VANTE: GIRASSÓIS DE DANTE

By Gabbieah

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[GIRASSÓIS DE DANTE DISPONÍVEL PELA EDITORA EUPHORIA] Depois de doze anos sozinho, seu pai finalmente encontr... More

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Epílogo
Bonus!

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By Gabbieah

Tem dias que só o ato de levantar da cama parece ser um enorme sacrifício.

Não sei que horas são, não sei quanto tempo faz que acordei, porque não consigo me mexer. É como se houvesse um peso enorme em cima de mim, e só o pensamento de tentar me levantar já me deixa exausto.

Então continuo deitado, continuo olhando para a parede, com aquela maldita conversa de Hoseok e Yoongi na minha cabeça, se repetindo, de novo e de novo.

Cada palavrinha, cada frase que ecoou através das paredes, indo fundo dentro de mim, como uma maldita faca no meu peito.

Yoongi não disse nada que eu não soubesse, mas ouvir em voz alta cada uma daquelas coisas, torna tudo real, torna tudo palpável.

Eu sei que ele não é meu e sei que nunca vai ser, mas por que eu tenho tanto medo de perdê-lo? Eu queria pelo menos uma vez não depositar todas as minhas esperanças em alguém, queria saber separar as coisas, mas eu não consigo.

Já não sei mais como funciona a nossa relação, não tenho mais o controle daquilo que eu mesmo criei. Queria poder dizer que me arrependo de tudo o que fiz, mas seria mentira, eu quero e anseio por mais dele, eu preciso.

Hoseok é o meu maior erro. Eu sei disso. Sei que vou acabar me fodendo sozinho nessa história, e sinceramente não entendo porque continuo aqui.

Desde Jungkook eu prometi a mim mesmo que não deixaria a história se repetir, quando na verdade tudo aconteceu sem que eu mesmo me desse conta. Agora é como se eu estivesse preso, é como um caminho sem saída, sinto como se não tivesse outra escolha a não ser ir até o fim, até que um de nós consiga escapar enquanto o outro afunda sozinho.

Eu odeio ser assim. Odeio sentir demais, me entregar demais, ser sensível e carente demais, e tão, tão medroso. Kim Taehyung é uma grande mistura de sentimentos exagerados e isso o torna fraco.

Desde que me entendo por gente sempre fui muito certo sobre minhas decisões, sobre os meus desejos, eu sempre fui até o final com minhas escolhas. Se eu queria aprender a andar de bicicleta eu não desistia enquanto eu não conseguisse. Se eu queria aprender a pintar,

Eu queria aprender a andar de bicicleta, então eu aprendi, e aprendi sozinho. Eu queria aprender a pintar, e agora essa é a minha melhor habilidade. Eu também aprendi a jogar futebol, por mais que eu deteste esportes.

E do mesmo jeito que eu aprendi tudo o que me dediquei a aprender, eu também sempre fui muito insistente em conseguir as coisas. A minha mãe sempre me deu tudo o que eu queria, não por ela ser boazinha, e sim porque eu conseguia encher tanto o saco e ser tão irritante e persistente, que eu a vencia através do cansaço. Essa não é a melhor forma de educar uma criança, ao menos eu acho que não, mas era a forma dela de me deixar feliz.

Não vou esconder que fui uma criança difícil de lidar, eu fazia birra, fazia pirraça, refletindo sobre isso agora nem mesmo sei como ela foi capaz de me aguentar, quando nem eu mesmo me aguento.

Eu fui uma criança mimada, e talvez por isso eu fique tão transtornado e com tanta raiva, sempre que algo não sai como eu queria, quando eu não consigo o que quero.

Como quando eu conheci o Hoseok, quando eu achei que saberia lidar com ele e com tudo o que me causa, mas acontece que ele parece um tsunami do meu lado, como uma onda enorme prestes a me engolir. Adoraria jogar a culpa disso tudo nele, mas Hoseok sempre deixou claro as suas intenções, ele está sempre dizendo e repetindo o quanto não gosta de se envolver, o quanto odeia toda essa merda de relacionamento, e a culpa não é dele se eu sou emocionado demais.

Eu sei o que eu fiz, eu sei que a culpa é minha e que eu não deveria querer ele, mas eu quero tanto!

