34 - Flores e Abelhas

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O pastor tinha razão. Depois do funeral, Bash saiu da letargia. Passou a conversar, a interagir mais com as pessoas em geral. E finalmente levou Delphine para soltar a pipa. Às vezes eu o escutava chorar, principalmente à noite. Mas isso era esperado, afinal ele havia perdido sua esposa, seu amor... e ainda tinha um bebê muito pequeno para criar sozinho.

Enfim, aos poucos fomos recriando uma rotina diária. Marilla e Rachel vinham ajudando com a casa e com Delphine no período em que eu estudava e Bash trabalhava. Em outros momentos nós dois revezávamos entre a fazenda e a bebê. Eu comecei a explorar o caderno de receitas que Anne havia feito para Delphine e vinha me arriscando com algumas receitas. Nem sempre deu certo, mas as refeições em casa melhoraram um pouco.

(T3E5)

Voltei à minha rotina de estudos com a escola, o jornal e o grupo de estudos. Apesar de uma ansiedade maior pela proximidade dos exames, a escola continuava a mesma. As disputas, as paqueras, as fofocas. Ainda estava tudo lá. Meus colegas continuavam sendo jovens despreocupados e inconsequentes. Eu tinha muito mais responsabilidades e preocupações que eles, mas me distraía observando suas interações despreocupadas.

Alguns dias após o meu retorno à escola estava programada uma aula ao ar livre e após a aula teríamos ainda um piquenique na floresta. A Srta Stacy, porém cometeu o erro de dizer que a aula seria sobre coisas como as interações entre flores e abelhas.

Nossa professora não devia saber, ou deve ter se esquecido, que as pessoas usavam flores e abelhas para explicar certas coisas para os jovens. Coisas essas que não me pareceu ser sua intenção ensinar. Imagino que se decidisse ensinar tais coisas teria sérios problemas com o conselho da cidade e as mães progressistas.

Meus colegas, porém estavam alvoroçados e cochichavam essa possibilidade entre si durante a aula. A única exceção, além de mim, era Anne. Ela andava logo após a professora e olhava encantada à sua volta. Charlie vinha logo após ela. Há tempos ele vinha olhando Anne com mais frequência e era nítido que estava interessado nela. Eu não o condenava por se interessar, afinal ela era bonita e inteligente, mas me irritava vê-lo olhá-la daquela forma. Meu único consolo era que Anne parecia completamente indiferente.

- Broto, flor, galho e ramo fazem parte do grande todo. Tudo o que veem ao redor está envolvido em uma espécie de dança simbiótica. - a professora seguia com sua aula - E a singularidade de cada participante permite que a floresta prospere... Mas se quiserem ver a verdadeira genialidade e eficiência da mãe natureza, é só olhar para as árvores acima de vocês. Veem os espaços entre as árvores? Este fenômeno misterioso é conhecido como coroa tímida. Cada árvore conhece seus limites...

Tillie vinha andando entre os dois Pauls. Ao que me parece eles estavam interessados nela. Os dois tinham melhorado bastante suas atitudes depois que Billy deixou a escola. Mas a personalidade deles era tão parecida que um não conseguia fazer nada sem a companhia do outro. Seguiam Billy juntos e agora, seguiam Tillie juntos. Ela, parecia estar gostando de ter dois pretendentes.

Tillie fingiu que tropeçou e os dois a seguraram.

- Sem tocar! - a Srta Satcy falou quando viu a cena e eles tiram a mão rapidamente - Esse tipo de inteligência não se limita só às árvores. - ela continuou a aula - Podemos vê-la em toda a natureza, com as flores e as abelhas.

- Finalmente! - os dois Pauls disseram juntos.

- Flores e abelhas? - alguma das meninas disse empolgada.

A Srta Stacy percebeu os comentários, mas continuou a aula.

- A abelha coleta pólen e néctar para alimentar a colmeia e produzir mel... - escutei os murmúrios de decepção atrás de mim - A flor recebe o pólen de que precisa para dar frutos.

My Anne with an EWhere stories live. Discover now