Não pare a Música

By AliceHAlamo

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A dança é composta por vários elementos. Você tem a coreografia, o tempo, a música, o dançarino, a técnica... More

Capítulo 1 - Sasuke
Capítulo 2 - Naruto
Capítulo 3 - Ino
Capítulo 4 - Gaara
Capítulo 5 - Quebra de rotina
Capítulo 6 - Suas lentes
Capítulo 7 - Interesses
Capítulo 8 - O que os outros pensam
Capítulo 9 - Encantado
Capítulo 10 - Ajuda "mútua"
Capítulo 11 - Punição
Capítulo 12 - Fora de Foco
Capítulo 13 - Desafio
Capítulo 14 - Intensidade
Capítulo 15 - Mudanças
Capítulo 16 - Tensão
Capítulo 17 - Entre jogos e bebidas
Capítulo 18 - Escolhas
Capítulo 19 - A queda
Capítulo 20 - Bolha
Capítulo 21 - Luz acesa
Capítulo 22 - Segredos
Capítulo 23 - Permissão
Capítulo 24 - Montanha Russa
Capítulo 25 - Gravidade
Capítulo 26 - Amarga Vitória
Capítulo 27 - Forjada em veneno
Capítulo 28 - Aberto
Capítulo 29 - Relações
Capítulo 30 - Linda
Capítulo 32 - Oportunidades
Capítulo 33 - Elos
Capítulo 34 - Marcas da alma
Capítulo 35 - Resgate
Capítulo 36 - Suporte
Capítulo 37 - O que tem atrás das cortinas
Capítulo 38 - Socos da vida
Capítulo 39 - A morte do Cisne
Capítulo 40 - Acerto de contas
Capítulo 41 - Vida
Epílogo

Capítulo 31 - Cores

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By AliceHAlamo

O capítulo veio hoje porque eu tinha uma prova muito importante hoje e estava estudando. Mas agora estou de: FÉRIAS!!!


Quarta-feira. Quatro e meia da manhã. Sasuke abriu os olhos antes mesmo de o despertador tocar. Precisava treinar os saltos para não cometer os mesmos erros, não podia dar essa chance a Orochimaru de lhe infernizar. Seus saltos ainda estavam péssimos.

De novo, mais alto!

Quinta-feira. Cinco da manhã. Xingou-se por já ter perdido a meia hora que tinha conseguido a mais no dia anterior. Seus saltos ainda não tinham altura o suficiente, Orochimaru o faria ficar a mais por aquilo. Desligou o celular para não se distrair com as mensagens de Naruto e contou o tempo da música em sua cabeça. Teria que repetir mil vezes se fosse preciso, mas faria aqueles saltos com excelência.

De novo! Mais alto!!

Sexta-feira. Quatro da manhã. Enrolou treinando no quarto até às cinco para que os tios não notassem que já estava acordado. Fechou os olhos e começou a rotina de exercícios antes da coreografia. Aquilo estava péssimo... Errou duas vezes os saltos e quase jogou o celular no chão quando errou o tempo da música.

Mais uma vez, mais controle...

Sábado. Cinco da manhã. Tinha que disfarçar. Não podia deixar que as olheiras competissem com os hematomas pela atenção de seus tios. Seus saltos continuavam fora de ritmo, sem altura, seu joelho doía. Tomou um comprimido a mais do analgésico durante os ensaios e fez questão de não deixar Naruto se aproximar porque sabia que ele havia visto seu cansaço. Fingiu que estava dormindo nos intervalos, fingiu não ver a forma como Orochimaru observava Naruto e fingiu não ser por um súbito medo que se apressou a puxá-lo para o carro quando os ensaios acabaram.

De novo! Música! Cinco, seis, sete e oito! Salta!

Domingo. Sete da manhã. Naruto tinha derrubado seu celular enquanto xingava e desligava seu alarme, impedindo que ele saísse da cama. Não conseguiu ensaiar sem que Naruto lhe roubasse a atenção de cinco em cinco minutos com algo aleatório. As mãos quentes dele espalhavam a pomada gelada por seus machucados, e Sasuke acabou dormindo quase o dia todo no sofá por causa da maldita forma como Naruto o abraçava e mexia em seu cabelo enquanto assistiam a uma série qualquer.

Tempo perdido.

Segunda-feira. Três e quarenta da manhã. Cãibra. Como aquela merda doía! E não tinha conseguido conter o grito pela dor súbita que o tinha acordado. Madara já estava em seu quarto antes mesmo que Sasuke conseguisse falar alguma coisa. Não ensaiou. De novo. Dois dias perdidos.

Tempo perdido!

Terça-feira. Quatro da manhã. Pés no chão gelado enquanto se espreguiçava. Tomou os analgésicos a seco e caminhou na ponta dos pés para lavar o rosto sem encarar o reflexo. Deixou a camisa no quarto mesmo e não levou o celular para a sala. Não acendeu a luz e alongou-se no escuro, os olhos fechados enquanto repetia para si mesmo a quantidade de vezes que deveria conseguir completar a sequência antes de descansar.

Começou. A sala era o suficiente até certo momento, mas precisaria de um lugar maior para ensaiar as corridas, os saltos contínuos, os giros. Se usasse o período da manhã para estudar e ficasse até mais tarde na companhia, talvez conseguisse mudar o horário dos treinos. Mas Madara não concordaria com isso. Como faria então? Precisava de mais tempo, de mais espaço, antes que os ensaios avançassem e ele ficasse para trás.

Desequilibrou-se no meio do giro, a queda fez um barulho seco, e ele mordeu o lábio para não reclamar da dor ou xingar-se em voz alta.

