Não pare a Música

Bởi AliceHAlamo

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A dança é composta por vários elementos. Você tem a coreografia, o tempo, a música, o dançarino, a técnica... Xem Thêm

Capítulo 1 - Sasuke
Capítulo 2 - Naruto
Capítulo 3 - Ino
Capítulo 4 - Gaara
Capítulo 5 - Quebra de rotina
Capítulo 6 - Suas lentes
Capítulo 7 - Interesses
Capítulo 8 - O que os outros pensam
Capítulo 9 - Encantado
Capítulo 10 - Ajuda "mútua"
Capítulo 11 - Punição
Capítulo 12 - Fora de Foco
Capítulo 13 - Desafio
Capítulo 14 - Intensidade
Capítulo 15 - Mudanças
Capítulo 16 - Tensão
Capítulo 17 - Entre jogos e bebidas
Capítulo 18 - Escolhas
Capítulo 19 - A queda
Capítulo 20 - Bolha
Capítulo 21 - Luz acesa
Capítulo 22 - Segredos
Capítulo 23 - Permissão
Capítulo 24 - Montanha Russa
Capítulo 25 - Gravidade
Capítulo 26 - Amarga Vitória
Capítulo 27 - Forjada em veneno
Capítulo 28 - Aberto
Capítulo 29 - Relações
Capítulo 30 - Linda
Capítulo 31 - Cores
Capítulo 32 - Oportunidades
Capítulo 33 - Elos
Capítulo 34 - Marcas da alma
Capítulo 35 - Resgate
Capítulo 36 - Suporte
Capítulo 38 - Socos da vida
Capítulo 39 - A morte do Cisne
Capítulo 40 - Acerto de contas
Capítulo 41 - Vida
Epílogo

Capítulo 37 - O que tem atrás das cortinas

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Bởi AliceHAlamo

[AVISO - POR FAVOR LEIAM PORQUE É IMPORTANTE] [GATILHO]:
O capítulo e a fic em si não tem nada com estupro. O capítulo 37 vai trazer, assim como o 35, o tema abuso e assédio sexual nas companhias de dança (bem como ocorre com ginastas, modelos, etc). A parte em questão está no fim desse capítulo, ok? Eu considero um tema pesado pela carga emocional também, por isso estou avisando. Boa leitura a todos.


Tempo. Tempo é mais que o correr dos ponteiros em um relógio em uma sala qualquer. Também não é só uma forma de medir aquilo que se foi ou aquilo que virá. Tempo não é um mero substantivo sem peso ou impacto. As cinco letras que compõem tal valorosa palavra trazem consigo muito mais que um sentido direto e palpável, muito mais que a imaginação humana pode projetar. Tempo é uma lacuna, um espaço, um buraco negro para o qual diversas pessoas olham e jogam suas expectativas. Se imaginássemos o tempo como um poço fundo e escuro, várias pessoas estariam próximas à sua borda, cada uma com algo em mãos para arremessar como se jogassem uma moeda dourada em troca de um desejo. E, enquanto todos jogavam suas moedas aos montes, gritando seus pedidos, expondo seus desejos e ambições, a de Neji tinha estado bem firme em sua mão durante longas três semanas. Para ele, tempo era uma das variáveis essenciais para se vencer qualquer coisa, a diferença entre o sucesso e o fracasso, e nunca que ousaria arriscar-se a perder.

