— Rosas ou margaridas? — Vinícios perguntou e eu o olhei estranho.
— Quê?
— Você prefere rosas ou margaridas.
— Rosas, você vai dar flores pra alguém?
— Porquê essa cara?
— Ué Vini. — sorri.
— Fala. — insistiu.
— Bem, qual o nível de intimidade de vocês?
— Aaaah... — fez careta. — zero? Eu diria zero! Se não, menos que isso.
— Misericordia, não acredito que você quer dar flores pra uma pessoa que nem conhece, quem é você e o que fez com meu Vinícios.
— Tá, esquece! Sem flores. Ela provavelmente pisaria na minha frente do jeito que é. — gargalhei.
— Não desanima, eu te ajudo a pensar em outra coisa. — ofereci e ele fez um sinal com as mãos pra deixar isso pra lá.
— Conseguiu comprar o pacote?
— Sim! Fiz a transferência do dinheiro hoje, tô super feliz de poder dar isso pro Blue, mas acho que não vou contar agora, vou esperar pra falar na hora, sabe? Pra não deixar ele ansioso.
— Boa ideia!
Com as férias se aproximando tava todo mundo correndo atrás de viagens, na verdade já estava todo mundo com um destino certo. Ninguém ficaria em casa, até minha sogra vai viajar com o seu atual namorado e eu não podia ficar de fora, comprei ingressos para o Beto Carrero, na verdade comprei um pacote com tudo incluso, passagem, hospedagem e todo o resto.
Foi bem caro do que eu esperava, então eu espero que ele goste da experiência, espero que a gente possa se divertir bastante, vai ser uma viagem só nós dois.
As obras no salão de Niterói estão a todo vapor, Vini acredita que a inauguração seja no próximo mês. Estamos muito felizes com essa conquista, e esperamos que tenha tanto sucesso como as outras unidades.
— Sobre o investimento que você perguntou, o Lucas acha melhor você esperar um pouquinho, pelo menos até o salão abrir por que você ainda pode ter muitas despesas com a obra, e caso o investimento não te dê lucro você pode perder bastante dinheiro.
— Certo, vou esperar então.
Olhava as paredes a minha volta e sorria mesmo com tanta poeira e bagunça ao redor.
— Isso aqui vai ficar lindo né?
— Com certeza Tay! O mais importante agora é a parte da hidráulica e elétrica, depois nós vamos montar os equipamentos. Quando vai começar as entrevistas pra contratação?
— Vou abrir as vagas pra pegar currículos online, aí depois das férias a gente liga para as pessoas pra agendar as entrevistas.
— Pode deixar Chefia! Temos que ir lá na costureira pra ver os novos uniformes também!
— Sim! E tem que comprar todos os equipamentos.
— Depois das férias também? — perguntei com olhos piedosos.
— Sim! Por favor! Eu não aguento mais. — ele riu.
Esse ano será o primeiro ano em que todo mundo vai estar longe nas férias. Vini vai se encontrar com o Pedro, ele decidiu que quer espairecer a mente e que não tem ninguém melhor pra ajudar ele nessa do que o Pedro. E de fato não tem! Pedro agora conhece o Brasil quase que inteiro, é óbvio que ele saberia os melhores lugares pra se divertir.
Gugu vai para Recife com sua esposa, ele vai ser participação especial em um evento, e também vai participar de uma competição por lá. Ele disse também que quer aproveitar que vai estar por lá pra conhecer Porto de Galinhas pra curtir um pouco mais de lua de mel.
Lucas vai com a namorada pra Los Angeles. Antônia é atriz e vai fazer uma participação em um clipe de um cantor brasileiro. Lucas tem nacionalidade americana e eu só descobri isso há alguns meses. Aparentemente seu pai é americano, tornando ele um privilegiado. Eles vão curtir uns dias no exterior e voltam no início do ano pelo que entendi.
Até Ana Lara vai viajar, vai com o pai pra Disney, eu ainda não tô com dinheiro pra bancar uma viagem dessas, mas quem sabe um dia. Luna vai aproveitar a folguinha pra curtir um pouco mais com Aluísio.
Como minha viagem está marcada pra daqui a três dias, eu me ofereci pra levar a galera ao aeroporto. Assim ninguém teria que pagar por estacionamento e nem por táxi. Lucas e Antônia foram ontem, mas Gugu, Viviam e Vinicios vão hoje, então eu serei a motorista da rodada.
— O Blue vai estudar até quando? — Gugu perguntou.
— Até hoje na verdade. É o último dia de aula.
— Que beleza! Vai sair daqui direto pra pegar ele?
— Isso!
— Tá bom! Toma cuidado viu? — Viviam disse quando eu estacionei já no aeroporto.
— Boa viagem, fica de olho nele e se divirta bastante. — Vini falou.
— Obrigada gente, boa viagem pra vocês, divirtam se muito. Façam um bebê que eu quero ser tia. — Gugu mandou o dedo pra mim. — manda um beijo pro Pê, Vinícios. Diga que eu estou morta de saudades.