Precisava achar uma alternativa para fazer seu tempo render mais, para usar mais que cem por cento de seu potencial. No ano anterior, Shikamaru tinha acobertado seus ensaios até tarde na companhia, mas não pediria que ele fizesse o mesmo de novo. Até porque... Shikamaru com certeza não concordaria com aquilo, não tendo visto o quão obcecado ele ficava com os ensaios. Era capaz até mesmo do amigo entregá-lo para os tios pensando em "seu bem estar". Mas... não seria de estranhar se Naruto permitisse que ensaiasse na casa dele, não é? Os tios já sabiam que eles estavam saindo, então, não seria fora do comum se dormisse lá algumas vezes e usasse a casa de Naruto para os treinos. Aliás, o desgraçado tinha uma casa enorme, e só precisava convencê-lo... o que, sinceramente, não aparentava ser muito difícil.

Entretanto, era uma faca de dois gumes, Naruto o distraía, sempre! Toda bendita vez que pegava para ensaiar! Tinha que dar um jeito naquela situação, conversar com ele, precisava fazer seu tempo valer a pena, cada segundo parado era um desperdício!

— Você precisa do quê? — Naruto o olhou, confuso, enquanto conversavam antes da aula no vestiário.

— De um lugar para ensaiar. Não consigo fazer isso na minha casa.

— Mas você já não está ensaiando aqui? — Naruto cruzou os braços, ignorando a forma como alguns alunos se esforçavam para ouvir o que eles dois conversavam.

— Naruto, sim ou não? — Sasuke perguntou impaciente ao fechar o armário e então olhou para um aluno parado atrás de Naruto. — O que é? Vai ficar encarando até quando?

Naruto virou-se, reconhecia o outro aluno, não era da classe de Sasuke, e parecia um tanto quanto apavorado por ter que entrar no vestiário e interromper a conversa deles.

— O professor Orochimaru está chamando você, Naruto — o garoto falou contrariado e saiu depressa dali, sem nem ouvir Naruto agradecê-lo.

— Nós falamos disso na saída, ok? Orochimaru está carente, só pode, é a quinta vez só hoje — Naruto resmungou, e Sasuke arregalou os olhos e deu um passo para trás quando viu que ele pretendia se aproximar demais. — Er... boa aula.

Naruto o olhou sem jeito e sorriu forçado antes de sair depressa do vestiário, e Sasuke quase sentiu o coração sair pela boca quando sentiu uma mão em seu ombro.

— Sabe, se vocês dois juntos era para ser um segredo, preciso te dizer que vocês são uma merda em esconder isso, Sasuke — Neji ironizou, e Sasuke se surpreendeu em vê-lo ali. — Tsunade mandou eu vir hoje — explicou-se. — Vai ser um ensaio comparativo, vão detonar um de nós, se prepare.

Sasuke fechou os olhos e respirou fundo antes de abrir de novo o armário e pegar a cartela de analgésico para tomar mais um comprimido só por garantia. Neji manteve-se em silêncio, e Sasuke enrolou quando percebeu que ele prestava atenção nos alunos que deixavam aos poucos o lugar.

— Deidara, foi você? — perguntou baixo, e o sorriso frio de Neji respondeu o que era mais sensato não verbalizar. — Ele ainda não voltou.

— Vai demorar um pouco mais que uma semana. Ten-Ten é uma lutadora excepcional, sabia?

— E as pessoas dizem que eu não presto...

— Sasuke, nem eu nem você prestamos. Acho que nesse barco só a Ino se salva. Mas não é disso que quero falar. — Neji o encarou, sério, e Sasuke olhou ao redor.

— O que houve?

— Orochimaru sabe que você está saindo com Naruto, Tsunade contou. Não que precise ser um gênio para descobrir já que vocês dois não sabem mesmo disfarçar, mas eu vi quando ela contou, eles estavam na plateia conversando enquanto nos viam ensaiar, e eu dei um jeito de ficar lá para ouvir. — Deu de ombros, e Sasuke sentiu o sangue fugir do rosto. — Tsunade não gosta que você esteja saindo com Naruto, mas Orochimaru... pelo modo como ele respondeu ela, eu achei que ele ia matar alguém, Sasuke... Que esse cara tem uma fixação bizarra e nojenta em você e na Sakura, todo mundo sabe, mas aquilo... o modo como ele falou foi... ele ficou irritado, de verdade. E então Tsunade falou que...

Sasuke viu Neji observá-lo, como se cultivasse as palavras dentro da própria boca enquanto pensava se deveria ou não dizer.

— Ela disse que não queria ter que demitir Naruto como fez com Tobirama por sua culpa, que Naruto tinha potencial e que ela não iria deixar você arruinar isso. — Franziu o cenho, confuso. — O que ela quis dizer com isso, Sasuke?

— Ela não disse mais nada?

— O professor me chamou na hora, ela viu que eu estava perto e depois mandou que eu viesse no ensaio de hoje. To quase sentindo que to aqui de punição. Então, o que ela quis dizer com ter demitido o outro pianista por sua culpa? Porque, até onde eu sei e espero, você não estava saindo com Tobirama.

— É claro que eu não estava! — respondeu, indignado.

— Então o quê? — Neji o encarou sério. — Pelo que Sakura falou, Tobirama foi demitido porque apresentou queixa contra Orochimaru e estava insatisfeito com a companhia.

— Talvez ele tenha ido contar sobre os castigos desumanos e o autoritarismo de Orochimaru. Eu não me surpreenderia, você sabe que eles se odiavam, não se lembra das aulas? — Sasuke falou enquanto andava pelo vestiário com Neji logo atrás.

Neji respirou fundo, e Sasuke sentiu uma pontada de dor quando suas costas bateram contra a parede do corredor e Neji segurou seu rosto, fazendo com que o encarasse.