Enquanto caminhava naquele dia, jogava sua moeda para cima. Orochimaru havia pedido licença há três semanas e aparecia novamente naquele dia, no ensaio geral. Pegou a moeda e deixou-a deslizar entre os dedos para jogar de novo. Naruto estava sob controle, mesmo que visse a vontade desesperada dele de agir. Entendia, óbvio que sim, e Naruto estava fazendo o máximo para não ferrar com todo o seu plano. Jogou a moeda de uma mão para a outra sentado no banco da praça em frente ao teatro onde o ensaio geral aconteceria, admirou o reflexo dela na luz e observou Sasuke aparecer na saída do metrô. Sasuke não tinha falado com Naruto durante aquele tempo, mas sabia que o amigo estava prestes a ceder, faltava apenas tomar coragem para, mais uma vez, abaixar as defesas... Arremessou a moeda para o alto. Ino não iria naquele dia, estava feliz por isso. Era uma falta importante, Tsunade com certeza não a perdoaria por isso já que os patrocinadores da companhia estariam presentes e ela queria bailarinos e professores todos presentes. Mas ele estava grato pela amiga ter escolhido o desfile beneficente ao ensaio. Pegou a moeda uma última vez e se levantou. Por anos, havia sido aluno daquela companhia, era já formado, um bailarino profissional, não tinha o que perder como Sasuke, Sakura ou Ino, e Orochimaru não o conhecia, ele não tinha como saber o que estava por vir, e isso dava a Neji um gosto especial na vingança planejada. Tinha já posicionado cada peça, como um artista que desenha a mais bela obra com dominó e agora derruba a primeira peça para assistir ao desmoronamento de tudo. E sua primeira peça estava ali, bem em sua mão, redonda e brilhante. Sorriu para Sasuke e fechou os olhos por um momento. Tinha arremessado sua moeda ao poço.

— Por que está sorrindo desse jeito? — Sasuke arqueou a sobrancelha, desconfiado.

— Você vai gostar — garantiu e passou o braço pelos ombros de Sasuke enquanto caminhavam em direção ao teatro. — E então, preparado para o grande ensaio? Já conseguiu falar com Ino?

— Ela vai desfilar às três horas. Deve estar um inferno agora com a preparação. Ela teve pouco tempo para ensaiar.

— Não deve ser muito diferente do que as nossas apresentações.

— Também acho. Ela vai se dar bem. É a Ino afinal.

— Vou ligar para ela daqui a pouco para desejar boa sorte. Aliás — Neji o puxou além da porta onde deveriam entrar e parou em frente a uma outra. — Boa sorte para você também.

Sasuke franziu o cenho e encarou a porta em dúvida. Neji colocou as mãos no bolso da calça e apontou para a porta com a cabeça, o olhar entediado enquanto Sasuke enfim compreendia o que, ou melhor, quem estava do outro lado.

— Sério? — debochou, e Neji riu com sarcasmo antes de devolver o sorriso cínico.

— Sério. Entra logo e fala com ele antes do ensaio. Vai por mim, é importante. Eu não perderia meu tempo te arrastando se não fosse.

Sasuke suspirou, os dedos massagearam as têmporas, mas Neji já havia saído de perto e entrava na outra porta antes que tivesse a chance de reclamar. O amigo o conhecia; se Neji ficasse ali para discutir consigo, conseguiria ir embora por pura teimosia, mas agora... sozinho... era obrigado a pensar se queria ou não abrir aquela porta. E a verdade era que sim... o anel em seu dedo era a prova disso, a prova de que queria falar com Naruto, ouvi-lo, acreditar nele e voltar a deixar que Naruto invadisse sua vida com todas as suas notas e cores.

Respirou fundo ao se xingar e virar a maçaneta. Entrou na sala com os ouvidos lamentando o silêncio, não era acostumado à imagem de Naruto tão quieto... Seus olhos acharam-no rápido, no canto da sala, de pé, o corpo apoiado na parede enquanto ele batia os dedos na coxa e movia os lábios acompanhando a letra lenta da música que devia estar ouvindo nos fones de ouvido. A cabeça pendia ao lado, encostando na outra parede, e Sasuke achou a visão um tanto quanto triste. Naruto normalmente tinha um sorriso no rosto, mesmo quando estava concentrado nas músicas, mas não naquele dia. O pianista estava formalmente vestido já, a calça social preta, a camisa branca abotoada até mesmo nas mangas, os cabelos continuavam rebeldes, a expressão parecia melancólica, e as olheiras no rosto dele indicavam quase eram um reflexo das que também cultivava na face.