— Deixa comigo! — piscou pra mim.
Eles desceram do carro e eu não demorei a sair dali. Liguei o rádio e cantei um dos pagodes preferidos dos garotos. Meu celular vibrou com uma mensagem e eu aproveitei o trânsito parado pra ler.
"Já chegamos, aqui tá frio! Beijos" - Antônia.
A música acabou e começou um noticiário.
"Uma quadrilha foi presa essa tarde por fraude, eles atuavam na área de excursões pelo Brasil e exterior.
A quadrilha criava promoções gigantes que chamavam muita atenção dos contratantes..."
Liguei para Vinícios imediatamente, pedi que ele entrasse em meu e-mail e verificasse se eu tinha caído em um golpe.
— Olha Tay, sinto muito, mas você foi vítima dessa.
— Não diga isso Vinicios.
— Sinto muito, Tay. O site já foi tirado do ar.
— Que porra! Logo agora que eu planejei tudo! Eu tinha certeza que ia dar tudo certo.
— Se quiser eu volto pra ficar com vocês.
— Nem pense nisso Vini, você vai pra encontrar o Pedro.
— Tem certeza? Vão ficar aí sozinhos?
— Sim! Eu ia viajar sozinha, eu sou conta de ficar em casa.
— Tá bom! Qualquer coisa você me liga e eu volto.
— Relaxa!
— Vou ligar pro advogado.
— Você vai entrar no avião Vinícios.
— Tem um tempinho ainda.
— Obrigada!
De volta ao trânsito agora eu estava o puro estresse! Não acredito que me passaram a perna dessa maneira. Eu estou muito brava e desapontada, logo agora que eu fiz todo esse planejamento esse grupo de gente ruim faz isso comigo. Tudo bem que eu posso recuperar o dinheiro correndo atrás e trabalhando, só que imagina as pessoas que juntaram esse dinheiro durante tanto tempo, depois de tanto esforço, tantas horas extras, pra simplesmente ser tudo mentira e parte de um golpe.
Ao chegar na escola fomos todos convidados a entrar, hoje teria a última reunião do ano.
— Que bom que puderam estar presentes hoje. — a professora entregou uma folha pra cada pai dentro da sala.
As crianças estavam no fundo brincando com uma professora auxiliar, Kauã estava na fileira da frente. Exatamente na minha frente.
— As férias se iniciam oficialmente amanhã, o ano foi muito produtivo pra todas as turmas, vimos evoluções gigantescas em cada criança aqui. Queria agradecer a participação de cada pai, a participação de vocês foi extremamente importante pra evolução de cada um desses pequenos. Queria agradecer em especial aos pais do aluno Blue e da aluna Lizzie, que nos últimos meses se dedicaram ainda mais em ajudar os seus pequenos.
Ela passou os próximos vinte minutos falando sobre os alunos, nos entregou os trabalhos dar crianças no último bimestre, e entregou também uma pequena apostila de exercícios pra ser praticado durante as férias. Achei uma proposta legal, por que na maioria das vezes quando as crianças voltam das férias levam um certo tempo até se lembrar de tudo e acostumar com o ritmo novamente.
Quando finalmente fomos liberados eu ofereci carona pra Kauã e Lizzie. Na verdade agora era quase rotinas desde que os vi no ponto de ônibus em um dia chuvoso algumas semanas atrás.
— Aconteceu alguma coisa? Parece tá chateada.
— Não! Tá tudo bem! — evitei o assunto.
Segui o caminho dirigindo até em casa, as crianças vieram o trajeto cantando. Kauã observando a estrada pela janela e eu tentando focar o máximo possível na estrada na minha frente e não na culpa que eu estava sentindo. Talvez nem fosse pra tanto, mas eu estava me sentindo mal com isso. Um sentimento de culpa talvez, ou de falha.
— Ainda tá tendo aula na faculdade?
— Não! Já parou.
Descemos do carro, tirei as crianças e ele pegou as mochilas.
Blue e Lizzie corriam na nossa frente no corredor e pediram o elevador antes da gente chegar.
— Obrigada pela carona.
— Não há de quê. — ele desceu do elevador e eu segui até meu apartamento.
Blue correu pra seu quarto pra fazer sua rotina pós escola.
— Aaah... — gemi decepcionada ao olhar as malas no canto da sala.
Caminhei cansada até meu quarto, tirei meus sapatos altos jogando pra qualquer canto e a camisa que eu estava vestindo deixando sobre a cama.
A água quente do chuveiro me abraçava enquanto Blue contava uma história sentado na privada. Ele tinha um banheiro praticamente dele, mas ele preferia ficar aqui mais perto de mim, e eu não ia reclamar.
— Sim mãe, chama Doki. Lizzie disse que ele é bonzinho. — balançava os pés e mexia nos cachos enquanto fazia suas necessidades.
— Mas é um cachorro de verdade ou de pelúcia?
— Eu acho que é de brincadeira, ela disse que é de verdade. — deu de ombros e eu ri.
— Onde será que Kauã deixa esse bicho meu Deus? — falei mais baixo.