— O que é? — Sasuke perguntou com o tom irritado, mas, diferente do que esperava, Neji não respondeu no mesmo tom, ele não respondeu nada...

Era analisado, da forma como não queria ser. Havia preocupação nos olhos perolados do amigo, havia um silêncio incomum, e Sasuke odiou com todas as forças como Neji parecia estar em conflito, como se tentasse convencer a si mesmo de um ponto.

— Hey, eu não faço ideia do que aquela velha da Tsunade estava falando. Tobirama pode ter me usado de exemplo, sei lá, você sabe que Orochimaru pega bem mais no meu pé do que qualquer outra pessoa — falou, depressa, e Neji concordou, ainda que estivesse claro na expressão dele que a dúvida persistia, que a preocupação não havia se esvaído.

— Só... — Neji começou a falar, mas parou ao ver que Orochimaru e outra professora caminhavam na direção deles.

Sasuke percebeu o modo como o olhar de Neji mudou, como a expressão dele ficou fria enquanto Orochimaru os olhava com o sorriso cínico de sempre.

— Cinco minutos para a aula começar — Orochimaru falou, e Sasuke não pôde ver bem depois disso porque Neji havia discretamente tomado a sua frente.

— Nós sabemos — Neji respondeu. Breve, quase arrogante. — Vem, Sasuke.

Não pôde responder, a mão de Neji puxou a sua pelo corredor antes que falasse qualquer coisa, e algo em sua mente dizia que era melhor ficar quieto. Já havia respondido Neji, ele esqueceria do assunto com o tempo, ele possuía a apresentação para se preocupar, não perderia tempo com especulações.

— Neji? — chamou quando pararam na sala.

Neji soltou sua mão, mas a atenção não estava mais em Sasuke.

— Vou falar com Sakura, ver se ela sabe algo da demissão de Tobirama. Tsunade pode ter deixado escapar alguma coisa.

— Por que isso? — perguntou, e Neji se virou para olhá-lo.

— Naruto parece irritado, não acha?

Sasuke espiou de canto Naruto, Neji tinha razão, mas sabia que ele estava tentando distraí-lo.

— Vou falar com Sakura. Vai ver o que houve com seu namorado.

— Ele não é meu namorado — resmungou quando Neji já se afastava. — Merda.

Caminhou até Naruto, a curiosidade falando mais alto, apesar de não conseguir deixar de acompanhar com os olhos enquanto Neji conversava baixo com Sakura.

— O que foi? — perguntou com falso descaso para Naruto.

Naruto estava tenso, as mãos dele repousavam pesadas sobre as teclas do piano, e Sasuke tinha certeza que, ainda que ele olhasse para as partituras, Naruto não as estava lendo. Esperou, e Naruto se virou para ele. Os olhos azuis estavam irritados, a respiração lenta indicava que Naruto estava manter-se calmo, e Sasuke quis tocar-lhe o rosto e se aproximar, como se pudesse afastar por um tempo o que estava deixando Naruto tão incomodado.

— Janta comigo hoje? — Naruto perguntou.

— Ah, que? — Piscou, confuso.

— Tem uma hamburgueria que quero ir. Vem comigo depois do ensaio?

Orochimaru entrou na sala, e Sasuke soube disso porque os olhos de Naruto saíram dele para cravarem-se no professor.

— O que ele fez? — perguntou, o sangue correndo mais rápido conforme a raiva surgia.

Naruto voltou a atenção para ele, e Sasuke desejou arrancar com as próprias mãos o sorriso forçado que Naruto lhe dirigia.

— Janta comigo? Podemos terminar a conversa sobre você ensaiar lá em casa, Teme.

— Para os seus lugares — Orochimaru falou alto, e Sasuke viu as pessoas começarem a se levantar e ir para as barras.

— Certo — respondeu de volta para Naruto antes de seguir para seu lugar como os demais.

Foi impossível para Naruto não o acompanhar com os olhos até sua barra, assim como foi impossível não sentir raiva de Orochimaru quando percebeu que ele o observava com uma expressão vitoriosa. Virou-se para o piano, sabia que estava tocando com mais força do que deveria, o instrumento delicada não exigia aquela rudeza, sempre tinha sido ensinado a tratar bem as teclas, a deixar a força apenas para os momentos em que a alegria o impedia de prestar atenção na pressão que colocava sobre elas, todavia, não tinha como se manter indiferente toda vez que ouvia a voz de Orochimaru.

Riria, deveria mesmo rir do quão infantil o professor estava sendo ao fazer-lhe aquela pequena chantagem, contudo, estava irritado demais para isso. Falaria para Tsunade, era inadmissível que um professor pudesse colocá-lo numa situação de escolha em que um de seus alunos seria punido caso Naruto não cedesse. Aliás, o que Orochimaru tinha na cabeça para propor aquilo? Certo que ele não havia usado todas as letras naquela ameaça, mas a mensagem estava clara:

Ou para de interagir demais com meus alunos, ou vai ter que tomar responsabilidade pelos exercícios a mais que eles vão ter que fazer por estarem... distraídos.

"Meus"... Como se Sasuke fosse dele! Como se Orochimaru pudesse dizer uma coisa daquelas! Como se ele tivesse direito de interferir em qualquer coisa que acontecesse fora da companhia! Aquilo era uma ordem de Tsunade? Porque Orochimaru não tinha autoridade alguma para vir lhe dizer algo assim! Mas não... Tsunade lhe falaria, diretamente, se quisesse mesmo que ele se afastasse de Sasuke, e, mesmo ela, teria que ter um bom motivo para isso, e não apenas um "não gosto dele", "é um aluno problemático". O cu deles que era! Se achavam Sasuke problemático, era porque ainda não tinham visto o quanto ele, Naruto, podia ser! Se Orochimaru estava achando que ele deixaria aquele assunto quieto, estava fodidamente enganado.