Quis tocá-lo. O coração havia acelerado nem sabia quando, e, para sua própria surpresa, seu primeiro impulso ao estar sozinho com Naruto em uma sala não era fugir, não era recuar, não estava acuado! Queria ir até ele, segurar-lhe o rosto entre as mãos, queria beijá-lo e enterrar naquele selar de lábios a desconfiança, todos os pensamentos que os tinham afastado. Mas não conseguia... seus pés pareceram pregados no chão no momento em que Naruto abriu os olhos.

Seu corpo tencionou, em medo, na incerteza sobre o motivo de estar ali. A mão direita automaticamente achou o bolso da jaqueta que usava, não queria que Naruto notasse o anel ainda presente, não quando não sabia decifrar o olhar que recebia. Sentia determinação nos olhos azuis, via a confiança com que ele andava em sua direção sem nem mesmo desviar os olhos dos seus e esperou, mudo, sem voz porque não sabia o que dizer ou como começar aquela conversa.

Tinha medo de que Naruto estivesse ali para enfim decidir o que fariam, existia uma pequena parte de si, que depois de algumas taças de vinho com Shikamaru havia descoberto que não era tão pequena assim, que temia a rejeição, que temia fortemente que Naruto o olhasse arrependido, com pena, com... nojo.

— Você parece cansado — Naruto comentou com preocupação.

— Olha quem fala — rebateu, na defensiva, e Naruto riu como se já esperasse por aquilo. — Não está dormindo direito?

— Preocupado? — Naruto provocou com um sorriso, e Sasuke engoliu em seco. — Minha mãe fez uma cirurgia há algumas semanas, estou dormindo na casa dos meus pais para ajudar, eu e meu pai estamos nos revezando para acordar à noite e lembrá-la de tomar o remédio. Além disso, não durmo bem quando fico ansioso.

— Ela está bem?

— Agora, sim.

— Então por que está ansioso?

— Não atendeu minhas ligações... e me evitou durante todas as aulas e todos os ensaios, Sasuke. Nós temos que conversar, e você sabe disso, Teme. — Suspirou, cansado, e tirou do bolso da calça uma corrente em que Sasuke percebeu que o anel par do seu estava.

Travou a postura, os olhos atentos à aproximação de Naruto enquanto não entendia o que aquilo significava. Não conseguiu reagir às mãos de Naruto passando ao redor do si, apenas sentiu o peso do colar em seu pescoço.

— Está terminando comigo? — perguntou, e havia uma certa raiva no tom que não pôde conter apesar de tudo.

— Nem fudendo. — Naruto sorriu, decidido. — Eu te disse no começo, não foi? Não sou de desistir, muito menos de você. — As mãos dele percorreram o colar e demoraram-se na aliança pendurada. — Eu te amo — falou, e Sasuke desviou o olhar. — E quero continuar com você. Mas essa escolha não é só minha. Vou provar que não tenho nada a ver com aquele filho da puta, vou tirar isso a limpo hoje,. Quero que volte a confiar em mim, Sasuke, preciso disso, preciso de você...

— Está tramando algo com Neji, não é? O que vão fazer? — Sasuke perguntou baixo, e Naruto deu de ombros ao sorrir e tocar-lhe o rosto.

O toque dele continuava quente, e Sasuke não conseguiu segurar o suspiro conforme os dedos deslizavam por sua face.

— Você vai gostar — Naruto respondeu, e Sasuke estalou a língua no céu da boca ao negar com a cabeça.

— E por que está me dando o anel?

— Eu usar ou não esse anel é escolha sua, Sasuke. Eu te amo e a minha decisão está tomada, mas usar essa aliança só faz sentido se você ainda me amar, ainda confiar em mim e quiser ficar comigo tanto quanto eu quero estar com você. E isso só você pode me dizer.

