Não pare a Música

By AliceHAlamo

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A dança é composta por vários elementos. Você tem a coreografia, o tempo, a música, o dançarino, a técnica... More

Capítulo 1 - Sasuke
Capítulo 2 - Naruto
Capítulo 3 - Ino
Capítulo 4 - Gaara
Capítulo 5 - Quebra de rotina
Capítulo 6 - Suas lentes
Capítulo 7 - Interesses
Capítulo 8 - O que os outros pensam
Capítulo 9 - Encantado
Capítulo 10 - Ajuda "mútua"
Capítulo 11 - Punição
Capítulo 12 - Fora de Foco
Capítulo 13 - Desafio
Capítulo 14 - Intensidade
Capítulo 15 - Mudanças
Capítulo 16 - Tensão
Capítulo 17 - Entre jogos e bebidas
Capítulo 18 - Escolhas
Capítulo 19 - A queda
Capítulo 20 - Bolha
Capítulo 21 - Luz acesa
Capítulo 22 - Segredos
Capítulo 23 - Permissão
Capítulo 24 - Montanha Russa
Capítulo 25 - Gravidade
Capítulo 26 - Amarga Vitória
Capítulo 27 - Forjada em veneno
Capítulo 28 - Aberto
Capítulo 29 - Relações
Capítulo 30 - Linda
Capítulo 31 - Cores
Capítulo 32 - Oportunidades
Capítulo 33 - Elos
Capítulo 34 - Marcas da alma
Capítulo 35 - Resgate
Capítulo 36 - Suporte
Capítulo 37 - O que tem atrás das cortinas
Capítulo 39 - A morte do Cisne
Capítulo 40 - Acerto de contas
Capítulo 41 - Vida
Epílogo

Capítulo 38 - Socos da vida

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By AliceHAlamo

Ino tinha certeza que a falta de sinal no celular não era um bom presságio e, por isso, ficou ainda mais ansiosa. Como Konan tinha solicitado, todos os modelos haviam chegado cedo para o desfile. Havia uma organizadora que falava com Konan e com os representantes das outras agências, e Ino se esforçava para não roer as unhas na espera.

Tinham ensaiado para aquele momento, várias vezes, repetidas vezes, exaustivas vezes. Ainda assim, a passarela era diferente do palco, e Ino a encarava com um bolo no estômago que a fazia engolir em seco na esperança de que ele desaparecesse. Sentada, ela mantinha os fones de ouvido no máximo, a garrafa de água já vazia de tanto que ela a levava aos lábios para conter a ansiedade. Em alguns momentos, por uma breve fração de segundo, ela via Gaara correndo de um lado para o outro com os outros fotógrafos, eles discutiam com Konan sobre a iluminação, sobre o equipamento, e Ino conseguiu até mesmo ouvir a discussão de Konan com as outras duas agências sobre quem ensaiaria primeiro.

— Caótico, não é? — Hanabi jogou-se no puff ao seu lado e lhe ofereceu uma caixinha de suco.

— Demais — confessou, nervosa, e Hanabi empurrou o ombro contra o dela em um gesto amigável.

— Vai dar tudo certo. É sempre essa bagunça no começo. A gente fica trancafiado aqui, sem poder sair desses camarins, depois a gente ensaia, o que sempre é uma merda porque vão ver defeito em tudo, mas o desfile em si vai ser maravilhoso. Vai se sair bem, não esquenta a cabeça.

Ino riu, incerta, e levou o canudo aos lábios.

— Você já está acostumada com atenção, não pode ser tão ruim — Hanabi tentou acalmá-la, mas Ino riu ao negar com a cabeça.

— Aqui eu não vou estar dançando, Hanabi — explicou firme. — Quando eu danço, esqueço de tudo, de todas as pessoas que podem ou não estar prestando atenção em mim porque tudo com que me importo é a música e a vontade de colocar minhas emoções em cada passo. É como se eu olhasse para a minha alma enquanto danço. Ali — Apontou para a passarela. — vou ser apenas um cabide para exibir uma roupa. Não sei bem se isso é para mim.

