20 - O Gueto

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- Gilbert Blythe! Quanto tempo! - o Dr Ward me cumprimentou quando entrei em seu consultório.

- Sim. - apertamos as mãos.

- Lamentei muito quando soube do seu pai! - olhou para Bash - Quem você trás?

Fiquei feliz por não ter me enganado com o Dr Ward. Ele não demonstrou nenhum receio ao ver Bash. Ali estava um homem que não se deixava levar pelo preconceito. Me senti grato, já que como percebi, tais homens eram raros em nossa Ilha.

- Este é meu amigo, Sebastian. - expliquei - É uma emergência.

- Sim, estou vendo! - colocou a mão no ombro de Bash e o guiou até a maca.

- O Blythe é que precisa de ajuda. - Bash falou - Cure sua mania de achar que sabe do que todos precisam.

Ele havia insistido em ir ao Gueto desde que descemos do trem.

- Já ouvi isso antes aqui no consultório. - o Dr falou se referindo às reclamações do mesmo tipo que meu pai lhe fazia - Abra, deixe-me ver. - olhou a boca de Bash - Isso é um crime!

- Culpe a ele. - Bash me acusou enquanto o médico colocava um termômetro em sua boca.

- Fui coagido. - me defendi - A necessidade de silêncio prejudicou meu bom senso.

- Está com febre por causa da infecção. - Dr Ward constatou - Vou lhe dar algo para ambas. Precisará de alguns pontos.

- Desculpe ser rude, mas não posso ficar. - Bash falou se levantando - Devem ter médicos que podem me ajudar no Gueto.

- O único que pode ajudá-lo lá é o barbeiro que tira dentes com um alicate enferrujado. - o médico explicou.

- Blythe! - Bash disse mudando de ideia - Novo plano. Cuido disso aqui e aí vamos ao Gueto.

Concordei. Ele não havia desistido de ir ao Gueto, mas pelo menos aceitou o tratamento. O Dr Ward começou a preparar a medicação e quando vi a agulha da injeção que ele preparava minha vista escureceu. Acho que desmaiei, porque quando dei por mim estava deitado no chão do consultório e Bash já havia levado os pontos e sido medicado.

- Não sei se a medicina é para você, Blythe. - Bash zombou enquanto tentava vestir o casaco.

- O que aconteceu? - perguntei confuso.

- Você desmaiou. - o Dr explicou - Quer ser médico, certo? Tem certeza?

- Sim.

- Nunca é bonito de ver.

- Ele tem jeito para isso. - Bash falou - Boa parte do tempo.

- É uma grande notícia! - Dr Ward disse me apoiando.

- Esses dias o nariz dele está sempre metido num livro. - Bash continuou, mas agia meio estranho, como se estivesse embriagado - Está pronto, Blythe? - começou a rir sem motivo aparente.

- Dr Ward, precisa de um aprendiz? - eu perguntei quando uma ideia repentina passou por minha cabeça - Talvez eu pudesse ajudar aqui de vez em quando. E... em troca, poderia me ajudar a planejar meus estudos... prometo que não ficarei desmaiando.

- Seria um privilegio ser seu mentor. Pensei que seria bom dividir o consultório um dia.

- Aí, resolvido. - Bash falou rindo - Agora vamos para o gueto.

- Nunca vi alguém com tanta pressa de ir à favela. - concluiu o Dr Ward.

- Imagino que seja um lugar bonito onde as pessoas negras dançam na neve! - começou a rir alto.

My Anne with an EWhere stories live. Discover now