Eu quero tanto ele, quero tanto ficar com ele, quero os beijos dele, o carinho, eu quero ficar sentindo o cheiro dele nas cobertas, eu quero ouvir a risada dele e quero ouvir sua voz, sussurrando no meu ouvindo.

Quero isso, como nunca quis de alguém antes.

Ele se tornou a razão das minhas faltas de sono, da minha falta de ar, dos meus batimentos acelerados. Ele é a razão dos meus sorrisos idiotas, dos meus inúmeros suspiros. Hoseok é a razão de tudo.

Eu tenho certeza dos meus sentimentos há um bom tempo, e tudo o que eu posso dizer agora, é que eu já não tenho mais controle de nada. Eu gosto dele e posso continuar negando isso e fingindo que não pelo tempo que for, mesmo que esteja bem óbvio, claro como água, eu jamais vou admitir isso em voz alta, pra ninguém, não até saber o que ele sente de verdade.

Não posso deixar que aconteça outra vez o que aconteceu com Jungkook, não posso me permitir amar alguém tão intensamente assim para no fim ser usado e abandonado. Não outra vez.

Não quero que ele me abandone como o meu pai fez, como o Jungkook fez, como todos fazem. Tenho medo de acabar sozinho, a solidão é com toda certeza a pior coisa que eu já tive a chance de experimentar e eu odeio me sentir só.

Me levanto quando percebo que estou ficando chateado outra vez, eu detesto pensar demais, eu perco horas da minha vida me martirizando, quando sei que se eu ocupar a cabeça não vou me importar tanto.

Esfrego os olhos, me preparando para sair quando vejo o desenho que peguei de Hoseok, e que durante um acesso de raiva, ou mágoa, eu o arruinei.

Pego o papel e o dobro, enfiando no bolso da calça antes de sair do quarto. Escovo os dentes e lavo o rosto, para então subir até o sótão e começar a desenhar outro, idêntico ao primeiro, ou pelo menos quase, e quando termino, começo a colorir como disse que faria.

E quando termino, vou direto para o quarto dele, como sempre. Hoseok não deixava a porta aberta quando nos mudamos, ela ficava sempre trancada, mas com o tempo ele passou a deixá-la encostada, todas as noites.

Empurrei a porta, para quando ganhar uma visão ampla do quarto o encontrar na cama, longe dos cobertores e com o celular nas mãos. Seus olhos encontram os meus no instante em que ponho meus pés para dentro do quarto.

Não consigo esconder o sorriso, é instantâneo.

Ele me faz esquecer todas as merdas e para isso ele só precisa olhar pra mim.

Dou um passo atrás do outro em direção a cama, tentando não começar a correr até ele. Quase me jogo por cima de Hoseok, me aninhando no abraço dele e o ouvindo rir entre um grunhido de dor.

– Pra você – entrego a folha, erguendo o rosto só para ver o sorrisinho que abre e o olhar um tanto surpreso.

– Você fez outro? – indagou, então me dei conta de que ele viu o que fiz com o outro.

– Fiz... – digo, me odiando pelo tom acanhado que uso – Me desculpa, eu...

– Tudo bem – acertou um beijo na minha testa, se esticando para por a folha na cômoda, rodeando meu corpo com os braços – Obrigado.

Afundei o rosto em seu pescoço, grunhindo em concordância e quase me desmanchando quando me aperta.

– Me desculpa por ter deixado você ouvir aquelas merdas ontem – sussurra, quero fingir que não sei do que está falando, mas agora não adianta mais – Eu sei que a gente não tem... a gente não deveria ter nada – se corrige, subindo os dedos pelos fios da minha nuca – Mas você não precisava ouvir aquela merda toda.

– Tudo bem, eu não ligo.

Eu passei a noite inteira me odiando por isso, chorando feito uma criança e me sentindo um lixo. Mas não, eu não ligo.

Hoseok não diz nada por um bom momento, fazendo cafuné no meu cabelo, deixando sua boca tocar a minha testa.

Eu falto me desmanchar como manteiga em cima dele.