— Quê mãe?
— Nada amor.
Sai do box do banheiro com os cabelos encharcados. Me enrolei na toalha, acabei escorregando no chão sem tapete, mas não cheguei cair.
— Cuidado. — Blue disse rindo.
Meu celular tocou em algum lugar do meu quarto, corri pra atender. Vesti o roupão e sai do banheiro calçando minhas sandálias.
— Oi? Alô?
— Eu Tay, o que aconteceu?
— Ou Pê, tá tudo bem!
— Vini disse que deu ruim.
— Pois é! Tô desacreditada que logo eu fui cair nessa merda de golpe.
— Mas e agora? O que você vai fazer? — a campanha tocou e eu me assustei da sala.
— Já vai! — gritei.
— Ué! Vou ter que ficar em casa né? Se eu conseguir alguma promoção boa eu vou pra Bahia ver mainha, mas eu acho que nem isso vai rolar.
— Então as férias babadeiras, babou?
— As férias babadeiras já era.
Pelo olho mágico vi Kauã apoiado do outro lado da parede. Destranquei a porta e dei de cara com pai e filha.
— Pê, eu vou ter que desligar. Daqui a pouco a gente conversa.
— Já é, te amo!
— Te amo também! — desliguei a chamada e sorri para a pequena.
Kauã segurava uma caixa de papelão nas mãos, tecnicamente pequena e Lizzie tinha um boneco em mãos.
— Oi de novo. — falei. — aconteceu alguma coisa? Querem entrar?
— Não precisa. — Kauã falou.
— Sim! — e Lizzie disse também ao mesmo tempo, ela passou a frente indo até a sala e se sentou no sofá. — Tia Tay?
— Oi meu bem.
— Cadê o Blue?
— Ele tá no banheiro. Vou lá chamar ele. — virei para o Kauã ainda na porta. — entra, eu vou chamar o Blue e colocar uma roupa. Espera um pouco.
— Tá bom!
Deixei os dois na sala e voltei para o quarto. Dei um banho rápido em Blue pra o limpar, vesti uma cueca e uma bermuda Tactel deixando ele ir pra sala enquanto eu me vestia. Coloquei uma roupa confortável e deixei meus cabelos soltos sem pentear.
— Pronto, o que traz vocês aqui novamente? — perguntei quando retornei a sala.
— Assim que você matriculou o Blue no jiu-jitsu eu pensei em fazer algo legal por ele. Então eu encomendei um kimono pra ele no mesmo lugar que eu fiz o de Lizzie.
— Uau! Tá falando sério?
— Sim! Esporte pra mim é algo muito importante e eu sempre faço o possível pra incentivar as pessoas a os praticar. Como ele gostou bastante da aula, eu pensei em ajudar. Eu encomendei, mas só chegou hoje, e eu espero que você não tenha comprado ainda.
— Nossa Kauã, não precisava. Eu realmente não comprei, por que eu tava procurando um preto como o seu, mas não estava encontrando por aqui.
— Precisava sim! Não tem problema algum. — ele tirou a fita da caixa de papelão. — toma Blue. — ele entregou a caixa ao meu filho e o rosto dele se iluminou quando viu o kimono preto a sua frente.
— Olha mamãe! Igual ao do Kauã.
— Sim bebê, quer experimentar?
— Sim! Por favor.
O vesti com o kimono e ele ria atoa, Lizzie estava animada também! Agora Blue é oficialmente seu colega de jiu-jitsu também!
— Ficou incrível Kauã, eu nem sei como te agradecer.
— Não se incomode com isso.
O kimono ficou perfeito no corpo de Blue e eu acredito que seja do mesmo tamanho de Lizzie. Tem o nome de Blue costurado nas costas e o nome do professor na parte da frente. Kauã Aguiar.
Blue e Lizzie correram para o quarto por que ele queria se ver atravéz do espelho.
— Olha, desculpa por isso, mas eu acabei escutando o que você falou no telefone antes de abrir a porta.
— Tudo bem!
— O que aconteceu com a viagem?
Contei toda a história desde o início, em uma versão bem resumida, ele escutou atentamente sem falar muita coisa.
— Mas essa grana você vai conseguir recuperar né?
— Eu espero que sim! Mas não tenho certeza. Eu não tô nem tão chateada pela grana, mais por ter sido enganada tava animada pra promover essa experiência para o Blue, só que não rolou, então.
— Vai passar as férias aqui?
— Sim! Não tem mal nenhum nisso, eu posso passear com ele por aqui, ou então eu vou visitar minha mãe.
— Olha, eu sei que não é muita coisa, mas eu vou passar duas semanas na casa dos meus avós em Silvia Jardim, lá é bem interior, mas tem cachoeiras ótimas! Meu avô tem uma fazenda lá e se você quiser pode ir com a gente. Não é nada muito interessante, mas pelo menos vai sair um pouco de casa, sabe? Conhecer lugares novos.
Me siga no insta
@lunna.reis.wtt
Manda mensagem se vc me mandou solicitação e eu não te aceitei.
Lunna