Um mês se passou. Mês em que eu estou instalada definitivamente em Beacon. Era estranho ter um lugar fixo para ficar. Estranho ter pessoas que eu partilhava coisas, como piadas internas, novas aventuras e muitas risadas.
Eu estava amando aquilo. Companhia. Talvez pela primeira vez na minha longa eternidade, eu não precisasse ficar mais sozinha por um tempo. Eles não iriam viver para sempre, mas para mim pequenos momentos tinham se tornado mais que suficiente. Eu gostava de todos ali.
A convivência com eles até me deixou mais dócil, como bem proclamado por Theo. Esse garoto deixou de me irritar um pouco, mesmo que ele tenha se afastado um pouco, eu gostava dele, e mantive pequenos encontros com ele ali e aqui, as vezes nos esbarravámos por aí. Ele era até que suportável.
E falando em pessoas insuportáveis, depois daquela noite com Regina, eu não senti mais nada, não aconteceu merda nenhuma, seja o que for que aquela bruxa maldita tentou fazer, claramente não funcionou. Eu não sabia se agradecia por isso, ou esperava o pior. Por mais que a odiasse, uma coisa sobre ela eu tinha que admitir. Regina era boa no que fazia.
Aquela vadia maldita era uma grande praticante de magia, algumas destas magias, muito perigosas e escuras. Mas ela era excelente, se não nos odiássemos, até poderíamos formar uma dupla dinâmica. Jô e Regina, as indestrutíveis. Isso soava bom? Eu não sabia dizer, até porque nunca iria acontecer. E eu agradecia por isso.
Voltando a minha estadia em Beacon, Scott, Lydia, Stiles e Malia iriam partir. Todos iriam para a faculdade em breve, e Liam, como ele mesmo diria, iria ser o alfa. Quando ele nos falou isso, eu ri. Talvez demais do que ele merecia e todos me acompanharam, deixando o beta encabulado. Ele teria ajuda nessa missão, mas não vamos exagerar. O fato é, quando eles partirem, as coisas por aqui vão mudar, mas eu pretendo continuar aqui para auxiliar Liam em sua pequena missão de manter a cidade segura de qualquer ameaça.
Eu prometi que faria isso, e eu sou uma pessoa de cumprir com a sua palavra.
[ . . . ]
— OLÁ! — Apareço, gritando no ouvido de Stiles e ele pula pra cima, completamente assustado com a minha atitude.
Me encosto em seu jeep, não conseguindo segurar a risada pela sua reação. Seu rosto se fecha ao ver que estou rindo, o que só o deixa ainda mais engraçado. Stiles tentando ser bravo era a minha diversão do século.
— Ei, não faça mais isso. — Ele vem até mim e me abraça de lado, passando a mão no meu cabelo carinhosamente.
— Desculpa. Passei pra parabenizar vocês. Fico feliz pela conclusão do inferno, ou melhor, da escola. Adorável o lugar. — Os cumprimento sarcasticamente, me mantendo encostada ao Jeep.
— Obrigado pelas suas condolências, Jô. — Scott toma a palavra pelo amigo, rindo junto comigo.
Vejo Liam chegar com Mason e sorrio para os dois. Mason em seu habitual humor, considerando tudo a sua volta como belas flores e diversão, e Liam sorria junto com o amigo, provavelmente por algo que ele disse antes de chegarem ali.
— Mason. — O cumprimento alegremente, e ele me puxa para um abraço, e retribuindo, o aperto forte, como se não o visse a muito tempo.
Talvez eu tenha me acostumando a alguns afetos ultimamente. E eu adorava cada pequeno abraço, cada afago de cabelo e demonstrações de carinho. Me sentia mais em casa daquela maneira.
— Jô, continua aqui? — Ele me questiona sutilmente, não realmente desejando que eu vá embora.
— Você quer que eu vá embora? — O pergunto fingindo tristeza, e coloco minha não sob o peito, dramaticamente.
— Claro que não, só que da outra vez você foi embora, pensei que não fosse ficar por muito mais tempo aqui. Nada pra fazer e tudo mais. — Ele gesticula rapidamente, e seu comentário sai de maneira humorada.
— Tenho motivos pra ficar. E eu até comprei uma casa pra me ajustar melhor, nada contra a casa do Scott, mas uma maior independência e tudo mais. — Dou de ombros e o alfa ri, negando com a cabeça.