Mal consigo processar o tamanho do sentimento que Hoseok me causa, é enorme, gigante, tão forte que quase me sufoca. Minha vida é, e talvez sempre tenha sido, um completo nada. Eu não me sinto feliz, mas também não me sinto triste, é apenas eu, respirando, vivendo, se é que posso chamar isso é vida.

Eu sei que tem algo de errado comigo, mas não sei mais o que fazer pra me consertar.

– Você quase foi para a escola cinco dias seguidos – ouço ele murmurar.

Ergo a cabeça para olhar em seus olhos, sem entender muito bem o que ele quis dizer com isso.

– Você nunca vai para a aula por uma semana inteira. Hoje é sexta, se você tivesse ido hoje seria a primeira vez que completaria uma semana – explica, descendo a palma da mão pelas minhas costas, parando na minha cintura e deixando um aperto.

Eu não tinha me dado conta disso até então.

– Sério?

Ele riu, como se eu estivesse perguntando algo bobo.

– Sim, Taehyung, teve uma semana que você mal saiu do quarto – e apertou os olhos, ainda sorrindo, acho que está confuso – Você não percebe?

Dou de ombros. Não tenho muita noção de tempo, eu realmente passo a maior parte do meu tempo dormindo.

– Eu não gosto de...

– Educação física – completa rindo – Eu sei disso, Gatinho – beijou meu rosto.

Faço careta, voltando a deitar a cabeça em seu ombro.

Alguns dias são piores do que os outros, alguns dias são mais cansativos, e alguns dias são tão longos e angustiantes que me fazem entrar em pânico.

A escola é o último lugar do mundo em que eu quero estar quando estou mal, mal de verdade.

Tem dias em que me sinto tão exausto de tudo, que passo horas me perguntando se vale a pena mesmo continuar tentando, passam dias, semanas, meses e anos, e eu continuo parado no mesmo lugar, continuo não sentindo nada.

É como estar morto.

E Hoseok me faz sentir, me faz sentir um milhão de coisas, coisas que nunca experimentei com Jungkook. Ele me deixa feliz, nem que seja por um curto momento, são como picos de felicidade que vem e vão sempre que eu estou com ele.

Constantemente me questiono se Hoseok algum dia vai nutrir sentimentos por mim.Se ele mente quando diz todas aquelas coisas bonitas. Se ele um dia vai enjoar de mim como enjoou de todos os outros. Se o problema está em mim. Se as pessoas gostam de mim ou apenas me suportam. Dentre isso e milhões de outras questões até eu não aguentar mais e aceitar que sim, o problema com certeza sou eu, e mais uma vez, me desfaço em lágrimas.

Tenho medo de Hoseok me dar tudo, para depois, como um ato de pura maldade, me tirar até o que não lhe pertence, e no final ir embora, me deixar sozinho para juntar o que restou daquilo que eu chamo de alma, e mais uma vez, sei que vou me encontrar perdido naquele vazio que acabara de ficar maior.

Um dia, talvez, eu me torne nada mais que um vazio. Só um vazio. Como uma estrela que entra em colapso, talvez eu me torne um buraco negro. O fantasma de uma estrela.

(...)

Hoseok gosta de me provocar no seu tempo livre, quando está entediado, para ser mais exato. Estou já faz um tempo escutando ele falar besteira enquanto mexe nas minhas coisas, me enlouquecendo.

– Kim Dongyul – ele diz em voz alta, não me lembro de ter dito a ele o nome do meu pai, então me viro, só para vê-lo com minha carteira de identidade nas mãos.

– Guarda isso.

– Seu pai trabalha com o quê?

– Ele é advogado – resmungo. Bom, até onde eu me lembre ele é sim advogado.

– Um advogado e uma médica, é por isso que você é um mimadinho – provoca.

Me levanto, só para ir até ele e acerta-lo com um dos travesseiros da cama, o vejo erguer os braços para proteger o rosto, rindo depois que o golpeei algumas vezes.

– Como você 'tá chato hoje, Hoseok – reclamo, tomando das suas mãos o meu documento e o guardando de volta na carteira.

– Você é chato todo dia e eu não reclamo.

– Reclama sim! – grito e ele ri.