"Meus"... Nunca havia se achado uma pessoa possessiva, nunca mesmo, seu relacionamento com Hinata nunca tinha lhe mostrado essa pequena característica que agora aflorava toda vez que queria apertar com ainda mais força as teclas do piano ao lembrar da expressão nojenta e prepotente de Orochimaru referindo-se a Sasuke como seu. E não sabia se a raiva era por aquilo ser errado de tantas maneiras diferentes ou pela ideia de Sasuke poder ser de outra pessoa...

Ah, como odiava aquele professor... e olha que era difícil que odiasse alguém! Muito difícil! Ouviu-o mandar Sasuke para o centro, repetir um exercício que Naruto vira que ele havia de fato errado, entretanto, Orochimaru o observava enquanto mandava Sasuke repetir de novo, de novo e de novo... uma pequena e óbvia demonstração do que tinha lhe dito antes da aula começar.

Teve vontade de fechar as teclas, sem cuidado e de forma dramática para chamar a atenção de Orochimaru e parar com aquela cena estúpida que o professor protagonizava. Contudo, e depois? Tiraria Sasuke da sala? Falaria algo? Qualquer coisa que fizesse ali seria motivo de mais falatório e até mesmo represálias... Estava na orquestra da companhia, tinha conquistado seu lugar ali, não podia dar a Orochimaru o gostinho de derrubá-lo antes mesmo que tivesse sua estreia. Seria o pianista mais novo a tocar ali oficialmente, sua mãe tinha visto as notícias sobre isso, o quanto aquela simples oportunidade havia repercutido no seleto e pequeno mundo da música. A queda seria tão rápida quanto a ascensão se desistisse, por qualquer motivo que fosse. Acharia um jeito, um modo de colocar Orochimaru em seu lugar e proteger Sasuke daquele filho da puta sádico.

Respirou fundo com os olhos fechados. A música ressoava alto em seus ouvidos, e ele queria senti-la melhor, queria inalá-la, como uma droga calmante e viciante. Se pudesse, desejava sentir de novo as mãos de Sasuke em sua nuca, em seus ombros, enquanto tocava, pediria que os lábios dele corressem pelo seu pescoço mais uma vez, pediria pelos beijos hesitantes que haviam se transformado em famintos à medida que o tempo passava... Se pudesse, desejava que Sasuke apenas o abraçasse conforme tocava qualquer música que ele lhe pedisse, sentiria o coração dele batendo em suas costas, a respiração quente em seu pescoço, o perfume cítrico em que já estava tão perdidamente apaixonado...

Tocou com mais calma ao abrir os olhos e repetiu o que havia dito para Sasuke a fim de tranquilizá-lo antes dos ensaios começarem: era apenas eles ali, ele tocando, Sasuke dançando, só eles... E, se Orochimaru os incomodasse, ainda assim seriam apenas eles, ele tocando para ajudar Sasuke, e Sasuke sorrindo enquanto irritava Orochimaru de propósito.

Esperou a aula terminar. Os ensaios começariam. Como Ino e Sasuke haviam conseguido os papéis principais, mesmo que Ino fosse apenas a substituta, eles teriam mais foco nos ensaios. A primeira hora seria mais direcionada ao corpo de baile, aos bailarinos que ajudavam a compor o cenário no palco, e Ino e Sasuke podiam descansar um pouco, preparando-se para o que viria em seguida. Era um dos momentos em que tocava pouco, Orochimaru precisava explicar, falar com os alunos, levaria algumas semanas até que todos estivessem entrosados, e ele tocasse quase de maneira ininterrupta.

— Hey, que cara é essa?

Virou-se de repente ao ouvir a voz de Sasuke perto. Ele estava sentado ao lado do banco, com Ino checando brevemente o celular sentada próxima, e lhe estendia a garrafa de água com a expressão em visível desagrado.

— Nada, eu só-

— Naruto, eu não sou idiota. — Sasuke revirou os olhos, enfadado, e Naruto aceitou a garrafa. — Você tá estranho desde a semana passada.

Naruto bebeu um gole longo, os olhos desviaram rapidamente para checarem onde a atenção de Orochimaru estava, e ele sorriu para Sasuke ao estender de volta a garrafa.

— Não se preocupe, tá tud-

— Juro que se falar que tá tudo bem, vou mesmo acreditar que me acha cego ou burro — Sasuke o interrompeu baixo, e Naruto soltou o ar dos pulmões de maneira derrotada.

— Depois, ok? — Sorriu e segurou a mão de Sasuke quando ele pegou a garrafa.

Sasuke quis discordar, não era alguém paciente, mas entendia que ali, naquele momento, não era o melhor lugar para conversarem de qualquer forma. Perto da parede, viu Neji chamá-lo de maneira discreta e se levantou, caminhando até ele enquanto Sakura ia na direção oposta para sentar-se com Ino.

Ela o estava evitando, por algum motivo que desconhecia, mas sua cabeça já estava tão cheia de problemas que não sabia se conseguia lidar com os de Sakura junto. Era uma merda, esse sentimento de impotência, de saber que alguém próximo está com problema e não poder se mover para ajudar com medo de se afogar tentando... Já tinha ele, Ino, agora Naruto... Se Sakura trouxesse mais uma vez aquela última conversa... Tinha um péssimo pressentimento... Sentia que se insistisse um pouco, Sakura falaria tudo o que queria, inclusive o que ele não queria ouvir ou, pior, coisas que ele não sabia e que o deixariam ainda pior. Era um amigo de merda mesmo...