— Foi assim que se sentiu? — Hanabi franziu o cenho confusa. — As fotos do seu booking pareciam mostrar que você tinha gostado disso.

Ino terminou o suco e deu de ombros.

— Eu gostei de fazer o booking e as campanhas. Adorei gravar dançando, fazer a campanha com você e as outras modelos, mas isso aqui... isso aqui é muito diferente, é outro nível! Eu nunca pisei numa passarela antes, Nabi!

Hanabi assentiu, séria, e Ino suspirou quando ela não respondeu e se levantou.

— Vem.

Ino arqueou a sobrancelha e encarou a mão estendida de Hanabi.

— Pra onde? A gente não pode sair daqui, lembra?

— Só vem logo, Ino! Vamos, vamos!

Ino aceitou, e Hanabi a puxou pelo local sem dar satisfações ou parar ao chamado de modelos que Ino nem sequer conhecia. Revirou os olhos quando Hanabi parou sobre a passarela e começou a procurar algo nos bolsos do largo moletom.

— Vão nos expulsar. — Suspirou, e os olhos correram pelo grande salão vazio, pelas cadeiras com placas de nomes de pessoas importantes, pelo luxo do ambiente. Limpou as mãos no vestido e respirou fundo. — Hanabi...

— Aqui, prontinho! — Ela sorriu. — Vamos desfilar!

— Vão precisar da passarela para os testes de luz, a gente não devia estar aqui — Ino argumentou quando percebeu que os técnicos ao fundo do salão olhavam para elas.

— Então temos pouco tempo para as apresentações de fato. Ino Yamanaka, esta é a sua passarela. Passarela, receba Ino Yamanaka. Agora que já foram apresentadas, vamos aproveitar a ausência de urubus por perto e relaxar — falou, deixou o celular no chão ao canto e não demorou para que Ino reconhecesse a famosa música da banda Queen a tocar.

— Bohemian rhapsody é covardia — Ino choramingou quando Hanabi começou a dançar e avançar cantando na passarela.

Mama, I just killed a man — Hanabi cantou desafinada, e Ino riu enquanto a via girar no mesmo lugar.

Put a gun against his head, pulled my trigger, now he's dead.... — foi irresistível, não tinha como não cantar junto, e isso a obrigava a aceitar de novo a mão de Hanabi estendida e a segui-la pela passarela.

Mama, life had just begun!! — Hanabi falou alto, e Ino riu enquanto a seguia, passo atrás de passo, volta atrás de volta, um desfilar que só acabaria quando a música deixasse.

A música contagiava, não tinha como reparar mais se o corpo estava alinhado corretamente, se o queixo estava em uma altura boa, nada disso era levado em consideração enquanto elas cantavam e riam com os técnicos de iluminação que aproveitavam o momento para fazer os testes com elas na passarela.

So you think you can stop me and spit in my eye!! — Hanabi falou alto, e só então Ino percebeu que elas dançavam, cantavam e pulavam naquela passarela. Riu, leve, descontraída e alheia a qualquer um daquele lugar.

So you think you can love me and leave to die!! Ohhhh baby! Can't do this to me, baby!

Hanabi sorriu ao se afastar e deixar Ino desfilar aquele trecho animado da música sozinha enquanto aplaudia e fazia coro. Ino era uma pessoa incrível, desejava, parte por seu próprio egoísmo, que ela ficasse na agência, que gostasse dos desfiles e se encontrasse ali. Era difícil estabelecer amizades naquele meio, diferenciar quem se aproximava por interesse e quem não era quase impossível, e por isso todos se fechavam em redomas espelhadas com sorrisos falsos e frases educadas. Mas Ino não era assim... ela ria enquanto dançava, enquanto segurava suas mãos e a puxava para que terminassem a música juntas, Ino tinha luz própria, um brilho que a fazia se destacar entre todos naquele lugar. Se desfilasse ao lado dela, sabia que seria ofuscada, Ino lhe roubaria a atenção, os flashes, tudo, entretanto, mesmo sabendo disso, queria estar ali, dançando com ela e a convencendo a ficar, rindo com uma cumplicidade que talvez só tivesse com a irmã mais velha.