Passo alguns segundos olhando para ele, para os olhos miúdos virando duas curvas quando sorri, as covinhas marcadas e o cabelo escuro e liso caindo na testa. Ele é tão bonito que me deixa desnorteado.

Ele pressiona os lábios para esconder o sorriso, endireitando-se na minha cama e cruzando os braços acima do peito, sustentando o meu olhar.

– Como o seu pai é? Você nunca fala dele.

Respiro fundo, desviando o olhar e me permitindo pensar nisso por um segundo, por mais que eu deteste lembrar da existência do meu pai.

– Eu não faço ideia de como o meu pai é, ele foi embora quando eu tinha seis anos – digo, com um evidente tom de rancor e mágoa na voz.

Ele arqueia as sobrancelhas, não sei que tipo de resposta ele esperava, mas sei que ele já possuía uma ideia do que tinha acontecido com o meu genitor.

– E isso é tudo o que eu sei, porque minha mãe nunca me conta nada – pisco algumas vezes, encarando o meu reflexo no espelho – Ela acha que é melhor eu não saber, acha que é melhor que eu não pense.

– E você acha melhor assim?

– Não. Porque não saber dá liberdade à mente para criar situações piores do que de fato são – olho para ele – E eu já imaginei muitas coisas.

– O que você acha que aconteceu?

Dou de ombros, me balançando para frente e para trás.

– Acho que ele só cansou de mim, da minha mãe... – abaixo a cabeça – Minha mãe sempre trabalhou demais, então passávamos muito tempo juntos, ele me levava pra creche – abro um sorriso, esfregando o rosto – Eu lembro disso, lembro dele segurando a minha mão, sabe? – levo as mãos para trás das costas, inquieto – E tinha vezes que ele me levava para comer hambúrguer depois da escola, assistiamos desenhos... – mordo o lábio – Eu sei que passávamos muito tempo juntos, mas eu tenho mais memórias com babás do que com ele, então... – dou de ombros.

– Isso é uma droga.

– É, é uma droga – suspiro, subindo no colchão, me sentando ao seu lado no colchão – Mas eu não me importo tanto quanto antes.

Ao menos eu acho que não me importo.

Hoseok passou o braço ao meu redor, me puxando para perto, plantando um beijinho no meu rosto.

– Mudando de assunto – ele murmurou rente ao meu ouvido, arrepiando cada pelo do meu corpo – Quer sair no sábado?

– Ah, está me convidando para outro encontro? – provoco, arrancando dele uma risadinha. Hoseok me puxa pelos braço e me deita no colchão, me pegando desprevenido e me tirando um riso alto, se enfiando entre as minhas pernas logo depois.

– Não é um encontro.

– É sim.

– Não, não é, nos vemos todos os dias, moramos na mesma casa, encontros são para pessoas que não se veem com regularidade e eu vejo essa carinha todos os dias – grunhiu, apertando meu queixo e me dando um selinho demorado – Pra onde você quer ir?

– No parque – digo, me enchendo de expectativa – O parque de diversões, por favor? – começo a pedir, segurando seu rosto para que olhe diretamente para mim e entenda a urgência disso – Eu sempre quis ir, mas não tenho ninguém para ir comigo.

– Você nunca foi a um? – ele arregala os olhos.

– Só quando eu era pequeno, quando o meu pai me levava – explico, torcendo para que ele não se apegue tanto a isso – Eu quero ir, por favor.

– Tá bom – pressionou os lábios, esboçando um sorrisinho – Eu te levo – se deita ao lado, virando-se de frente para mim com as mãos embaixo da bochecha.

– Sério? – abro um sorriso largo.

– Sim – soprou o ar num risinho.

Me esforço para não deixar escapar o quanto isso me deixa feliz e empolgado, mas não duro nem três segundos até explodir, subindo em cima dele para rolarmos juntos no colchão, embolados um no outro.

– Obrigado – agradeço num sussurro, entre um selinho e outro em sua boca.

(...)

Sábado chegou num instante. Eu tinha absoluta certeza de que Hoseok iria esquecer, que arrumaria outra coisa para fazer, tanto que quando bateu no meu quarto e mandou eu me aprontar, fiquei meramente surpreso.