— Iss-

A campainha do teatro soou alta, interrompendo-o e alertando Naruto de que deveria se juntar à orquestra. Olharam-se, e Naruto sorriu ao se aproximar com cuidado e devagar de Sasuke. Estudou cada reação de Sasuke, atento à mínima recusa, antes de deixar a boca encostar na dele em um beijo leve e carinhoso, apenas o encostar gentil dos lábios. Sorriu aliviado por Sasuke não ter recuado e beijou o rosto dele antes de sussurrar:

— Espere até o fim do ensaio, tudo bem? Qualquer que seja a sua resposta, espere o ensaio terminar.

* * *

A orquestra ensaiava primeiro. Sasuke e alguns bailarinos se aqueciam nas coxias do palco enquanto os alunos mais novos seguiam as instruções da professora de canto. Alguns testes com a iluminação eram feitos, e Sasuke ajudou Sakura a se alongar enquanto o som dos instrumentos de corda faziam o ar vibrar.

— Você sabe o que Neji vai fazer? — Sasuke perguntou ao corrigir a postura de Sakura, e ela o encarou confusa.

— Ele vai fazer algo?

Sasuke suspirou, inquieto, e Sakura seguiu o olhar dele até Naruto. O piano possuía destaque, sobre o palco ao canto. A luz tornava a imagem de Naruto nítida não importava de onde se olhasse, e as notas limpas acompanhavam o ritmo dos demais instrumentos.

— Ele parece sério — Sakura comentou. — Aconteceu alguma coisa?

Sasuke não respondeu, mas se juntou aos demais alunos a aplaudir quando o ensaio da orquestra chegou ao fim e uma nova campainha era ouvida.

— Quinze minutos, palco! — Ouviram Tsunade convocar os bailarinos principais das duas apresentações no microfone.

Naruto se levantou com um rápido agradecimento, viu Sasuke com o braço sobre os ombros de Sakura enquanto caminhavam com os demais para o centro do palco e então achou Neji. O bailarino não concordava com sua ideia, dizia que estava sendo ingênuo, mas Naruto preferia ser ingênuo a injusto. Enquanto descia do palco e caminhava até Tsunade, sentiu as mãos suarem, queria acreditar que a diretora era apenas mais uma a ser pega desprevenida naquela história de Orochimaru, não era fácil aceitar que a mulher que o tinha achado, que o tinha ajudado a construir uma carreira compactuasse com algo tão sujo... Precisava dar uma chance a ela antes de deixar Neji seguir com seu plano.

— Naruto! — Ela sorriu animada, e ele reconheceu duas das patrocinadoras da escola. — Venha, deixe que eu faça as apresentações! Venha!

— Na verdade, precisamos conversar. Por favor — falou, sério, e Tsunade olhou das mulheres para Naruto tentando achar motivo para aquilo. — Podemos?

— Claro — ela respondeu, confusa. — Um momento, por favor, nós já voltamos.

Não se distanciaram muito. Naruto queria que estivessem a sós, preferia que fossem para alguma sala onde Tsunade não tivesse que se preocupar nem um pouco se ouviriam a conversa, queria que ela ficasse livre para falar, para se expressar e, assim, não esconder nada. Contudo, a expressão insatisfeita da diretora já lhe dizia que não conseguiria mais privacidade do que aqueles assentos vazios na lateral da plateia.

— O que aconteceu? — Tsunade perguntou curiosa, e Naruto respirou fundo antes de a encarar.

— Sabe que tenho muito respeito por você, não sabe? — foi sincero, e Tsunade franziu o cenho sem entender onde ele queria chegar. — Você construiu essa escola do zero, do nada. Me deu uma oportunidade e confiou em mim depois de uma audição em um restaurante, me trouxe para uma companhia gigante sem se importar com a minha idade, currículo, nada.

