44 - A Ruína

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Parei em casa apenas para pegar uma lanterna e corri para as ruínas. Já era tarde, talvez todos já tivessem ido para casa, mas eu precisava tentar. Precisava ver Anne, falar com ela. Precisava dizer que eu abriria mão de tudo se ela me desse uma chance.

Desde que a conheci era ela que ocupava meus pensamentos. Quando fui embora foi dela que eu senti falta, Bash percebeu isso, aliás, meu pai percebeu. Eu sempre neguei a todos, até a mim mesmo muitas vezes.

Em algumas ocasiões eu pensei ter visto algo em seus olhos. Como no ensaio, ou após a manifestação. Porém, logo depois sua atitude sempre mudava, ela fugia assustada ou me tratava mal e minha esperança se esvaía.

Mas naquele dia eu estava decidido a perguntar a ela e saber finalmente como ela se sentia.

Comecei a escutar o som dos gritos e risos. Eles ainda estavam lá. Fui me aproximando e vi que havia uma grande fogueira e todos estavam em volta. Tinha um barco virado e Anne estava em cima dele. Ela segurava seus cabelos sobre o rosto, como se fossem barba, talvez.

- Como se chama um pirata armado até os dentes? - a ouvi perguntar quando consegui compreender o que diziam.

- Como? - os outros disseram.

- Sei lá, mas é melhor chamá-lo de senhor! - todos riram e Anne soltou os cabelos que segurava no rosto, eu gostava tanto de ver seus cabelos soltos.

As pessoas foram saindo. Anne começou a dançar em cima do barco e o efeito do fogo iluminando seus cabelos enquanto ela rodopiava era perfeito. O tom vermelho do fogo a iluminava enquanto o vento brincava com seus cabelos. Era como se a natureza tivesse decidido realçar sua beleza.

Anne estava flamejante, ela refletia força, beleza e liberdade. Ela era bonita em sua natureza, não precisava de vestidos caros nem cachos perfeitamente arrumados. Naquele momento, dançando despreocupadamente com toda sua liberdade de ser e de pensar ela era a mulher mais linda do mundo.

Fui me aproximando ainda hipnotizado por aquela visão. Eu queria falar com ela, mas ao mesmo tempo não queria quebrar aquela magia.

Ela me viu e parou.

- Posso falar com você, por favor? - eu disse quando encontrei minha voz.

Estendi a mão e a ajudei a descer o que fez com que ficássemos bem próximos. Senti seus olhos nos meus e o toque de sua mão... eu queria tanto tocar seu rosto e dizer como ela era linda.

- Vamos conversar lá perto da fogueira? Tem muito barulho aqui. - ela disse soltando minha mão.

- Claro! Vamos.

Ela se sentou em um grande pedaço de madeira que devia ser usado como banco por quem costumava usar aquele local. Eu estava nervoso, não sabia ao certo como me expressar. Comecei a andar de um lado para o outro falando rápido.

- Eu... eu não tinha consciência das consequências, dei a entender mais do que eu realmente desejava... - comecei a dizer - Me deixei levar... mas as pessoas começaram a dizer que era certo e... eu... não tinha a intenção... - não sabia se estava sendo coerente, ainda tentava entender como eu havia chegado àquela situação - E tem a família... eles me trataram tão bem... mesmo eu não tendo nada a oferecer... E o pai dela me deu de bandeja...

- Deu o quê de bandeja? - Anne perguntou.

- Sorbonne, Paris, o dinheiro para estudar. Meu futuro se eu quiser. - parei de andar e olhei para ela - permissão... para casar... Não sei o que fazer.

Anne se surpreendeu com a minha fala. Ela abaixou os olhos e meu coração disparou ao imaginar que ela se entristeceu. Era o momento, me preparei para dizer que se ela quisesse eu jogaria tudo para o alto. Se houvesse uma chance para nós...

My Anne with an EΌπου ζουν οι ιστορίες. Ανακάλυψε τώρα