Foi quando comecei a questionar se deveria mesmo ir, questionar o porquê de eu ter insistido tanto e até mesmo se valeria a pena ir. Já que no fundo eu tenho certeza de que ir até lá só vai me deixar triste.

Mas agora é tarde para desistir, porque Hoseok está empolgado e não para de falar das coisas que quer fazer.

Em um piscar de olhos já estamos no carro, ouvindo uma música que eu escolhi, com Hoseok cantarolando baixinho, batucando os dedos no volante. Não trocamos uma palavra sequer, até sermos obrigados a parar num sinal fechado.

– Por que você está tão quieto? – perguntou – Não vai dizer que quer voltar, vai?

– Não sei se essa foi uma boa ideia – as palavras saíram sem que eu tivesse a chance de raciocinar a pergunta.

– Por que não? – franziu o cenho, mantendo os olhos na rua.

– Eu não sei – murmurei, sentindo um peso dentro de mim a cada segundo mais que nos aproximávamos das luzes do parque – Eu acho que não devia ter insistido tanto em vir...

– Já estamos chegando – avisa, apontando com o nariz na direção da roda gigante – Vai ser legal, Tae.

Sinto meu coração saltar dentro do peito, minhas mãos começaram a suar e meu estômago gelou.

– Você tá com medo do quê? – indagou num riso soprado.

– Eu não tô com medo, eu só... – aperto minhas mãos em meu colo – Eu não sei, eu não gosto de coisas que remetem ao meu pai, é isso – desembucho, quase implorando para que ele não me critique por essa besteira.

Porque não tem muito que eu possa fazer agora, eu me sinto assim e eu não tenho controle sobre isso.

– Ah... – ele murmura, estacionando o carro para então largar o volante e se afundar no banco, com os olhos na e entrada brilhante do parque – Bom, depois de hoje você vai ter mais memórias aqui comigo do que com ele, se é que isso muda alguma coisa – olhou pra mim, sorrindo fraco.

– Muda muita coisa – concordo, repensando a situação.

– Então, vamos – ele pega a jaqueta no banco de trás e me entrega – Tá frio lá fora – justifica. Faço que sim, a vestindo antes de descer do carro com ele.

Hoseok me dá a mão, entrelaçando nossos dedos ao me guiar para dentro, fito nossas palmas juntas, a minha quase coberta pela manga da jaqueta, faz meu coração palpitar.

– Onde quer ir primeiro? – ele questiona logo depois de ter pago nossas entradas.

Hoseok me puxa para perto, enlaçando seu braço ao meu e andando lado a lado comigo.

– Na montanha-russa.

– Montanha-russa? – se afastou para me encarar, descontente com a minha sugestão.

– Você tem medo de montanha-russa, não é? – perguntei. Não é de me surpreender.

– Não – respondeu na defensiva.

– Você é muito medroso! – acusei contendo o riso.

– Isso é mentira.

– É sim, é medroso! – apontei para ele o vendo rolar os olhos com as minhas provocações – Eu quero ir na montanha-russa – apontei agora para o brinquedo, a alguns metros de distância de onde estávamos.

– Taehyung, tem tantos outros brinquedos para irmos e... – ele começa, enquanto eu praticamente o arrasto até lá – Podemos deixar a montanha-russa por último.

– Não, eu quero ir agora – digo, quase nos colocando na fila de espera quando ele paralisa no lugar, começando a me puxar na direção oposta – Vamos, Hoseok – grunhi, fazendo força para levá-lo comigo e falhando – Por favoooor.

– Nós vamos, eu prometo, mas pelo amor de deus eu preciso de um tempo pra tomar coragem – disse, num tom de desespero que me arranca risadas – É sério, sua peste.

– Medroso! – gritei, apontando o dedo em seu rosto, o vendo rir e virar a cara.

Ele resmungou me puxando pelo braço e só então agarrou minha cintura. Hoseok tem essa mania de me pegar de surpresa, ele me tira do chão e me coloca na direção oposta da montanha-russa, cambaleando comigo.

– Vamos nos menos assustadores primeiro – ele murmura, rente a minha orelha, apertando os braços ao redor da minha cintura – Os carrinhos de bate-bate, por exemplo – aponta, então me gira para outra direção e continua – Ou no tiro ao alvo.