"Você não está sozinha", Ino havia lhe dito, e Hanabi desejava mostrar que a promessa era recíproca, que também estava ali por Ino, ela merecia isso.

Terminaram de dançar só quando a música acabou, os técnicos aplaudiram, e elas riram enquanto Ino fazia uma reverência e Hanabi tentava a imitar.

* * *

Ino sentou-se no chão e se alongou. Depois, fechou os olhos com os fones no ouvido e respirou com calma e disciplina, da forma que as aulas obrigatórias de yoga na escola de ballet a tinham ensinado. Sentia o nervosismo diminuir à medida que o ar saía pela boca, tentava trazer pelo nariz o relaxamento que buscava e se desligava do mundo ao redor.

O ensaio tinha sido como Hanabi lhe prometera: horrível. As outras agências estavam presentes, Konan era uma mulher incrível e amável, a aparência ainda mais serena com a barriga da gravidez evidente, contudo, Ino ainda se lembrava de cada marcação que ela rigorosamente havia feito aos modelos. Pelo menos, Konan era educada, os outros diretores tinham gritado como loucos com os modelos, Ino ainda se lembrava do susto que a fizera pular na cadeira quando um deles berrou do fundo da sala.

Agora faltavam minutos para o início da correria, minutos apenas para que as pessoas começassem a chegar no evento, que os fotógrafos se posicionassem, e, embora ela gostasse muito de yoga e achasse a técnica bem eficiente, tinha que admitir que Gaara era um meio muito melhor e mais prazeroso de se distrair.

Arfou quando as costas se chocaram com a parede fria de uma das cabines onde haveria a troca de roupas das modelos. Sua mão encontrou a de Gaara enquanto buscavam o trinco da porta e ele chupava seu lábio inferior. Os fones tinham caído, as mãos de Gaara seguravam seus quadris com força, e Ino arfou quando uma delas subiu por sua coxa e invadiu seu vestido.

A boca dele tinha gosto de bala de menta, a mesma que ele vivia comendo quando estava estressado com algum evento, sentia a tensão dos músculos das costas e dos ombros dele cedendo aos seus toques, a fome em cada beijo, o desejo pulsando na ereção que se esfregava contra seu corpo. Puxou-lhe o cabelo, os dedos firmes nas mechas ruivas para comandar o beijo e exigir mais.

Não tinham levado preservativos, nem tinham tempo para sexo, e Ino duvidava muito que Gaara fosse os arriscar daquela forma antes de um desfile tão importante. Sentiu a respiração dele em seu pescoço e gemeu com as mordidas leves e os beijos molhados que subiam à sua orelha conforme os dedos de Gaara brincavam com o elástico do short preto que ela usava sob o vestido.

— Quer ajuda para relaxar? — ele provocou, e Ino riu maliciosa quando sentiu o toque insinuante em direção à sua intimidade.

— Quem seria louca de recusar algo assim? — Ela sorriu, e Gaara a beijou antes de começar a descer o short e a calcinha dela.

Ino riu baixo, excitada, quando ele se ajoelhou no chão de frente para ela, seu short e sua calcinha estavam esquecidos já ao lado dele enquanto as mãos erguiam seu vestido e a boca colava-se à sua intimidade fazendo-a apoiar a cabeça na parede e revirar os olhos deliciada. Sentiu Gaara prender seu vestido atrás de seu corpo com uma única mão, e a outra subia por sua perna, apertava sua coxa, deslizava até que os dedos brincassem com a excitação que se acumulava ao redor da vulva.

A língua dele era maravilhosa... seu coração batia apressado a cada arrepio que os movimentos circulares em seu clitóris provocavam em seu corpo. Abriu mais as pernas, a necessidade de senti-lo com mais intensidade crescendo e a fazendo gemer um pouco mais alto do que deveria quando Gaara deslizou um dos dedos para seu interior.