— Não se precisa de currículo quando posso ver nitidamente um talento — ela justificou com um gesto de descaso, e Naruto sorriu fraco.

— Você é uma mulher incrível, forte, que criou um império e traz pra ele pessoas como eu confiando apenas no nosso talento. — Ele respirou fundo. — E é por isso que eu não consigo mais... eu preciso saber se mesmo alguém como você está ciente do que Orochimaru faz com os alunos.

A expressão dela se transformou, e Naruto viu o sorriso dar lugar à severidade, à postura rígida e imponente. Os olhos dela saíram dele por um minuto, caíram em algum ponto atrás no palco, e Naruto se esforçou para não se virar porque imaginava claramente que ela buscava Sasuke entre os bailarinos. Não era a primeira vez que Tsunade ouvia aquela acusação, a postura e a reação dela entregavam isso, e doeu perceber que talvez Neji estivesse certo e ele estivesse se agarrando a uma vã esperança.

— Você sabe, não é? — perguntou dolorido.

— Pensei que você tivesse seguido meu conselho e se afastado de Sasuke. — Ela balançou a cabeça incrédula. — Eu te avisei, Naruto, no começo, avisei que ele iria te levar pro fundo do poço e arruinar sua carreira.

— Sasuke não é o problema aqui, Tsunade! — exasperou-se e olhou para os lado ao notar que havia elevado a voz. — Orochimaru está abusando dos seus alunos, e você não faz nada??

— Orochimaru não está fazendo isso! — ela se irritou. — Que provas você tem contra ele? Como pode acusar um professor de algo tão grave assim sem provas, Naruto? Qual o problema daquele garoto para espalhar uma barbaridade dessas?

— O problema dele foi ter sido uma das vítimas! Tsunade, nós interrompemos uma aula, eu estava lá, eu vi o estado em pânico de uma das alunas! Ela só tem treze anos e ela se agarrou ao Sasuke em pânico! Orochimaru abusa dos seus alunos em aulas extras, quando estão sozinhos, por que você acha que ele tirou uma licença logo após nós descobrirmos isso?

Tsunade piscou em choque.

— Ele estava doente, Naruto. Orochimaru nunca pede licença, mas precisou porque tinha ficado doente e precisava estar bem para os ensaios e as apresentações! Eu não acredito que você está mesmo acreditando numa coisa assim! Vindo de um aluno que eu te avisei que já havia me dado problema antes! Que já havia enganado e arruinado a carreira de outro membro da minha equipe!

— Tobirama acreditou em Sasuke porque ele viu que tinha algo errado! Meu Deus, você não pode estar tão cega assim! Você nunca achou demais a implicância de Orochimaru com Sasuke? Nunca achou demais o modo como ele conduz as aulas, os castigos, tudo?!

— Orochimaru é um excelente profissional, Naruto! A prova disso é que mesmo com todo esse circo que Sasuke armou desde que entrou nessa companhia, Orochimaru nunca o prejudicou de propósito, nunca desfez do talento dele e sempre foi justo! Se Orochimaru quisesse perseguir Sasuke, ele nunca pisaria no palco em nenhuma das apresentações! — ela rebateu, furiosa, e Naruto levou as mãos aos cabelos em frustração.

— Esse é o argumento dele? — Naruto arregalou os olhos. — Ele diz que não tem nada contra Sasuke e a prova é que ele escala Sasuke para os papéis principais? Você por acaso já viu os ensaios? Já viu a que ponto ele leva os alunos? A humilhação que ele faz Sasuke passar nos ensaios simplesmente por puro prazer?

— Orochimaru é exigente e até onde sei isso não é crime, Naruto! Eu não vou permitir que você manche a imagem de um professor, da minha companhia, com base nas acusações infundadas de um aluno frustrado! — ela gritou de repente. — Orochimaru e eu viemos da mesma companhia, nós sabemos como a profissão é difícil e o quanto cada um aqui se sacrifica para ser o melhor! Nós passamos pelo mesmo! Construímos nossa carreira juntos! Sabemos o peso de cada aula e ensaio! Não vou permitir que um aluno, um bailarino que nem ao menos é formado, arruíne tudo pelo que lutamos, tudo que construímos do zero!