– Ou naquele que despenca – aponto, para o brinquedo que leva as cadeiras até o topo, então despenca lá de cima, ouço os gritos das pessoas, as luzes amarelas e vermelhas.

– Está louco? – ele quase grita – Nem fodendo, Taehyung.

– Ta – cedo, só porque ele parece desesperado – Vamos nos seus brinquedos de criança primeiro, talvez você queira ir no carrossel, ou nas xícaras – provoco, me virando de frente para ele e sorrindo – Medroso.

– Você é ridículo.

– Você também.

A muito custo o convenci a ir comigo no trem fantasma, um meio termo entre seus brinquedos chatos e os meus que são muito mais emocionantes. Eu não parei de rir nem por um segundo, a cada susto e grito que Hoseok dava, feito uma criancinha assustada, eu me via à beira de um ataque de riso. Ainda estou rindo quando saímos do brinquedo, Hoseok me olha com a pele branca feito papel, acho que se passarmos mais dois segundos lá dentro ele infartaria.

Estou o abraçando, beijando seu rosto e pedindo desculpas, tentando parar de rir.

Então jogamos tiro ao alvo, umas mil vezes até ganharmos alguma coisa, um boneco feio e com a costura tão frágil que tenho certeza de que rasgaria na primeira lavada. O dinheiro que ele gastou pagaria dez pelúcias, mas quando eu consegui atirar em todos os três patinhos de madeira Hoseok ficou tão empolgado com aquele bicho feio que ganhamos, que eu sequer ousei mencionar.

Fomos na barca, nos carrinhos de bate-bate onde eu mais xinguei Hoseok e o ameacei do que fiz qualquer outra coisa.

O convenci a ir em todos os brinquedos perigosos, cada um deles, até os que me deixavam apavorado. Hoseok odiou todos, tremendo mais do que vara-verde, branco feito papel e enjoado, resmungando enquanto se apoiava nas coisas. Eu queria que ele gostasse da adrenalina tanto quanto eu, do frio na barriga, o medo e o desespero. Eu adoro a sensação, adoro cada segundo.

Acho que esse é o dia mais feliz da minha vida inteira, a primeira vez em muito tempo que consegui ter paz e silêncio na minha cabeça, que não fui infernizado pelos meus pensamentos, a primeira vez que passo horas inteiras sem me autossabotar.

Me apego a cada segundo desse momento, cada risada, fazia tanto tempo que eu não me sentia assim. É como se eu estivesse experimentando esse sentimento pela primeira vez, e é tão bom que me faz querer mais, como se não fosse o suficiente e de fato não é, acho que nada nunca vai ser.

Deixamos a roda gigante por último, e aos poucos vou me dando conta de que a noite chegou ao fim, vou me dando conta de que vai acabar e que vou ser forçado a voltar para a porra da minha vida.

Me apoiei na barra de segurança da cabine, soltando um suspiro assim que chegamos no topo, podendo ver toda a cidade, as luzes dos prédios, os carros. O mundo é tão grande, tão amplo, me faz sentir tão pequeno e insignificante.

Mas por outro lado, todos somos pequenos e insignificantes.

– Hobi – chamei, cruzando os braços sobre o apoio de segurança e deitando a cabeça neles, me inclinando para ver o chão lá embaixo. Tão longe.

– Fala.

– Obrigado, por hoje – murmurei, ainda com o olhar preso no chão lá embaixo, enquanto a cabine balança devagar.

Sinto sua mão subir pelas minhas costas até a minha nuca, deixando um carinho ali que me faz encolher os ombros, me tirando um sorriso fraco. Me endireitei no banco, empurrando meu corpo contra o seu, mordendo o lábio para esconder o sorriso.

Hoseok passou os olhos por cada cantinho do meu rosto, parando na minha boca, senti seus dedos deslizarem pela minha bochecha, segurando meu rosto antes de por sua boca na minha.

Eu gosto tanto disso!

Eu poderia beijar Hoseok por horas, sem reclamar.

Ficamos assim, até o brinquedo parar e nos darmos conta de que precisávamos descer.

Ele me arrasta para a parte de trás de uma das barracas, me segura pela cintura quando volta a me beijar. Me sinto derreter, com o estômago frio e meu coração acelerado, não tem uma vez que ele não me deixe assim.