Encarou Neji, sem saber o que ele havia tanto falado com Sakura. Não era comum que eles conversassem muito, eram os que menos possuíam alguma afinidade, mas não tinham se desgrudado desde o começo da aula... Estava curioso, mas não uma curiosidade boa, era mais angustiante, e odiava isso.

— Tsunade vai vir pro nosso ensaio, você sabe, não é? — Neji comentou.

— Sim — respondeu, já reconhecendo alguns dos bailarinos profissionais que estavam na sala para lhes assistir.

— Como que tá a sua coreografia?

— O problema não é a coreografia — respondeu, irritado consigo mesmo.

— O que acontece?

Sasuke estalou a língua no céu da boca, inconformado. O analgésico que havia tomado já não fazia tanto efeito, a aula tinha exigido esforço dos músculos, óbvio que não tinha como mascarar por completo o corpo inteiro pulsando em dor.

— Não posso saltar — falou baixo, sem olhar para Neji, e pôde vê-lo passar as mãos pelo rosto de forma exasperada. — Posso tentar, mas...

— Isso aí vai doer até o final da semana ainda, Sasuke... Você vai tentar hoje, se foder com a cara no chão, e só vai piorar tudo.

— O que sugere então, gênio?

— Se você ficar quieto, eu posso pensar, gênio. — Neji arqueou a sobrancelha e olhou o relógio, inquieto. — Podemos sugerir para fazer o pas de deux. Ino está aqui e a prima bailarina também, então podemos fazer a dança em conjunto.

Sasuke riu, anasalado.

— A gente não pode sugerir nada. Orochimaru vai escolher justo o que ele sabe que eu não to conseguindo fazer para me humilhar na frente de todo mundo. Você sabe disso.

Sim, sabia, bem como sabia que não teria como evitar, a menos que interferisse toda vez que Orochimaru passasse dos limites. Entretanto, era uma faca de dois gumes, ficariam ainda mais no pé de Sasuke se o defendesse publicamente, começariam a falar que havia entregue o papel para ele, e Sasuke era orgulhoso... ele não ficaria quieto, iria querer provar que era capaz, ou seja, faria uma grande idiotice e poderia se lesionar.

Olhou para Naruto, sem saber o motivo, mas era cada vez mais comum olhar para o pianista quando desejava que alguém que não fosse os tios de Sasuke puxasse as rédeas dele. Talvez devesse falar com Naruto em particular, Sasuke o mataria se soubesse...

Tsunade entrou na sala sem fazer alarde, e Neji engoliu em seco. Se fosse embora, talvez o ensaio para Sasuke não ficasse tão ruim. Ou não... capaz de apenas piorar tudo, já que ele teria quarenta e cinco minutos com o foco apenas nele. Ficando, seria dividir aquele tempo para os dois, retirar metade do peso sobre Sasuke, sobrecarregar menos o joelho dele...

Mas que merda! Por que tinham que passar por aquilo para começo de conversa? Será que ninguém via o quanto era doentio, o quanto era desgastante?

Engoliu em seco quando Orochimaru chamou Ino e a prima bailarina. Viu Sasuke atentar-se também, e ambos respiraram fundo, tentando estimar o quão ruim aquilo poderia ficar. Mas nenhum dos dois, talvez ninguém além do próprio Orochimaru, poderia mesmo prever o quão angustiante o ensaio se tornou ou quanta raiva provocou em alguns dos que assistiam.

Neji soube que tudo desandaria assim que Orochimaru pesou a mão no ensaio de Ino. Ele identificava fácil sua imagem e a de Sasuke refletidas no espelho do outro lado da sala, o retrato de uma indignação violenta, de uma vontade absurda de gritar que Orochimaru calasse a porra da boca enquanto Sasuke retirava Ino daquela sala. Parecia uma provocação, como se o professor fizesse de propósito para vê-los naquele estado ou para ver até quando Ino aguentaria.

A prima bailarina não era uma pessoa ruim, Neji pouco a conhecia, mas apenas pelo modo como ela sussurrava dicas para Ino a cada repetição soube que não era alguém que queira o mal dela. Bem, pelo menos uma notícia boa... Quando Orochimaru as dispensou, Neji cerrou os punhos, e Sasuke não devia estar diferente. Ino mantinha a cabeça erguida, as lágrimas de raiva bem contidas nos olhos enquanto ela se sentava para assistir ao ensaio deles em vez de ir embora.

Ouvir seus nomes sendo chamados foi como o começo da desgraça, e ele entendeu que Orochimaru tinha ganhado ali: no primeiro passo que eles haviam dado sem a cabeça no devido lugar. Sim, ele estava sim os provocando, testando cada um de seus nervos, e isso ficou muito mais evidente quando o foco do ensaio recaiu em Sasuke. Cada vez que Orochimaru mandava Sasuke repetir, era um motivo a mais que Neji tinha que listar em sua mente para não interferir, isso só prejudicaria Sasuke, tinha que se lembrar disso, assim como via que Naruto se controlava para fazer.

Mas era horrível de assistir, angustiante a ponto de perceber que a sala inteira estava quieta, tão quieta que a respiração exausta de Sasuke podia ser ouvida por qualquer um. Ele pingava suor e, em certo momento, mancava. Neji não tinha como saber se era o joelho ou se a dor pelo corpo todo, mas, quando ele errou o salto, quando caiu no meio da sala com Orochimaru parado à sua frente com os braços cruzados, foi a gota d'água.

Viu-se de pé pronto para interferir, viu Naruto praticamente na mesma posição, mas tudo parou quando o som do tapa de Sasuke, dispensando a mão de Orochimaru para se levantar, ressoou pela sala inteira.