— Ele pode ter sido o que for no passado, mas isso não muda o fato de que está ajudando a acobertar não só casos de abuso, como também de pedofilia na sua própria escola! — Naruto gritou de volta, e o tapa de Tsunade ressoou pelo teatro atraindo a atenção.

— Isso já foi longe demais — ela falou entre dentes com raiva. — Está fora do espetáculo. Saia daqui. Agora. E arraste Sasuke com você, não quero ver a cara dele tão cedo. Neji vai substituí-lo na apresentação.

Naruto riu, sem acreditar, e se havia pior hora para Orochimaru aparecer era aquela. Como se nada tivesse acontecido, ele apertava a mão das pessoas ao lado dos demais professores, sorria, até ouvir o tapa e olhar em sua direção. O rosto queimava, mas não tinha como se importar menos com a ardência. Os olhos de todos estavam sobre ele, os sussurros começaram em onda, vinda da plateia onde os patrocinadores, coreógrafos e professores estavam até o palco onde os alunos trocavam olhares aflitos. Tsunade o encarava, com raiva e na espera de que se retirasse. Sasuke e Sakura tinham dado um passo para frente no palco, mas Neji tinha segurado os dois e agora revirava os olhos antes de assentir com a cabeça.

— Não — respondeu firme.

— Como é? — Tsunade arqueou a sobrancelha.

— Eu disse não — repetiu, mais alto, e não esperou que ela respondesse antes de sair andando em direção ao palco.

Havia tensão, uma que ninguém ousava cortar, Orochimaru mantinha os olhos em si, curioso, mas foi o maldito sorriso cínico que ele exibia que fez Naruto subir de vez no palco e retirar o microfone do suporte sobre o piano. Arrancaria aquele sorriso de Orochimaru, e lamentava não poder fazer isso com as próprias mãos, mas era como Neji tinha dito: dariam um fim naquilo, um de verdade, sem brechas para escape.

— Atenção aqui um momento por favor — Naruto falou ao microfone, e Tsunade arregalou os olhos quando percebeu o que ele faria.

— Cortem o microfone — ela falou baixo, mas logo se virou para o técnico de som ao fundo da plateia. — Desliguem aquele microfone!

— Desculpe interromper e ser o portador de más notícias, mas acho que já tá na hora de tirar a sujeira debaixo do tapete. Primeiro de tudo, me demito. Então, Tsunade, não precisa mais se preocupar em me tirar ou não desse espetáculo, eu não pretendia mesmo continuar em uma companhia que encobre e protege um professor que vem há anos abusando sexualmente e torturando seus alunos — Naruto falou e olhou preocupado para Neji ao ver o técnico correr para a cabine de som, mas o bailarino estava tranquilo e apenas sinalizou que continuasse.

Neji olhou para Orochimaru, o professor estava em choque, a boca aberta em surpresa enquanto os demais professores e coreógrafos arregalavam os olhos ou abaixavam as cabeças. Tsunade mirava Naruto com ódio, permanecia no mesmo lugar enquanto alguns alunos registravam tudo com os celulares. Sasuke estava sem reação, os olhos corriam de Naruto a Orochimaru e Tsunade como se não soubesse a quem acompanhar. Sakura apertava sua mão com força, gelada, a atenção voltada para Tsunade.

— Para quem não sabe, o professor Orochimaru abusa seus alunos em ensaios e aulas extras, quando não tem ninguém por perto. Crianças! Adolescentes! E depois os tortura todo dia, em cada aula, os persegue, faz da vida de cada um deles um inferno!

— Isso é um absurdo! — Orochimaru falou da plateia, e o silêncio do teatro foi o suficiente para que a voz dele chegasse a Naruto.

