Prefácio

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Avonlea... pela janela do trem já podia reconhecê-la. Os campos, as propriedades e plantações da pequena comunidade rural situada na Ilha do Príncipe Eduardo começavam a me parecer familiares, estava em casa!

Viajei com meu pai por algumas semanas, ele queria rever o Distrito de Alberta, onde viveu por alguns anos e onde conheceu minha mãe.

Meu pai, John Blythe sempre teve um coração aventureiro. Nasceu e cresceu em Avonlea, mas se sentia sufocado com a tranquilidade do campo, queria explorar o mundo e assim que teve idade suficiente ingressou no exército, foi viver suas aventuras.

Ficou por um tempo no exército, o suficiente para conquistar uma medalha e colecionar algumas histórias. Porém, meu pai não era um homem de armas, e deixou o exército depois de alguns anos.

Após deixar as batalhas continuou suas viagens, ele amava viajar. Essa sempre foi sua verdadeira paixão. Assim, viveu por anos se estabelecendo aqui e ali, sobrevivendo com empregos temporários. Ele me contava em suas histórias as viagens, lugares e culturas que viu e eu estava feliz por que teve a oportunidade de realizar seus sonhos e estava em paz com a vida que viveu. Principalmente pelas notícias que tivemos...

Nessas viagens retornou ao Canadá e chegou ao Distrito de Alberta onde se apaixonou pelas Montanhas Rochosas.

Conseguiu um emprego no comércio da região e viveu ali por alguns meses até se encantar com uma linda menina de cabelos encaracolados, como ele sempre dizia.

Minha mãe, apesar de ser bem mais jovem que ele, se encantou por suas histórias de aventuras e seu amor por poesias, assim eles se apaixonaram. A jovem Srta Jane Miller se tornou a Sra Jane Blythe... como eu gostaria de tê-la conhecido...

Ela vivia numa pequena propriedade com minha avó materna, que morreu logo após eles se casarem. Meu avô paterno também morreu nessa época. E, alguns meses depois o que seria a coroação da felicidade do casal, tornou-se sua derradeira tragédia, minha mãe morreu logo após eu nascer.

Sei que eu não tive culpa, como poderia ser culpado de tal coisa? Eu era apenas um bebê. Mas ainda assim, às vezes pensava que se não tivesse nascido, minha mãe ainda estaria viva... É um pensamento mórbido, eu sei, mas não conseguia evitá-lo.

Bom, após a morte de minha mãe, meu pai retornou a Avonlea para junto de minha avó paterna, para me criar no lugar onde cresceu. Ele dizia que éramos os filhos pródigos, de volta ao lar depois de suas aventuras em reinos distantes.

Vivi com minha avó paterna por alguns anos e lembro um pouco dela, o que é muito, já que não conheci nenhum dos meus outros avós. Lembro-me que ela era doce e atenciosa, o mais próximo que tive de uma mãe. Mas também a perdi quando era bem pequeno e ficamos apenas nós dois, meu pai e eu...

Há algumas semanas, porém, recebemos a fatídica notícia... Após meses sofrendo de uma doença pulmonar insistente, o Dr Ward finalmente confirmou aquilo que já suspeitávamos e nos negávamos a aceitar. Ele não iria se recuperar... meu pai estava morrendo...

John Blythe, no entanto, não era o tipo de homem que se entrega ao sofrimento, ele não se lamentou. Apenas agradeceu a vida que teve e por isso eu era grato também, por ele ter vivido seu sonho, ter visto o mundo.

Seu único desejo era andar de trem mais uma vez. Ele sempre amou o trem, dizia que um trem é um campo de possibilidades!...

Ele também queria voltar ver o Distrito de Alberta e as Montanhas Rochosas, talvez para se despedir de minha mãe...

Por isso viajamos.

Mas os filhos pródigos estavam de volta.

My Anne with an EWhere stories live. Discover now