Ah, como amava pessoas que sabiam fazer um oral decente. Meu Deus... como amava quando Gaara curvava o dedo e acertava aquele bendito ponto que a fazia rebolar contra a boca dele e gemer pelo friccionar da língua e dos lábios em seu sexo...

Segurou o cabelo dele, a respiração descompassada e as pernas trêmulas enquanto o corpo vibrava na frequência que ele lhe impunha, no prazer que ele lhe oferecia. Mordeu o lábio e percebeu não ser suficiente à medida que o orgasmo se aproximava, tapou a boca com os dedos trêmulos, o corpo quente com o olhar fixo que recebia de Gaara, com o modo como os olhos verdes a analisavam e terminavam de despi-la como se ele pudesse tocar facilmente muito mais que seu corpo.

Puxou o cabelo e fechou os olhos com a mesma força que tapou a boca quando o clímax veio. Gaara a segurou no lugar, a língua continuando a excitar seu clitóris antes que a boca exigisse a prova do prazer que lhe tinha dado. Os dedos dele em seu interior ainda estocavam-na, lentos, e Ino gemia baixo, sem conseguir conter os espasmos ou os pedidos manhosos para que ele continuasse, parasse, continuasse, parasse... não sabia mais o que queria.

Abriu os olhos ao sentir o peito de Gaara contra seus seios, a letargia permitiu que ele a beijasse e comandasse o beijo, intenso e lento, profundo, com promessas para depois do desfile que ela faria questão de cobrir. Ele sorriu de canto depois de sugar seu lábio.

— Pronta para o desfile?

— Acho que tenho que lembrar onde to primeiro — ela brincou, e ele riu junto.

— Vai se sair bem — ele garantiu. — Vou fazer questão de fotografar cada segundo.

— Diz como se não fosse pago para fazer exatamente isso — ela provocou, e Gaara selou mais uma vez os lábios.

— Você eu fotografaria de graça sempre, a qualquer hora do dia, sem que ninguém precisasse mandar, e ainda assim não conseguiria captar tudo o que quero, Ino.

Ela corou ao sorrir, e os dois arregalaram os olhos quando perceberam vozes no microfone anunciando que todos se dirigissem aos seus lugares.

— Vai na frente. — Ela o empurrou divertida enquanto saíam da cabine, e Gaara correu até a porta. — Me deseje sorte!

— Boa sorte, Ino. — Ele se virou com a mão a porta aberta e piscou para ela.

— Não assim!

Ele sorriu ao negar com a cabeça.

— "Merda"? — arriscou, e Ino sorriu abertamente.

— Quebre a perna é mais clássico, mas serve.

Gaara olhou para o corredor vazio e se aproximou de novo de Ino com pressa para beijá-la uma última vez.

— Te amo. Você vai estar linda. Se ficar nervosa, imagine que todos os flashes são da minha câmera e que estamos de novo no set, apenas outro booking, outra campanha.

Ino acariciou o rosto dele ao concordar.

— Também te amo, mas isso não me deixa esquecer que ainda me deve uma dança...

— Pelo que me lembro, essa dívida está paga.

— Pelo que eu me lembre, a gente transou antes de você dançar comigo de fato. — Ino arqueou a sobrancelha e riu com o vermelho no rosto de Gaara. Ele nunca se acostumaria com quão direta ela podia ser...

— Justo. Agora, tenho que ir e você também. Quebre a perna, Ino.

— Quebre a perna, Gaara.

* * *

A música estava alta, a presença de dois cantores famosos no desfile atraía ainda mais o público que conversava enquanto os garçons passavam com os drinks e as estilistas posavam para fotos com as celebridades.