Me arrepio quando sua mão desliza para o meio das minhas costas, os dedos fazendo movimento circulares, enquanto empurra o corpo contra o meu.

Ele beija bem, beija muito, muito, bem.

Hoseok sabe onde tocar, sabe onde apertar, onde beijar, ele sabe quando deve me puxar para perto, sabe quando deve beijar o meu pescoço. É como se conhecesse o meu corpo, como se conhecesse cada ponto fraco que eu possuo.

Por mais clichê que soe, é viciante, o gosto dele, o jeito dele, cada mínimo toque ou suspiro, quando respira forte, quando seus dedos desenham círculos no meio das minhas costas. Vicia! Tudo isso vicia mais do que qualquer outra coisa.

Ele tem meu rosto entre as mãos quando para, acho que não percebe o quão desnorteado eu fico quando não tenho mais sua boca na minha, talvez ele nunca tenha notado de fato, mas por deus, eu demoro para raciocinar, eu viajo, olho para ele completamente aéreo, o escuto falar, mas não presto atenção em absolutamente nada.

– O que acha? – ele olha para mim, então arqueio as sobrancelhas, piscando algumas vezes.

– O que? – indago, tirando dele uma risadinha.

– O que acha de pararmos em algum fast food para comer alguma coisa antes de irmos pra casa? – ele repete a pergunta, sorrindo para mim enquanto espera por uma resposta.

– Acho ótimo.

Ele assente no fim, segurando minha mão e me levando até a saída. Durante todo o caminho de carro até o restaurante mais próximo, cantamos aos berros cada uma das músicas que toca no rádio.

Hoseok compra tudo o que peço, eu sequer preciso choramingar para que me dê alguma coisa e eu gosto disso, gosto da atenção que me dá. Ele me ganha cada vez mais sempre que faz as minhas vontades, porque eu nunca deixei de ser mimado.

De volta em casa, ele me entrega o urso feio que ganhamos, beijando meu rosto antes de entrar em seu próprio quarto, me deixando sozinho. E é quando a minha ficha cai, quando me dou conta de que o dia acabou, entro no quarto, trancando a porta atrás de mim, largo o boneco na mesa e troco de roupa.

Estou encarando o meu reflexo no espelho quando termino, sentado na beira do colchão, penso em cada fala, cada riso, cada beijo e cada gesto carinhoso que Hoseok me fez. E dói, dói saber que talvez tudo não passe de um momento, dói saber que ele não gosta de mim de verdade, que nunca vai gostar.

Por outro lado, ao menos dessa vez eu sei que vai dar tudo errado, assim não preciso apostar todas as minhas esperanças em algo que sequer sei que vai dar certo. Com Hoseok eu espero sempre o pior do pior, o dia em que ele vai quebrar o meu coração, que vai encontrar alguém que o satisfaça melhor do que eu, que seja mais interessante do que eu, que seja mais bonito, mais divertido, e sendo sincero, não será difícil para ele de encontrar alguém melhor para me substituir.

É por isso que todos vão embora, é por isso que todos me substituem, porque eu não sou o suficiente, eu não sou o suficiente nem para mim mesmo. Tem algo de errado comigo, eu sei que tem.

A cada maldito dia eu tenho a impresão de estar perdendo a sanidade.

Continuei com os olhos presos no meu reflexo, até começar a sentir as lágrimas virem, não sei porquê, não sei como, simplesmente não sei, mas depois que começo se torna uma tarefa difícil parar de chorar.

Doí tanto, me sinto sem ar, preso por uma versão pior de mim mesmo, sem forças ou vontade nenhuma de resistir a isso, me entregar parece mais fácil. Apenas chorar, chorar e chorar até não ter mais forças para isso e finalmente, dormir.

🌻

oieee, queria dizer a vocês que ontem eu postei uma one shot nova, com muita putaria, muita baixaria, ciume, hoseok completamente maluco, deem uma olhadinha no meu perfil.

meus @s sao gabbieah_ no twitter e gabbie.ah no instagram

ah, e lembrando que os vhope de vante tem contas no instagram tbm hobivvante e thvvante

até segunda!

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