— Absurdo? — Naruto gritou de volta. — Absurdo é ter alunos se matando na companhia e vocês não terem investigado! Absurdo é você ferrar com o psicológico e destruir cada um dos seus alunos! Absurdo é todos vocês acharem que é normal fazer eles quererem passar uns por cima dos outros por uma vaga em uma apresentação! Absurdo é você ter tocado em uma garota de treze anos! Absurdo é você fazer isso por anos sem que ela — Apontou para Tsunade. — faça algo a respeito! Absurdo é Tsunade ter demitido Tobirama porque ele acreditou em um dos alunos quando ele prestou queixa contra você! Absurdo é ela ter tentado fazer a mesma coisa comigo agora!

Orochimaru riu com escárnio, e Naruto apertou com força o microfone para evitar arremessá-lo contra ele.

— Eu quero ver você provar cada palavra — Orochimaru falou com queixo erguido.

— Ah! Pera, acho que essa é minha deixa — Neji falou alto ao erguer a mão e sorrir enquanto ia para a frente do palco.

Orochimaru estreitou o olhar, e Neji sorriu perigoso ao olhar para as coxias e estender o braço.

— Acho que não os conhece, mas permita que eu faça as apresentações — Neji comentou quando um casal e outro homem parou ao seu lado. — Esses são os pais de Kiri, a aluna que nós tiramos da sua... aula extra. Acho que já conhece o meu tio, Hiashi, não? Ele será o advogado que vai representar todos os processos contra você porque...

Orochimaru desviou a atenção de Hiashi e acompanhou quando uma mulher desceu do palco com papéis em mãos e caminhou até ele.

— O senhor está sendo oficialmente intimado pela justiça. — Ela lhe entregou os papéis.

Sasuke não ouviu o que veio depois disso. Sua cabeça girava enquanto as vozes se exaltavam, enquanto via com alívio que a garota tinha mesmo contado para os pais o que havia acontecido, enquanto Orochimaru gritava sabe-se lá o que e Tsunade tentava estabelecer ordem. Os dedos de Neji estavam entrelaçados aos seus, firmes, um aperto forte que era o responsável por ainda estar de pé mesmo com as pernas moles, o coração acelerado e os pulmões hiperventilando. Era como assistir à destruição de um pilar, como ver um mundo inteiro desabar por ter acertado o pilar central que o sustentava.

Estranho... nunca havia imaginado que se sentiria tão bem em ver aquele caos. Tsunade estava horrorizada e falava, falava e falava, quase uma obrigação defender Orochimaru já que dezenas de celulares estavam apontados na direção dela enquanto Naruto os acusava. Era um baque forte demais para a companhia, tinha certeza disso. Os celulares não gravam apenas a acusação, expunham os rostos, mostravam cada patrocinador, cada professor, cada bailarino. Era uma jogada genial porque Neji tinha colocada em xeque não só Orochimaru ou Tsunade, não só uma peça do tabuleiro, mas o jogo todo, a estrutura que mantinha a roda girando e girando. Haveria repercussão. Quem patrocinaria uma escola com tamanha mancha sobre o palco, quem trabalharia naquele inferno agora Neji e Naruto tinham deixado à vista todos os podres que as cortinas escondiam?

Era assustador ver seu mundo desabar, mas era mais que isso... era libertador saber que alguém finalmente tinha feito algo a respeito...

Orochimaru ainda discutia, os pais da garota gritavam e Hiashi como advogado os impedia de fazer algo a mais. Tsunade apontou para Sasuke, ela lhe direcionava um olhar com tanto ódio que Neji apertou a mão dele antes de ela começar a falar:

— Espero que esteja preparado para o processo que vou abrir quando provarem que tudo isso não passa de uma farsa!

Sasuke riu irônico.

— Esse dia não vai chegar.

— Eu vou garantir que você não dance nunca mais. Pode apostar que vou.