Ino encarava o reflexo no espelho, seu cabelo estava bonito, lindo, inspirado com certeza em alguma coisa que ela não tinha noção do que podia ser, mas que lhe lembrava e muito uma guerreira viking. Sentia-se poderosa, sorria com animação para si mesmo e era tão delicioso se sentir bem com o que via diante do espelho.

Ergueu-se quando seu nome foi anunciado por uma das ajudantes da organização e mordeu o lábio, ansiosa. Deixou que a ajudassem com as roupas e respirou fundo ao perceber que seu momento estava próximo. Algumas modelos lhe desejaram boa sorte, e Ino sorriu com isso, Konohamaru passou correndo ao seu lado e se virou enquanto corria de costas para lhe fazer dois "joinhas" com as mãos e então erguer o punho em incentivo. Respirou fundo, precisava se acalmar, daria tudo certo, tudo certo...

Olhou para trás, Sasuke, Neji e Sakura não tinham lhe mandado nenhuma mensagem, nem mesmo visualizado a que tinha enviado para eles no grupo. O ensaio da companhia devia estar sendo um inferno e, por um momento, ela se culpou por ser provavelmente um dos motivos do estresse de Tsunade naquele dia. Por um momento, um breve, que durou menos de um minuto, porque ela ergueu a cabeça, firme, decidida. Era seu futuro ali, precisava pensar em si em primeiro lugar.

Seu pai estaria entre os convidados, cortesia da irmã de Hanabi já que nunca que conseguiriam pagar por aquele ingresso. Estava ansiosa para vê-lo, para que ele a visse desfilar e tivesse orgulho! Queria agradecer Hanabi, mas ela devia estar se aprontando também, era a modelo principal da agência, Konan com certeza tinha que se certificar que tudo com ela estava perfeito.

— Cuidado para não tropeçar, plus size, ou vai ser a segunda fofoca do dia.

Ino revirou os olhos com a voz de Sasori ao seu lado. Ele estava indiferente, mas havia algo no olhar dele, um brilho maldoso que ela não entendeu.

— Você não devia estar lá fora fazendo o seu trabalho? — ela perguntou com tédio.

— Não. O meu trabalho é aqui. Cortesia do seu namorado, aliás, convenceu Pain a me tirar do desfile e me deixar preso fotografando os bastidores para mostrar o trabalho da nossa agência.

— Que triste para você, não é?

— Nem tanto — ele respondeu enigmático, e Ino arqueou a sobrancelha em resposta. — Sua vez. Quebre a perna, Ino. Não é isso o que dizem?

— Saindo da sua boca parece só um monte de bosta mesmo. Com licença.

A música do desfile era contagiante, Ino não podia negar. O som alto fazia com que ela sentisse a vibração de cada nota alcançada pela voz dos artistas. Aquilo não era como o ballet, não era como o palco com que estava acostumada. Seu salto marcava o ritmo, a música ditava o movimento do seu corpo enquanto avançava para a passarela. Os flashes não tinham fim, eram vários, de diferentes direções, era sufocante e excitante. Os olhos de todos estavam focados nela naquele momento, só nela, o sorriso em seu rosto era verdadeiro enquanto se dava conta da naturalidade com que aceitava e apreciava aquela atenção.

Seu coração batia tão forte, tão acelerado, que competia com a música. No ballet, normalmente ele estaria assim pelo cansaço, pelo esforço físico, pela encenação exigida pelo papel ganho, mas ali não, ele batia forte pela emoção, como se cada firmar do salto alto, cada sorriso para as câmeras, cada jogar de corpo, cada pose, cada pequena demonstração de felicidade quebrasse uma corda que ainda a mantinha no chão quando suas asas estavam prontas para voar.

Não viu Gaara, não viu seu pai, não viu ninguém ao mesmo tempo em que viu muita gente, todos interessados olhar para ela. Suas mãos suavam quando deu a volta para retornar aos camarins para a nova troca de roupa. Outra modelo entrava enquanto ela saía, e Ino agradeceu pelas lágrimas terem esperado que ela deixasse a passarela para descerem pelo rosto enquanto ela ria emocionada.