Sasuke se ergueu, em silêncio, caminhou até a diagonal esquerda de onde a coreografia começava, passou a mão pela franja para tirá-la de frente dos olhos e respirou fundo. Sorriu, petulante, para Orochimaru, e o viu encará-lo de volta, irritado, para então voltar-se a Naruto e mandar:

— Mais uma vez.

Naruto olhou para Sasuke por um breve momento, aquele sorriso era falso, Sasuke deveria estar morrendo de dor, mas Naruto se sentou apenas por lembrar-se das próprias palavras. Sasuke tinha feito sua parte, tinha encarado e irritado Orochimaru; cabia a ele agora tocar, e então seriam apenas eles, provando para aquele professor maldito que não era ele a dar a nota final da melodia.

* * *

Naruto mexia no celular, incomodado e irritado, enquanto Neji secava os cabelos e começava a se vestir. O vestiário estava mais vazio, e ele olhou para a área dos chuveiros onde Sasuke ainda estava. O ensaio tinha terminado há quase quarenta minutos, Sasuke estava no chuveiro há quinze já, e Naruto batia o pé no chão impaciente. Não por pressa, nada disso, mas... Sasuke e Neji tinham permanecido na sala por vinte minutos em silêncio depois que todos saíram, e o que Naruto tinha achado que era apenas por quererem esperar que os demais tomassem banho e deixassem os chuveiros livres, ele descobrira que era porque Sasuke não conseguia se levantar. Reparara na careta de dor e na forma como ele tinha cravado as mãos em Neji quando o amigo o ajudara a se erguer, Neji o manteve de pé, firme, os olhos presos na imagem de Orochimaru que conversava com Tsunade e o coreógrafo num ponto distante.

— Lá fora — ouvira Neji lhe sussurrar e entendera.

Havia esperado do lado de fora da sala e, somente quando eles saíram, oferecera ajuda. Se olhar matasse, podia se dizer mais do que bem enterrado. Sasuke era orgulhoso, demais, recusara a ajuda e até mesmo tinha tentado subir as escadas sozinho, mas o que ele tinha de orgulho, Naruto tinha de teimosia e não ia deixar Sasuke terminar de ferrar o próprio corpo por algo tão imbecil.

Neji olhou na direção dos chuveiros, uma rápida conferida antes de perguntar a Naruto:

— Ele vai voltar com você ou os tios dele vão vir buscar?

— Íamos sair para comer, mas vou esperar para ver o que ele decide. De qualquer forma, eu levo ele de volta. — Naruto passou as mãos pelo rosto, e Neji o estudou em silêncio.

— Ele não pode tomar mais analgésicos. Já tomou demais antes da aula — avisou e jogou a mochila no ombro.

— Por que Orochimaru odeia ele? — Naruto perguntou quando Neji estava prestes a sair do vestiário. — Eu achei que era só uma implicância, mas tem que ser mais que isso, ele não pode torturar Sasuke daquela forma apenas por uma implicância idiota.

— É uma ótima pergunta — Neji resmungou, de costas, e saiu do vestiário sem dar mais atenção a Naruto.

Naruto se levantou, caminhou para a área dos chuveiros e se encostou na parede oposta ao chuveiro onde Sasuke estava.

— Sasuke, você tá bem? — perguntou, inquieto pelo silêncio.

Sasuke estava demorando, a porta fechada não permitia que Naruto o visse ou soubesse se ele não tinha passado mal ou desmaiado.

— Sas-

O chuveiro foi desligado. A mão erguida de Sasuke para alcançar o registro escorregou para junto do corpo mais uma vez, sentado no chão a pele se arrepiou pela falta do contato com a água quente, os músculos ainda doíam, e a cabeça pesava e pulsava pela raiva. Encarou os próprios dedos, enrugados, passou-os pelos cabelos para tirá-los do rosto e se levantou dolorido. Secou-se, vestiu a roupa depressa e saiu da cabine descalço. Naruto o seguiu de volta para o vestiário, viu-o pegar a toalha que havia largado no banco e, enquanto vestia as meias e o tênis, sentiu-o secar seu cabelo. Segurou a mão dele, a cabeça erguida voltada para a porta.

— Não tem mais ninguém aqui — Naruto explicou, mas Sasuke não pareceu relaxar, estava desconfiado demais para isso. — Hum... tudo bem, mas seca melhor o cabelo, ok? Ainda tá bem molhado.

Sasuke calçou os tênis, tacou a toalha e as vestes usadas dentro da mochila e se levantou irritado. Naruto abriu a boca para protestar, mas a mão de Sasuke já estava entrelaçada na sua enquanto ele o puxava para fora daquele lugar.

Ele só queria sair dali, só isso, só sair daquele maldito lugar e ir para casa, para qualquer canto longe dali. Naruto o segurou quando chegaram no carro, impedindo-o de entrar.

— Vai atrás, deita um pouco — Naruto falou, e Sasuke cogitou contestar, mas sua mochila já havia sido tirada de sua mão e Naruto já abria a porta do banco de trás. — Quer pedir comida na minha casa ou ir para a sua descansar?

Não sabia. Deveria ir para casa, dormiria até o dia seguinte na certa, mas queria a presença de Naruto, queria sentir o calor que ele emanava, sentia falta disso. Mas não sabia como dizer, não queria parecer fraco, o que menos queria era ter que se humilhar de novo naquele dia. Não podia correr para Naruto ou quem quer que fosse sempre que parecesse à beira do abismo, confiar que sempre teria alguém para segurá-lo era suicídio, chegaria a hora em que ninguém mais faria, e ele seria pego de surpreso. Não dava para confiar, não quando estavam todos inseridos naquela mesma lama, todos naquele mesmo ambiente tóxico.