Neji se irritou. Havia limites, até mesmo para ignorância, e então pegou um dos microfones, mas não foi a voz dele a gritar:

— Já chega!

Ele levou um susto quando a voz de Sakura ecoou no teatro, alta, forte, desesperada. Ela estava pálida, o rosto manchado pelas lágrimas que escorriam uma após a outra ao encarar Tsunade. As vozes pararam, e Sakura tremia ao limpar o rosto incessantemente.

— Já chega, por favor... deixa ele em paz — ela implorou. — Por que você não acredita? Por quê?

Tsunade abriu a boca sem conseguir responder, e Neji engoliu em seco quando ouviu o choro ficar descontrolado, e Sakura cobrir o rosto ao se curvar e sentar no palco. A cabeça dela doía, a respiração estava tão atropelada que Neji se abaixou ao lado dela para tentar acalmá-la. Ela estava gelada, podia sentir o pulso acelerado dela ao toque, o tremor, o pânico, e só se deu conta de que aquilo não era um simples mal estar quando viu nos olhos verdes dela o mesmo desespero que havia visto em Sasuke.

— Sakura. querida — Tsunade chamou, vacilante.

— Não... — Sakura falou entre o choro, as mãos correndo pelo rosto para tentar se livrar das lágrimas que não paravam de vir enquanto o corpo tremia e a cabeça rodava. — Por que você nunca acredita? Não é a primeira vez que alguém acusa! Por que você não acredita? Ele fez isso! Ele fez! — ela gritou com raiva. — E não foi uma, duas, três vezes! Foram várias! Por tanto tempo que eu nem lembro! Ele frequentava a nossa casa! Te dizia que eu não acompanhava as aulas, que precisa me esforçar mais! E, para você, qual o problema de algumas aulas extras, não é mesmo? Eu tinha que ser a bailarina ideal! A herdeira do seu legado! Não podia te envergonhar! — Riu com desespero, e Neji viu Sasuke correr até eles e abraçá-la com força. O choro ficou mais alto, e Tsunade cambaleou, as mãos buscando apoio nas cadeiras enquanto a compreensão a sufocava. — Eu pedi para você... pedi pra sair... pra parar de dançar... eu te pedi tantas vezes! Sabe a garota que se matou? A sala de onde ela se jogou? — Limpou o rosto com raiva. — Eu descobri aquela sala no dia em que vi que você com ele! Na nossa casa! Quando vi que você nunca acreditaria em mim! Eu descobri aquela sala porque ia ser eu, não aquela garota! Eu! Então chega! Por favor, chega!

Aquilo não estava no plano... Naruto se sentou no chão com a cabeça entre as mãos enquanto ouvia o choro doído de Sakura decretar o ponto final daquela discussão. Neji havia dado o impulso para que a roda girasse no outro sentido, derrubado a primeira peça de dominó, e Sakura tinha terminado de tombar a última.

Não sabiam que ela tinha sido uma vítima, e isso só o fez socar com mais força o chão por perceber que nunca saberia quantos alunos haviam passado pelo mesmo. Não moveu um músculo quando Tsunade gritou com Orochimaru exigindo-lhe a verdade, muito menos quando ela empurrou a todos e o socou precisando ser contida; em vez disso, Naruto olhou para o lado, para o centro do palco onde Sasuke e Neji abraçavam Sakura. Ela chorava, Sasuke mantinha os braços em volta dela, o corpo dele bloqueando que as câmeras a filmassem, e Neji... Neji estava como ele, o mesmo olhar perdido e surpreso, inconformado e insatisfeito. Tinham denunciado Orochimaru, exposto a companhia e, apesar de tudo, não havia motivo algum para comemorar... Queria ter feito mais, agido antes! Queria que nada daquilo tivesse acontecido a nenhum deles... mas não tinha como mudar o que havia acontecido... E isso roubava qualquer satisfação que pudessem sentir naquele momento.

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