— Uau! — Stiles exclama e sorrio em sua direita. — É um avanço para quem chegou a cidade dizendo que a detestava, e que não queria ficar, porque aí preciso ir embora, adeus. — Stiles tenta imitar a minha voz, mexendo a cabeça despretensiosamente e gesticulando com as mãos.
— Ei! Eu não falo desse jeito, e não foi bem assim, você está desconversando totalmente, e deve ter batido a cabeça forte na caçada. — O repreendo, beliscando sua cintura.
— Parem vocês dois, antes que eu os prenda em uma árvore de cabeça pra baixo, como da última vez. — Scott ameaça de maneira divertida e eu o olho, mostrando a língua.
— Oi Liam. — Me aproximo e paro na sua frente, logo o envolvendo um caloroso abraço. Deixo um beijo no rosto do beta, e me afasto um pouco, ficando ao seu lado.
Vejo que ele sorri pra mim, e descansa seu braço em meus ombros, como se eu fosse algum tipo de encosto. Esse garoto anda muito folgado pra cima de mim.
— Bom, tenho que ir. Mason, conversamos por mensagem. Abriu uma nova boate no centro, e nós vamos com certeza. Chama o Corey. — Tiro o braço de Liam de meus ombros, e arqueio a sobrancelha pra ele, que apenas da um sorrisinho ladino.
— Tchau Jô. — Eles se despedem de mim, e saio, acenando rapidamente para eles, que ficavam para trás, emendando em uma conversa sobre responsabilidades, tacos e algo mais que não pude escutar.
Entro no carro e dou partida para a minha nova casa. Casa. Essa palavra também soava estranho se fosse pensar por um lado, já que por muitos anos eu não tive um lar em lugar algum. Mas agora eu sentia que podia ficar. Eu tinha que ficar.
[ . . . ]
— Dean, presta atenção. Vai dar tudo certo. Eu vou mandar o feitiço. Você vai ver que vai ficar tudo bem. Acredita em mim. Eu sei o que estou fazendo, e sei que você também irá saber. Você é o melhor, lembra?
— Jô, eu fiz algo errado, e eu quero concertar. Se isso não der certo, eu estou perdido. E o Sam também. — Ele exclama do outro lado da linha, e parecia meio apavorado.
Suspiro, e solta a caixa que estava em minhas mãos sob a mesa, finalmente encontrando o feitiço que ele me pediu. Feitiço de ocultação de anjos. Não permitia que o anjo se manifestasse na casca por um certo tempo, também não podendo ver nada e não ouvir o que quer que falassem com a casca.
— Dean, eu não preciso te dizer que errou, e que o Sam vai ficar furioso com você. Bom, furioso é apelido. Mas olha, vai dar certo, só precisa fazer conforme está aqui. É um feitiço simples. — Explico calma, ascendendo algumas velas com um menear de mãos, e amassando a folha com as mãos, enquanto deixava o celular preso entre o ouvido e o ombro.
Ele suspira do outro lado da linha, e escuto uma bebida ser derramada, ótimo, o Winchester estava bebendo de novo. Posso ver seu rosto e a maneira como sua testa se vinca, era como se eu estivesse a sua frente agora. Acho que conhecia Dean o suficiente para saber até mesmo suas ações e reações a qualquer coisa.
— Eu só não quero meu irmão andando por aí com um anjo no corpo dele, fazendo coisas horríveis. Além do mais, Castiel disse que Ezequiel morreu com a queda, então ele não é quem realmente diz ser.
— Eu não sou amiga de anjos, Dean. Não fazem parte do meu cotidiano, e sinceramente, os poucos que encontrei durante toda a minha vida, eram horripilantes. Mas vai dar certo. Só por favor, me ligue se algo de errado acontecer. Não exite em fazer isso, e o principal, não faça mais merdas, Winchester. E pare de se embebedar, e mantenha a bunda do seu profeta em segurança. Até mais Dean, e boa sorte!
Desligo o telefone, suspirando profundamente, e recitando o simples feitiço, fazendo com que a folha em minha mão pegasse fogo e sumisse diante dos meus olhos, chegando ao seu próximo destino: Bunker dos Homens de Letra.
Dean e Sam eram amigos antigos, amigos, conhecidos, tanto faz, mas eu não deixaria Sam e Dean em apertos. Conheci seus pais antes deles, e cuidaria deles até meu último suspiro. E agora, Sam precisava de mim mais do que tudo.