A mão dele tocou seu rosto. Quente. Os dedos acariciaram sua bochecha. Quente. Ele estava perto, olhando-o preocupado. Quente, confortavelmente quente. Queria beijá-lo, queria ser beijado, queria que Naruto o fizesse esquecer daquele inferno...

— Podemos pedir comida na minha casa, posso fazer uma massagem para ajudar na dor. Sem nada dessa vez, eu juro, só para te ajudar a dormir. — Ele sorriu, e Sasuke concordou com a cabeça por não ter coragem o suficiente para deixar a voz admitir que estava, de novo, aceitando Naruto puxá-lo ainda mais para ele. — Aqui, pede a comida para a gente enquanto eu dirijo, você escolhe. Assim, ela não vai demorar pra chegar.

Sasuke suspirou com o celular de Naruto em mãos. Entrou no banco de trás do carro e deitou com a mochila servindo de travesseiro. Ouviu a porta bater e sentiu o carro começar a se movimentar. O celular de Naruto estava desbloqueado, aberto já no aplicativo para pedir comida. Naruto havia falado de hambúrgueres, certo? Fez um pedido generoso, com direito a tudo que queria comer, depois pagaria sua parte.

— Pronto, quarenta minutos para entrega — avisou.

— Vamos chegar antes — Naruto respondeu, animado. — Dá tempo de você secar melhor esse cabelo e não ficar gripado.

Sasuke revirou os olhos e fechou o aplicativo, o rosto enrubeceu conforme os olhos se arregalavam em surpresa ao se deparar com uma foto sua e de Naruto no plano de fundo do celular. Já tinha esquecido daquela foto, tinha sido em um dos dias quando dormira na casa dele, e era aterrorizante não saber quando por não conseguir mais quantificar quantas vezes foram. Era uma foto deles de manhã, ainda na cama, Naruto olhava para o celular com um sorriso aberto, feliz, com Sasuke deitado em seu peito, a cabeça escondida na curva de seu pescoço enquanto olhava para a câmera sonolento e com um sorriso discreto.

Se fechasse os olhos, como de fato agora fazia com o rosto enrubecido ao travar a tela do celular, conseguiria se lembrar daquele dia. Havia sido bom... Naruto tinha tirado aquela foto, a mão mexia em seu cabelo, e ele amava como Naruto mexia em seu cabelo até que adormecesse...

Naruto espiou Sasuke pelo retrovisor e não ficou nenhum um pouco surpreso por o encontrar dormindo logo nos primeiros minutos. Conseguiu soltar o ar preso só então, parou o carro no semáforo vermelho e apertou o volante com força, com a real vontade de socá-lo, mas sabendo que isso acordaria Sasuke. Não sabia o que fazer, a não ser dirigir para casa...

Quando estacionou o carro, o coração se agitou. Abriu a porta de trás do carro e se abaixou na altura de Sasuke. Ele dormia com seu celular na mão, parecia tão cansado que, se pudesse, Naruto não o acordaria. Deslizou a mão com carinho pelos cabelos escuros, sorriu de forma involuntária quando Sasuke suspirou profundamente, ajeitando-se no banco e parecendo gostar do afeto.

Riu, derrotado, e as mãos bagunçaram os próprios cabelos acompanhadas de um suspiro frustrado e incorrigível. O coração batia acelerado, e isso era ensurdecedor no silêncio do estacionamento vazio. Tocou mais uma vez o cabelo de Sasuke, com um pouco menos de cuidado, afinal, precisava acordá-lo. Assistiu hipnotizado, mais uma vez, à forma como ele despertava, o sorriso domando-lhe os lábios conforme Sasuke primeiro esfregava o rosto nas mãos e piscava sonolento. Não resistiu a se aproximar e perdeu o chão quando Sasuke abriu de fato os olhos sem os desviar dos seus. Estava de ponta cabeça para ele, agachado do lado de fora do carro, as mãos acariciando o rosto de Sasuke com tanta devoção que era como se tocasse um bailarino de cristal. E Sasuke suspirou, fechando os olhos como se aceitasse seu afeto, como se precisasse de Naruto tanto quanto Naruto dele. Não pensou antes de começar a beijar-lhe, primeiro a testa, os olhos fechados, a boca tatuando na pele clara as palavras que ainda temia dizer, os lábios tocando os de Sasuke com tanto amor que... céus, onde tinha se metido?

— Chegamos — limpou a garganta para dizer, e Sasuke concordou com um leve aceno, sonolento. — Quer que eu te carregue, Teme? — provocou, e Sasuke abriu os olhos de imediato, encarando-o com o típico mau humor enquanto se sentava e esfregava os olhos.

Naruto se levantou e abriu espaço para ele sair do carro. Trancou o veículo ouvindo Sasuke bocejar. Abraçou-o pelas costas enquanto andavam e beijou-lhe a pele gelada da nuca, recriminando Sasuke por não ter secado os cabelos corretamente. Abriu a porta e deixou Sasuke entrar primeiro. Parado ao batente, cruzou os braços enquanto se perdia na visão do bailarino caminhando por sua casa sem qualquer cerimônia, Kurama o seguia, latindo depois de Sasuke tê-lo ignorado até o sofá onde deitou. A mão caída para fora do sofá acariciou o pelo do cachorro, e não demorou que ele subisse para deitar-se ao lado de Sasuke mesmo que o bailarino fingisse não gostar. Os olhos negros se ergueram, então, procurando pelos seus, e Naruto corou, sem qualquer explicação, e sem saber como reagir até que o celular apitou.

— A comida chegou. — Sorriu, constrangido e afobado.