Não reconheceu as modelos que a abraçavam, não sabia quem eram, se eram da sua agência ou não, eram apenas mulheres que, de alguma forma, entendiam-na e estavam ali para lhe dar suporte. Era tão lindo achar um gesto de humanidade em um ambiente tão tóxico... Ou era o que pensava... demorou a entender que aqueles abraços não eram pelo desfile, tinha algo a mais, algo mais melancólico, que fazia com que não olhassem em seus olhos.

Andou depressa para o camarim, trocou a roupa como pediam e encontrou Sasori. Ele estava na porta com a câmera nas mãos, e ela só notou quando o flash a atingiu.

— Só registrando o momento antes da desgraça acontecer — ele explicou, como se aquela fosse mesmo uma justificativa.

Franziu o cenho, mas Hanabi apareceu pálida de repente, e Sasori sorriu perigoso.

— Perfeito. Vocês duas agora vão ser mesmo o ponto alto do meu dia. Não preciso ficar aqui mais, já tenho meu material. — Ele riu maldoso, e Ino rebateria se não fosse o segundo flash a cegá-la quando Hanabi lhe entregou o celular.

— Está começando a ir pros sites de notícias. Vários alunos começaram a postar esses vídeos. Faz vinte minutos, mas está viralizando, Ino — Hanabi explicou, e Ino a viu tremer e passar a mão pelo rosto a despeito da maquiagem.

— Que vídeo? E, não, pera, você tá bem? — perguntou, Hanabi estava pálida demais, inquieta. — Foi Sasori? Ele fez alguma coisa?

Hanabi cerrou os punhos, Ino viu, assim como reparou no choro que ela conteve ao engoli-lo e olhar para cima para que as lágrimas desaparecessem. Em vão.

— Hanabi, eu juro, se ele fez alguma coisa, eu-

— Ele me viu. E tirou uma foto — Hanabi riu, com desespero. — Já sabe, né? Fim de carreira. Ele... — Ela soluçou e então negou com a cabeça. — Não, não importa, você tem que ver o celular, por favor.

— O quê? Como assim não importa? O que pode ser mais importante que isso?

— Ino! São seus amigos, no vídeo, são seus amigos! — Hanabi frisou, e Ino arregalou os olhos antes de então abrir o primeiro link.

O título da matéria a fez cambalear, o corpo achou fácil a parede para usar de apoio enquanto as palavras destacadas no texto a faziam engolir em seco. "Assédio sexual", "abuso", "tortura", "suicídios", vinham à tona em negrito, o nome de Orochimaru estava como acusado, e ela sentiu o chão sumir quando a reportagem citou o nome de Sakura como uma das vítimas.

Não, aquilo não podia estar certo, definitivamente não podia estar certo. Sua mão tremeu ao dar play no primeiro dos muitos vídeos, reconhecia Naruto à frente, gritando com Tsunade a respeito de Orochimaru, via como Neji apertava a mão de Sasuke, como Sakura parecia em choque até começar a gritar com Tsunade e enfim contar o que Orochimaru lhe tinha feito. Sakura nunca tinha lhe contado nada, ou tinha? Ela nunca havia lhe dado qualquer sinal de que algo daquela gravidade estava acontecendo, ou tinha? O segundo vídeo a fez deslizar até o chão sem ar, o cérebro conectando as peças enquanto ouvia Naruto acusar Tsunade de demitir Tobirama, e ela acusar Sasuke.

Sakura, Sasuke, não... sua mente se recusava a acreditar naquilo porque, de alguma forma, fazia sentido, de alguma forma todas as lembranças se conectavam para que enfim ela percebesse como tinha sido cega durante aqueles anos. Sakura não conseguia confiar em ninguém, os relacionamentos curtos, a apatia, o nojo com que ela e Sasuke olhavam para Orochimaru, como sempre pareciam mais acuados diante do professor, como Sasuke odiava ser tocava, as frases soltas que nunca fizeram sentido e agora pareciam estar sendo gritadas em seus ouvidos.

