tem seus desafios, mas você já tem tantas vantagens que ficará muito melhor do que eu fiquei...

O quê? Vantagens? Eu não acreditava que estava escutando aquilo!

- Meus pais morreram quando eu ainda era bebê, então eu não sabia me defender como você sabe. - ela continuou - E... também, eu não me lembro dos meus pais, mas você sempre se lembrará do seu pai... Sabe? Se você pensar bem, tem muita sorte!

Tentei não ser rude, mas não aguentei. Me virei e a encarei.

- Acha que tenho sorte?

- Comparado a mim? Tem.

- E porque o assunto é você?

- Não... não, é... é que eu...

- Até mais!

Deixei ela lá com seus conselhos sobre como ser agradecido por ser um órfão e fui embora. Porque será que as pessoas achavam que existia alguma coisa a ser dita que fosse capaz de ajudar a me sentir melhor?

Depois de uma longa caminhada pelo bosque coberto de neve, criei coragem para voltar para casa. Ainda havia algumas pessoas lá. Mas logo saíram. A Sra Kincannon se ofereceu para ficar comigo, mas preferi ficar sozinho. Afinal, minha vida seria assim agora, sozinho. Teria que me acostumar com isso.

Nos dias que se seguiram recebi algumas visitas. Principalmente das mulheres da vizinhança que traziam algo para eu comer, como se costuma fazer nessas situações. A Sra Kincannon vinha ver como eu estava e cuidar da casa. Moody e Charlie também vieram um dia e se sentaram um pouco comigo, mas como eu não tinha o que dizer, eles foram embora logo.

Também teve a visita das garotas. Ruby, Diana e Anne. Anne parecia constrangida, não havíamos nos visto desde nossa conversa desastrosa no dia do funeral, ficou em silêncio quase que o tempo todo e mal olhava para mim.

- Desculpe, nos intrometermos, mas queríamos lhe dar isso! - Ruby falou me mostrando uma torta, o cheiro estava bom. Apesar de eu não ter muito apetite nos últimos dias.

- Sentimos muito a sua perda. - foi a vez de Diana falar.

Eu fiz apenas uma reverência com a cabeça.

- É uma torta de carne! Fizemos juntas, especialmente para você! - disse Ruby.

- Obrigado!

- Esperamos que goste de torta de carne! - Diana disse.

- Todo mundo gosta de torta de carne. Esperamos que ela conforte você Gilbert.

Ruby disse isso me lançando um de seus olhares constrangedores. Abri a boca para responder, mas não disse nada. Elas estavam tentando ajudar, seria ofensivo dizer que uma torta não seria capaz de me confortar.

Diana quebrou o silêncio.

- A Anne fez a cobertura. Ela cozinha bem.

- É, mas eu seria uma péssima esposa! - Anne falou e todos a olhamos espantados.

De onde ela tirou essa conversa?

Deve ter se arrependido logo que falou, pois saiu correndo porta afora nos deixando sem entender nada.

- Bem, então... obrigado pela visita de vocês! - eu disse, dando a deixa para as outras seguirem a maluca da amiga delas.

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Não sou boa com sinopse 😕