Sasuke franziu o cenho ao vê-lo sair depressa para pegar a entrega, mas Kurama bateu com a pata em sua mão, questionando-lhe exigente por que havia parado de mimá-lo. Cachorro carente, bufou, mas voltou a fazer carinho perto das orelhas do animal, esperando que ele voltasse a se acomodar perto de seu rosto como gostava.

Naruto voltou em pouco tempo, o cheiro de hambúrguer e fritura encheu a casa rapidamente, e Sasuke riu com ironia quando Kurama o trocou pela comida e desceu correndo do sofá.

— Nem se levante — Naruto gritou da cozinha. — E eu to falando com você, Sasuke, pode ficar quietinho aí.

Sasuke rebateria, como sempre, falaria algo mal educado e então ele e Naruto começariam uma discussão idiota que terminaria em lugar algum, mas não naquele dia... Naquele dia, Naruto não precisava se preocupar com ele se levantando ou não porque ele só queria fechar os olhos e fingir que aquele dia não tinha acontecido, dormir como se isso fosse levar para longe todos os problemas, apagar todas as memórias, resetar o jogo... Mas não havia game over, não havia checkpoint, não havia esperança alguma de que os dias que viriam com os ensaios seriam melhores que o daquele dia... Por isso, só queria... desaparecer, queria que o mundo parasse, uma pausa apenas, curta ou longa, não importa!, mas uma pausa! Que a maldita Terra parasse de girar somente por um momento para que ele pusesse em ordem o que sentia, seus medos e pensamentos, sua vida! Por que havia dias que desejava não ter vivido? Isso não podia ser normal, não era aceitável que houvesse momentos em que sua única vontade era desistir de tudo...

— Sasuke?

E aí surgia ele... Era como se fosse uma tela escura, e então o toque de Naruto em seu rosto uma gota de tinta branca que criava uma onda e se expandia na direção dos limites do quadro. A voz dele poderia ser uma gota laranja, gostava da associação, Naruto combinava com a cor, lembrava-lhe o nascer do sol, os raios colorindo e iluminando a escuridão lenta e gradualmente até consumi-la por completo. E por que tinha que gostar tanto de como os olhos azuis pareciam um mar de promessas? Por que não conseguia apenas admirá-los sem querer acreditar na paz que eles tentavam lhe passar? Por que Naruto tinha que ser tão insistente?

— Você precisa comer alguma coisa... só pode tomar algum remédio para dor daqui — Ele olhou o relógio de pulso. — Você tomou antes da aula, né? Então, mais ou menos duas horas pro próximo.

Xingou baixo, irritado, seu corpo doía tanto...

— Sasuke?

Não queria falar, não queria comer, ainda que tivesse fosse, não queria fazer nada a não ser ficar parado, inerte, esperando aquela sensação amarga e pesada no peito desaparecer. Não se levantou, era como se nem mesmo soubesse como fazer isso.

Sentiu, de novo, as mãos de Naruto em seu rosto. Quentes. Por que tudo em Naruto parecia tão cheio de vida, sempre tão quente e colorido? Queria aquilo... queria tanto e percebeu isso quando segurou as mãos de Naruto ao menor sinal de que ele as tiraria de seu rosto. Não conseguiu encará-lo, muito menos falar o que estava acontecendo, porque não sabia por em palavras, só queria ele ali, era pedir muito?

Naruto engoliu em seco, e o que devia fazer se mostrou óbvio e simples. Soltou-se de Sasuke por um breve momento, o suficiente para que ele não visse a raiva com que cerrava os punhos ao se levantar. Sasuke se sentou, a cabeça enterrada nas próprias mãos, e Naruto tocou-lhe o ombro enquanto se sentava de lado no sofá com as costas no braço estofado e as pernas estendidas abertas.

— Vem cá — sussurrou, a mão já puxando Sasuke de leve enquanto ele o observava surpreso.

— Vamos só com-

— Sasuke — ele disse, e havia tanto naquele chamado, tanto significado...

Não era um pedido apenas, mas também não era uma ordem, era um apelo, e os dois sabiam disso. Era fácil enxergar as emoções de Naruto, Sasuke sempre soubera que ele era transparente demais, e por isso era estranho perceber que o pianista estava frustrado, irritado, cansado. Lembrava-se de como Naruto tinha ficado de pé durante o ensaio, tivera medo que ele interferisse, ali, na frente de Orochimaru e Tsunade, na frente de todos... E não duvidava, não havia duvidado nem por um momento, que Naruto realmente fosse fazer isso se não tivesse ele próprio retomado as rédeas da situação.

A mão em seu ombro deslizou para a nuca conforme aceitava sentar-se entre as pernas de Naruto e repousar a cabeça no ombro dele, o abraço veio como esperado, mas forte, como se Naruto quisesse ter certeza de que ele nunca sairia de seus braços. Fechou os olhos, com raiva por sentir o coração ceder a aquilo e o orgulho não conseguir conter as emoções, as lágrimas que nem mesmo os olhos fechados conseguiam agora impedir que corressem lentas e silenciosas pela face.

Nenhuma palavra foi dita, e Sasuke se sentiu grato por Naruto não afrouxar o abraço em momento algum, pela mão dele continuar em seu cabelo, pelos beijos singelos e carinhos que ele insistia em deixar em seu rosto de tempos em tempos ainda que as lágrimas estivessem no caminho.

Não abriu os olhos e fingiu que o mundo havia sim parado, que aquela era a sua pausa, um momento para que Naruto fosse a tinta colorida a iluminar a escuridão da tela que era sua vida...


Espero que tenham gostado do capítulo

Agora que estou de férias, vou tentar por em dia os comentários ;)

Muito obrigada pelo carinho e apoio <3



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essa fanfic e focada em Aonung e Neteyam mas também de vez enquanto vão ter desvios .espero que gostem ! beijus