Não tinha fôlego, a respiração estava acelerada, hiperventilava, e não ouvia nada do que a assistente dizia. Hanabi estava atrás dela, discutia com a mulher, e Ino se sentiu erguida, mãos a pondo de pé.

Flash.

Olhou na direção. Surpresa seria não ser Sasori a estar atrás da câmera. Ele saiu, e não era difícil saber o que faria ou onde estaria, afinal, ele nunca que perderia a chance de fotografá-la destruída desfilando.

Perdeu a noção do espaço, do tempo, das consequências. Sua mente se revirava entre indignação, dor, culpa, raiva. Sasuke, Sakura, Hanabi, e outros, muitos outros, vários outros, sempre mais e mais outros que poderiam compor a longa lista de vítimas seja de companhias de dança ou de modelos. Inúmeras pessoas sofrendo calados aterrorizados pelo pesadelo vivido e pelo medo de perder a chance de seus sonhos.

Seu salto batia alto no piso, e não era o som da felicidade do desfile anterior, não... Seu salto naquele piso caro, naquela passarela, era a contagem regressiva para a tempestade.

Não havia sorriso em seu rosto quando entrou na passarela, muito menos limpou as lágrimas. Não houve desfile, houve marcha, uma simples e direta marcha até o final onde ela parou e deixou que os olhos buscassem Sasori. Ouviu os sussurros, enxergava a confusão das pessoas, e lhes direcionou um sorriso ao subitamente descer da passarela e caminhar em linha reta até Sasori.

Mais uma vez, a atenção estava nela, e Ino usaria isso a seu favor até o final.

Sasori baixou a câmera enquanto Ino se aproximava, franziu o cenho e só arregalou os olhos quando a câmera foi arrancada de suas mãos e arremessada ao chão. O barulho calou a todos, mas não impediu que os flashes dos outros fotógrafos registrassem o momento em que o salto dela estraçalhou a lente cara.

— Mas o que pensa que está fazendo? — Sasori gritou.

E foi tudo o que disse, porque Ino não queria ouvir, não há o que se ouvir quando a raiva acha brechas para escapar e força para fazer o que quer. O punho acertou o rosto de Sasori assim que ele ousou segurar seu braço, um soco forte, e ela sorriu enquanto mais lágrimas caíam porque a primeira coisa que pensou foi que Sasuke teria orgulho dela se visse aquilo. Abaixou depressa para pegar o cartão de memória da câmera dele e então retornar à passarela.

De pé, diante de expressões chocadas e aterrorizadas, ela ergueu a cabeça.

— Isso, senhoras e senhores, não foi só por mim, foi por todos os modelos que ele quis destruir ao fotografá-los em momentos de fragilidade, pela monetização do meu sofrimento diante da notícia de que a grande Companhia Nacional de Ballet acaba de ser acusada por proteger professores que abusam sexualmente dos seus alunos, crianças!, adolescentes, e Deus sabe mais quem! Foi por esse filho da puta querer acabar com a carreira da modelo mais incrível e maravilhosa que eu já conheci! Foi por mim, por eles, por todos nós que morremos de medo de tomar uma única atitude para que nos respeitem, para que tratem a gente com o mínimo de dignidade, porque temos medo de perder nossos sonhos. — Ela limpou as lágrimas com força, sentiu uma mão em seu ombro que deslizou até entrelaçar os dedos aos seus. Apertou com força a mão de Hanabi e olhou para frente. — Para todos como ele, o meu mais sincero "vão se foder".

A voz ecoou pelo salão. Ao lado de Konan, Gaara manteve a câmera abaixada, mas ele sabia que os demais flashes pegaram não só a reverência que Ino fez ao público, mas a ironia contida no ato antes de ela ter o braço de Hanabi em seus ombros para se retirarem da passarela sem olhar para trás nem uma vez sequer. 



Ahhhh a fic tá acabando, gente, meu deussss

Espero que tenham gostado!

Beijoss <3 <3 

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