33 - A dificuldade de Bash

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No sábado, como combinado levamos Delphine para Green Gables. Marilla cuidaria dela enquanto íamos até Charlottetown. Desde o adoecimento de Mary Marilla, Rachel e Anne vinham revezando comigo e Bash os cuidados com a bebê.

Anne iria conosco. Novamente sairia em busca de respostas sobre sua família. Dessa vez iria até Halifax, lugar onde seus pais haviam falecido. Dessa vez não brigamos durante a viajem, mas conversamos muito pouco já que Bash continuava letárgico. Ficamos em silêncio a maior parte do tempo. Num dado momento Anne segurou a mão de Bash como forma de apoio.

- Obrigado! - ele disse colocando sua outra mão sobre a dela, então olhou em volta - Mas não é uma boa ideia. - tirou a mão dela da sua.

Busquei o motivo daquilo e vi um casal nos olhando com desaprovação. Anne seguiu meu olhar e também percebeu. Eu nem mesmo ousei imaginar as conclusões que aquelas pessoas cheias de maldade e preconceito tiveram ao ver aquele ato de amizade e carinho. Eles não sabiam as pessoas valorosas que Anne e Bash eram. Nem teriam a capacidade de compreender que naquela cena havia muito mais do que simples questões sobre cor ou gênero.

Chegando à Charlottetown, nós acompanhamos Anne até a casa de Josephine Barry. Bash seguiu para o gueto e eu fui para o consultório do Dr Ward. Eu simplesmente havia abandonado tudo quando Mary adoeceu. A escola, a preparação para a faculdade, o estágio com o Dr Ward... tudo deixado de lado.

Eu retomaria minha vida aos poucos, mas havia decido que não retomaria o estágio. A escola e a faculdade ainda eram metas, ainda que não tivesse feito as pazes com a medicina. Mas eu precisava ficar mais com Bash e Delphine naquele momento. Não podia mais comprometer todo o meu tempo todo comigo mesmo.

Ao me aproximar do consultório comecei a refletir sobre outro assunto que eu havia deixado de lado, Winifred. Eu havia simplesmente sumido após nosso encontro na casa de chá. Depois de tudo o que passamos em casa, os sentimentos que haviam me impelido a buscar proximidade com ela pareciam tolice de criança.

Não, eu não estava mais furioso com Anne. As dificuldades haviam nos unido ainda mais, como amigos e como família. Não vou negar que isso me deixava ainda mais atraído por ela. Ela continuava linda por dentro e por fora e a força e a maturidade que ela vinha demonstrando me faziam admirá-la ainda mais. Porém se ela só queria minha amizade eu a respeitaria.

- Bom dia! - cumprimentei Winifred ao entrar.

- Sr. Blythe! - ela disse com um sorriso provocante - Há quanto tempo!

- Desculpe o sumiço. Fiquei te devendo um chá, não foi?

- O Doutor me contou suas dificuldades. - seu semblante se tornou sério - Como estão as coisas?

- Mary faleceu há dois dias.

- Sinto muito!

- Nós já esperávamos por isso, mas ainda assim é difícil... Vim conversar com o Dr. Ward. Ele pode me atender?

- Sim, claro. Vou avisar. - levantou-se e foi até a porta e falou com o médico - Ele vai atendê-lo agora.

- Obrigado... mas ainda podemos tomar aquele chá, se você estiver disposta!

- Vai ser um prazer!

Entrei para conversar com o doutor. Ele entendeu a minha necessidade de ficar um pouco mais em casa nesse momento. Combinamos que quando eu entrasse para a faculdade voltaríamos a conversar. Os exames estavam se aproximando e se eu viesse estudar em Charlottetown talvez pudesse trabalhar com o Dr Ward durante a semana. Ainda que eu decidisse desistir da medicina, eu iria para a faculdade de qualquer forma. Mas ainda não havia tomado essa decisão.

My Anne with an EWhere stories live. Discover now